Autor Tópico: Ecossocialismo  (Lida 277 vezes)

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Offline JJ

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Ecossocialismo
« Online: 25 de Março de 2018, 16:37:06 »

Ecossocialismo por Michael Löwy


Crítico ao capitalismo verde, que anseia tornar o capital menos agressivo ao meio ambiente, o cientista social brasileiro radicado na França, Michael Löwy, enfatiza em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos On-Line que é preciso reorganizar o modo de produção e consumo, atendendo às necessidades reais da população e à defesa do equilíbrio ecológico.


Löwy propõe romper com o capitalismo e transformar as estruturas das forças produtivas e do aparelho produtivo. “Trata-se de destruir esse aparelho de Estado e criar um outro tipo de poder. Essa lógica tem que ser aplicada também ao aparelho produtivo: ele tem que ser, senão destruído, ao menos radicalmente transformado. Ele não pode ser simplesmente apropriado pelos trabalhadores, pelo proletariado e posto a trabalhar a seu serviço, mas precisa ser estruturalmente transformado”, esclarece.


Michael Löwy é cientista social e leciona na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da Universidade de Paris. Entre sua vasta obra, estão Revoluções (Boitempo, 2009), Walter Benjamin: aviso de incêndio (Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann (Boitempo, 2005).


Confira a entrevista na íntegra:


O que o senhor entende por ecossocialismo? Quais as ideias principais dessa corrente?


Michael Löwy– O ecossocialismo é uma proposta estratégica que resulta da convergência entre a reflexão ecológica e a reflexão socialista, a reflexão marxista. Existe hoje em escala mundial uma corrente ecossocialista: há um movimento ecossocialista internacional, que recentemente, por ocasião do Fórum Social Mundial de Belém (janeiro de 2009), publicou uma declaração sobre a mudança climática; e existe no Brasil uma rede ecossocialista que publicou também um manifesto, há alguns anos. Ao mesmo tempo, o ecossocialismo é uma reflexão crítica.


Em primeiro lugar, crítica à ecologia não socialista, à ecologia capitalista ou reformista, que considera possível reformar o capitalismo, desenvolver um capitalismo mais verde, mais respeitoso ao meio ambiente. Trata-se da crítica e da busca de superação dessa ecologia reformista, limitada, que não aceita a perspectiva socialista, que não se relaciona com o processo da luta de classes, que não coloca a questão da propriedade dos meios de produção. Mas o ecossocialismo é também uma crítica ao socialismo não ecológico, por exemplo, da União Soviética, onde a perspectiva socialista se perdeu rapidamente com o processo de burocratização e o resultado foi um processo de industrialização tremendamente destruidor do meio ambiente. Há outras experiências socialistas, porém, mais interessantes do ponto de vista ecológico – por exemplo, a experiência cubana (com todos seus limites).


O projeto ecossocialista implica uma reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo, baseada em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a defesa do equilíbrio ecológico. Isto significa uma economia de transição ao socialismo, na qual a própria população – e não as leis do mercado ou um “burô político” autoritário – decide, num processo de planificação democrática, as prioridades e os investimentos. Esta transição conduziria não só a um novo modo de produção e a uma sociedade mais igualitária, mais solidária e mais democrática, mas também a um modo de vida alternativo, uma nova civilização, ecossocialista, mais além do reino do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade, e da produção ao infinito de mercadorias inúteis.


Em que consiste o Manifesto Ecossocialista Internacional?


Michael Löwy – O Manifesto Ecossocialista Internacional, redigido em 2001 porJoel Kovel e por mim, foi uma primeira tentativa de resumir, em algumas páginas, as ideias principais do ecossocialismo, como projeto radicalmente anticapitalista e antiprodutivista, e como crítica às experiências socialistas não ecológicas do século XX.


A tentativa de aplicar o socialismo no mundo fracassou. Será possível vingar o ecossocialismo? Por quê?


Michael Löwy – As experiências de corte social-democrata fracassaram porque não sairam dos limites de uma gestão mais social do capitalismo e, nos últimos anos do neoliberalismo, as experiências de tipo soviético ou stalinista fracassaram por ausência de democracia, liberdade e auto-organização das classes oprimidas. As duas tinham em comum uma visão produtivista de exploração da natureza, com dramáticas consequências ecológicas.


O ecossocialismo parte de uma visão crítica destes fracassos e propõe um projeto democrático, libertário e ecológico. Nada garante que possa vingar. Depende das lutas ecossociais do futuro.


