Autor Tópico: Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?  (Lida 990 vezes)

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Offline Gorducho

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #25 Online: 10 de Julho de 2019, 21:55:16 »
O ponto básico a menos que eu não tenha compreendido a questão é que uma "inovação tecnológica" — obviamente se considera que ela seja interna ao país onde os fatos se sucedam — vai abrir OUTROS empregos nesta nova área inovada. E a mera abertura comercial não por si só.
Tentando explicitar: uma "abertura comercial" pra calçados reduz os empregos na indústria calçadista. Os revendedores permanecem só que agora vendendo calçados importados (neste setor de comércio varejista permanece inalterado o nível de empregos, say).
Não foi criado nenhum novo emprego.
Já dentro do exemplo ônibus, a "inovação tecnológica" eliminação dos cobradores seria PARCIALMENTE compensada pelos novos empregos na fabricação de leitores + sofisticados pros tickets/cartões por proximidade; controladores de tempos-limite (say 90') pra uso de cada unidade lógica; terminais dispensadores de troco em moedas; recarga dos cartões de transporte; &c...
De novo: DESDE QUE essas cousas novas sejam basicamente desenvolvidas DENTRO do Estado Nacional em análise.   

Bien sûr: 1 análise BEM cartesiana só focada no ponto proposto. Evidentemente que a questão macroeconômica "abertura comercial" é muito ampla. O fechamento gera o obscurantismo medieval que vivenciamos nossa geração dos anos '70 a início dos '90. NEM se tinha comércio NEM se tinha "inovações tecnológicas".
« Última modificação: 10 de Julho de 2019, 22:08:49 por Gorducho »

Offline Entropia

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #26 Online: 11 de Julho de 2019, 10:31:32 »
Claro que não tem aumento nenhum :!: É simplesmente a opção entre 100% de desemprego ou ALGUNS empregos exigindo maior qualificação.
Es decir (pra ficar no exemplo :ok:): entre (i) IMPORTAR comboios leves ou (ii) projetá-los e confecciona-los ao menos parcialmente dentro do Estado Nacional em tela; (ii) produz + empregos. E mais qualificados se se considerar que seja alta tecnologia do que estamos tratando...

Mas existe realmente alguma garantia de que tentar produzir as coisas aqui vs importar é realmente melhor? Porque, digamos, se o produto importado é mais competitivo, naturalmente para que os produtores internos não falhem haverá a necessidade de investimento estatal. Como o dinheiro do estado é limitado, o redirecionamento destes recursos para o setor não-competitivo estará prejudicando alguma outra coisa que o estado bancava anteriormente. Como saber se vale a pena? Como saber se não é melhor que, ao receber o choque da abertura comercial, esperar que as pessoas se realoquem em setores mais competitivos? Em curto prazo a sua proposição parece ser melhor, mas e em longo prazo? O protecionismo exagerado de mais de 70 anos que temos com a indústria automobilística é um exemplo de que algo assim não é necessariamente bom.

Certes... certes... DESDE QUE os setores beneficiários sejam de alta tecnologia interna. Se não estaremos a retornar ou permanecer sempre ao nível extrativista pra pagar importação de bens elaborados.
No seu exemplo, seja que não consegue competir o setor de comboios e importa-se material rodante e correlacionado pra  TGVs/Trams/VALs &c. &c...
MAS SE BENEFICIA de menores preços de insumos importados say o projeto e fabricação de equipos pra 4G; ou o setor de projeto & fabricação de equipos p/engenharia médica (ressonâncias magnéticas, robôs pra cirurgias...); outros setores de alta tecnologia... =  :ok: :ok: :ok: :ok:
Por que? Existe algo intrinsecamente ruim em exportar commodities ou coisas do gênero e importar bens manufaturados?

Não abrir —  besides: no caso particular de cá no Brasil, o que não falta são buracos nas vias, de sorte que mandar abrir + outros |( —  + obras públicas certamente é melhor alternativa pra simples distribuição monetária por parte do Estado :ok: — e muito piormente se nada receberem NEM conseguirem empregos, claro!
Vou ignorar...

Eu perguntei se emprego é naturalmente bom simplesmente por dar as pessoas algo o que fazer. Você respondeu que sim, então eu extrapolei esse conceito pra ilustrar: Se emprego é universalmente bom, então o estado pode fazer de tudo para garantir uma maior força de trabalho e desemprego baixo, inclusive ideias malucas como as que eu coloquei?
De novo: paradigma atual de "Estados Nacionais" territorialmente delimitados.
E, sim, frequentemente isso é considerado desejável pelos governos. As "zonas francas", say: ZFM; ZOFRI; Ushuaia que não sei se ainda existe :?:... Só pra citar cá pelas redondezas :ok:

Isso não responde o meu questionamento. Protecionismo entre países é bom? Se sim, porque não fazer o mesmo com estados na mesma forma? Estados do nordeste importam energia do norte, porque não impor barreiras comerciais pra desenvolver a indústria energética no nordeste? Mesmo que haja uma ou outra particularidade, o que se propõe entre os estados é um livre mercado robusto.


