Quando digo que Pink Floyd é uma das bandas mais superestimadas do rock, é por ter conhecido tantas pessoas que atingem a quarta dimensão ouvindo-os, encontrando algo profundo, bombástico e épico no Pink Floyd. E, imagino, a própria banda se via assim.
Bom, o som psicodélico, com solos nascidos de improvisações e longos temas com um desenvolvimento chegando a um coda-clímax propiciava isso. Convenhamos que David Gilmour criou uma nova forma de tocar guitarra, Rick Wright tanto cirava ambientes como ritmos com os teclados, e não houve outro batera como Nick Mason. Se completavam. E Roger Waters inspirou e liderou a galera, embora tenha que concordar que como compositor se sobresai muito mais do que como baixista.
Eu vejo apenas uma boa banda, que surpreende, embora nada que a coloque acima de tantas outras bandas de rock. Mas em termos de sentido? Eu, pessoalmente, não consigo tirar nada. O que eu vejo lá, não envelheceu bem. O que se pode tirar do Animals, por exemplo, a não ser uma visão esquerdista nada nova, talvez de esquerdista chato de boteco? O Dark Side é quase interessante, mas falta alguma coisa. Como letrista, Roger Waters não é um Zappa, não é um Dylan. E para justificar a fama que tem, deveria ser.
A potência nas letras de Waters está no fato de serem simples -nada mais simples, tonto até, do que a letra de Money -aliás, ele a compôs quase na íntegra quando era adolescente.
Mas o fato de como Waters concentrou as perguntas que permeiam 'Dark Side', as entrevistas que deram a pessoas simples (respostas que se ouvem no disco), a questão de fazer uma música para cada preocupação moderna, num disco cíclico, me faz pensar que não, não faltou nada. Inclusive cada um deles contribuiu na composição do outro, o que lhe deu um sentimento de integridade muito forte.
Agora, Floyd claro que seria mais popular do que Frank Zappa. Zappa nunca foi e nunca será popular, porque sua busca atonal, suas letras críticas, seus inventos musicais que beiram a impossibilidade, o deixam a margem. Quase ninguém o conhece, é quase um mito. Além de ter deixado inimigos no seu rastro, claro. Pessoalmente gosto muito mais de Zappa do que de Floyd, talvez inclusive por ser totalmente impopular, politicamente incorreto até, totalmente ateu sem ser revoltadinho, gostar de uma mistura insólita de qualquer tipo de música para sair de qualquer jargão, inclusive tocar 'Stairway to Heaven' com saxo, em ritmo de reaggae/ska, etc !
Para mim, King Crimson foi a banda mais diversificada, e mais completa, de toda a historia do rock sinfônico. Claro que é minha opinião, mas baseio isso, além do que gosto, no fato de terem tocado monstros do rock, como (para citar os mais famosos) Bill Bruford (ex-Yes), John Wetton, Greg Lake (que saiu para formar Emerson,Lake&Palmer), Tony Levin (co-autor dos stickers e de técnicas de baixo), liderados por Robert Fripp, um dos poucos músicos sinceros do rock. Quando cansou de tourneé, não brincou de tourneé, PAROU. Quando disse que a fase Crimson estava acabada, em 1974, mandou tudo mundo embora. Quando viu o espírito renascer, totalmente renovado, diferente, convocou a galera de novo. E assim o faz a cada 5, 6 anos. Sem a necessidade de uma mentira anual. E tem discos em estúdio até 2003.
Mas Floyd tem uma inegável historia de superação, decidiram corretamente a saída de Barret, lhe dedicaram um disco ("I Whish You Where Here", nada mais evidente) além de mantê-lo financeiramente enquanto Syd se tratava, e ainda o colocaram nos créditos 3 anos depois dele ter saído da banda. Demonstraram que poderiam continuar com a banda sem o líder e o fizeram em grande estilo, criando uma proposta nova a cada disco.
Musicalmente seu grande sucesso é o que menos me agrada, The Wall, mas é um assunto pesado e bem conduzido na ópera-rock mais bem executada. Ah, sim, há quem diga que 'Tommy' é original, por ter sido feita antes, mas The Wall conseguiu reunir os problemas de toda a geração pós-guerra, então sim é diferente.
Sim, as letras de Animals traem um pouco o sentimento do livro, numa interpretação bem pessoal do Waters, mas a música tem a potência que poucos discos do rock conseguiram.