Autor Tópico: A propriedade intelectual é a chave do sucesso?  (Lida 2347 vezes)

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A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Online: 27 de Agosto de 2016, 10:44:53 »
Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=17

A propriedade intelectual é a chave do sucesso?

por Jeffrey Tucker, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Uma das maiores tragédias referentes às leis de propriedade intelectual é como elas geram confusão entre os empresários bem sucedidos. Muitos têm a impressão, apesar disso estar longe da verdade, que eles devem sua fortuna ao direito autoral, à marca registrada e à patente e não necessariamente a sua avaliação de negócios.

Por esta razão, eles defendem a propriedade intelectual como se isso fosse a verdadeira força vital de seus negócios. Eles deixam de dar crédito ao principal motivo: a sua própria criatividade, a disposição de assumir riscos e a suas ações geralmente baseadas no mercado. Isto frequentemente é um julgamento empiricamente incorreto da parte deles, e isto gera a tragédia de dar ao estado o crédito por suas realizações que são, na verdade, devidas as suas próprias atividades empreendedoras.

De fato o que não faltam são histórias prontas que conduzem a esta falsa impressão. Inúmeros relatos de negócios mencionam como os lucros surgem a partir das patentes e por meio delas assumem uma relação causal. Sob essa suposição, a história do espírito empreendedor deixa de ser uma história heróica de riscos e recompensas e se torna mais uma história de decisões de escriturários de patentes e de advogados de direitos autorais.

Como resultado, muitas pessoas acham que a razão dos EUA terem crescido tão rapidamente no século XIX foi a sua proteção de propriedade intelectual, e assumem que a proteção a ideias em nada difere da proteção à propriedade real (o que na verdade é completamente diferente).

Um indício da falácia do direito autoral deveria estar óbvio para qualquer um que adentrasse alguma grande livraria. Ele veria prateleiras de livros clássicos, com capas belas e caprichadas e numa grande variedade de tamanhos e formatos. Os textos contidos são de "domínio público", o que não é exatamente uma categoria legal: significa apenas a ausência de proteção de direito autoral.

Mas eles vendem. Eles vendem bem. E não, os autores não são erroneamente identificados nelas. As irmãs Bronte ainda são as autoras de Jane Eyre, e O Morro do Ventos Uivantes. Vitor Hugo ainda escreveu Os Miseráveis. Mark Twain escreveu Tom Sawyer. O desastre que muitos preveem que ocorreria em um mundo anti propriedade intelectual não está evidente em nenhum lugar: ainda existe lucro e ganhos no comércio e o crédito ainda é dado a quem é devido.

Por que isto? Muito simples, a livraria se preocupou em trazer o livro ao mercado. Pagou o editor do livro e tomou a decisão empreendedora de assumir o risco de as pessoas o comprarem. Claro, qualquer um poderia ter feito isso, mas o fato é que nem todo mundo o fez: a companhia fez uma boa avaliação de modo que coincidisse com o gosto dos consumidores. Em outras palavras, o sucesso é uma consequencia da iniciativa. Não é nem mais e nem menos simples do que isso. A propriedade intelectual não tem nada a ver com isso.

Então, assim seria em um mercado completamente livre, ou seja, um mundo sem propriedade intelectual. Mas às vezes os próprios empresários ficam confusos.

Consideremos o caso de um empreendedor do ramo de sorvete com uma hipotética marca chamada Geórgia Cream. A companhia desfruta de certo grau de sucesso e então decide registrar sua marca, significando que agora ela desfruta do monopólio do uso do nome Geórgia Cream. E digamos que a companhia crie um sabor chamado Peach Pizzazz, que é um grande sucesso, então ela patenteia a receita de modo que ninguém possa publicar a receita sem a permissão da companhia. Então ela se dá conta que a qualidade especial de seu sorvete depende de sua técnica de mistura, então ela requer e obtêm uma patente para isso.

Deste modo a companhia possui agora três monopólios, todos conectados. Isso é o suficiente para garantir o sucesso? Claro que não. Ela precisa fazer bons negócios, ou seja, ela precisa economizar, inovar, distribuir e propagandear. A companhia faz todas essas coisas e assim segue colhendo um sucesso atrás do outro.

Se você sugerir para o fundador e CEO que deveríamos nos livrar das leis de propriedade intelectual, você traria à tona um sentimento de pânico. "Isto iria destruir completamente meu negócio!". "Como assim? Qualquer um poderia simplesmente chegar e alegar ser a Geórgia Cream, roubar nossa receita de Peach Pizzazz, reproduzir nossa técnica de mistura, e aí nós afundaríamos".

Você consegue perceber qual o problema aí? Uma pequena mudança que não ameaçaria a existência do negócio está sendo indiretamente considerada, por implicação, como sendo a própria força vital do negócio. Se isso fosse verdade, então não teria sido a destreza no negócio que construiu esta companhia, e sim o privilégio governamental, e isto definitivamente não é verdade neste caso. A revogação da legislação de propriedade intelectual não faria nada para retirar do negócio sua capacidade de criar, inovar, divulgar, negociar e distribuir.

A revogação da propriedade intelectual poderia criar um custo adicional para se fazer negócios, isto é, esforços para assegurar que os consumidores estejam informados sobre as diferenças entre o produto genuíno e suas reproduções. Este é um custo do negócio que todo empreendedor tem que arcar. Patentes e marcas registradas não têm feito nada para manter os imitadores de Gucci, Prada e Rolex fora do mercado. Mas também as reproduções não destruíram o negócio principal. Se fizeram alguma coisa, foi ter ajudado, já que a imitação é a melhor forma de elogio.

De qualquer maneira, o custo associado a estar atento aos imitadores existe, sendo a propriedade intelectual legalmente protegida ou não. Na realidade, alguns negócios devem a existência de seus lucros a patentes, que eles usam para derrotar seus competidores superiores. Mas há também custos envolvidos neste processo, como milhões em taxas legais.

Grandes empresas gastam milhões desenvolvendo "warchests" [N.T.] de patentes que elas usam para repelir ou se prevenir de processos de outras companhias, então concordam em desistir e compartilhar licenças uma com a outra após gastarem milhões em advogados. Mas logicamente, assim como o salário mínimo ou as legislações sindicais, as leis de propriedade intelectual não afetam realmente as grandes companhias, mas sim os pequenos negócios, que não podem arcar com processos de defesa de patentes de milhões de dólares.

PowerMarket.jpg A era da Internet tem nos ensinado que é totalmente impossível impor propriedade intelectual. Isto é semelhante à tentativa de se banir o álcool e o tabaco. Isto não funciona. Tudo que isto consegue é criar criminalidade onde na verdade não deveria haver nenhuma. Ao garantir direitos exclusivos para a primeira firma que "cruza a linha de chegada", acaba-se prejudicando a competição ao invés de aumentá—la .

Mas alguns podem argumentar que proteger a propriedade intelectual não é diferente que proteger propriedades materiais comuns. Isto não procede. Propriedade real é escassa. Os objetos da propriedade intelectual não são escassos, como Stephan Kinsella demonstrou. Imagens, idéias, sons, combinações de letras em uma página: estas coisas podem ser reproduzidas indefinidamente. Por esta razão elas não podem ser consideradas posses.

Comerciantes são livres para tentar criar escassez artificial, e é isto que ocorre quando companhias mantêm seus códigos privados ou fotógrafos colocam marcas em suas imagens na Internet. Produtos patenteados e de domínio público podem conviver e prosperar lado a lado, como podemos ver em qualquer drogaria que oferece ambos os medicamentos, de marca e os genéricos, separados por centímetros nas prateleiras.

Mas o que ninguém tem permissão para fazer em um mercado livre é usar violência na tentativa de criar escassez artificial, que é tudo o que a legislação de propriedade intelectual realmente faz. Benjamin Tucker disse no século XIX que se você quer sua invenção para si mesmo, o único jeito é mantê-la fora do mercado. Isto continua verdade hoje.

Então considere um mundo sem marca registrada, direito autoral ou patentes. Este ainda seria um mundo com inovação - talvez com muito mais. E sim, ainda teríamos lucros para aqueles que fossem empreendedores. Talvez teria um pouco menos lucro para os litigantes e advogados de propriedade intelectual - mas isto seria ruim?



[N.T.] "Warchest" é uma gíria usada no mundo dos negócios para uma reserva de dinheiro que as corporações separam especificamente para tentar uma aquisição ou para se defender de uma aquisição hostil.



Tradução de Fernando Fiori Chiocca




Offline Lakatos

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #1 Online: 27 de Agosto de 2016, 11:09:51 »
Concordo com o texto em linhas gerais, mas ele falha em diversos pontos.

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Se você sugerir para o fundador e CEO que deveríamos nos livrar das leis de propriedade intelectual, você traria à tona um sentimento de pânico. "Isto iria destruir completamente meu negócio!". "Como assim? Qualquer um poderia simplesmente chegar e alegar ser a Geórgia Cream, roubar nossa receita de Peach Pizzazz, reproduzir nossa técnica de mistura, e aí nós afundaríamos".

Você consegue perceber qual o problema aí? Uma pequena mudança que não ameaçaria a existência do negócio está sendo indiretamente considerada, por implicação, como sendo a própria força vital do negócio. Se isso fosse verdade, então não teria sido a destreza no negócio que construiu esta companhia, e sim o privilégio governamental, e isto definitivamente não é verdade neste caso. A revogação da legislação de propriedade intelectual não faria nada para retirar do negócio sua capacidade de criar, inovar, divulgar, negociar e distribuir.