Acredito que abertura comercial é algo análoga a não a uma, mas múltiplas inovações tecnológicas mais bruscamente disruptoras em termos de desemprego. De modo geral a inovação tecnológica deve ser algo mais gradual em ter algum efeito -- ainda deve haver cobrador de ônibus na maior parte das companhias, apesar disso ser obsoleto, por exemplo. Talvez em parte por demanda do setor. Quando não há essa demanda pela continuidade do emprego de pessoas que seriam substituídas por tecnologia, a sua adoção deve em geral ser consideravelmente mais gradual e específica a algum setor. Já importação de coisas mais baratas deve tender a afetar múltiplos setores ao mesmo tempo.

Lembrando que esse efeito é o que ocorre num país mais rico, quando abre para um mais pobre. Ou, mais pobre, mas com essa produção mais barata.

Não sei... Vamos supor que haja uma abertura comercial no setor de produção de aço. A industria nacional irá colapsar porque não consegue competir com o aço externo(supondo). Porém, praticamento todos os outros setores industriais irão se beneficiar de aço mais barato, pois é a base de construção dos equipamentos. Não haveria um efeito compensatório aí? Da mesma forma que a invenção de um novo processo de produção de aço exigindo o mínimo de mão-de-obra irá gerar um desemprego, mas será compensado em geração de empregos em outros lugares?

E se a abertura for gradual?



Para o empregador, é um meio para o lucro, e para o empregado, um meio para o fim do sustento próprio e da família.

Vou reformular a pergunta, emprego é bom só porque emprega gente? Vale tudo pra gerar mais emprego? Inclusive reduzir a eficiência e produtividade? Vamos retirar as vassouras dos garis e dar escovas de dente pra que mais gente trabalhe?




Acho que haverá sim competições "protecionistóides" análogas, dentro do que for permitido por lei. Desde vantagens tributárias concorrendo por empresas (ICMS principalmente, acho), até "moedas paralelas" em pequenas localidades.

Nada remotamente comparável ao que acontece em outros países. Não há "barreiras". O nordeste importa energia do norte, e eu não vi ninguém ainda dizendo que isso é ruim e que se deve colocar taxas na energia "importada" para que se desenvolva a indústria nordestina.
« Última modificação: 11 de Julho de 2019, 10:33:40 por Entropia »

Offline Gorducho

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #27 Online: 11 de Julho de 2019, 11:08:15 »
Mas existe realmente alguma garantia de que tentar produzir as coisas aqui vs importar é realmente melhor? Porque, digamos, se o produto importado é mais competitivo, naturalmente para que os produtores internos não falhem haverá a necessidade de investimento estatal. Como o dinheiro do estado é limitado, o redirecionamento destes recursos para o setor não-competitivo estará prejudicando alguma outra coisa que o estado bancava anteriormente.
:ok: + como falei tentei focar cartesianamente só na sua proposição
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Qual a diferença prática entre uma abertura comercial e uma inovação tecnológica que substitua mão-de-obra em termos de desemprego?
Es decir: uma "abertura comercial" não necessariamente criará substituição de empregos — PODE criar, claro, + não é garantido.
ENQUANTO QUE a inovação tecnológica desde que autóctone criará ao menos alguns e + "qualificados" (no sentido de que melhor remunerados comparativamente).
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Como saber se vale a pena? Como saber se não é melhor que, ao receber o choque da abertura comercial, esperar que as pessoas se realoquem em setores mais competitivos?
De novo: a menos que tenha entendido mal, não foi este o foco da S/proposição
 :?: :?: :?:
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Em curto prazo a sua proposição parece ser melhor, mas e em longo prazo?
PREJUDICADO pelas razões acima. Não é proposição minha e sim constatação (que poderá estar errada + é o que "constato" :lol:).
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O protecionismo exagerado de mais de 70 anos que temos com a indústria automobilística
Então... não há inovação tecnológica autóctone, e S/proposição foi no sentido de haver, certo :?:
Pois que mera importação não se deve considerar como "inovação tecnológica" desde o ponto de vista do país meramente importador :no:
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Por que? Existe algo intrinsecamente ruim em exportar commodities ou coisas do gênero e importar bens manufaturados?
Claro que é um posicionamento ideológico, + quiçá até por "ser" eng. penso que SIM :ok:
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Se emprego é universalmente bom, então o estado pode fazer de tudo para garantir uma maior força de trabalho e desemprego baixo, inclusive ideias malucas como as que eu coloquei?
Claro que não ideias malucas; + quanto a induzir ao emprego penso que sim. Desemprego é péssimo socialmente mesmo que desempregados recebam cartões de débito permanentemente de seu respectivo Estado :no:
Por isso lembrei de citar o sapientíssimo Numa Pompílio: veja que foi 1 das razões pra ele fazer 1 religião pra Urbe foi pra dar ocupação, ou ao menos pra dar alguma coisa pro povo se envolver com em lugar de mero ócio (ainda que, claro, o ócio não seja desejado pela população + decorrente de falta de oportunidades :chorao:).
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Protecionismo entre países é bom? Se sim, porque não fazer o mesmo com estados na mesma forma? Estados do nordeste importam energia do norte, porque não impor barreiras comerciais pra desenvolver a indústria energética no nordeste? Mesmo que haja uma ou outra particularidade, o que se propõe entre os estados é um livre mercado robusto.
Por modelo político. COM barreiras comerciais, passaportes internos & tals o modelo Estado Nacional fica prejudicado. + a ÚNICA razão é esta. Tanto que tem e.g. as "zonas francas"  — claro que é % mínimo + tem... — e acredito que fuçando se vá ver inúmeros casos de subsídios (que na prática é protecionismo) intra Estados Nacionais. É que o que me veio à mente foram ESTAS ZFs tendo como critério que as conhe(ço/ci) e relativamente próximas "dai" (6- h tirando as esperas em terra...), es decir RJ/SP/MG/DF... onde mora a maioria dos foristas segundo penso perceber...
« Última modificação: 11 de Julho de 2019, 11:47:47 por Gorducho »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #28 Online: 11 de Julho de 2019, 12:56:46 »

