Se eu tivesse um jornal ou fosse jornalista, não estaria agora perdendo a oportunidade de perguntar ao Bolsonaro o que ele acharia dessa possibilidade de golpe militar.
Por quê?
O que ele dissesse poderia revelar muito do seu verdadeiro caráter: na iminência do STF dar o pretexto que supõe-se que alguns oficiais achem suficiente para uma intervenção, e também na iminência de Bolsonaro se eleger presidente, o que ele agora diria de uma intervenção que aniquilaria suas chances de chegar à presidência? O que esse que sempre se declarou fã de Médici, Geisel, Figueiredo, e de todo o período militar, que segundo ele nunca foi uma ditadura, acharia agora dos militares assumirem o poder?
A julgar pelo posicionamento dele sobre a intervenção no RJ, imagino que hoje o Bolsa também usaria outro peso e outra medida para falar sobre um possível novo golpe militar.
O Bolsa também surpreendeu a muitos desatentos sendo um dos primeiros a criticar a intervenção do exército na segurança do Rio. Mas a mim não surpreendeu nem um pouco: a posição dele foi muito natural e demonstra seu verdadeiro caráter demagogo.
Grande parte dos seus possíveis eleitores não estão seduzidos pelo discurso conservador firmemente atrelado à sua campanha; são pessoas mais pra desiludidas com a qualidade moral da classe política, que enxerga em Bolsa uma das poucas exceções nesse sentido, mas, principalmente, são eleitores muito preocupados com a atual situação crítica da área de segurança pública. Estes pensam que a truculência prometida por Bolsonaro é a única solução, acreditam que foram os "direitos dos manos" que trouxeram o Brasil à presente situação.
É uma ilusão terrível porque uma das poucas coisas que nunca representou obstáculo à ação da polícia são justamente os direitos humanos. No mundo real, quase tudo que Bolsonaro bravateia que vai fazer - tirando alguns absurdos surreais - já é parte cotidiana da ação policial. E o próprio Bolsonaro parece estar muito mais ciente disso do que aqueles que confiam nele.
Por esse motivo, e nenhum outro, ele foi um dos primeiros a anunciar o fracasso anunciado dessa operação militar inventada pelo Temer. Para surpresa de muitos, mas muito natural para alguns poucos observadores mais perspicazes.
O que ocorreu é que de repente o Temer tira da cartola um plano de segurança para um estado, que parece ter "a cara do Bolsonaro", e isso a poucos meses da eleição. Uma intervenção prometendo conter a escalada da criminalidade através do emprego da força bruta repressiva massiva. Claramente o fracasso dessa pretensão será associado ao fracasso das propostas do grupo de Bolsonaro para a segurança pública. Ou claramente é isso que eles estão receando.
Exatamente por essa razão se viu Bolsa imediatamente nos jornais prevendo que a iniciativa do governo federal não vai dar resultado. Mas por quê não? Diferentemente de outros críticos dessa intervenção, Bolsa alega que o uso da força não vai produzir o resultado desejado porque não vai haver uso suficiente de força!!!! O que está longe da verdade, e o que um possível governo dele faria não poderia ir muito além ( no que toca a não respeitar estritamente a legalidade ) do que está sendo e será feito pelo exército no Rio de Janeiro. Esse é o seu verdadeiro receio: que o fracasso da intervenção, por tabela, contribua para desmoralizar o seu próprio discurso sobre abordagens do problema da segurança pública.
Na minha opinião, agindo assim, ele revela seu verdadeiro caráter de demagogo, com um discurso mais calibrado por conveniências que por convicções.
Por isso tenho certeza que, se questionado sobre um possível golpe militar agora, Bolsonaro irá encontrar alguns bons motivos para demonstrar que o que foi tão bom em 1964 ( segundo ele ), só poderia ser um verdadeiro desastre para o país em 2018.