Terra, você deve saber muito bem que ninguém em santo. E muitos são menos santos ainda. Comportamentos egoístas e lesivos ao bem estar da coletividade são naturais e inerentes ao ser humano e é exatamente pr esse motivo que é necessária a existência do Estado. Se todas as pessoas fossem inocentes viveríamos a utopia dos anarquistas mais ingênuos, seríamos os bons selvagens de Rousseau.
Quando eu falo em "a sociedade", não me refiro somente às pessoas que a compõe, mas também às suas instituições: o Estado, as suas leis e os costumes. A função do Estado é administrar a sociedade e lidar com os conflitos entre os interesses egoístas das pessoas fazendo uso da lei, que é em parte baseada nos custumes e em parte em puro pragmatismo.
As pessoas não costumam se impressionar por palavras bonitas por muito tempo; em um momento o marginal está na igreja ouvindo o padre falar que ele deve amar ao próximo como a si mesmo e no dia seguinte o sujeito está matando alguém e o padre estuprando uma criança. O que se espera das pessoas é que façam bagunça; práticas desonestas maiores ou menores por parte das pessoas é uma doença crônica e incurável da civilização com a qual ela deve conviver. Os culpados por essa doença podem até ser os micróbios, mas o culpa por não conseguirmos conviver com ela é dos remédios. Por isso pôr ordem na bagunça é função do Estado, porque ao contrário das palavras, o Estado tem força para impor sua vontade, força essa que lhe foi concedida através de um contrato social, o poder do Estado tem como fonte o povo, e quando o povo não está satisfeito com o Estado é dele que brotam as revoluções que podem derrubá-lo ( e esperamos que a democracia represente o fim da necessidade de revoluções sangrentas ), quando o seu remédio está lhe causando mais mal do que a moléstia é uma boa hora para trocá-lo.
Por mais que você seja um cidadão relativamente honesto e cumpridor da lei, você sabe que em todas as sociedades existem pessoas relativamente menos honestos e pessoas absolutamente desonestas inseridas em seu seio. A única forma de tornar os relativamente honestos e os absolutamente desonestos aquilo que num mundo idela eles deveriam ser é não permitir que se formem condições favoráveis para que eles desafiem os regras da sociedade. Portanto, em vez aparecerem campanhas na televisão implorando para as pessoas não comprarem produtos ilegais (drogas, marcas pirateadas, contrabando, artigos roubados, etc.), que não desestimulam de jeito nenhum certos consumidores de adquiri-los, a abordagem correta não dar paz aos violadores da lei: inviabilizar a utilização de espaços públicos para esse tipo de comércio, vigilância constante das ruas, investigações conduzidas de forma competente, etc.