Acredito que abertura comercial é algo análoga a não a uma, mas múltiplas inovações tecnológicas mais bruscamente disruptoras em termos de desemprego. De modo geral a inovação tecnológica deve ser algo mais gradual em ter algum efeito -- ainda deve haver cobrador de ônibus na maior parte das companhias, apesar disso ser obsoleto, por exemplo. Talvez em parte por demanda do setor. Quando não há essa demanda pela continuidade do emprego de pessoas que seriam substituídas por tecnologia, a sua adoção deve em geral ser consideravelmente mais gradual e específica a algum setor. Já importação de coisas mais baratas deve tender a afetar múltiplos setores ao mesmo tempo.

Lembrando que esse efeito é o que ocorre num país mais rico, quando abre para um mais pobre. Ou, mais pobre, mas com essa produção mais barata.

Não sei... Vamos supor que haja uma abertura comercial no setor de produção de aço. A industria nacional irá colapsar porque não consegue competir com o aço externo(supondo). Porém, praticamento todos os outros setores industriais irão se beneficiar de aço mais barato, pois é a base de construção dos equipamentos. Não haveria um efeito compensatório aí? Da mesma forma que a invenção de um novo processo de produção de aço exigindo o mínimo de mão-de-obra irá gerar um desemprego, mas será compensado em geração de empregos em outros lugares?

E se a abertura for gradual?

Se é algo mais limitado (como restrito ao aço, seja na canetada ou na prática), então o efeito negativo no país que recebe mais importações deve ser também mais limitado, e até possivelmente compensado.

Quanto mais distante de "tudo" que se consome estar gerando só empregos "lá fora," menor o choque e desemprego.




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Para o empregador, é um meio para o lucro, e para o empregado, um meio para o fim do sustento próprio e da família.

Vou reformular a pergunta, emprego é bom só porque emprega gente? Vale tudo pra gerar mais emprego? Inclusive reduzir a eficiência e produtividade? Vamos retirar as vassouras dos garis e dar escovas de dente pra que mais gente trabalhe?

Idealmente, não. Mas parece que protecionismos são geralmente preferidos a alternativas assistencialistas ou "desenvolvimentistas" (políticas de "emprego de último recurso") para lidar com desemprego vindo de qualquer origem. Tanto o mais clássico, tarifário, como coisas como proporem uma exigência de cobradores de ônibus em vez de sistema alternativo, ou que montadoras de automóveis tenham sua própria produção de estofados, em vez de terceirizar.





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Acho que haverá sim competições "protecionistóides" análogas, dentro do que for permitido por lei. Desde vantagens tributárias concorrendo por empresas (ICMS principalmente, acho), até "moedas paralelas" em pequenas localidades.

Nada remotamente comparável ao que acontece em outros países. Não há "barreiras". O nordeste importa energia do norte, e eu não vi ninguém ainda dizendo que isso é ruim e que se deve colocar taxas na energia "importada" para que se desenvolva a indústria nordestina.

Legalmente foram proibidos impostos inter-estaduais, mas tentarão subsidiar a produção local (ou mesmo importação local) e encarecer a de fora, o que tem um efeito análogo, mais fraco.

https://taniagurgel.com.br/sergipe-adota-medidas-protecionistas-ao-comercio-local-com-cobranca-de-icms-sobre-compras-pela-internet/

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,protecionismo-as-avessas-imp-,810738

Offline -Huxley-

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #29 Online: 11 de Julho de 2019, 13:33:55 »
Citação de: Alexandre Schwartsman
20 anos depois

TERÇA-FEIRA, JULHO 09, 2019  ALEX  2 COMENTÁRIOS

O anunciado acordo comercial com a União Europeia (UE) é uma excelente notícia, ainda mais num país carente de boas novas, principalmente (mas não apenas) na área econômica. A começar porque se trata de um pacto de porte num mundo que tem se movido no sentido oposto.

Depois de décadas de abertura crescente, mais ancorada, é verdade, em tratos bilaterais do que num grande acerto multilateral (como seria a rodada Doha), testemunhamos recuos importantes nesta frente, como a retirada americana do Trans-Pacific Partnership (TPP), a guerra comercial entre EUA e China, bem como diversas outras instâncias de restrição ao comércio internacional, em geral amparadas em argumentos duvidosos, quando não simplesmente falsos.

