Einstein mostrou que um Universo estático e esférico era possível, mas logo viu que era instável
"A ciência é uma narrativa sempre em evolução. Novas descobertas são feitas, idéias e teorias são propostas na medida em que avanços tecnológicos e conceituais vão surgindo. É por isso que o conceito de "verdade científica" deve ser visto com muito cuidado: o que parece ser verdade hoje pode não sê-lo amanhã.
Um excelente exemplo disso é a concepção espacial do cosmo. Na Grécia Antiga, Aristóteles propôs um cosmo finito, fechado: a Terra, imóvel no centro, cercada de esferas concêntricas, cada uma carregando um objeto celeste diferente. Não existia um "lado de fora": o cosmo era apenas aquilo. Na medida em que as esferas giravam, giravam também os objetos celestes.
Na Idade Média, a Igreja adotou o esquema de Aristóteles, equacionando a "Primum Mobile" com a morada de Deus, que dirigia o cosmo de sua fronteira. A diferença mais importante é que, enquanto o cosmo aristotélico era eterno, o cosmo cristão medieval havia sido criado no passado.
Apenas no final do século 17, Isaac Newton modificou o esquema, propondo que o cosmo fosse infinito. A partir de então, o cosmo fechado abriu-se, tornando-se cada vez maior e mais exótico, repleto de objetos que só podem ser vistos por telescópios, como galáxias, nebulosas e novos planetas, como Urano, Netuno e Plutão.
Mas foi no século 20 que a grande revolução cosmológica mudou de vez nossa concepção cósmica: em 1917, Einstein aplicou sua nova teoria da relatividade, que equaciona a geometria do espaço com a matéria que o preenche, ao Universo como um todo. Com isso, foi o primeiro a obter, matematicamente, a geometria do cosmo. Mostrou que um Universo estático e esférico era possível, mas logo viu que era instável. A seguir, na década de 1920, descobertas astronômicas demonstraram que o Universo está em expansão constante: as galáxias afastando-se cada vez mais. O cosmo passa a ser plástico, passa a ter uma história: se as galáxias se afastam, no passado estavam mais próximas.
Hoje sabemos que a expansão começou há 14 bilhões de anos. Isso levanta uma questão: o que existe, então, do "lado de fora" do Universo?
A fronteira do Universo visível é determinada pela distância que a luz viajou em 14 bilhões de anos, 14 bilhões de anos-luz. Do lado de fora existe apenas mais Universo: mais galáxias, estrelas, nebulosas. Como escreveu o físico Freeman Dyson, o Universo é infinito em todas as direções.
Fonte: Folha Ciencia/MARCELO GLEISER