Muito bem, minha cara Freya; sua exposição prima pela clareza e objetividade embora a complexidade do tema que aborda.
Em princípio eu diria que discordo, aqui e ali, mas relendo com mais atenção vi que não discordava, mas admitiria um novo enfoque, um novo ângulo.
Minha base argumentativa é a defesa da evolução do ethos, e das sociedades como consequência.
Então, se admitimos, no conceito multiculturalismo relativista, i.e. " o multiculturalista radical aceitará qualquer tipo de cultura, de repente porque pensa que tudo vale, pelo fato de a moralidade ser relativa à cultura. " http://www.curtociencia.com/relativismo-e-multiculturalismo
Ora, o costume da ablação ou extirpação do clitóris em certas culturas, aceitas pelo multiculturalismo, há de se submeter e ser contido ante o avanço do pensamento universalista dos direitos do homem. Este é um ponto que interessa e toca diretamente na tendência pela globalização. As premências econômicas das culturas mais pobres e coincidentemente menos esclarecidas, menos civilizadas, conduzirão à aproximação e assimilação de novos valores ético-morais. Evolução. Uma tendência que acabará por fazer desaparecer aqueles costumes tribais.
Ao longo de um tempo maior ou menor, constataremos uma generalização positiva dos hábitos e costumes mais civilizados ao redor do mundo tornando obsoleto o relativismo multicultural.
Daí:
Por isso, a regra é válida como um exercício de empatia mesmo, e só, não como uma premissa que se pretende logicamente verdadeira para resolver os problemas da humanidade caso fosse aplicada por todos, dada a subjetividade e complexidade do comportamento humano.
Sim, mas uma subjetividade e complexidade que tende a esmaecer indo ao encontro de conceitos universalistas.
Muito obrigada, a recíproca é verdadeira.
Pois então, meu caro Spencer, estamos falando da regra de ouro e, enquanto "mandamento" eficaz para evolução ética da civilização, seja na sua versão positiva ou negativa, continuo concordando com o colega Lakatos de que ela não seria, filosoficamente falando, suficientemente abrangente para compreender a complexidade do problema a que se dispõe resolver, visto que toma por referencial aquilo que se deseja (ou não) para si próprio e aos outros, o que logicamente seria um parâmetro bem subjetivo, relativo e variável dada a grande diversidade cultural, e ela me parece estar mais ligada à moral individual ou local.
Já o
imperativo categórico de Kant*, que a pesar de também remeter a sentença à vontade do indivíduo (o que ele gostaria de ver sendo praticado no mundo todo), ainda me parece ter um caráter mais universalista na medida em que condiciona as ações a uma aceitação universal (e daí eu fiz referência aos direitos inerentes à existência humana minimamente digna, sobre direitos universais porque qualquer ser humano gostaria de ter garantidos, isto é, ninguém quer morrer, ninguém quer ser torturado, ninguém quer ter sua liberdade cerceada sem justificativa, etc).
Nesse caso, não importa como você gostaria de ser tratado pelos outros, pois suas ações serão guiadas com base no puro dever de agir corretamente, isto é, de forma a não desrespeitar o próximo de qualquer lugar do mundo, agir simplesmente pela razão, não existe um parâmetro subjetivo (o que eu gosto ou não gosto), mas sim a máxima de agir pelo dever ético incondicional, sem visar um fim (no imperativo hipotético a ação visa um fim).
*Não consegui inserir o hiperlink -
http://sofos.wikidot.com/imperativo-categorico