Contra este pano de fundo não há como minimizar a importância deste empreendimento apesar da desproporção entre os parceiros: pela paridade de poder de compra o PIB da União Europeia é pouco inferior a US$ 19 trilhões, enquanto o do Mercosul se encontra ao redor de US$ 4,5 trilhões. Tomadas em conjunto, estas economias representam perto de 20% do PIB global.

Em linhas gerais, o acordo elimina as tarifas sobre 93% das exportações do Mercosul para a UE (hoje cerca de um quarto das exportações para lá se beneficia disto) e oferece “tratamento preferencial” para os 7% restantes, enquanto na direção oposta 91% das exportações europeias para o Mercosul ficam livres de tarifas. Dado o perfil das exportações brasileiras para lá, espera-se que o agronegócio brasileiro seja bastante favorecido, já que restrições hoje existentes limitam severamente as vendas de um setor muito competitivo sob condições de igualdade.

Isto dito, não tenho como aferir a precisão dos números divulgados acerca de possíveis ganhos de PIB num horizonte de 15 anos, que vão de US$ 88 bilhões a US$ 125 bilhões. A começar porque as mudanças não ocorrerão imediatamente, mas de forma gradual ao longo de 10-15 anos, depois da aprovação por parte dos parlamentos nacionais das respectivas uniões aduaneiras (inclusive o Parlamento Europeu), o que deve demandar mais alguns meses pelo menos.

Todavia, apesar do costume de embalar acordos comerciais em termos das vantagens para o produtor nacional e aumento do PIB, não é esta a ótica correta para analisar tais acertos. Quem paga a conta do protecionismo é o consumidor, em favor de uns poucos setores mais bem organizados que conseguem convencer as forças políticas a criar arranjos que transferem renda dos setores dispersos.

Assim, o principal ganhador é o consumidor de ambos os lados do Atlântico, que passará a usufruir de produtos melhores e mais baratos, principalmente os do lado de cá, dado que as tarifas cobradas pelo Mercosul são mais altas em média, chegando a 35% no caso de automóveis e artigos de vestuário e, crucialmente, 27% no caso dos vinhos...

Há também, é bom deixar claro, ganhos de produtividade, pelos efeitos de redirecionamento de trabalho e capital para os setores relativamente mais produtivos em detrimento de segmentos que serão reduzidos (ou deixarão de existir) ao fim do processo de transição. Novamente, por força das distorções serem maiores na economia que inicialmente apresenta tarifas mais altas, os ganhos devem ser também maiores no Mercosul e, por extensão, no Brasil.

Não deve ser, porém, um processo sem custos. Como notado, nem todas empresas sobreviverão e a migração de trabalhadores de setores em declínio para os em expansão não ocorrerá de forma imediata e indolor. Como o prazo de transição é extenso, ainda é possível atenuar alguns destes custos, mas seria mentira afirmar que todos se beneficiarão no final do processo: não apenas o ganho será desigual, mas provavelmente haverá também perdedores.

Isto não é razão para voltar atrás. Muito do nosso atraso se deve precisamente aos obstáculos que foram erigidos (em alguns casos reconstruídos) para isolar a economia nacional da concorrência em benefício de poucos. Manter o estado atual das coisas serve apenas para preservar privilégios à custa do restante da sociedade. Trata-se, pois, de um avanço inequívoco, que deve ser comemorado mesmo que demoremos a sentir seus efeitos.

Fonte: http://maovisivel.blogspot.com/2019/07/20-anos-depois.html


Offline Buckaroo Banzai

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #30 Online: 20 de Julho de 2019, 18:08:37 »
Citar
<a href="https://www.youtube.com/v/N1eNY7tyz4M&amp;start=8270&amp;end=9417" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/N1eNY7tyz4M&amp;start=8270&amp;end=9417</a>

[...] Por outro lado, quais os potenciais problemas do acordo? Pra falarmos disso, agora vamos bater um papo com o João Romero, que é doutor pela Universidade de Cambridge e Professor do Departamento de Economia da UFMG, sobre uma análise crítica do acordo MERCOSUL – UE. [...]

Segmento focado nos potenciais problemas.

Offline -Huxley-

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #31 Online: 21 de Julho de 2019, 10:55:17 »
Conhecem o integrante do Nafta chamado México? Foi completamente desindustrializado pelos Estados Unidos e pelo Canadá, aquele país virou um imenso fazendão cheio de ex-trabalhadores do setor secundário. A quantidade de empregos destruída foi tanta que a taxa de desemprego atual é de 3,5% e o México atualmente morre de inveja da taxa de desemprego do protecionista Brasil.

Os países emergentes do leste europeu (Bulgária, Romênia, Croácia, etc.) enfrentaram o mesmo problema ao entrar na UE há alguns anos atrás. Chile e Peru foram outras vítimas dessa abertura que só destrói empregos.

