Concordo em parte, mas é preciso refletir sobre a armadilha que significa usar o termo "respeito" como um eufemismo para censura.
As religiões e os religiosos não têm esse pudor de respeitar a crença alheia. Muito menos a falta de crença.
Podem criticar, acusar, demonizar e até ridicularizar outras religiões, mas se um descrente fala da religião deles aí exigem respeito. Que significa "cale-se e guarde suas questões inconvenientes para si mesmo".
Porque entre eles o jogo é de igual para igual, todos têm rabo preso com a mentira. Se o evangélico aponta contradições nos dogmas católicos, o católico retruca mostrando as bizarrices evangélicas. Mas quando alguém demonstra os absurdos compartilhados por todos estes sistemas, sem a desvantagem dele mesmo não defender seu próprio sistema absurdo, cria um desconforto diferente. Não é à toa que, historicamente, as religiões conviveram melhor com outras crenças do que com o discurso ateísta.
Posso citar, dentre muitos exemplos, o de Spinoza. Que era um judeu como outros, muito bem adaptado vivendo confortavelmente em uma sociedade cristã. Mas quando pensou em publicar suas reflexões ateístas foi alvo de intolerância e censura. Os islâmicos, hoje vistos como o extremo da intolerância, conviveram muito bem durante séculos tanto com judeus quanto com cristãos. Mas ninguém argumentaria a favor da não existência de deuses em um mundo muçulmano e continuaria vivo. Até Aristóteles foi acusado de ateísmo em uma sociedade politeísta, onde não fazia muita diferença se alguém inventasse um novo deus ou credo.
Compreenda que criticar ideias não é o mesmo que desrespeitar pessoas, isso é uma confusão que eles criam deliberadamente como defesa. Se fosse assim você também não deveria criticar/refutar/rir do comunismo, do nazismo, do fascismo, do socialismo, do capitalismo... porque em qualquer destes casos, em coerência com seu próprio argumento, você estaria desrespeitando dezenas de milhões de pessoas.
Mas há um outro aspecto, que é o de que o absurdo, a mentira descarada, é exposta com muito mais facilidade pela ironia do que pelos argumentos perfeitamente lógicos. Um vídeo do Porta dos Fundos expõe muito mais as fragilidades da fé cristã que todos os livros de Dawkins juntos. Porque o humor tem esse poder de destacar o ridículo de uma maneira tão evidente que qualquer argumento tentando salvar o absurdo se mostra igualmente ridículo.
Logo, contra o humor, eles não têm outro argumento senão exigir "respeito". Que todos respeitem o sagrado direito da censura.