Como demonstrado por Foucault na História da Loucura, o que é considerado "louco" e "socialmente desajustado" já foi muitas vezes significado e ressignificado ao longo dos séculos, principalmente dependendo do que convém ou não ao esquema socioeconômico. Durante o tempo em que fui adepto do kardecismo de massa, observei por muitas vezes pessoas que, fora dali, receberiam indubitavelmente o rótulo de bipolares, esquizofrênicas e de transtornos de personalidade. Entretanto, lá dentro, dentro daquela cultura, sua condição era ressignificada como algo valioso e positivo - eram parte de algo, eram aceitas, eram incluídas, eram integradas, eram importantes. Na verdade, quando digo que a condição era ressignificada já estou errado, porque ajo como se a postura materialista e médica oficial fosse a verdadeira, quando pode muito bem nem ser, e daqui a uns séculos ser completamente descartada novamente. Enfim, o que interessa é que, dentro de um contexto oficial médico e materialista, talvez a verdadeira condição (mediúnica, vai saber?) dessas pessoas é que seria ressignificada como "doença mental", "problema", e elas seriam, então, medicadas, excluídas, rotuladas, enfim, tomadas como "desajustadas". Até que ponto isso é o melhor, para elas e para a sociedade? Se dentro de um determinado contexto cultural elas estiverem felizes sendo valorizadas, incluídas, socializadas, reconhecidas e levando uma vida comum, até que ponto é melhor se render à opinião médica e oficial, que tantas vezes ao longo da história esteve brutalmente errada?