Offline Gorducho

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #32 Online: 21 de Julho de 2019, 11:38:29 »
Falando à distancia na base do palpite mesmo: PARECE-ME + fruto das aberturas comerciais — já objeto de debates por cá...— que do NAFTA proper...
Ao contrário, me parece que a America até contribuiria pra MANTER certa industrialização por lá. Mas só palpite sem conhecer de fato e de perto o que se sucede por lá :no:
« Última modificação: 21 de Julho de 2019, 11:42:07 por Gorducho »

Offline -Huxley-

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #33 Online: 21 de Julho de 2019, 11:46:56 »
Óbvio que jamais existiu quebradeira do tipo no México. Na época em que o mundo tinha uma taxa de crescimento do PIB per capita menor, ele era muito mais protecionista, e nunca se viu algum demagogo nacionalista dizer que teme o protecionismo por causa disso. Para esse gente, as evidências de alarme que contam aparentemente só valem no sentido oposto.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #34 Online: 21 de Julho de 2019, 18:24:50 »
Trechos de transcrições desleixadamente ajeitadas do Xadrez Verbal. Negritos meus.

Citação de: Marcos Troyjo -- Secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia
É muito importante saber que os acordos comerciais não são  cura para todos os males. Eles têm um efeito muito positivo que era uma  espécie de aceleradores incentivador de  reformas internas a partir dos  compromissos externos,  mas se essas reformas internas não são  feitas você limita muito, você abaixa o  teto dos benefícios que o acordo  comercial pode trazer. E não existe exemplo mais ilustrativo do disco  que eu tô dizendo que o exemplo do México.

O México fez o NAFTA nos anos 90, ganhou acesso privilegiado a  maior economia compradora do mundo, como  resultado disso tem algumas  características interessantes. Por  exemplo México é hoje o maior produtor  mundial de linha branca, de fogões, de microondas, geladeiras, é uma  produtora mundial de aparelhos de som e  de dvd, televisores.

Foi justamente por fazer parte do NAFTA, e depois disso fez mais  dezenas e dezenas de acordo com outros  países e regiões. No entanto, não fez as  reformas estruturais internas, deixou sua  economia mais livre, digo isso internamente, não diminuir o poder  dos sindicatos, não fez um esforço de  diversificação das suas  exportações.

Ou seja, os benefícios do  acordo com o México ficaram limitados,  ele poderia já hoje com renda per capita  superior a 20 mil dólares. 

??

Então, mais uma vez o  diferencial que nós temos em relação aos  mexicanos, é o momento em que  há muita coesão, seja em diagnósticos,  quanto em prognósticos da equipe  econômica. Nós estamos fazendo acordos comerciais internacionais, mas estamos avançando na  reforma da previdência. Estão sendo  tratados econômicos de comércio, mas vamos colocar em março uma reforma tributária,  uma diminuição do tamanho do estado,  processo ambicioso de privatizações.

Ou  seja, esse conjunto de coisas que vai  criar a a força necessária para a gente  levar o Brasil é onde a gente quer.








Citação de: João Romero -- doutor pela Universidade de Cambridge e Professor do Departamento de Economia da UFMG

Sobre a desindustrialização é importante ressaltar que o Brasil já vem  sofrendo um processo de  desindustrialização nas últimas  décadas,  então uma vez que o acordo previa a  redução das tarifas de importação de  produtos europeus,  ele acaba expondo a produção brasileira  a competição da União Europeia.

É evidente que a indústria europeia é muito mais competitiva que a indústria  brasileira na média. Então isso deve  ter um impacto importante sim na  indústria brasileira.

Além disso, é importante a gente observar  o contexto mais amplo que a gente está  vivendo. Do ponto de vista do Brasil, que a gente tem momento é um  contexto de estagnação econômica, de  baixo crescimento, de desemprego elevado, e  sobretudo de queda nos gastos em P&D.

Isso é extremamente relevante é porque o  gasto com P&D está diretamente  relacionado à competitividade  tecnológica da indústria. Por outro lado, quando a gente observa a Europa, o que  a gente é ver o oposto. A indústria  européia vem se expandindo, a política  industrial na Europa têm se  intensificado, tem esforços também para o aumento do gasto em P&D, ou seja, eles estão se esforçando para aumentar a  competitividade da tecnológica da  indústria deles. E então isso agrava  ainda mais  é um impacto negativo que o acordo pode  ter sobre a indústria brasileira.

Quão  amplo vai vai ser  é esse impacto, com qual o tamanho dessa desindustrialização, dessa reprimarização da  é da economia brasileira, é  difícil de estabelecer com clareza, por que a gente tem bastante setores que são competitivos na indústria nacional.

Mas, apesar disso, o que a gente pode observar, o que tudo  indica, é que esse acordo deve gerar sim uma redução da diversificação da  indústria brasileira, uma maior desindustrialização, e uma expansão da  produção primária, que é onde a gente  tem  mais vantagem comparativa em geral.

[...]

Em primeiro lugar é importante a gente  observar que a redução de tarifas do  Mercosul, do Brasil em particular, vai ser  maior do que a redução européia. Isso  porque a nossa tarifa efetiva média está  hoje em 8.6% sobre as  importações, e essa tarifa na Europa está  em 1.7%. Ou seja, na Europa já é uma economia mais  liberalizada. Então a redução de tarifa  que eles vão fazer, é muito menor do que  a redução de tarifa que o Bbrasil vai  fazer.

