Corrigi os dois textos (tem coisas que provavelmente serão cortadas como períodos longos, mas eu também tenho esse problema), aí vai (embora o primeiro já tenha sido enviado, mas whatever):
1º:
Venho através desse e-mail criticar um trecho da Edição Histórica da revista Veja sobre o papa João Paulo II. No texto do editor Mário Sabino, ele faz uma infeliz menção às emoções de uma pessoa atéia: “A última imagem de João Paulo II, registrada poucos dias antes de sua morte, é de uma pungência capaz de emocionar o mais duro coração ateu (...)”.
Eu, como ateu, me senti de certa forma ofendido com essa frase de Sabino. Gosto muito da leitura de Veja, mas dói o meu “coração duro” ao ler algo de tamanha ofensa e falta de conhecimento. Ateísmo é a descrença na existência de Deus. Essa definição não tem nenhuma ligação com o grau emotivo de uma pessoa. Um ateu é quem não acredita em Deus, não é quem tem coração duro. Uma pessoa pode muito bem ser atéia e uma ótima pessoa; a moralidade não necessita de crença religiosa, vide Buda. Comentário muito infeliz do editor da Veja, e espero que levem em consideração essa mensagem de que um ateu não é necessariamente uma pessoa imoral. Um exemplo sou eu mesmo: às vezes me impressiono em como sou mais cristão do que muitas pessoas que rezam todas as noites e vão à missa todos os domingos em nome de Cristo. Certa vez perguntaram ao escritor português José Saramago, ganhador do Prêmio Nobel, como um ateu como ele podia ser tão bom. Ele simplesmente respondeu: "Eu é que não entendo em como uma pessoa que acredita em um Deus bom pode ser tão má."
Lembrem-se disto: ser ateu não significa não ser emotivo ou ser imoral, só significa não acreditar em Deus, e não é por causa disso que uma pessoa tem de ser má. Hitler era uma pessoa de coração duro, mas que acreditava em Deus.
É com grande pesar que mando essa mensagem à revista Veja por um descuido tão penoso, uma frase tão preconceituosa, coisa que uma das maiores revistas do país deveria evitar.
2º:
Talvez o jornalista que redigiu tal reportagem tenha intencionado uma figura de imagem. Porém, é imprópria. Os ateus talvez não tenham se emocionado, assim como os hindus, os muçulmanos ou protestantes. É claro que todos estes sentiram o impacto da morte de uma figura importante para a religião com maior número de adeptos do mundo, além de sua influência pessoal. O trecho como foi escrito dá uma ambígua impressão de que todos religiosos sentem comoção pela morte, e os ateus não. Porém, isso não significa que o Papa (não Karol Woytla em especial) é uma figura que desperta mais sentimentos aos católicos apostólicos do que, por exemplo, os ortodoxos, a igreja-irmã da Igreja Romana.
Não gostaria de ver mais uma frase dessas em uma revista de tão boa qualidade, e não gostaria de aturar mais uma vez uma situação semelhante na morte de Dalai Lama, do patriarca da Igreja Ortodoxa, do próximo Papa, entre outros.