Aqui ele ilustra o caso de uma empresa já consolidada e com uma marca de valor, e defende que ela não seria prejudicada porque os fatores críticos para o sucesso são suas decisões de gestão, e não a propriedade intelectual sobre os produtos.

Mas considere que a Geórgia Cream seja uma pequena fábrica em uma cidade de interior, que está começando nos negócios e ainda atende apenas a cidade onde está instalada. Ela faz um grande sucesso local, mas ainda não conseguiu repor os custos de desenvolvimento. Então uma multinacional com estrutura logística consolidada se apropria da receita, do nome e coloca sua versão do produto à venda no país inteiro em questão de semanas.

A Geórgia Cream então usa todo o talento da equipe para criar outro produto de sucesso, mas acontece a mesma coisa. E de novo. E de novo. Dentro de pouco tempo eles vão à falência, porque o market share nunca é o suficiente para repor os custos de desenvolvimento, custo esse com que os concorrente não precisam arcar ao conseguirem as receitas de graça. Na melhor das hipóteses eles param de desenvolver novos produtos e tentam apenas sobreviver com o mercado local, sem nenhuma esperança de expansão.

Isso falando de fábrica de sorvetes. Se fosse uma indústria farmacêutica, que gasta quantias altíssimas com desenvolvimento e também corre grandes riscos nessa fase, a coisa seria ainda pior. Imagine investir 15 anos e dezenas de milhões de dólares para desenvolver um composto e depois competir sem nenhuma vantagem com outras empresas que não gastaram nada com isso e simplesmente copiam a fórmula. Seria loucura investir em novos produtos nesse cenário.
« Última modificação: 27 de Agosto de 2016, 11:12:24 por Lakatos »

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #2 Online: 27 de Agosto de 2016, 11:10:50 »
Tive vontade de abrir esse tópico depois de ver a histeria a uma quebra de patentes aqui noticiada:

../forum/topic=2231.0.html#msg41942

Tem gente que chega ao absurdo de dizer que o investimento em um segmento de mercado cessaria sem o respeito à patentes. Se isso fosse verdade, como explicar os fatos abaixo mencionados?

1) Patentes são contornadas de todas as formas possíveis para que a imitação continue existindo dentro da lei.
2) Empresas grandes, as maiores produtoras de propriedade intelectual, usualmente tem o que se chama de "tecnologia proprietária", o que torna seus produtos muito difíceis ou impossíveis de replicar.

Dos dois primeiros itens, pode-se retirar uma citação de Peter Thiel (capitalista de risco e cofundador do Pay Pal) no livro De Zero a Um: "Seria dificílimo para qualquer um fazer com o Google o que o Google fez com todas as outras empresas de mecanismos de busca da década de 2000". E uma notícia sobre como o caso existe no segmento farmacêutico: http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/genericos-nao-sao-iguais-aos-remedios-originais-diz-pesquisador/

3) Muitas empresas pequenas não têm como arcar com processos de defesa de certas patentes e ainda assim esse tipo de empresa continua existindo.
4) Direitos de patentes são violados massivamente, como mostra o mercado digital e o TaoBao. Já ouviram falar da gigante chinesa do comércio on-line Alibaba? Segundo levantamentos preliminares, 80% dos produtos comercializados pelo Taobao - que é do Grupo Alibaba - são falsificados: http://www.tecmundo.com.br/comercio-eletronico/88945-alibaba-40-mil-ladroes-empresa-chinesa-continua-vendendo-pirataria.htm
5) O mercado de bens relativamente indiferenciados existiu e ainda existe (produtos agrícolas orgânicos, por exemplo). Mesmo assim, não falta quem lucre bastante aí.
« Última modificação: 27 de Agosto de 2016, 11:37:11 por -Huxley- »

Offline Lakatos

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #3 Online: 27 de Agosto de 2016, 11:28:25 »
Propriedade intelectual não afeta a todos os mercados igualmente. O impacto será maior quanto maior for o gasto proporcional típico desse mercado com desenvolvimento ou criação intelectual.

Um exportador de soja gasta quase nada com desenvolvimento de novos processos, e zero com desenvolvimento de produtos, então não faz muita diferença nesse caso. O que ele perde no caso de quebra de patentes é irrisório. Já uma indústria farmacêutica gasta quantias mi ou bilionárias com desenvolvimento, então a quebra de patentes gera um ganho aos concorrentes que faz diferença significativa no equilíbrio do mercado. Nenhum gestor racional manteria um departamento de pesquisa sugando centenas de milhões de dólares ao ano (e retorno incerto) se pudesse apenas copiar os produtos concorrentes tendo somente o custo de produção (relativamente pequeno) para arcar.

Uma forma didática de entender isso é imaginar o ponto de equilíbrio desses produtos. Para o desenvolvedor, ele só será atingido quando a quantidade vendida superar os custos de desenvolvimento (enormes) somados aos custos de produção. Já os concorrentes somente precisam superar os custos de produção. Logo, é vantajoso não desenvolver nada.
« Última modificação: 27 de Agosto de 2016, 11:37:32 por Lakatos »

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #4 Online: 27 de Agosto de 2016, 11:58:38 »
Propriedade intelectual não afeta a todos os mercados igualmente. O impacto será maior quanto maior for o gasto proporcional típico desse mercado com desenvolvimento ou criação intelectual.

Um exportador de soja gasta quase nada com desenvolvimento de novos processos, e zero com desenvolvimento de produtos, então não faz muita diferença nesse caso. O que ele perde no caso de quebra de patentes é irrisório. Já uma indústria farmacêutica gasta quantias mi ou bilionárias com desenvolvimento, então a quebra de patentes gera um ganho aos concorrentes que faz diferença significativa no equilíbrio do mercado. Nenhum gestor racional manteria um departamento de pesquisa sugando centenas de milhões de dólares ao ano (e retorno incerto) se pudesse apenas copiar os produtos concorrentes tendo somente o custo de produção (relativamente pequeno) para arcar.

Uma forma didática de entender isso é imaginar o ponto de equilíbrio desses produtos. Para o desenvolvedor, ele só será atingido quando a quantidade vendida superar os custos de desenvolvimento (enormes) somados aos custos de produção. Já os concorrentes somente precisam superar os custos de produção. Logo, é vantajoso não desenvolver nada.

Como visto na observação aos dois primeiros itens descritos no meu post anterior, as gigantes farmacêuticas têm o que Peter Thiel chama de "tecnologia proprietária". Portanto, o poder de lucro sem patentes continuaria com maior investimento em tecnologia proprietária e menos despesa com proteção em defesa de patentes. Ademais, deve-se levar em conta também os potenciais transtornos que as patentes levam ao mercado farmacêutico: ../forum/topic=29834.new#new

Dito isso, acho que a ideia de que viveríamos em um mundo muito pior na área farmacêutica sem a existência de direitos de patentes ainda não passa de especulação.
« Última modificação: 27 de Agosto de 2016, 12:02:49 por -Huxley- »

Offline Lakatos

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #5 Online: 27 de Agosto de 2016, 12:08:30 »
O que garante o papel estratégico das tecnologias proprietárias nesse ramo também é a proteção à propriedade intelectual, com a patente de processos. Em comparação os custos de pesquisar e desenvolver, apenas adaptar equipamentos e tecnologias para produzir um produto concorrente é uma pechincha.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #6 Online: 27 de Agosto de 2016, 14:01:49 »
Eu argumentei que o problema poderia ser drasticamente minimizado se não houvesse a intervenção inconveniente de um governo garantindo monopólio sobre propriedade intelectual. E, vocês, o que acham?

A instituição de proteção a propriedade -- e não tem significância distinções como ser intelectual, pessoal, pública, automobilística, residencial, maquinário, etc -- é fundamental para o enriquecimento de uma população, e limitações sobre ela devem ser exceções bastante cuidadosas (que podem incluir quebras de patentes). Se você não pode ter o que produz como propriedade, não há incentivo em produzir. Você mina tanto as expectativas de ganho com o investimento (que deixará de valer a pena*), quanto a confiabilidade das pessoas no que é produzido, com "falsificações legalizadas".


http://www.ideasmatter.com/blog/item/108/ip-and-global-competiveness-go-hand-in-hand

Citar
... Intellectual property rights (IPR) protect a firm's intangible assets, allowing enterprises to profit from their creative and broadly innovative activities. Intangible assets account for more than half the value of companies and their importance is growing. ...
https://ec.europa.eu/growth/industry/intellectual-property_en


Inventors struggle to protect patents in Africa
http://www.reuters.com/article/us-africa-investment-idUSKBN0FM0HQ20140717



* já vi a proposta de que financiamento estatal e concursos/prêmios poderiam ser um incentivo alternativo ao mercado. Acho que antes de expropriação ou limitar a propriedade, seria interessante ter desses acontecendo concorrentemente com a proteção que já existe à propriedade, sob a condição de que a participação implica no domínio público daquilo que for desenvolvido. Então possivelmente se teria os mesmos benefícios que se imaginaria virem da revolução comunista intelectual, sem no entanto comprometer o mercado intelectual.






Por esta razão, eles defendem a propriedade intelectual como se isso fosse a verdadeira força vital de seus negócios. Eles deixam de dar crédito ao principal motivo: a sua própria criatividade, a disposição de assumir riscos e a suas ações geralmente baseadas no mercado.

Retórica vazia. A avaliação que eles fizeram dos riscos e potencial leva em conta a instituição de proteção a PI.