 Então a tendência é que os produtos  europeus fiquem mais baratos aqui  proporcionalmente do que os nossos  produtos vão ficar mais baratos lá no  mercado europeu.  Então a tendência é que a gente comece a  importar mais, e que o impacto sobre a  nossa exportação seja proporcionalmente  menor.

Por outro lado tem estudos que  mostram que  o abertura comercial tem impactos  positivos nas exportações, uma vez que a  gente consegue a partir daí começar a  importar é insumos e de maior qualidade,  tem alguns ganhos de competitividade  relacionadas a isso. Mas isso gera  também um aumento das importações.

O que  esses estudos mostram é que o aumento das  importações para países subdesenvolvidos  tende a ser maior do que o aumento das  exportações.  Então é gerado então uma tendência piora  da balança comercial, e isso pode  impactar negativamente o nosso  crescimento do PIB no curto prazo. 

Além disso, um outro ponto a ser  considerado é o impacto nas  exportações brasileiras para o mercosul. Porque o Brasil ele tem hoje um  superávit considerável com o mercosul, ele exporta para diversos países do bloco. E com a abertura, as exportações  brasileiras vão ter que competir agora  com os produtos europeus, que vão entrar  mais baratos. Então é possível que tenha  uma redução também desse superávit. Então  é é bem provável que o impacto seja uma  redução é da nossa balança comercial, e poderia ter um impacto negativo  sobre sobre o PIB.

Vale ressaltar  também é aquilo que já tinha mencionado, o contexto. A produção ea  exportação brasileira poderia se  beneficiar de ganhos de produtividade via aumento de investimento em  infraestrutura, via maior investimento em  pesquisa e desenvolvimento, que poderia  ajudar a baratear os produtos  brasileiros e a gerar mais  competitividade tecnológica é para a  produção brasileira, e isso é melhoraria  a condição de competição da produção  brasileira em relação aos produtos  europeus.

Mas o que a gente vê no momento  é o oposto, o investimento em infraestrutura é muito  baixo, e com dificuldade se recuperar, e  também uma queda de investimento em P&D.  Então o contexto geral é de dificuldade  para a competitividade dos produtos  brasileiros. Então isso é um outro  agravante para os resultados que esse  acordo pode gerar.

Mas mais importante que isso, é o impacto negativo que essa piora na balança  comercial pode ter no longo prazo. Se  houver mesmo uma reprimarização da  economia brasileira, uma redução da  nossa produção e exportação de  manufaturados, o que pode acontecer é que  a gente tenha uma tendência a déficits  crescentes.

Isso porque diversos estudos mostram que  a demanda cresce mais devagar para  produtos primários do que produtos  manufaturados, de média e alta tecnologia. Então o que aconteceria que a demanda  pelas nossas exportações cresceriam mais  devagar do que a demanda por  importações, ou seja, à medida que a nossa renda  crescesse, a gente demandaria mais  importações do que o resto do mundo  demandaria dos nossos produtos, e isso  gera uma tendência déficits comerciais. Se isso ocorrer, esses déficits tem que  ser financiados via aumento da dívida  externa, e essa dívida não pode ser  financiada para sempre.

Não tem como se expandir essa dívida  indefinidamente, e aí uma hora então essa balança comercial tem que ser  reequilibrada, e isso acontece de duas  formas, por um lado havia desvalorização  cambial, que barateia nossas exportações e facilita incentivar maior exportação,  mas por outro, lado encarece as  importações e reduz as nossas  importações. 

Mas além disso, em geral, esses  reajustes nas muitas vezes são acompanhados de crise, crise de dívida externa, e isso faz com que haja uma redução  do PIB, ou uma redução do crescimento do  PIB -- que é mais ou menos o que a  gente tem observado nos últimos anos.

O Brasil tem tido superávits  comerciais nos últimos anos,  não é porque a nossa produção se tornou  muito mais competitiva,  é sobretudo porque a gente está num  momento de crise, e de estagnação,  então a gente está importando  muito menos do que antes. 

Então no longo prazo, a reprimarização  gera esse problema, uma tendência a  déficit que pode acabar reduzindo é nosso ritmo de crescimento. Ele torna  imperativa a redução desse ritmo de  crescimento  para para manter a balança  comercial é equilibrada no longo prazo.

Além disso, para finalizar, tem ainda  mais dois outros possíveis impactos  negativos. Por um lado,  como a gente já vem discutindo, se essa  reprimarização ocorrer se ocorrer mesmo,  desindustrialização, isso envolve toda  uma realocação de fatores produtivos, tanto setorialmente como  espacialmente.

Por um lado isso envolve custos, tanto de retreinamento o como  deslocamento, e é muito provável que alguns desses trabalhadores que ficam  desempregados na indústria relutem  a se  transferir pra outros estados ou para  outros setores,  então é provável que essa situação gere  uma situação de desemprego  estrutural. Pessoas que ficam desempregadas pela  quebra de firmas na indústria não se  transfiram para à produção  primária, e aí esse aumento de desemprego poderia gerar também uma piora na no nosso PIB, na nossa produção agregada.

E por fim, é importante mencionar também  que uma vez que o acordo envolve a  redução de tarifas, e ele acaba reduzindo  a arrecadação do estado brasileiro, e  como todo mundo sabe, a gente está  vivendo um momento de crise fiscal.

