Os meninos dizem tudo. Hoje só vêem a família, e olhe lá, com olhos para o pertencimento. Nisso eu entendo a mania dos religiosos de querer tanto a preservação da família. A gente tem a sensação de que é possível se entrincheirar em casa e viver sozinho. Bobeando até é, mas quem agüenta? Além disso, mesmo entrincheirados em casa, a gente continua dependendo dos outros, de gente que garanta o nosso direito de propriedade e de vida, e etc.
Li uma vez que, no caso paulistano, tem tanta gente crente porque as pessoas vêm de outros lugares para cá, rompendo com todos os vínculos que fizeram durante a vida, tendo medo de acabar não dando certo, e chegando aqui são englobadas pelos grupos evangélicos, que têm rede de solidariedade, arrumam emprego e casa para eles, e os chamam de irmãos. Como as comunidades étnicas de antigamente, mas baseada num vínculo universal, o de serem todos iguais perante deus. Quando estávamos eu e o Marco discutindo se um mundo ateísta seria um mundo melhor, ficava pensando nisso e pensando em como seria necessário montar uma "rede de solidariedade" ateísta, baseada em alguma coisa que nos seja comum a todos (a humanidade, talvez), pra não haver ainda mais desagregação.