Se eu visse Deus na minha frente eu pouco iria me preocupar com se ele é infinitamente poderoso ou se ele é apenas muitissíssimo poderoso. O que eu iria questionar seria a minha própria sanidade. Pelo mesmo motivo eu não levo a sério testemunhos de anjos, ufos ou espíritos, pois mesmo que eu mesmo testemunhasse tais fenômenos eu não poderia ter certeza de minha lucidez.
Levando esse raciocínio ao extremo, por outro lado, eu não posso assegurar a minha lucidez nem mesmo neste exato momento, afinal, será que em vez de uma pessoa eu não poderia ser uma borboleta sonhando ser uma pessoa? Ou uma pesoa sonhendo ser uma borboleta que sonha ser uma pessoa? Como hipótese de trabalho eu passo a navalha de Occham nas borboletices. Quanto aos testemunhos pessoais, minha estratéia é outra: para mim não bastam experiências sensoriais, pois tenho consciência de que os sentidos podem nos confundir; para eu crer em alguma coisa eu preciso entendê-la, ou pelo menos entender os métodos que foram usados para chegar às premissas que a sustentam e às conclusões que delas se seguem.
Por isso, apesar de um semestre não muito produtivo na universidade, posso dizer que embora eu não entanda muito de mecânica quântica, pelo menos eu entendo de onde ela vem e porque é confiável aceitar a sua realidade. Entretanto, se eu visse Deus na minha frente, por não entender bem qual é o papel dele no esquema geral das coisas, não entender absolutamente nada sobre sua constituição, suas origens e seus efeitos no mundo que me é familiar, eu não estaria preparado para acreditar nele.