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Offline -Huxley-

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #35 Online: 21 de Julho de 2019, 20:34:31 »
Só teoria velha e refutada.

A ideia de que uma pauta exportadora essencialmente composta por bens primários derruba o crescimento econômico... Ideia da Cepal. No livro Brasil Globalizado, Fábio Giambiagi e Octavio de Barros mostram uma estatística de várias décadas que indica que não há deterioração dos termos de troca entre bens do setor primário e do setor secundário no longo prazo. As elasticidade-renda da demanda dos primeiros não apresentam desvantagem em relação aos segundos. E mesmo que esse fosse o caso, existe a questão de que a tentativa-e-erro e o mecanismo de preços deslocam a produção de bens com elasticidade-renda menos favoráveis para bens com elasticidade-renda da demanda mais favoráveis. Eis uma informação básica que se lê num livro-texto de Economia Internacional de Paul Krugman.

No mais, estou sem paciência para refutar outros erros crassos e escandalosos, típico de um dotô que esqueceu das aulas de Introdução à Economia, como não entender que o aumento de comércio internacional ser vantajoso para um país não depende das vantagens absolutas que têm em relação aos seus parceiros comerciais, mas sim das vantagens comparativas.
« Última modificação: 21 de Julho de 2019, 20:43:32 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #36 Online: 21 de Julho de 2019, 20:43:33 »
Incluindo a necessidade de liberalização interna?

A "refutação" significa que abertura do mercado é positiva independente de quaisquer variáveis imagináveis, que, de alguma forma NUNCA ocorrem estes problemas mencionados?

Parece também algo bem básico coisas como que, uma região tenderá a levar vantagem já onde é mais competitiva, e que, ante competição em desvantagem, haja tendência a falência, com realocação que pode não só não conseguir ser total (menor demanda de mão de obra em outros setores, como é o agro), como não compensar a perda (demanda maior de bens manufaturados do que agroindústria e etc).

Não tem referências no podcast, mas por "estudos mostram" nas frases fica implícita uma sugestão de confirmação empírica, ou seja, comprovação das "teorias velhas e refutadas."











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https://en.wikipedia.org/wiki/Post-industrial_society

In sociology, the post-industrial society is the stage of society's development when the service sector generates more wealth than the manufacturing sector of the economy.

The term was originated by Alain Touraine and is closely related to similar sociological theoretical constructs such as post-Fordism, information society, knowledge economy, post-industrial economy, liquid modernity, and network society. They all can be used in economics or social science disciplines as a general theoretical backdrop in research design.

As the term has been used, a few common themes, including the ones below have begun to emerge.




  • 1. The economy undergoes a transition from the production of goods to the provision of services.
  • 2. Knowledge becomes a valued form of capital; see Human capital.
  • 3. Producing ideas is the main way to grow the economy.
  • 4. Through processes of globalization and automation, the value and importance to the economy of blue-collar, unionized work, including manual labor (e.g., assembly-line work) decline, and those of professional workers (e.g., scientists, creative-industry professionals, and IT professionals) grow in value and prevalence.
  • 5. Behavioral and information sciences and technologies are developed and implemented. (e.g., behavioral economics, information architecture, cybernetics, game theory and information theory.)
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Offline -Huxley-

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #37 Online: 21 de Julho de 2019, 21:46:24 »
Mas falências não são o que acontecem o tempo todo nas reestruturações produtivas? Como diabos poderia haver introdução massiva das lâmpadas elétricas se os produtores de lamparinas não falissem?

Supondo um país ter vantagens sobre outro em todos os produtos, ele teria vantagem maior em algumas mercadorias que em outras, e importariam artigos em que sua vantagem fosse mínima, para poder empregar quantidade maior de sua própria mão-de-obra e de seu capital nas mercadorias em que a vantagem fosse máxima.

Offline -Huxley-

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #38 Online: 22 de Julho de 2019, 11:04:09 »
Já pararam para pensar que o México tem vantagens comparativas na indústria também? Onde está o exemplo prático de que a América Anglo-saxônica seria uma baleia auto-suficiente e que tenderia a deixar o México sem indústrias, sem exportações industriais e sem empregos suficientes? E já não basta todo o mal que o fiasco do protecionismo causou na desindustrialização do Brasil? O Brasil tem que se desindustrializar ainda mais e desacelerar ainda mais a taxa de crescimento de produtividade da indústria para entenderem que o protecionismo é um fiasco?

Offline Sergiomgbr

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #39 Online: 22 de Julho de 2019, 11:15:48 »
Na verdade não é nem 8 nem 80, mas um um pouco de abertura contrabalanceada com algum protecionismo na medida certa pois tanto abertura quanto protecionismo são meios e não fins em si mesmos para funcionar a economia.

E caramba, acordos comerciais não são para eliminar protencionismos mas para torná-los mais eficientes.
« Última modificação: 22 de Julho de 2019, 14:23:21 por Sergiomgbr »
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #40 Online: 22 de Julho de 2019, 13:26:14 »
Mas falências não são o que acontecem o tempo todo nas reestruturações produtivas? Como diabos poderia haver introdução massiva das lâmpadas elétricas se os produtores de lamparinas não falissem?