Não é muito diferente de haver ou não proteção a qualquer outro tipo de propriedade. Remova-a e você acaba com incentivos e possibilidades de negócios baseados nessa propriedade.


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Isto frequentemente é um julgamento empiricamente incorreto da parte deles, e isto gera a tragédia de dar ao estado o crédito por suas realizações que são, na verdade, devidas as suas próprias atividades empreendedoras.

É exatamente o mesmo de dizer que não precisa haver proteção à qualquer propriedade; que haver, é dar crédito ao estado pelas realizações que são de suas atividades empreendedoras



Citar
De fato o que não faltam são histórias prontas que conduzem a esta falsa impressão. Inúmeros relatos de negócios mencionam como os lucros surgem a partir das patentes e por meio delas assumem uma relação causal. Sob essa suposição, a história do espírito empreendedor deixa de ser uma história heróica de riscos e recompensas e se torna mais uma história de decisões de escriturários de patentes e de advogados de direitos autorais.

Não mais do que a história de empreendimentos de menor componente intelectual é redutível a uma história de paredes, cadeados, grades, correntes, e polícia ou seguranças.



Citar
Como resultado, muitas pessoas acham que a razão dos EUA terem crescido tão rapidamente no século XIX foi a sua proteção de propriedade intelectual, e assumem que a proteção a ideias em nada difere da proteção à propriedade real (o que na verdade é completamente diferente).

Um indício da falácia do direito autoral deveria estar óbvio para qualquer um que adentrasse alguma grande livraria. Ele veria prateleiras de livros clássicos, com capas belas e caprichadas e numa grande variedade de tamanhos e formatos. Os textos contidos são de "domínio público", o que não é exatamente uma categoria legal: significa apenas a ausência de proteção de direito autoral.

Mas eles vendem. Eles vendem bem. E não, os autores não são erroneamente identificados nelas. As irmãs Bronte ainda são as autoras de Jane Eyre, e O Morro do Ventos Uivantes. Vitor Hugo ainda escreveu Os Miseráveis. Mark Twain escreveu Tom Sawyer. O desastre que muitos preveem que ocorreria em um mundo anti propriedade intelectual não está evidente em nenhum lugar: ainda existe lucro e ganhos no comércio e o crédito ainda é dado a quem é devido.

Por que isto? Muito simples, a livraria se preocupou em trazer o livro ao mercado. Pagou o editor do livro e tomou a decisão empreendedora de assumir o risco de as pessoas o comprarem. Claro, qualquer um poderia ter feito isso, mas o fato é que nem todo mundo o fez: a companhia fez uma boa avaliação de modo que coincidisse com o gosto dos consumidores. Em outras palavras, o sucesso é uma consequencia da iniciativa. Não é nem mais e nem menos simples do que isso. A propriedade intelectual não tem nada a ver com isso.

(Domínio público ainda tem proteção a direito autoral, isso deve ser um erro de traduçao (copyright, direito de reprodução, é um direito autoral, não todos).

Você lê isso e fica imaginando que então ele vai sugerir imprimir toneladas de dinheiro para acabar com a pobreza.

É realmente necessário dizer, que na verdade isso evidencia o valor do direito autoral? A obra de um autor pode ser rentável a diversas empresas, num mesmo país, e por todo o mundo. Com direitos autorais, uma parte desse lucro vai para o autor; sem direitos autorais, ele bem pode ficar sem ver um tostão; quem visse como potencialmente vantajoso investir num autor para publicar um novo livro, tem então que considerar que alguém que tenha capital para imprimir e distribuir vai lucrar mais do que ele com seu investimento -- ou, com o investimento alheio.

Mesmo que não possa literalmente vencê-lo em reprodução (o que é uma possibilidade/risco para todos que não forem o maior), vai embora uma fatia do mercado.




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Então, assim seria em um mercado completamente livre, ou seja, um mundo sem propriedade intelectual. Mas às vezes os próprios empresários ficam confusos.

Então... sem proteção a propriedade intelectual... a coisa fica tal como se tem com autores mortos...

Entendido.



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Consideremos o caso de um empreendedor do ramo de sorvete com uma hipotética marca chamada Geórgia Cream. A companhia desfruta de certo grau de sucesso e então decide registrar sua marca, significando que agora ela desfruta do monopólio do uso do nome Geórgia Cream. E digamos que a companhia crie um sabor chamado Peach Pizzazz, que é um grande sucesso, então ela patenteia a receita de modo que ninguém possa publicar a receita sem a permissão da companhia. Então ela se dá conta que a qualidade especial de seu sorvete depende de sua técnica de mistura, então ela requer e obtêm uma patente para isso.

Deste modo a companhia possui agora três monopólios, todos conectados. Isso é o suficiente para garantir o sucesso? Claro que não. Ela precisa fazer bons negócios, ou seja, ela precisa economizar, inovar, distribuir e propagandear. A companhia faz todas essas coisas e assim segue colhendo um sucesso atrás do outro.

Evidente! Mas isso parece mesmo cada vez mais uma tentativa de insultar.

Será possível que alguém fosse imbecil a ponto de achar que é só ter receitas, patentes, e etc, e não precisa mais nada para o sucesso?

E, apenas mencionando isso, ele deixa de lado que, sem proteção à PI, seria perfeitamente possível que alguém se aproveitasse de seu sucesso inicial e te levasse a falência justamente por isso, por maiores condições de investir em produção e propaganda. Com proteção à propriedade, isso teria que ser uma parceria onde quem criou aquilo que é rentável não é fodido no final. Como alguém consegue ter uma visão tão seletiva assim?


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Se você sugerir para o fundador e CEO que deveríamos nos livrar das leis de propriedade intelectual, você traria à tona um sentimento de pânico. "Isto iria destruir completamente meu negócio!". "Como assim? Qualquer um poderia simplesmente chegar e alegar ser a Geórgia Cream, roubar nossa receita de Peach Pizzazz, reproduzir nossa técnica de mistura, e aí nós afundaríamos".

Você consegue perceber qual o problema aí? Uma pequena mudança que não ameaçaria a existência do negócio está sendo indiretamente considerada, por implicação, como sendo a própria força vital do negócio. Se isso fosse verdade, então não teria sido a destreza no negócio que construiu esta companhia, e sim o privilégio governamental, e isto definitivamente não é verdade neste caso. A revogação da legislação de propriedade intelectual não faria nada para retirar do negócio sua capacidade de criar, inovar, divulgar, negociar e distribuir.

"Não", apenas permite a outros com melhores condições de produção e distribuição de superar na competição os responsáveis pela criação do produto.

Mesmo se não chegar a superar, ainda pode ser uma fatia significativa da renda que é perdida, e assim reduz a capacidade do negócio de criar, inovar, divulgar, negociar, e distribuir.

(No que concernte a negociar a PI especificamente, zera)


Fico imaginando esse cara dando consultoria de negócios ao McDonalds, Coca-cola, sugerindo a eles virarem franquias grátis open-source.



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A revogação da propriedade intelectual poderia criar um custo adicional para se fazer negócios, isto é, esforços para assegurar que os consumidores estejam informados sobre as diferenças entre o produto genuíno e suas reproduções. Este é um custo do negócio que todo empreendedor tem que arcar. Patentes e marcas registradas não têm feito nada para manter os imitadores de Gucci, Prada e Rolex fora do mercado. Mas também as reproduções não destruíram o negócio principal. Se fizeram alguma coisa, foi ter ajudado, já que a imitação é a melhor forma de elogio.

Proteção à PI na verdade proíbe falsificações, sim. Imitações similares o suficiente poderiam ser legalmente processadas, se os criadores não se vêem significativamente lesados a ponto de fazê-lo não muda isso, não será sempre o caso. Essa de que os imitadores "ajudam" é ridícula, os originais não vendem mais por haver imitações como "elogio", mas tenderão a vender menos conforme forem mesmo substitutos, o que variará dependendo do "status" do produto em questão.



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De qualquer maneira, o custo associado a estar atento aos imitadores existe, sendo a propriedade intelectual legalmente protegida ou não. Na realidade, alguns negócios devem a existência de seus lucros a patentes, que eles usam para derrotar seus competidores superiores. Mas há também custos envolvidos neste processo, como milhões em taxas legais.

Grandes empresas gastam milhões desenvolvendo "warchests" [N.T.] de patentes que elas usam para repelir ou se prevenir de processos de outras companhias, então concordam em desistir e compartilhar licenças uma com a outra após gastarem milhões em advogados. Mas logicamente, assim como o salário mínimo ou as legislações sindicais, as leis de propriedade intelectual não afetam realmente as grandes companhias, mas sim os pequenos negócios, que não podem arcar com processos de defesa de patentes de milhões de dólares.

Ao mesmo tempo em que provavelmente não devem faltar coisas contradizendo isso como padrão geral, pode haver algo de verdade nisso em um grau considerável. Mas ser contra a proteção à propriedade intelectual em função disso é como ser contra a proteção à propriedade porque a polícia é violenta, mata pessoas inocentes. Isso seria um motivo tremendamente MAIOR então para o comunismo geral.



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PowerMarket.jpg A era da Internet tem nos ensinado que é totalmente impossível impor propriedade intelectual. Isto é semelhante à tentativa de se banir o álcool e o tabaco. Isto não funciona. Tudo que isto consegue é criar criminalidade onde na verdade não deveria haver nenhuma. Ao garantir direitos exclusivos para a primeira firma que "cruza a linha de chegada", acaba-se prejudicando a competição ao invés de aumentá—la .

Bullshit a cada afirmação.