Sob quais aspectos a crise ecológica é mais grave do que a econômica?


Michael Löwy – A crise econômica tem consequências sociais dramáticas – desemprego, crise alimentar etc. –, mas a crise ecológica coloca em perigo a sobrevivência da vida humana neste planeta. O processo de mudança climática e aquecimento global, provocado pela lógica expansiva e destruidora do capitalismo, pode resultar, nas próximas décadas, numa catástrofe sem precedente na história da humanidade: desertificação das terras, desaparecimento da água potável, inundação das cidades marítimas pela subida do nível dos oceanos etc.


Como pensar em ecossocialismo se a Modernidade é capitalista? Seria o ecossocialismo uma proposta para romper com o capital?


Michael Löwy – Absolutamente! Uma das ideias fundamentais do ecossocialismo é a necessidade de uma ruptura com o capitalismo. Uma ruptura que vai mais além de uma mudança das relações de produção, das relações de propriedade. Trata-se de transformar a própria estrutura das forças produtivas, a estrutura do aparelho produtivo. Há que aplicar ao aparelho produtivo a mesma lógica que Marx aplicava ao aparelho de Estado a partir da experiência da Comuna de Paris, quando ele diz o seguinte: os trabalhadores não podem apropriar-se do aparelho de Estado burguês e usá-lo a serviço do proletariado; não é possível, porque o aparelho do Estado burguês nunca vai estar a serviço dos trabalhadores.


Então, trata-se de destruir esse aparelho de Estado e de criar um outro tipo de poder. Essa lógica tem que ser aplicada também ao aparelho produtivo: ele tem que ser, senão destruído, ao menos radicalmente transformado. Ele não pode ser simplesmente apropriado pelos trabalhadores, pelo proletariado e posto a trabalhar a seu serviço, mas precisa ser estruturalmente transformado. É impossível separar a ideia de socialismo, de uma nova sociedade, da ideia de novas fontes de energia, em particular do Sol – alguns ecossocialistas falam do comunismo solar, pois entre o calor, a energia do Sol e o socialismo e o comunismo haveria uma espécie de afinidade eletiva.


Como o ecossosialismo pode se sustentar em economias emergentes, que ainda não conquistaram um status de bem-estar social das economias desenvolvidas?


Michael Löwy – As economias dos países do Sul, da Ásia, África e América Latina devem se desenvolver, mas isto não significa copiar o modelo de desenvolvimento capitalista do Ocidente e seu padrão de consumo insustentável. Trata-se de buscar um outro modelo, um desenvolvimento ecossocialista, baseado na agricultura orgânica dos camponeses e nas cooperativas agrárias, nos transportes coletivos, nas energias alternativas e na satisfação igualitária e democrática das necessidades sociais da grande maioria. O modelo ocidental não so é absurdo e irracional, mas não é generalizável: se os chineses quisessem imitar o American way of life, cinco planetas seriam necessários.


A humanidade deve preocupar-se com o ecossocialismo ou com o capitalismo verde?


Michael Löwy – O capitalismo verde é uma contradição nos têrmos. A lógica intrinsecamente perversa do sistema capitalista, baseada na concorrência impiedosa, nas exigências de rentabilidade, na corrida pelo lucro rápido, é necessariamente destruidora do meio ambiente e responsável pela catastrófica mudança do clima. As pretensas soluções capitalistas como o etanol, o carro elétrico, a energia atômica, as bolsas de direitos de emissão são totalmente ilusórias.


Os acordos de Kyoto, a fórmula mais avançada até agora de capitalismo verde, demonstrou-se incapaz de conter o processo de mudança climática. As soluções que aceitam as regras do jogo capitalista, que se adaptam às regras do mercado, que aceitam a lógica de expansão infinita do capital, não são soluções, são incapazes de enfrentar a crise ambiental – uma crise que se transforma, devido à mudança climática, numa crise de sobrevivência da espécie humana. Como disse recentemente o secretário das Nações Unidas, Ban Ki Moon: “Estamos correndo para o abismo com os pés colados no acelerador”.


Em que sentido a crise ecológica atual pode ser entendida como um problema de luta de classes?


Michael Löwy – Por um lado, a crise ecológica é um problema de toda a humanidade, pessoas de várias classes sociais podem se mobilizar por esta causa. Por outro lado, as classes dominantes são cegadas por seus interesses imediatos, pensam exclusivamente em seus lucros, sua competitividade, suas partes de mercado e defendem, com unhas e dentes, o sistema capitalista responsavel pela crise. As classes subalternas, os trabalhadores da cidade e do campo, os desempregados, o pobretariado têm interesses conflitivos com o capitalismo e podem ser ganhos para o combate ecossocialista. Não se trata de um processo inevitável, mas de uma possibilidade histórica.