Mesmo que isso seja um ganho em longo prazo, há um problema no mínimo em curto prazo.

Ao mesmo tempo, pode ser que a situação não seja bem análoga a esse caso de substituição de uma tecnologia arcaica por uma melhor.



Supondo um país ter vantagens sobre outro em todos os produtos, ele teria vantagem maior em algumas mercadorias que em outras, e importariam artigos em que sua vantagem fosse mínima, para poder empregar quantidade maior de sua própria mão-de-obra e de seu capital nas mercadorias em que a vantagem fosse máxima.

Isso assume um planejamento central da economia. Tanto trabalhadores quanto fábricas menos competitivas deverão tender preferir continuar em seu ramo, e no caso, a indústria Européia deve estar em melhores condições de avançar em eficiência. Praticamente em tudo que envolver "ciência", P&D. O Brasil deve levar vantagem mais onde a mão-de-obra barata for algo significativo. Supondo ainda que as reformas diversas facilitem potencializar isso.



Já pararam para pensar que o México tem vantagens comparativas na indústria também? Onde está o exemplo prático de que a América Anglo-saxônica seria uma baleia auto-suficiente e que tenderia a deixar o México sem indústrias, sem exportações industriais e sem empregos suficientes?

A situação do México "versus" EUA e Canadá nos anos 90 e é fortemente análoga a Brasil "versus" Europa nos anos 2020?

Acho que deve haver diversas diferenças, tanto em situação de economia mais "pura" como essas fases de desenvolvimento industrial, que compliquem fazer qualquer generalização.

Não estou dizendo que isso seria necessariamente negativo, pode até calhar de ser de nossa situação ser mais oportuna do que a mexicana nos anos 90, não sei.



E já não basta todo o mal que o fiasco do protecionismo causou na desindustrialização do Brasil? O Brasil tem que se desindustrializar ainda mais e desacelerar ainda mais a taxa de crescimento de produtividade da indústria para entenderem que o protecionismo é um fiasco?

Não é necessariamente feito o argumento que protecionismo é do balacobaco e que o país tem que ser completamente fechado.

Alguns estudos apontam uma correlação entre abertura comercial e maior desemprego. Acho que vi no blog do freakonomics ou no blog do Mark Tahoma, talvez Brad Delong, talvez algo mais liberal/libertário como EconLog ou Marginal Revolution. Mas era algo meio "secundário". Algo como uma meta-análise ou série de meta-análises que mostravam como era positivo coisas nas linhas de liberdade econômica, com uma pequena correlação negativa nesse ponto. Alguém nos comentários até pediu mais informações, não sei se teve. (Procurei um bocado e não consegui achar, ao mesmo tempo a maior parte dos estudos com os quais esbarrava tinha conclusões na direção contrária, embora na maior parte do tempo entre países desenvolvidos. Nada no sentido mais pessimista/não-tão-abertura-são-mil-maravilhas com que me deparei buscando referenciava algum estudo empírico.)


Eu apenas "não sei." Como alguns dos entrevistados no podcast mencionaram, ao menos implicitamente (de modo geral foram mais otimistas, separei esses trechos apenas por falarem dos problemas e este ser o tema aqui), não é necessariamente uma situação de ganho generalizado, alguns setores podem se dar mal. Isso não é necessariamente ruim, pode haver adaptação resultando eventualmente numa situação melhor, mas é difícil prever qual seria o "saldo" geral.

Offline -Huxley-

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Re:Acordo Mercosul e União Europeia é prejudicial para a indústria nacional?
« Resposta #41 Online: 22 de Julho de 2019, 21:23:21 »


Supondo um país ter vantagens sobre outro em todos os produtos, ele teria vantagem maior em algumas mercadorias que em outras, e importariam artigos em que sua vantagem fosse mínima, para poder empregar quantidade maior de sua própria mão-de-obra e de seu capital nas mercadorias em que a vantagem fosse máxima.

Isso assume um planejamento central da economia. Tanto trabalhadores quanto fábricas menos competitivas deverão tender preferir continuar em seu ramo, e no caso, a indústria Européia deve estar em melhores condições de avançar em eficiência. Praticamente em tudo que envolver "ciência", P&D. O Brasil deve levar vantagem mais onde a mão-de-obra barata for algo significativo. Supondo ainda que as reformas diversas facilitem potencializar isso.

Não assume planejamento central, apenas assume que o coletivo deseja minimizar custos de oportunidade ao buscar especialização no comércio internacional. E não desejar minimizar custos de oportunidade significa não desejar perseguir lucros econômicos (lucro econômico=lucro contábil - custo de oportunidade). Porém, se você acredita que o mercado é eficiente o bastante para você não conseguir derrotá-lo e obter lucros econômicos, seria irracional fazer qualquer negociação. Na verdade, tal hipótese é autodestrutiva. Se todos os investidores acreditassem na teoria de que não conseguiriam ganhar dinheiro com entrada em novos ramos de negócios, já que o mercado é imbatível, ninguém negociaria e, portanto, não existiria mercado.
« Última modificação: 23 de Julho de 2019, 12:54:57 por -Huxley- »

 

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