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Mas alguns podem argumentar que proteger a propriedade intelectual não é diferente que proteger propriedades materiais comuns. Isto não procede. Propriedade real é escassa. Os objetos da propriedade intelectual não são escassos, como Stephan Kinsella demonstrou. Imagens, idéias, sons, combinações de letras em uma página: estas coisas podem ser reproduzidas indefinidamente. Por esta razão elas não podem ser consideradas posses.

Apesar de escassez não ser requisito essencial de propriedade, elas são escassas sim. Esse argumento é completamente imbecil. Como se fossem vender livros com seqüências de letras ou palavras aleatórias, filmes puramente caleidoscópicos, etc e tal.

Esse argumento é tão imbecil que auto-refuta a proposta toda. Basta então ficarem só com o que já está em domínio público, pronto. O que há sob direitos reservados não fará falta, então, você está fadado a encontrar um equivalente perfeito em domínio públco, já que não existe tal escassez. Oh, só criaram o livro tal mais tarde? Quer dizer que ele não existia antes, como se fosse algo limitado, original, não-abundante? Meu Deus, quem poderia imaginar!


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Comerciantes são livres para tentar criar escassez artificial, e é isto que ocorre quando companhias mantêm seus códigos privados ou fotógrafos colocam marcas em suas imagens na Internet. Produtos patenteados e de domínio público podem conviver e prosperar lado a lado, como podemos ver em qualquer drogaria que oferece ambos os medicamentos, de marca e os genéricos, separados por centímetros nas prateleiras.

Mas o que ninguém tem permissão para fazer em um mercado livre é usar violência na tentativa de criar escassez artificial, que é tudo o que a legislação de propriedade intelectual realmente faz.

E não é diferente em nada da forma como a propriedade é privada, de qualquer tipo. Na verdade, a disputa por propriedade física tende a envolver mais violência, e então esse argumento em favor do comunismo seria mais forte para ela.



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Então considere um mundo sem marca registrada, direito autoral ou patentes. Este ainda seria um mundo com inovação - talvez com muito mais. E sim, ainda teríamos lucros para aqueles que fossem empreendedores. Talvez teria um pouco menos lucro para os litigantes e advogados de propriedade intelectual - mas isto seria ruim?

Seria ruim por que não seria como ele supostamente imagina.

Aqueles que se encantam com a idéia são completamente livres para produzirem e darem de graça ou compartilharem o que quer que seja.


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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #7 Online: 27 de Agosto de 2016, 20:31:44 »
O que garante o papel estratégico das tecnologias proprietárias nesse ramo também é a proteção à propriedade intelectual, com a patente de processos. Em comparação os custos de pesquisar e desenvolver, apenas adaptar equipamentos e tecnologias para produzir um produto concorrente é uma pechincha.

E por acaso os processos de produção não podem estar carregados de tecnologia proprietária? Ademais, explique-me o que eu chamo de "enigma do mark-up diferenciado". É muito comum encontrar venda de remédio original depois de um farmacêutico ter oferecido um genérico com preço significativamente menor. Então, como seria possível explicar o mark-up significativamente maior do laboratório criador do original sem tecnologia proprietária? No texto que coloquei do site Opinião e Notícia, um cardiologista afirma sobre os criadores de genéricos que "cada um desses novos produtores vai usar os excipientes que lhe pareçam mais adequados ou de custo mais baixo e nem sempre a combinação será adequada, por isso é comum os genéricos serem ineficazes ou causarem até reações negativas, como intolerâncias ou alergias".
« Última modificação: 27 de Agosto de 2016, 21:31:45 por -Huxley- »

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #8 Online: 27 de Agosto de 2016, 20:36:15 »
O post do Buckaroo é muito grande, não responderei tudo, apenas parte dele.

Não sei dizer qual a intervenção que teria que ser feita para que os recursos intelectuais do mundo fossem melhor distribuídos, de modo a estar próximo do ótimo ao desenvolvimento socioeconômico (usei o verbo “poderia” para me descomprometer em relação ao assunto num post no tópico da declaração do Nobel de medicina). Eu só acho que não há evidência de que o direito de propriedade intelectual tenha o mesmo grau de importância para a prosperidade do que o direito à propriedade de bens tangíveis E, se for verdade que eles não têm a mesma importância, a não suficiente flexibilização do primeiro estaria dando demasiada alcunha de imoralidade ou criminalidade onde não existiria. As razões para as minhas suspeitas são variadas. Uma é que a proteção legal à propriedade intelectual, NA PRÁTICA, não é tão efetiva quando a que os fãs dessa legislação dizem existir. Uma segunda é o crédito que dou ao poder da “tecnologia proprietária” e da capacidade de aglomeração de lucro monopolista causado pela soma de pequenos diferenciais competitivos. Dei exemplos que corroboram essas duas razões no segundo post deste meu tópico.

Não estou impressionado com esse gráfico de correlação de competitividade global e proteção à propriedade intelectual. Nem teste de causalidade de Granger traz confirmação de fenômenos e ausência de epifenômenos, imagine a simples apresentação de correlação isolada: ../forum/topic=22025.0.html#msg906217

Quando duas variáveis são corresponsáveis por um efeito, às vezes uma delas detém exclusivamente a responsabilidade ou a esmagadora maior parte da responsabilidade. Muitos atribuíram os benefícios do direito conjunto de propriedade de bens tangíveis e de propriedade intelectual - que são vistos por policymakers e lobistas como um combo cuja justificativa de legitimação para ambas as partes do mesmo é bem análoga -  ao direito de propriedade intelectual, e não ao direito de propriedade dos bens tangíveis.

Quanto conteúdo do artigo da European Comission, o que eu tenho a dizer é que ninguém duvida que ativos intagíveis são bastante responsáveis pelo valor das companhias, a questão é que ativos intangíveis são possíveis de serem criados mesmo na ausência de legislação de proteção à propriedade intelectual.

Diferentemente dos bens de mercados, que são rivais e excluíveis, os bens que são legalmente alvos da proteção à propriedade intelectual geralmente são bens não rivais. Tecnologia, por exemplo, geralmente é chamado de um bem não-rival pois seu consumo por um consumidor não evita consumo simultâneo por outros consumidores. Num mundo onde a legislação de proteção à propriedade intelectual inexistisse, a tecnologia dependente de patentes seria um bem não-escasso, como disse o Jeffrey Tucker. "Tecnologia proprietária" (ver a explicação do conceito no meu segundo post), que dispensa patentes para ser criadora de lucro monopolista, é que seria escassa.

A alegação de que, sem proteção à PI, isso “permite a outros com melhores condições de produção e distribuição de superar na competição os responsáveis pela criação do produto” levanta uma queixa de que a legislação não daria benefícios particulares a pessoas jurídicas particulares. Acontece que, se uma pessoa jurídica ir à falência por qualquer motivo, isso é problema dela. Ninguém obriga alguém a investir em bens de capital. A única preocupação da legislação e da justiça deve ser se a estrutura de mercado como um todo sai prejudicada em relação à eficiência.
« Última modificação: 27 de Agosto de 2016, 22:06:19 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #9 Online: 27 de Agosto de 2016, 22:35:30 »
Eu só acho que não há evidência de que o direito de propriedade intelectual tenha o mesmo grau de importância para a prosperidade do que o direito à propriedade de bens tangíveis

E não deve haver, da mesma forma que não se ter direito à propriedade de, digamos, veículos, ou terras, não vai ter o mesmo grau de importância para a prosperidade do que não se ter direito a esse(s) mais todos os outros tipos de propriedade.


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E, se for verdade que eles não têm a mesma importância, a não suficiente flexibilização do primeiro estaria dando demasiada alcunha de imoralidade ou criminalidade onde não existiria. As razões para as minhas suspeitas são variadas. Uma é que a proteção legal à propriedade intelectual, NA PRÁTICA, não é tão efetiva quando a que os fãs dessa legislação dizem existir.

Não importa; importa apenas que ela é tal que, na prática, possibilita a existência das indústrias que a exploram investindo em sua produção (e não mera reprodução). Algo menos rentável antes desses direitos, e com tendência a ser cada vez menos, com a maior facilidade de se explorar comercialmente o produto de terceiros, sem dever qualquer compensação financeira. Por se considerar que essa produção beneficia ao público, tais direitos foram protegidos por lei, e então aqueles que pretendem lucrar com trabalho alheio precisam negociar alguma compensação financeira.





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Uma segunda é o crédito que dou ao poder da “tecnologia proprietária” e da capacidade de aglomeração de lucro monopolista causado pela soma de pequenos diferenciais competitivos. Dei exemplos que corroboram essas duas razões no segundo post deste meu tópico.

1) Patentes são contornadas de todas as formas possíveis para que a imitação continue existindo dentro da lei.

Então elas são inúteis, e os que investem nela apenas perdem tempo e dinheiro, e poderiam lucrar tanto quanto ou mais sem elas? Não há com o que se preocupar, logo percebem isso ao ver concorrentes se sucedendo bem mesmo investindo em produção intelectual pro-bono e imitar seu modelo.


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2) Empresas grandes, as maiores produtoras de propriedade intelectual, usualmente tem o que se chama de "tecnologia proprietária", o que torna seus produtos muito difíceis ou impossíveis de replicar.