Nas últimas conferências do clima, em Copenhague e Cancun, os movimentos sociais e ambientalistas fracassaram? Por que não se vê perspectiva de avançar nas lutas ambientais?


Michael Löwy – O que fracassou em Copenhague e Cancun foram as políticas dos governos comprometidos com o sistema, que demonstraram sua total incapacidade de tomar qualquer decisão, mesmo a mais ínfima, no sentido de buscar reduzir significativamente as emissões de CO2, responsáveis pelo aquecimento global.


A manifestação de cem mil pessoas nas ruas de Copenhague nem 2009, protestando contra o fracasso da conferência oficial, com a palavra de ordem “Mudemos o sistema, não o clima”, é um primeiro passo, alentandor, no sentido de uma mobilização ecológica radical. Ainda estamos longe de ter uma luta ecológica planetária capaz de mudar a relação de forças e impor as drásticas mudanças necessárias. Mas esta é a única esperança de evitar a catástrofe anunciada.


Considerando o contexto de capitalismo exacerbado, acredita que as pessoas estão preparadas para o ecossocialismo?


Michael Löwy – Existe um sentimento anticapitalista difuso na América Latina, na Europa e em outras partes do mundo. O movimento altermundialista é uma das expressões disto. Por outro lado, cresce a consciência ecológica, a preocupação com as ameaças profundamente inquietantes que representa a mudança climática. Mas é no curso das lutas ecossociais contra as multinacionais destruidoras do meio ambiente e contra as políticas neoliberais que poderá surgir uma perspective ecossocialista. Não há nenhuma garantia; é apenas uma possibilidade, mas dela depende o futuro da vida neste planeta.


Qual é o papel das populações originárias como os indígenas e quilombolas na consolidação do ecossocialismo?


Michael Löwy– Em toda a América Latina – mas também na América do Norte e em outras regiões do mundo – as populações indígenas estão na primeira linha do combate à destruição capitalista do meio ambiente, em defesa da terra, dos rios, das florestas, contra as empresas mineiras, o agronegócio e outras manifestações da guerra do capital contra a natureza. Não por acaso os indígenas tiveram um papel determinante na organização da Conferência de Cochabamba em Defese da Mãe Terra e contra a Mudança Climática, em 2010, que contou com a participação de dezenas de milhares de delegados de comunidades indígenas e movimentos sociais. Temos muito aaprender com as comunidades indígenas, que representam outra visão da relação dos seres humanos com a natureza, totalmente oposta ao ethos explorador e destruidor do mercantilismo capitalista. Como diz nosso companheiro, o histórico lider indígena peruano Hugo Blanco: “Os indígenas já praticam o ecossocialismo há séculos!”


Publicado em 01/03/2011


https://blogdaboitempo.com.br/2011/03/01/1003/






Offline JJ

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Re:Ecossocialismo
« Resposta #1 Online: 25 de Março de 2018, 17:15:57 »

No item 13 do programa do PSOL temos:


13) Pela preservação do meio ambiente.

A construção de um ideário de superação do processo capitalista reúne hoje, além dos tradicionais pressupostos socialistas, um grande impulso ainda mais vital ligado à questão ecológica. Esse fator pode contribuir decisivamente na reorganização dos trabalhadores internacionalmente.

Tendo claro que as forças de destruição irracionais acumuladas pelo sistema ameaçam o conjunto da humanidade e da vida no planeta, de tal forma que a luta contra o capitalismo significa a luta em defesa da ecologia, do meio ambiente e da vida, o novo partido elaborará sua plataforma ecológica com a intervenção direta do movimento ecológico nos próximos meses.




http://www.psol50.org.br/partido/programa/



« Última modificação: 25 de Março de 2018, 17:27:54 por JJ »

Offline Cartório Popular

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Re:Ecossocialismo
« Resposta #2 Online: 14 de Junho de 2018, 12:31:45 »
Pobretariado, gostei dessa palavra.

