Já escalei a Pedra mas não dormi lá em cima. Algumas pessoas que pernoitam lá relatam a visão de luzes estranhas e do próprio guardião fenício.
Eu já pernoitei. Na orelha.
Não vi nada não, mas bem podia ter visto porque tinha uns pivetes fumando maconha a noite inteira na caverna.
Um dos maiores perrengues que já passei. Bom, nós não escalamos, fomos por um trilha que era dificuldade média. Tinha trechos que era meia escalada, um desses se chama carrasqueira, que vem de carrasco porque parece que morria gente ali.
O azar é que quando chegamos fechou o tempo e começou a chover. Aí a trilha ficou difícil pra cacete, e frio como nunca vi em lugar nenhum. Chegamos quase ao anoitecer, para descobrir que a orelha já estava ocupada: lá já estavam dois alpinistas e estes pivetes maconheiros. Só me enfiei em um canto, e não tive coragem nem de me mexer pra não sentir frio.
O pior é que não tinha comido nada o dia inteiro, porque perdi a hora e saí de casa sem café da manhã. Então só tentei pegar no sono e deixei pra comer na manhã seguinte.
No dia seguinte acordo com uma briga, um cara um pouco mais velho deu uns tapas em um pivete e o pivete pegou uma machadinha fora da caverna e tentou acertar a cabeça do sujeito, mas pegou na perna de um outro pivete. Não sangrava... jorrava! Ninguém precisou falar nada: todo mundo começou a enfiar os trecos na mochila e descemos aquela porcaria na desabalada.
Só paramos quando chegamos lá embaixo, onde tinha um laguinho com uma cachoeirinha. E esse foi o único momento bom.
Até esqueci da fome, mas quando cheguei na praia de São Conrado vi uma carrocinha vendendo cachorro quente e comprei um com maionese. Era minha primeira vez: nunca tinha comido antes hotdog com maionese. Putz, era divino, a coisa mais sublime e deliciosa que eu já tinha experimentado na vida.
Depois comi muitos hotdogs com maionese mas nunca era a mesma coisa desse dia... Então percebi que o segredo não era a maionese: era ter ficado 36 horas sem comer nada.