E? Essa propriedade é protegida por lei! Qual é o seu ponto, o estado deveria exigir a publicação de todas essas tecnologias, para que outros pudessem aproveitar sem qualquer tipo de licenciamento? :hein:


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Dos dois primeiros itens, pode-se retirar uma citação de Peter Thiel (capitalista de risco e cofundador do Pay Pal) no livro De Zero a Um: "Seria dificílimo para qualquer um fazer com o Google o que o Google fez com todas as outras empresas de mecanismos de busca da década de 2000". E uma notícia sobre como o caso existe no segmento farmacêutico: http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/genericos-nao-sao-iguais-aos-remedios-originais-diz-pesquisador/

Não entendi como essa situação do Google se encaixa com a questão.

A produção, fabricação de algo que já foi inventado, poderá ser sim, rentável, não é "novidade". O problema é o investimento em novas invenções. Sejam diferentes excipientes em genéricos ou combinações de marca, investir no desenvolvimento disso só vale a pena se você pode lucrar com a produção. A menos que faça por filantropia.


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3) Muitas empresas pequenas não têm como arcar com processos de defesa de certas patentes e ainda assim esse tipo de empresa continua existindo

Repetindo o ponto "1"; se existe um modelo que é igualmente rentável sem precisar de investir em patentes, as pessoas vão então aproveitá-lo, são livres para tal, elas não estão na ilegalidade ao não arcar com processos de defesa de patentes.

Não significa que tal modelo seja sempre viável ou o mais rentável a todos, e nem que isso seja generalizável para toda propriedade intelectual.



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4) Direitos de patentes são violados massivamente, como mostra o mercado digital e o TaoBao. Já ouviram falar da gigante chinesa do comércio on-line Alibaba? Segundo levantamentos preliminares, 80% dos produtos comercializados pelo Taobao - que é do Grupo Alibaba - são falsificados: http://www.tecmundo.com.br/comercio-eletronico/88945-alibaba-40-mil-ladroes-empresa-chinesa-continua-vendendo-pirataria.htm

E roubos de cargas são praticados também às pencas, sem acabar completamente com o comércio. Isso não mostra que deveríamos então partir para o comunismo.

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5) O mercado de bens relativamente indiferenciados existiu e ainda existe (produtos agrícolas orgânicos, por exemplo). Mesmo assim, não falta quem lucre bastante aí.

Não tem analogia. Ou, seria análogo a se ter então como plenamente satisfatória apenas a produção intelectual já em domínio público, e nada de novo. Pois a produção dessas indústrias é só "reprodução", e não criação de algo novo, escasso.






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Diferentemente dos bens de mercados, que são rivais e excluíveis, os bens que são legalmente alvos da proteção à propriedade intelectual geralmente são bens não rivais. Tecnologia, por exemplo, geralmente é chamado de um bem não-rival pois seu consumo por um consumidor não evita consumo simultâneo por outros consumidores. Num mundo onde a legislação de proteção à propriedade intelectual inexistisse, a tecnologia dependente de patentes seria um bem não-escasso, como disse o Jeffrey Tucker. "Tecnologia proprietária" (ver a explicação do conceito no meu segundo post), que dispensa patentes para ser criadora de lucro monopolista, é que seria escassa.

É evidente que "todas" pessoas podem usar uma mesma tecnologia ao mesmo tempo, se a tiverem. Mesmo sem patentes, a tecnologia ainda seria um bem escasso, e MAIS escasso -- porque as invenções não estão no éter para qualquer um pegar e usar. Dependem de desenvolvimento. E o desenvolvimento depende de valer a pena investir nisso. Quanto mais você limita a possibilidade de lucrar com isso, menos vale a pena. E logo, menos será produzido. Não tem como negar isso.




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A alegação de que, sem proteção à PI, isso “permite a outros com melhores condições de produção e distribuição de superar na competição os responsáveis pela criação do produto” levanta uma queixa de que a legislação não daria benefícios particulares a pessoas jurídicas particulares. Acontece que, se uma pessoa jurídica ir à falência por qualquer motivo, isso é problema dela.

Pelo mesmo critério, seria problema só seu se alguém viesse e roubasse sua casa, com tudo que há nela, e suas senhas bancárias.

Não se limita a benefícios particulares, conforme mencionei brevemente.

Embora esses benefícios (ou prejuízos) sejam imediatamente particulares, exatamente como é a proteção contra perda material pela subtração de bens tangíveis, eles beneficiam colateralmente a sociedade, que pode assim desfrutar de maior produção intelectual do que haveria se não houvesse tal proteção, se fosse um investimento mais inseguro.

Da mesma forma que, com segurança a propriedade em geral, você tem estímulo a produzir, pois pode acumular o produto do seu trabalho, e isso beneficia a todos. Passa a valer a pena, não vai vir alguém e de repente levar o que é seu impunemente.




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Ninguém obriga alguém a investir em bens de capital. A única preocupação da legislação e da justiça deve ser se a estrutura de mercado como um todo sai prejudicada em relação à eficiência.

Não existe mercado sem propriedade privada, mas comunismo. Teríamos o estado patrocinando toda a produção intelectual, e filantropos ajudando?

Offline Lakatos

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #10 Online: 28 de Agosto de 2016, 12:05:20 »
O que garante o papel estratégico das tecnologias proprietárias nesse ramo também é a proteção à propriedade intelectual, com a patente de processos. Em comparação os custos de pesquisar e desenvolver, apenas adaptar equipamentos e tecnologias para produzir um produto concorrente é uma pechincha.

E por acaso os processos de produção não podem estar carregados de tecnologia proprietária?

Você não entendeu o que eu disse. É muito mais barato e menos arriscado adaptar os componentes tecnológicos do processo de produção do que investir em pesquisa e desenvolvimento. Continuaria compensando por larga margem a empresa não investir e esperar pela pesquisa de outros laboratórios.

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Ademais, explique-me o que eu chamo de "enigma do mark-up diferenciado". É muito comum encontrar venda de remédio original depois de um farmacêutico ter oferecido um genérico com preço significativamente menor. Então, como seria possível explicar o mark-up significativamente maior do laboratório criador do original sem tecnologia proprietária?

Os genéricos são feitos quase todas as vezes após o vencimento das patentes. Nesse período, o laboratório que desenvolveu a fórmula já teve tempo suficiente para explorar o mercado com a proteção de patente e recuperar o valor do investimento em pesquisa, então a situação não pode ser comparada à que estamos discutindo. E o mark-up mais alto para os medicamentos "de referência" são tanto estratégia de marketing ("custa mais caro, portanto deve ser melhor") mirando um nicho de mercado de renda mais alta quanto um reflexo do uso de matérias-primas de maior custo.

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No texto que coloquei do site Opinião e Notícia, um cardiologista afirma sobre os criadores de genéricos que "cada um desses novos produtores vai usar os excipientes que lhe pareçam mais adequados ou de custo mais baixo e nem sempre a combinação será adequada, por isso é comum os genéricos serem ineficazes ou causarem até reações negativas, como intolerâncias ou alergias".

Essa questão também não tangencia a discussão principal do tópico. A escolha da qualidade dos materiais não tem relação direta com a proteção de patentes. Sem a proteção de propriedade intelectual, os laboratórios podem copiar completamente a fórmula dos medicamentos, incluindo os excipientes, e até mesmo a marca e a embalagem. No limite, não haveria nenhuma diferenciação palpável para justificar uma escolha racional do consumidor pelo mais caro.

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #11 Online: 29 de Agosto de 2016, 22:25:37 »
Lakatos, se as gigantes farmacêuticas já estariam na fase em que recuperaram o valor do investimento em pesquisa depois do vencimento das patentes, isso tem pouca importância, pois pode-se afirmar que qualquer firma objetiva maximizar lucro em qualquer fase do ciclo do produto. O mistério do mark-up mais alto das gigantes segue, pois as duas estratégias de marketing que você citou pode ser imitados por qualquer empresa do ramo.

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #12 Online: 29 de Agosto de 2016, 22:35:49 »
Buckaroo tem alguns argumentos centrais, que são pilares, então não preciso responder tudo.

Se eu posso usufruir do seu suposto bem sem subtrai-lo de você, então você não tem uma propriedade legítima sendo roubada. Essa diferença é radical e diferencia bem os dois tipos de propriedades que vem sendo discutidos. Dizer que a tecnologia é gerada em atividades de pesquisa e desenvolvimento em que os agentes econômicos se engajam na busca por lucros monopolistas não prova que ela não é um bem não escasso. Prova somente que ela não é um bem livre, pois julgamos se um bem é escasso a partir de quando sua produção está concluída. A tecnologia (“ideias”), ao contrário de muitos outros bens econômicos, é um bem não-rival: a utilização de certa ideia por um agente econômico não impede que outros a utilizem, enquanto a utilização de um bem rival, por exemplo, um bem de consumo por um consumidor, inviabiliza sua utilização por outro. Diferentemente de bens rivais, que precisam ser produzidos em unidades a serem vendidas, os bens não-rivais só precisam ser produzidos uma vez. Por exemplo, certa tecnologia só é inventada (produzida) uma vez, nas vezes seguintes ela é simplesmente copiada a um custo insignificante (cópias de software, por exemplo). Isto quer dizer que existe um custo fixo relativamente elevado (pesquisa e desenvolvimento) para produzir tecnologia, mas o custo variável é zero ou negligível. A transmissão da tecnologia de uma firma para outra num mundo sem patentes não seria grátis, mas o conteúdo da mesma teria custo zero ou negligível. E ter essa magnitude de custo significa não escassez.

“Mercados imitativos diminuiriam os lucros dos potenciais produtores de patentes num mundo sem patentes”. Do ponto de vista individual para várias pessoas jurídicas, sim, mas seria perfeitamente concebível que tal efeito desaparecesse quando se considerasse o país ou o mundo como um todo. Perder-ia-se com a possibilidade de imitação dos outros aqui e ganharia-se com a possibilidade de imitar os outros acolá, além de se gerar uma maior pressão para a produção de tecnologia proprietária. Até agora, não vi qualquer evidência forte de que o balanço global seria negativo.

