Considero muito boa essa explanação. Por isso mesmo gostaria de te colocar uma questão:
Eu acho que o resultado econômico depende da dinâmica de interação entre uma infinidade de fatores, alguns com maior ou menor peso, que se relacionam entre si de uma maneira extremamente complexa. Parece improvável que um modelo como este possa ser reduzido a uma fórmula.
Talvez algum ou alguns fatores possam ter um peso de influência maior no sucesso ou no fracasso econômico de uma determinada sociedade, mas isso não significa que você tenha aí uma receita de bolo: siga estas determinadas diretrizes e um país irá automaticamente prosperar.
É importante notar, falando de capitalismo, que nao existe exatamente um modelo para a economia justamente porque economia de mercado é um sistema descentralizado e sem planejamento central. Intervencionismo existe e varia de país pra país, mas "planejamento" no sentido de ciências naturais da coisa, nao. (Socialismo envolve planejamento central da economia, em contraste, o que em todas as suas implantacoes levou a erros de alocacao dos planejadores e causou coisas como a fome chinesa). O capitalismo se sobressai em relacao ao socialismo, do ponto de vista econômico, justamente porque a economia é tao complexa que o seu planejamento é "impossível". O que realmente faz com que nem tudo seja garantido em termos de promover o crescimento, mas existem algo como "boas práticas econômicas".
Na verdade se pode provar, no sentido que se daria para "prova" quando falamos de teorema, que uma tal presunção é falsa.
Imagine um economista que siga uma determinada escola qualquer de pensamento econômico, ou ideologia econômica, que se arrogue a fórmula do desenvolvimento e da prosperidade. Então imagine que esta fórmula é aplicada universalmente a todos os países, a todas as economias, o que resultaria? Extinção da miséria, prosperidade para todas as nações, o fim do subdesenvolvimento?
Bom, se tomarmos como parâmetro de prosperidade o estilo de vida e consumo dos chamados "países de primeiro mundo", fica evidente que não pode existir a fórmula econômica da prosperidade universal. Simplesmente porque não existem recursos suficientes no planeta para garantir esse nível de conforto material para todos os seus mais de 7 bilhões de habitantes.
Então não se pode dizer que pobreza e subdesenvolvimento são unicamente determinados por escolhas equivocadas. A desigualdade que garante a riqueza de uma minoria é inerente à competição por recursos finitos que precisa existir entre economias, onde só algumas poucas podem vencer. É como uma Copa do Mundo onde só existe uma taça e um título, e mesmo que todos os times joguem igualmente bem no final vai continuar havendo apenas um campeão.
Assim, de acordo com o gráfico que eu postei anteriormente, a pobreza vem decrescendo drasticamente a partir do século XX. O que impressiona nao é exatamente que a probreza tenha caído, mas sim o fato de que ela demorou demais pra cair. Mercado e dinheiro existem há muito tempo, mas atravessamos o período colonial, imperial e pré guerras mundiais em situacao de pouca melhora. Ocorre um verdadeiro boom assim que o mundo deixou suas raízes imperiais/coloniais e simultaneamente embarcou em uma revolucao tecnológica.
Ora, a riqueza natural da terra nao foi alterada ao longo desses 600 anos, entao porque só em menos de 100 ocorreu essa drástica mudanca? Porque tecnologias de producao em massa de agricultura, saneamento básico e outras coisas demoraram tanto pra efetivamente se tornarem viáveis? Claramente houve alguma mudanca no modo organizacional da humanidade. Abolimos colonias, instituímos direitos humanos, lentamente repelimos certos tipos de descriminacao por parte do estado. Criamos instituicoes mais sólidas em que idealmente teríamos a protecao dos direitos dos indivíduos. Em geral, aumentamos globalmente a liberdade, e naturalmente, a maior liberdade implica em maior liberdade econômica. Cada pessoa elenca suas prioridades e governo garante os seus direitos.
Entao, existem razoes pra acreditar que se nós promovermos instituicoes que valorizem a liberdade das pessoas e seu bem estar, teremos um progresso generalizado. Esse vídeo aqui, de uma economista, resume um pouco o que eu acabei de falar.
Mas ainda se poderia argumentar que mesmo assim existem maneiras ótimas e maneiras péssimas de se jogar esta competição. E que certamente o time campeão será algum que jogou de maneira ótima.
E existem, esse site aqui fala muito bem sobre as evidências do que realmente ajuda o crescimento econômico.
https://ourworldindata.org/economic-growthEm geral o que move o crescimento é produtividade, e essa produtividade está ligada a muitas e muitas coisas. Analisando a história de mercados e mercados mais recentes que prosperaram dramaticamente, temos algumas coisas que ajudam.
Melhor qualidade da educacao; Maior taxa de poupanca; Abertura ao mercado externo e por aí vai.
