Autor Tópico: “As farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis”  (Lida 960 vezes)

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Offline -Huxley-

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Prémio Nobel da Medicina denuncia: “As farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis”
25 de Agosto de 2013 15 32738
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O Prémio Nobel da Medicina Richard J. Roberts denuncia a forma como funcionam as grandes Farmacêuticas dentro do sistema capitalista, preferindo os benefícios económicos à Saúde, e detendo o progresso científico na cura de doenças, porque a cura não é tão rentável quanto a cronicidade.

Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas Farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Prémio Nobel Richard J. Roberts, que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas Farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos cronificadores que sejam consumidos de forma serializada. Isto, diz Roberts, faz também com que alguns medicamentos que poderiam curar uma doença não sejam investigados. E pergunta-se até que ponto é válido e ético que a indústria da Saúde se reja pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista, que chega a assemelhar-se ao da máfia.

A investigação pode ser planeada?

Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pela Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projectos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los-ia trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.

Parece uma boa política.

Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada …

E não é assim?

Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.

Como nasceu?

A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.

Uma aventura.

Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o cancro em 1971.

Foi cientificamente produtivo?

Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o cancro, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.

O que descobriu?

Eu e o Phillip Allen Sharp fomos recompensados pela descoberta de intrões no DNA eucariótico e o mecanismo de gen splicing (manipulação genética).

Para que serviu?

Essa descoberta ajudou a entender como funciona o DNA e, no entanto, tem apenas uma relação indirecta com o cancro.

Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?

É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é activo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espectacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de Saúde… Eu tenho as minhas reservas.

Entendo.

A investigação sobre a Saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas.

Explique.

A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais …

Como qualquer outra indústria.

É que não é qualquer outra indústria: nós estamos a falar sobre a nossa Saúde e as nossas vidas e as dos nossos filhos e as de milhões de seres humanos.

Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.

Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.

Por exemplo…

Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença …

E por que pararam de investigar?

Porque as empresas Farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.

É uma acusação grave.

Mas é habitual que as Farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.

Há dividendos que matam.

É por isso que lhe dizia que a Saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.

Um exemplo de tais abusos?

Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.

Não fala sobre o Terceiro Mundo?

Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.

Os políticos não intervêm?

Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.

Há de tudo.

Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais Farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras…

18 de Junho, 2011

http://paradigmatrix.net/saude/farmaceuticas/premio-nobel-da-medicina-denuncia-as-farmaceuticas-bloqueiam-medicamentos-que-curam-porque-nao-sao-rentaveis/

Offline -Huxley-

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Eu dei minha resposta às alegações desse artigo aqui:

http://religiaoeveneno.org/discussion/3426/premio-nobel-da-medicina-denuncia-as-farmaceuticas-bloqueiam-medicamentos-que-curam-porque-nao-sa/p1

Eu argumentei que o problema poderia ser drasticamente minimizado se não houvesse a intervenção inconveniente de um governo garantindo monopólio sobre propriedade intelectual. E, vocês, o que acham?

Offline Lakatos

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Como argumentei no outro tópico, nenhum laboratório com um gestor racional investiria em pesquisa e desenvolvimento, que é caro e tem retorno muito incerto, se puder apenas explorar a propriedade intelectual dos concorrentes a custo zero. No máximo essa medida iria baratear e massificar o acesso a medicamentos já desenvolvidos, mas ao custo de praticamente extinguir a pesquisa na área.

Offline -Huxley-

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Como argumentei no outro tópico, nenhum laboratório com um gestor racional investiria em pesquisa e desenvolvimento, que é caro e tem retorno muito incerto, se puder apenas explorar a propriedade intelectual dos concorrentes a custo zero. No máximo essa medida iria baratear e massificar o acesso a medicamentos já desenvolvidos, mas ao custo de praticamente extinguir a pesquisa na área.

../forum/topic=29833.0.html#msg906368

Vamos manter os assuntos das conversas separados em diferentes tópicos. Eu errei também, ok.

A opinião do Richard J. Roberts e o debate sobre sua veracidade é o foco, não a minha solução sugerida...
« Última modificação: 27 de Agosto de 2016, 12:11:17 por -Huxley- »

Offline Lakatos

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Sobre as alegações do texto tenho bem pouco a dizer, é uma teoria da conspiração bem simplória. No contexto atual, os incentivos econômicos para desenvolver medicamentos que curam são bem grandes, a não ser para doenças que sejam muito raras a ponto de não ter um potencial de mercado capaz de cobrir os custos. Não é o caso dos exemplos que ele deu.

Offline Buckaroo Banzai

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O problema mais comum/real será venderem coisas que não funcionam, não esconder algo que funcione. Acho que o Ben Goldacre fala disso:

Embora mesmo isso possa acontecer em algum grau, mas os casos mais concretos ou próximos de concretos não seriam de escala de "milagres da medicina" sendo ocultados, mas mais nas linhas de restrições a dipirona nos EUA, supostamente para benefício de concorrentes. Mas essa é apenas uma versão; eles defendem que algo como paracetamol é preferível à dipirona por não ter um risco de "do nada" (ou talvez por uso exagerado?) dar agranulocitose. O uso em excesso de paracetamol também teria seus problemas, mas seriam mais previsíveis, algo menos aleatório, e isso seria preferível para a saúde pública.


<a href="http://www.youtube.com/v/RKmxL8VYy0M" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/RKmxL8VYy0M</a>

Com legendas:

http://www.ted.com/talks/ben_goldacre_what_doctors_don_t_know_about_the_drugs_they_prescribe.html



A legenda dá "publication bias" como "publicação tendenciosa", mas acho que seria mais apropriado algo como "viés de publicação".

Citação de: Ben Goldacre
Drug companies hide trial results. They pretend they don't, so they can carry on. My NYtimes op-ed nyti.ms/XPR2AC

http://www.nytimes.com/2013/02/02/opinion/health-cares-trick-coin.html?src=me&ref=general&_r=0





Eu argumentei que o problema poderia ser drasticamente minimizado se não houvesse a intervenção inconveniente de um governo garantindo monopólio sobre propriedade intelectual. E, vocês, o que acham?

A instituição de proteção a propriedade -- e não tem significância distinções como ser intelectual, pessoal, pública, automobilística, residencial, maquinário, etc -- é fundamental para o enriquecimento de uma população, e limitações sobre ela devem ser exceções bastante cuidadosas (que podem incluir quebras de patentes). Se você não pode ter o que produz como propriedade, não há incentivo em produzir. Você mina tanto as expectativas de ganho com o investimento (que deixará de valer a pena*), quanto a confiabilidade das pessoas no que é produzido, com "falsificações legalizadas".


http://www.ideasmatter.com/blog/item/108/ip-and-global-competiveness-go-hand-in-hand

Citar
... Intellectual property rights (IPR) protect a firm's intangible assets, allowing enterprises to profit from their creative and broadly innovative activities. Intangible assets account for more than half the value of companies and their importance is growing. ...
https://ec.europa.eu/growth/industry/intellectual-property_en


Inventors struggle to protect patents in Africa
http://www.reuters.com/article/us-africa-investment-idUSKBN0FM0HQ20140717



* já vi a proposta de que financiamento estatal e concursos/prêmios poderiam ser um incentivo alternativo ao mercado. Acho que antes de expropriação ou limitar a propriedade, seria interessante ter desses acontecendo concorrentemente com a proteção que já existe à propriedade, sob a condição de que a participação implica no domínio público daquilo que for desenvolvido. Então possivelmente se teria os mesmos benefícios que se imaginaria virem da revolução comunista intelectual, sem no entanto comprometer o mercado intelectual.

 

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