“Se a proteção de patentes fosse dispensável para o sucesso da criação de inovação, porque as empresas geralmente não abrem mão das mesmas?”. Isso é equivalente a perguntar: “Se o crédito subsidiado estatal é dispensável para o financiamento das empresas, como essas geralmente não abrem do mesmo?”para defender defender o crédito subsidiado estatal. É fácil desejar boquinha estatal, difícil é provar que uma determinada defesa particular de lucros privados pelo estado leva a um balanço de benefício público positivo.
« Última modificação: 29 de Agosto de 2016, 22:46:44 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #13 Online: 30 de Agosto de 2016, 00:38:37 »
Buckaroo tem alguns argumentos centrais, que são pilares, então não preciso responder tudo.

Se eu posso usufruir do seu suposto bem sem subtrai-lo de você, então você não tem uma propriedade legítima sendo roubada.

Isso é uma petição de princípio e, além disso, não estritamente correto.

A inexistência ou relativa irrelevância de uma subtração física é apenas uma característica que distingue a propriedade intelectual da física, não algo que caracteriza ou descaracteriza como propriedade.

E, na verdade, nem realmente descaracteriza exatamente essa "subtração", é claro, dentro do que é compatível com a natureza da propriedade intelectual.

É assim que ocorre o plágio, por exemplo. Se você está fazendo um concurso de redação, escreve uma redação, me passa para eu opinar, e eu então opino, mas também a copio, faço algumas alterações (ou não), e submeto essa modificação do seu trabalho ao concurso, eu estou roubando seu trabalho, que é sua propriedade.

Essa situação poderia ser tal que a perda fosse absoluta, inequívoca, como, o primeiro a entregar algo bom o bastante ganha, e o outro nem é considerado, seria então uma subtração "total", mas não é a única possibilidade. Se outras pessoas vendem algo que é seu, sem terem acertado alguma forma de compensação, eles estão usando o que é seu para lucrar, e ao fazer isso reduzem automaticamente a sua chance de lucrar com sua criação, que é sua propriedade. É exatamente "como se" tivessem roubado uma outra coisa qualquer sua e vendessem; não importa que "você ainda a tenha para vender".



 
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Essa diferença é radical e diferencia bem os dois tipos de propriedades que vem sendo discutidos. Dizer que a tecnologia é gerada em atividades de pesquisa e desenvolvimento em que os agentes econômicos se engajam na busca por lucros monopolistas não prova que ela não é um bem não escasso. Prova somente que ela não é um bem livre, pois julgamos se um bem é escasso a partir de quando sua produção está concluída.

A propriedade intelectual é um bem escasso pelo simples fato de que você não pode me passar o link de um torrent de um filme, livro, ou música que ainda não existe.

Há uma escassez absoluta de "de volta para o futuro 4", há só um "de volta para o futuro 1", um "2", e um "3".

Se a propriedade intelectual fosse realmente abundante, não seria possível falar em criação original, que, evidentemente, existe.

A partir do momento em que algo é criado, suas reproduções físicas podem ser abundantes, mas elas não são a propriedade intelectual. Não se pode confundir essas duas coisas. Se eu roubo um DVD Blu-ray da locadora, ou toda uma carga deles, eu não cometo plágio, nem outra violação de direitos autorais, é um roubo de propriedade física normal.




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A tecnologia (“ideias”), ao contrário de muitos outros bens econômicos, é um bem não-rival: a utilização de certa ideia por um agente econômico não impede que outros a utilizem, enquanto a utilização de um bem rival, por exemplo, um bem de consumo por um consumidor, inviabiliza sua utilização por outro.

É sim um bem rival, é evidente e inegável que a exploração de uma mesma propriedade intelectual por agentes concorrentes reduz a possibilidade de lucro de cada agente, o que é um prejuízo maior para o autor/inventor. Ou mesmo no lado do consumo apenas, ainda é algo sujeito a valer menos quanto mais houver consumo. Daí se definiu os direitos autorais e a patentes, a fim de que haja estímulo para criar com maiores perspectivas de ganho financeiro a partir disso.




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Diferentemente de bens rivais, que precisam ser produzidos em unidades a serem vendidas, os bens não-rivais só precisam ser produzidos uma vez. Por exemplo, certa tecnologia só é inventada (produzida) uma vez, nas vezes seguintes ela é simplesmente copiada a um custo insignificante (cópias de software, por exemplo). Isto quer dizer que existe um custo fixo relativamente elevado (pesquisa e desenvolvimento) para produzir tecnologia, mas o custo variável é zero ou negligível. A transmissão da tecnologia de uma firma para outra num mundo sem patentes não seria grátis, mas o conteúdo da mesma teria custo zero ou negligível. E ter essa magnitude de custo significa não escassez.

Não exatamente. São coisas distintas, a reprodução/transmissão, e a idéia original. Como está implicito no que disse, a viabilidade da abundância de cópias ou transmissões não muda a escassez das criações originais, de "uma" unidade.

E é essa comparativa facilidade absoluta da cópia que suscita a necessidade de proteção aos direitos autorais.




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“Mercados imitativos diminuiriam os lucros dos potenciais produtores de patentes num mundo sem patentes”. Do ponto de vista individual para várias pessoas jurídicas, sim, mas seria perfeitamente concebível que tal efeito desaparecesse quando se considerasse o país ou o mundo como um todo.


Perder-ia-se com a possibilidade de imitação dos outros aqui e ganharia-se com a possibilidade de imitar os outros acolá, além de se gerar uma maior pressão para a produção de tecnologia proprietária. Até agora, isso não vi qualquer evidência forte de que o resultado global líquido seria negativo.

Me parece tão "concebível" quanto que "-1-1=+3".

Isso não é absolutamente diferente de dizer que, se expropriarmos e socializarmos os meios de produção, todos serão mais produtivos e viverão felizes para sempre/não vi evidência de que a economia teria um saldo negativo. Curiosamente, aquela estorinha fictícia do professor que ensina sobre o comunismo com "notas socializadas" fala sobre uma forma de comunismo intelectual.

"Do ponto de vista individual reduziriam os lucros dos indivíduos que criam" -- e disso não se prevê automaticamente um resultado líquido negativo?

Você reduz dramaticamente, praticamente tira quaisquer chances de poder lucrar só com uma propriedade intelectual -- essencialmente diz, "autores, inventores, vão se foder; vocês não têm mais direito ao que criarem" -- mas, mesmo assim, as pessoas vão se engajar em mais criação do que se tinha antes, com a soma de criação com e sem fins lucrativos?

Sem falar nesse lado apenas lógico, ainda tem o empírico, as diferenças em inovação (e talvez outros tipos de produção) em países de acordo com o grau de proteção à PI, e não significativamente associada a outra coisa.

Aqui o comunismo intelectual até lembra o físico na concepção de ser necessário um "comunismo global", não só em um país, onde a reduzida proteção à PI (efetivamente gradações de comunismo intelectual) "ainda" é associada a menores níveis de inovação e produção. Mas quando todos forem assim, então haveria produção maior do que a soma dos que mais produzem apesar do "obstáculo" de proteção legal, com aquela dos países onde o comunismo-intelectual "num só país" não dá certo "ainda".


Eu fico pasmo com isso. O comunismo físico ainda tem a "vantagem" da detenção dos meios de produção pelos burguesas ser um ponto mais significativo, já que os "burgueses intelectuais" não detém o principal, que é o cérebro, nem mesmo ferramentas como conhecimento de base, que na vasta maior parte encontrado livremente disponível (não necessariamente cada exposição individual, mas o conteúdo delas, conhecimento natural, que não é patenteável), e cada vez mais profusamente. É o produto do investimento alheio que se pretende socializar, não os meios de produção, de que já largamente dispoem.


(acho curioso ver como "vantajoso" um incentivo à produção de tecnologia proprietária, já que essa é menos pública do que a patenteada; e, por coerência, mesmo essa não deveria dispor de proteção legal, e então, também tenderia a ser drasticamente reduzida, na economia de mercado. Ainda poderia trazer alguma vantagem competitiva, mas por não dispor de proteção legal, não vale a pena investir nela)



 
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“Se a proteção de patentes fosse dispensável para o sucesso da criação de inovação, porque as empresas geralmente não abrem mão das mesmas?”. Isso é equivalente a perguntar: “Se o crédito subsidiado estatal é dispensável para o financiamento das empresas, como essas geralmente não abrem do mesmo?”para defender defender o crédito subsidiado estatal. É fácil desejar boquinha estatal, difícil é provar que uma determinada defesa particular de lucros privados pelo estado leva a um balanço de benefício público positivo.

Não no caso dos direitos de proteção à propriedade, de qualquer tipo. Instituições protegendo o direito à propriedade são de longe o elemento mais fundamental para o desenvolvimento econômico e social.

Quaisquer benefícios que possam ser provenientes de limitações a esses direitos podem ser explorados cautelosamente, sem colocar tudo a perder. Ao mesmo tempo, é praticamente completamente livre a produção e propriedade comunitária voluntária.



Offline Lakatos

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #14 Online: 30 de Agosto de 2016, 08:22:56 »
Lakatos, se as gigantes farmacêuticas já estariam na fase em que recuperaram o valor do investimento em pesquisa depois do vencimento das patentes, isso tem pouca importância, pois pode-se afirmar que qualquer firma objetiva maximizar lucro em qualquer fase do ciclo do produto. O mistério do mark-up mais alto das gigantes segue, pois as duas estratégias de marketing que você citou pode ser imitados por qualquer empresa do ramo.