Eu conheço esse autor, Michael Löwy, mas nunca gostei dele.  Quando alguém chega falando em ecossocialismo, zen-socialismo, comunismo solar, eu já fico logo desconfiado.  Esses autores ligados a círculos universitários, a grande maioria costuma ser socialista só de fachada.  Michael Löwy, David Harvey, Slavoj Zizek, Naomi Klein, Noam Chomsky...  Antigamente eu não percebia isso, mas hoje em dia pra mim é bem claro.  Uma característica comum deles é se apresentarem como "imparciais", dizendo que não gostam nem dos países capitalistas e nem dos países comunistas.  Falam que os países comunistas não são "socialistas de verdade" e que eles é que seriam os "verdadeiros marxistas".  Mas se você for ver o Michael Löwy, por exemplo, ele propõe fazer uma reinterpretação de Marx, e fazer uma síntese das obras de Marx com as obras de Max Weber.  Sendo que o Max Weber nunca nem sequer disse que era comunista.  Iugoslávia, União Soviética, Cuba, Vietnã, nenhum desses países eram comunistas, aparentemente.  Só esses universitários almofadinhas é que possuem o segredo da fórmula mágica do "verdadeiro socialismo".

O Michael Löwy era brasileiro, mas depois ele resolveu se mudar pra França, o que é um negócio típico de esquerdista caviar.  Depois a esquerda desses países querem ser os líderes do movimento comunista internacional, mesmo sendo os países mais capitalistas do mundo. 

Citar
Löwy propõe romper com o capitalismo e transformar as estruturas das forças produtivas e do aparelho produtivo. “Trata-se de destruir esse aparelho de Estado e criar um outro tipo de poder. O ecossocialismo é também uma crítica ao socialismo não ecológico, por exemplo, da União Soviética, onde a perspectiva socialista se perdeu rapidamente com o processo de burocratização e o resultado foi um processo de industrialização tremendamente destruidor do meio ambiente. Isto significa uma economia de transição ao socialismo, na qual a própria população – e não as leis do mercado ou um “burô político” autoritário – decide, num processo de planificação democrática, as prioridades e os investimentos.

Discurso meio vago e trotskysta esse.  Pra mim o ambientalismo nem era um problema tão grave assim antigamente, só lá por volta de 1970 é que o problema começou a ficar sério.  Até concordo que a URSS não se preocupava o suficiente com estas questões.  Mas daí a dizer que não era um país comunista vai uma distância enorme.  Todo país comunista precisa de um amplo aparelho burocrático, e não há problema nenhum nisso.  Burocracia é apenas o meio necessário para se implementar uma economia socialista, não é nenhum monstro a ser combatido.

E como seria esse tal de "processo de planificação democrática"?  Imagina um sistema em que TODAS as decisões, mínimas que fossem, tivessem sempre que ser decididas por assembleia com a participação de TODOS os trabalhadores.  Totalmente impossível de ser implementado.  Ninguém ia ter tempo pra fazer nada, todo mundo ia ter que ficar participando de uma assembleia atrás da outra, todo dia, o dia inteiro.

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As economias dos países do Sul, da Ásia, África e América Latina devem se desenvolver, mas isto não significa copiar o modelo de desenvolvimento capitalista do Ocidente e seu padrão de consumo insustentável.

Acho esse discurso meio suspeito.  Parece discurso de gente que mora em país de primeiro mundo, mas que quer impedir os outros países de atingirem o mesmo nível de desenvolvimento.

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Há que aplicar ao aparelho produtivo a mesma lógica que Marx aplicava ao aparelho de Estado a partir da experiência da Comuna de Paris

Isso é típico desses autores, pegar a Comuna de Paris e apresentar ela como exemplo.  Só que a Comuna de Paris só existiu por 3 meses, mal deu tempo deles esquentarem as turbinas.  Aliás, é exatamente por esse motivo que eles gostam tanto de citar ela como exemplo, porque ninguém sabe como ela realmente seria se tivesse existido por mais tempo.  Mas com certeza não seria nenhum "ecossocialismo solar" e mais não sei o quê.

PSOL também, é aquele tipo de partido que usa um discurso radical, mas no final das contas é mais capitalista até do que o PT.  Nas eleições do Freixo contra o Crivella, se você for ver quem é que votou nele, as áreas do Rio em que o Freixo recebe mais apoio são nas áreas nobres da cidade - Leblon, Copacabana...

Não que eu esteja falando contra o ambientalismo, mas o problema é que existe muita demagogia nesse meio.  Até a Marina Silva, a cada ano que passa eu confio menos no discurso dela.
« Última modificação: 14 de Junho de 2018, 12:38:10 por Cartório Popular »

Offline Geotecton

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Re:Ecossocialismo
« Resposta #3 Online: 14 de Junho de 2018, 16:40:21 »
Foto USGS


 

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