E a responsabilidade do governo também está na reta. Mantendo estabilidade institucional e financeira. Existem coisas que se observa globalmente, entao, pela evidência empírica(e teoria que nao sou lá muito versado), a análise se centra nesses fatores.
Contudo se as dinâmicas econômicas forem, como parecem ser, melhor modeladas por um sistema caótico ( semelhante ao clima, por exemplo ) então pode não ser tão simples. Como você classificaria o índice de liberdade econômica no início do regime nazista? Quando os nazistas assumiram o poder, isso significou aumento ou diminuição de liberdade econômica? Instituíram um Estado enxuto?
Porque o milagre econômico na Alemanha nazista não tem precedentes. Em menos de 3 anos o país foi do caos a uma das maiores potências mundiais. E o crescimento da China também impressiona. Outro país que não parece estar seguindo os principais conselhos da cartilha liberal.
Temos um pulo do gato aqui. O milagre econômico nazista nao foi um milagre. Os nazistas financiaram o seu crescimento econômico via estrondoso défict. Keynesianismo a todo vapor. A visao deles era que esse endividamento seria pago com a guerra, subjugando as outras nacoes de modo a garantir o pagamento ao seus investidores. Além disso, os nazistas estimulavam monopólios e carteis, e interviram no setor privado para acabar com empresas pequenas e privilegiar aquelas que mantinham compromisso com o regime. Fora o próprio trabalho escravo que existia na época. Em termos de liberdade econômica, os nazistas estariam com pontuacao baixa. Em termos institucionais, os nazistas eram eugenistas, nao defendiam propriedade privada mas sim a ideia dos mais fortes prevalecendo sobre os mais fracos. Nao havia protecao de propriedade privada sólida e sim um violento crony capitalism, com desmantelamento de pequenas empresas. Outro ponto que diminuiria dramaticamente a sua posicao seria gastos governamentais, com um crescimento financiado em dívida e intervencionismo pra todo o lado.
https://en.wikipedia.org/wiki/Economy_of_Nazi_GermanyA adocao de uma política inflacionista via défict em vias gerais sempre responde com crescimento, mas uma hora a conta vai chegar e é preciso ter havido alguma espécie de crescimento real e nao coisas temporárias como reducao de desemprego via guerra ou construcao de estradas e equipamento militar. Como os nazistas falharam, o milagre foi prontamente exterminado. Solidez aqui é o ponto principal, crescimento consistente e nao "booms e busts". Vale lembrar que o crescimento foi a muito custo humanitário.
Por outro lado o Paraguai é, e já há muitas décadas, o país de economia mais aberta da América do Sul. E um dos mais fracassados também.
Paraguai na verdade tem uma posicao nao muito exemplar no índice. 62.
https://www.heritage.org/index/pdf/2018/countries/paraguay.pdfA economia mais livre daqui da américa latina é o chile. Por muitas posicoes inclusive. O problema do paraguai é institucional principalmente. Esse texto que eu coloquei analise os pontos em que o paraguai perde pontos. As instituicoes do país sao fracas e há pouca efetividade na defesa da propriedade privada. Há também uma legislacao trabalhista atrasada como a Brasileira.
Mas é verdade que o paraguai, embora apresente crescimento, o faz de maneira pequena comparado a outros países daqui. De fato o problema vai além do econômico e institucional, o paraguai tem uma fronteira bem desprotegida e isso causa diversos problemas. E mesmo que todos esses problemas se resolvessem, ainda nao haveria garantia de que o paraguai pudesse se tornar uma potência, mas podemos apostar que uma reforma institucional no país seria benéfica aliado a sua economia mais aberta.
Vale ressaltar aqui que eu me centrei na defesa ao "livre mercado" porque foi o que centralmente o autor do tópico se concentrou. Mas o liberalismo clássico vai bem além de "só" livre mercado. Liberalismo prega instituicoes sólidas, igualdade perante a lei, a defesa do direito a propriedade (que deve ser protegio pelo estado).
Em conclusao, nao existe mágica, mas seria prudente se guiar no que "deu mais certo" do que "deu mais errado". Economias de mercado se deram melhor em longo prazo e abertura econômica se mostrou benéfica para a produtividade. Combinando isso com instituicoes sólidas e um estado com saúde fiscal, temos exemplos de coisas que funcionam, basta olharmos pros tigres asiáticos. Hong Kong e Cingapura entraram de cabeca em reformas muito pró-mercado e prosperaram, inclusive sem nenhum welfare state. Coreia do sul fez algo parecido, embora menos intensamente em termos de liberalizacao da economia, existiu certo grau de incentivo pra indústrias locais para se desenvolverem e funcionou, mas houve uma abertura significativa.
O Brasil já tentou e tenta intervencionismo desde sempre e já foi mostrado sucessivas vezes que medidas anti abertura de mercado e protecionismo exarcebado junto a subsídios empresas nacionais nao funcionam. Tá na hora de tentar algo mais sólido que deu mais certo em outros lugares. Considerando as devidas características específicas do país.