Mas não é razoável esperar que a estratégia de posicionamento que funciona após a recuperação do investimento é a mesma que funcionaria em uma disputa com outros concorrentes e ainda tendo esse rombo para eliminar. A analogia não se sustenta, são realidades diferentes.

Outro aspecto a considerar é que no modelo atual o que expira é apenas a patente sobre a fórmula, mas a empresa continua com proteção da marca, o que também permite um mark-up maior. Sem a proteção à PI, empresas oportunistas poderiam explorar também a marca dos concorrentes, além da própria fórmula. Resultado: queda geral de preços e a desenvolvedora do fármaco não conseguindo recuperar o investimento em pesquisa.

« Última modificação: 30 de Agosto de 2016, 08:26:47 por Lakatos »

Offline André Luiz

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #15 Online: 30 de Agosto de 2016, 08:35:25 »
Não tem um meio termo pra essa parada toda aí?

Nem os 70 anos para usar o Mickey e nem putaria total como os chineses fazem

Offline Lakatos

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #16 Online: 30 de Agosto de 2016, 08:43:49 »
O que estou dizendo se aplica a alguns setores peculiares, como o farmacêutico, onde são necessários altos investimentos para desenvolver os produtos e a continuidade desses investimentos possui grande utilidade pública.

Há outros setores onde a proteção à propriedade intelectual, da forma como existe hoje, é excessiva e ridícula.

Offline André Luiz

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #17 Online: 30 de Agosto de 2016, 09:32:21 »

É, por isso ocorrem distorções malucas, na área acadêmica o sonho do professores é serem lidos, mas a editora vai cobrar um absurdo e os alunos se comprarem toda a bibliografia recomendada morrem pobres e o conhecimento não se dissemina.

Já no mercado editorial de fato outros autores não escrevem mais nada e ficam sentados encima dos royalties de todos os negocios gerados da obra que deu certo, sim George R.R. Martin, estou falando de você.

O resultado é pouca produção e nego tentando emplacar um best seller

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #18 Online: 30 de Agosto de 2016, 14:37:08 »
Não entendi. É cada vez mais comum a disseminação praticamente de graça, como com as khans academies da vida, open-courses, wikibooks, etc, além de livros que já entraram em domínio público. O material acadêmico raramente terá algo exclusivo em conteúdo "factual", se trata apenas de uma apresentação, em tese com inúmeros substitutos, porém, que poderá ser preferida por ser uma boa apresentação dos temas, e por isso, poderá cobrar mais caro, além de talvez precisar ser mais caro, por ser baixa a demanda e etc. Ainda assim não raramente há o mercado de usados e vem surgindo as opções de e-books e até mesmo serviços de assinatura parecidos com "netflix".

A parte de alguém ser bem sucedido e produzir menos eu entendo menos ainda. Fica no ar meio que uam sugestão é que a pessoa não possa desfrutar do conforto que conseguiu conquistar, mesmo em idade avançada, que seria melhor que outros pudessem vender sua obra sem lhe pagar nada, para que ele continuasse a produzir... :hein:

"Nego" tentando emplacar best-seller é problema? Racismo.

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #19 Online: 30 de Agosto de 2016, 21:33:49 »
Buckaroo,

Eu disse que não há razão para crer que o resultado líquido seria negativo porque o “roubo” de consumidores pela imitação dos criadores não impede que esses mesmos “roubem” consumidores alheios pela imitação de outros inovadores.

Associação entre proteção à PI e inovação/produção e a ideia que a primeira causa a segunda pode ser uma ilusão causal chamada de epifenômeno, como já argumentei no post de 27 de Agosto de 2016, 20:36:15 (onde disse que suspeito que a força causal do direito a propriedade de bens tangíveis esteja por trás da ilusão). A única técnica rigorosamente científica que os filósofos da ciência podem usar para estabelecer causalidade é o teste de causalidade de Granger (e mesmo ele não traz certeza plena): ../forum/topic=22025.0.html#msg906217 Eu não digo "num mundo sem direito de propriedade intelectual, seríamos mais prósperos socialmente". Só digo que não há evidência empírica para o crédito que você dá a ele quanto à prosperidade social.

EDIT: Estou desenvolvendo melhor um trecho de uma argumentação que apaguei aqui.
« Última modificação: 30 de Agosto de 2016, 22:38:51 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #20 Online: 30 de Agosto de 2016, 21:37:44 »
Citar

Mas não é razoável esperar que a estratégia de posicionamento que funciona após a recuperação do investimento é a mesma que funcionaria em uma disputa com outros concorrentes e ainda tendo esse rombo para eliminar. A analogia não se sustenta, são realidades diferentes.


Não entendi. Não funcionaria por que? São realidades diferentes por que?

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #21 Online: 30 de Agosto de 2016, 22:28:52 »
No capítulo 14 do livro Free: Grátis - O Futuro dos Preços de Chris Anderson, ele fala que estima-se que a pirataria responda por 95% do consumo de músicas na China. Ou seja, a pirataria venceu a legislação de direito de propriedade intelectual. Como explicar que a imitação não destruiu a indústria fonográfica na China? Vejam:

"Xiang Xiang é uma estrela pop chinesa de 21 anos , que ficou famosa com a insolente música "Son of Pig". Seu último álbum vendeu quase quatro milhões de discos. O problema é que quase todos eram versões pirateadas. Ou melhor, esse é o problema da gravadora dela. Ela não vê problema algum. No que diz respeito a ela, isso representa quatro milhões de fãs que não teria se eles tivessem que pagar o preço cheio pelo álbum e ela aprecia adulação e feedback. Ela também gosta do dinheiro que ganha com participações especiais e anúncios de produtos, tudo possibilitado por sua fama baseada na pirataria. E também há o tour de shows, no qual visitará 14 cidades nesse verão.”

Como as gravadoras não podem ganhar dinheiro vendendo música em discos de plásticos, elas estão vendendo de outras formas. Essas formas são explicadas no capítulo do livro.

E grande parte disso se estende a vários outros mercados. Hoje em dia, existe um setor inteiro da China dedicado a clonar produtos de marca do dia para noite. Vejam mais um trecho do capítulo:

“Hoje em dia, a China (incluindo Hong Kong) representa o terceiro maior mercado de bens de luxo legítimos do mundo… Em termos econômicos, a pirataria estimulou mais a demanda do que satisfez.

A ideia de as imitações poderem acabar ajudando os originais, especialmente no negócio da moda, não é nova. Em economia, isso é chamado de “paradoxo da pirataria”, um termo cunhado pelos professores de Direito Kal Raustiala e Christopher Sprigman.

O paradoxo tem origem no dilema básico que fundamenta a economia da moda: os consumidores precisam gostar dos modelos deste ano, mas também devem rapidamente ficar insatisfeitos com eles para comprar os modelos do anos seguinte. Diferentemente da tecnologia, as empresas do seto vestuário não podem argumentar que os modelos do ano seguinte são melhores em termos funcionais - eles só tem uma aparência diferente. Então, elas precisam de alguma outra razão para que os consumidores deixem de gostar dos modelos deste ano. A solução: a cópia generalizada que transforma um modelo exclusivo em uma commodity do mercado de massa. A mística do estilista é destruída pela generalização barata - e consumidores exigentes precisam sair em busca de algo exclusivo e novo.

É isso que Raustiala e Sprigman chamam de "obsolescência induzida". A cópia permite que a moda passe rapidamente dos formadores de opinião às massas, forçando os primeiros a adotarem algo novo. Na China, os formadores de opinião são os novos ricos e a classe média  emergente, enquanto as massas constituem um bilhão de pessoas que podem ter um gostinho do mercado de luxo com uma boa imitação. Ambos os produtos - o verdadeiro e a imitação - são direcionados a diferentes segmentos de mercado. Um fortalece o outro.”

Nota minha: Um exemplo de dois depoimentos citados no capítulo 14. São de mulheres chinesas que compram dos dois mercados distintos...

“Eu não tenho como comprar Prada ou Coach reais, então compro as imitações. Espero que no futuro eu possa comprar o original, mas, por ora, só quero parecer bem-sucedida”

“Se você usar muitas roupas falsificadas ou tiver muitas bolsas pirateadas, suas amigas vão saber, então você não está enganado ninguém. É melhor ter o original”.

A última declaração confirma uma coisa que vocês podem constatar ao se aprofundar numa pesquisa pela internet. As empresas que fabricam as grifes já tem técnicas sofisticadas para que as pessoas consigam distinguir o original do falso.   
« Última modificação: 30 de Agosto de 2016, 23:47:41 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #22 Online: 31 de Agosto de 2016, 00:11:25 »
Para não morrerem de curiosidade, colocarei uma citação do livro que responde a pergunta: "Como as gravadoras da China vendem?"

"Elas pedem aos artistas que gravem singles para tocar no rádio, em vez de álbuns para os consumidores. Elas atuam agenciando os artistas por uma parcela nos honorários para fazer comerciais e apresentações no rádio. E até shows são pagos por anunciantes intermediados pelas gravadoras que colocam o maior número de seus artistas no palco para maximizar o faturamento obtido dos patrocinadores."

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #23 Online: 31 de Agosto de 2016, 08:11:49 »
Buckaroo,

Eu disse que não há razão para crer que o resultado líquido seria negativo porque o “roubo” de consumidores pela imitação dos criadores não impede que esses mesmos “roubem” consumidores alheios pela imitação de outros inovadores.

