Quem foi Buda
Antes de analisar suas quatro nobres verdades, conheçamos a vida de quem as idealizou. Sidarta Gautama (esse é o verdadeiro nome de Buda) nasceu na Índia, mais precisamente na cidade de Kapilavastu, que pertence atualmente ao Nepal, por volta do ano 530 ª C. cerca de 2500 anos atrás, filho de um rei local, Suddodana. Sua mãe, Maya Devi, faleceu quando ele era criança ainda e foi criado só pelo pai, que, determinado a perpetuar sua descendência real, fez de tudo para preparar o jovem Sidarta para ser um governante. Desde jovem aprendeu com mestres e professores, trazidos por seu pai, o ensino das artes, e também da guerra ( Buda foi treinado no arco e flecha com propósitos militares).
De acordo com o costume da época ele se casou, na adolescência, com a jovem Yasodhara, com quem teve um filho. Seu pai querendo separar Buda do mundo fora do palácio e de todo o sofrimento que lá fora existia lhe providenciou todo o tipo de diversão. Apesar de casado o pai de Buda lhe ofereceu amantes, também lhe deu luxo total, boas comidas, festas e divertimentos. O pai de Sidarta ordenara que ele vivesse uma vida em total isolamento sem poder jamais deixar as dependências do palácio.
Aos 29 anos, Sidarta, inquieto e cheio de dúvidas em sua mente se aventura fora do palácio em que vivia em total conforto e isolamento do mundo. Ao sair do palácio se deparou com a cruel realidade do sofrimento da sociedade em que vivia. Ao passear à cavalo ele se depara com um velho decrépito e magro devido à fome; mais adiante encontra um homem sofrendo de uma doença terrível, possivelmente lepra, que lhe causava dores intensas; a terceira visão logo adiante mostrava um família chorando um ente falecido e preparando-o para a cremação, pratica comum entre os hindus, religião prevalencente na Índia; mais adiante encontrou-se com um monge hindu que vivia em jejuns e pobreza, apesar disso era feliz, procurando por libertação espiritual.
Cheio de duvidas e compreendendo a frugacidade de sua vida no palácio decidiu abandonar tudo, inclusive a esposa e o filho ( aqui podemos ver um erro de Buda, mas como diz o ditado: “Ninguém é perfeito”), para buscar a libertação, como aquele monge que ele conheceu, e ajudar os seres humanos a lidar com suas dores. Preso no palácio por ordem de seu pai, que lhe recusou a saída, o jovem Sidarta acaba escapando junto com um vassalo, Chandaka, que acaba retornando ao palácio por ordem de Sidarta com suas vestes de príncipe e jóias que ele usara na fuga e com uma mensagem a seu pai dizendo que só voltaria depois de descobrir a iluminação. Chandaka forneceu a Sidarta suas vestes de vassalo em troca.
Buda se juntou a monges hindus e aprendeu com eles técnicas de yoga, meditação e ascetismo. Também passou a jejuar. Em um de seus jejuns acabou exagerando e passou mal devido à falta de comida, quase morreu, mas uma menina, com um prato de arroz, acabou lhe salvando a vida. Buda cheio de novas idéias e descrevendo-as aos monges com os quais vivia passou a fazer seguidores entre eles. Depois de meditar abaixo da figueira e concluir suas quatro nobres verdades, o ex-principe Sidarta Gautama passou a ser chamado Buda que significa iluminado, e ditou a seus discípulos um sermão, muito parecido com o sermão da montanha que Cristo proferiria séculos depois, mas com ensinamentos um pouco diferentes:
- Bem-aventurados aqueles que sabem e cuja sabedoria está isenta de enganos e de superstições.
- Bem-aventurados aqueles que transmitem o que sabem de forma amável, sincera e verdadeira.
- Bem-aventurados aqueles cuja conduta é pacífica, honesta e pura.
- Bem-aventurados aqueles que ganham a vida sem prejudicar ou pôr em perigo a vida de qualquer ser vivo.
- Bem-aventurados os pacíficos, que se despem de má vontade, orgulho e jactância, e em seu lugar situam o amor é a piedade e a compaixão.
- Bem-aventurados aqueles que dirigem os seus melhores esforços no sentido da auto-educação e da autodisciplina.
- Bem-aventurados sem limites aqueles que, por estes meios, se encontram livres das limitações do egoísmo.
- E, finalmente, bem-aventurados aqueles que desfrutam prazer na contemplação do que é profundo e realmente verdadeiro neste Mundo e na nossa vida nele.
Buda passou a questionar o sistema de castas da Índia. Na religião hindu acredita-se que cada pessoa, devido a pecados cometidos em outra encarnação, paga nesta vida os erros de uma outra. Essa discordância o fez entender que outra religião deveria prevalecer na região. Foi aí que nasceu o budismo. Embora Buda nunca tivesse falado de Deus ele não pode ser confundido com um ateu, como muitos pensam. Na verdade Buda foi mais um indiferente que propriamente um ateu. Como os deuses eram muitos na Índia, Buda, em seu ecumenismo, considerava todos eles verdadeiros e achava que a discussão a esse respeito era inútil, pois provar se Deus não existe ou existe, e quais deuses eram os reais, ou qual a religião que é a verdadeira, era inútil, pois ninguém o podia provar mesmo. O budismo como fé aceita qualquer divindade, se você quiser ser budista adorando Deus, tudo bem, se quiser ser budista adorando os orixás do candomblé, tudo bem, se quiser ser budista adorando Ganesh, Brahma, Krishna e outros deuses do hinduismo tudo bem, e, até, se quiser ser budista não adorando nenhum deus, tudo bem também. O ecumenismo de Buda é amplo, pois ele rejeitava a idéia da religião verdadeira, para ele todas tinham a sua verdade, o seu lado bom. Não existe nenhum dogma no budismo e, ao que se sabe, em toda a história desta religião nunca nenhum budista foi perseguido por outro por causa de heresia. Buda chegou a pregar uma frase que ficou famosa:
“Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o."
Baseada em sua quarta nobre verdade Buda também passou a ensinar os “oito nobres caminhos”, caminhos espirituais que a pessoa deveria seguir. Aceitando a crença hindu da reencarnação Buda afirmava que a única maneira da alma não mais voltar a este mundo era seguir estes passos. Assim ela atingiria o Nirvana, o fim das reencarnações, pois a alma estaria livre deste mundo.
Buda andou pelo vale do Ganges, na Índia, pregando sua mensagem, ensinando a todos sem esperar recompensa, sem distinguir classes ou castas. Andava como um mendigo e só se alimentava do que encontrava na natureza ou o que recebia de outras pessoas. Era tão famoso na época que, onde chegava, multidões lhe acorriam e jogavam juncos e flores em seu caminho.
Buda faleceu com a idade de 80 anos de forte indigestão, depois de comer um pedaço de carne de porco estragada.