Ou seja, a 20th century fox não perde nada para a Warner,  ou vice-versa, nem para o Asylum, porque ambas pirateiam filmes umas das outras, e do Asylum também? Não perdem nada para os Neftlix da vida porque eles criam seus próprios netlixes e reproduzem o que for de quem mais tiver produzido algo?





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Associação entre proteção à PI e inovação/produção e a ideia que a primeira causa a segunda pode ser uma ilusão causal chamada de epifenômeno, como já argumentei no post de 27 de Agosto de 2016, 20:36:15 (onde disse que suspeito que a força causal do direito a propriedade de bens tangíveis esteja por trás da ilusão). A única técnica rigorosamente científica que os filósofos da ciência podem usar para estabelecer causalidade é o teste de causalidade de Granger (e mesmo ele não traz certeza plena): ../forum/topic=22025.0.html#msg906217 Eu não digo "num mundo sem direito de propriedade intelectual, seríamos mais prósperos socialmente". Só digo que não há evidência empírica para o crédito que você dá a ele quanto à prosperidade social.

EDIT: Estou desenvolvendo melhor um trecho de uma argumentação que apaguei aqui.

Vou aguardar. Provavelmente não é diferente do resultado de se limitar/eliminar a proteção à qualquer tipo de propriedade (veículos, terras, máquinas) e os benefícios/malefícios decorrentes.

Mas não acho que há forte correlação de proteção a propriedade de bens tangíveis:





No capítulo 14 do livro Free: Grátis - O Futuro dos Preços de Chris Anderson, ele fala que estima-se que a pirataria responda por 95% do consumo de músicas na China. Ou seja, a pirataria venceu a legislação de direito de propriedade intelectual. Como explicar que a imitação não destruiu a indústria fonográfica na China? Vejam:

"Xiang Xiang é uma estrela pop chinesa de 21 anos , que ficou famosa com a insolente música "Son of Pig". Seu último álbum vendeu quase quatro milhões de discos. O problema é que quase todos eram versões pirateadas. Ou melhor, esse é o problema da gravadora dela. Ela não vê problema algum. No que diz respeito a ela, isso representa quatro milhões de fãs que não teria se eles tivessem que pagar o preço cheio pelo álbum e ela aprecia adulação e feedback. Ela também gosta do dinheiro que ganha com participações especiais e anúncios de produtos, tudo possibilitado por sua fama baseada na pirataria. E também há o tour de shows, no qual visitará 14 cidades nesse verão.”

Isso é irrelevante quanto a propriedade intelectual. Mesmo esses ganhos colaterais se baseiam também nela ter direitos autorais sobre o que cria, como em comerciais ou merchandising -- não são "graças à pirataria", mas graças ao seu sucesso, a despeito das perdas advindas da pirataria.

Se ela ou seus empresários acreditarem que a distribuição livre de músicas é comercialmente vantajosa, eles podem fazê-la dentro de limitações que escolhem, como para os fãs ouvirem, e ainda assim ganhar a partir do licenciamento de uso para promoção de alguma outra coisa por parte de outros empresários, algo que perdem sem esses direitos. Ainda haveria alguma chance de ganho por status de "celebridade", que não é sempre correlato à autoria (Kim Kardashian), podem haver tanto autores sem esse status, que só tem a perder quando outros podem explorar seu trabalho para lucrar sem lhe dever nada.



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A ideia de as imitações poderem acabar ajudando os originais, especialmente no negócio da moda, não é nova. Em economia, isso é chamado de “paradoxo da pirataria”, um termo cunhado pelos professores de Direito Kal Raustiala e Christopher Sprigman.

Não é nova, mas é equivocada, e novamente não tem muita analogia em "fim dos direitos autorais".

A situação dos criadores originais seria sempre melhor se obtivessem qualquer renda a partir do licenciamento do que é utilizado sem licença para o lucro alheio, competindo com aquilo que ainda for produzido respeitando seu direito autoral.

Sem direitos autorais, nem essa fatia é algo que necessariamente existirá, e depende ou do criador poder bancar a produção do que quer que seja aplicado sua PI, e/ou de haver quem avalie valer a pena fazer esse investimento (em vez de imitar de graça alguém que já tenha feito algo suficientemente próximo) no que pode ser imediatamente roubado e competir com o que se produz.




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O paradoxo tem origem no dilema básico que fundamenta a economia da moda: os consumidores precisam gostar dos modelos deste ano, mas também devem rapidamente ficar insatisfeitos com eles para comprar os modelos do anos seguinte. Diferentemente da tecnologia, as empresas do seto vestuário não podem argumentar que os modelos do ano seguinte são melhores em termos funcionais - eles só tem uma aparência diferente. Então, elas precisam de alguma outra razão para que os consumidores deixem de gostar dos modelos deste ano. A solução: a cópia generalizada que transforma um modelo exclusivo em uma commodity do mercado de massa. A mística do estilista é destruída pela generalização barata - e consumidores exigentes precisam sair em busca de algo exclusivo e novo.

É isso que Raustiala e Sprigman chamam de "obsolescência induzida". A cópia permite que a moda passe rapidamente dos formadores de opinião às massas, forçando os primeiros a adotarem algo novo. Na China, os formadores de opinião são os novos ricos e a classe média  emergente, enquanto as massas constituem um bilhão de pessoas que podem ter um gostinho do mercado de luxo com uma boa imitação. Ambos os produtos - o verdadeiro e a imitação - são direcionados a diferentes segmentos de mercado. Um fortalece o outro.”

Ainda é algo que não tem analogia perfeita com um fim de direitos autorais, e nem é algo que se aplicaria a qualquer outra produção autoral ou intelectual. Mesmo nessa área, não será sempre algo desejável, talvez especialmente quando você considera que "falsificações" deixam de existir, tudo vira "original".

E novamente, os autores sempre ganhariam mais se recebessem algo por seu trabalho. Poderiam ainda assim ter os benefícios hipotéticos vindos desse saturamento do mercado. É portanto FALSO que seja um caso em que seus direitos os prejudicam, ou ao mercado. É devido a eles que ainda ganham algo com os originais, ao menos.



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“Se você usar muitas roupas falsificadas ou tiver muitas bolsas pirateadas, suas amigas vão saber, então você não está enganado ninguém. É melhor ter o original”.

A última declaração confirma uma coisa que vocês podem constatar ao se aprofundar numa pesquisa pela internet. As empresas que fabricam as grifes já tem técnicas sofisticadas para que as pessoas consigam distinguir o original do falso.

Não deve ser na maior parte do tempo algo mais sofisticado do que melhor qualidade perceptível e maior preço.

Mas isso foge ao tema central: sem renda a partir de direitos autorais, não é algo que tem qualquer relevância ao autor, o único ganho seria dos fabricantes que pudessem produzir com melhor qualidade, tanto quanto as pessoas acharem que vale esse investimento adicional ao que tem a mesma aparência, de qualidade inferior. Se hoje os autores ganham com os originais, a tendência seria a não ganhar mais com nada, exceto por aqueles já com status bastante elevado e que dispoem de recursos para se promover e uma "própria" linha de produção. Mas a criação original ainda perde algum valor, muito embora nesse caso em particular o custo de criação seja dos mais baratos possíveis.

O pior lado da perda do consumidor (e fabricantes, e criadores) na qualidade de uma marca até então confiável (associada a un dono legítimo, que pode agir contra falsificadores), não se dá tanto em ítens mais ou menos supérfluos como moda, mas no que lidar com a segurança e com a saúde do consumidor.

Talvez os comunistas vejam isso como positivo por dar uma vantagem ao comércio de produção local, e/ou forçar a um estreitamento dos laços entre consumidores, comerciantes, e fornecedores.




Curiosidade : o livro "Free" não é tanto um manifesto-anti direitos autorais/PI, mas mais focado quanto às possibilidades de explorar lucrativamente o "preço" de graça, como vem acontecendo cada vez mais comumente, e como pode ser vista analogia em pirataria, que leva alguns autores até a tentar competir com ela na distribuição gratuita do que produzem, ainda que talvez tenham versões "freemium", e, em alguns casos (como músicos) ainda renda a partir de licenciamentos e shows. Esse livro mesmo foi por tempo limitado lançado para download de graça, ao menos o audibook, e depois colocado a venda propriamente dita, nos modos convencionais permitidos por direitos autorais. Isso é, não é liberado para qualquer grande empresa vender e não pagar nada ao autor. Baixei o audiobook na época.

Offline -Huxley-

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Re:A propriedade intelectual é a chave do sucesso?
« Resposta #24 Online: 01 de Setembro de 2016, 10:30:23 »
Quanto à proteção aos consumidores, eu acho, que mesmo que 100% deles alegassem juridicamente que se importariam apenas com o conteúdo e não com a marca, uma legislação anti-fraude paternalista como a do CDC brasileiro poderia enquadrar a cópia da marca como "indução ao erro" (um exemplo de paternalismo - atualmente, é proibido, por exemplo, uma loja brasileira fazer drop shipping com um fornecedor da China omitindo que está vendendo sem ter o estoque e que está fazendo uma venda cruzada). Então, acho que a ausência de direito de marca prejudicaria aquilo que se chama de respeito aos contratos. Então, vou focar mais nas patentes nas discussões.

Mais tarde, eu retomo o restante do diálogo.
« Última modificação: 01 de Setembro de 2016, 10:37:26 por -Huxley- »

 

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