Autor Tópico: Bodas bárbaras  (Lida 2360 vezes)

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Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Bodas bárbaras
« Online: 03 de Junho de 2006, 16:43:31 »
Rio, 03 de junho de 2006 "O Globo"

Bodas bárbaras

REINALDO AZEVEDO

O marxismo é uma variante da preguiça. Se você acredita que a base material condiciona mudanças na cultura, na forma de pensar e nas relações intersubjetivas, basta fazer como os romanos do poema “À Espera dos Bárbaros”, de Kafávis: sentar na calçada e esperar a banda passar. E há os que resolveram acelerar a história para que o inexorável chegasse antes: Lênin, Stálin, Mao, Pol Pot. O resultado se mede em crânios.

O truque da chamada Escola de Frankfurt - de que Habermas é caudatário, embora infinitamente mais chato porque escreve mal - já é mais divertido do que o marxismo clássico. O que em um é conseqüência vira, no outro, causa, e a cultura é vista como o motor das mudanças materiais. É uma bobagem que alimenta intelectuais cuja profissão é contestar o regime - que lhes garante a liberdade de contestação. Mas muito influente.

O velho marxismo morreu de falência múltipla dos órgãos. A sua realização prática eram as economias planificadas, que não resistiram à globalização - descrita ou antevista, como queiram, pelo próprio Marx no “Manifesto Comunista”. Já ali se podia supor que o socialismo buscava represar o mar. O neomarxismo pretendeu fazer a crítica à ortodoxia esquerdista sem ceder à razão burguesa. Deu em quê?

Da maçaroca de esquerdismos não-dogmáticos nasceu uma vulgata virulenta: o pensamento politicamente correto. Tanto se dedicaram os intelectuais da dita nova esquerda à desconstrução do suposto eixo autoritário das democracias burguesas que a política militante degenerou, nos países ricos, no que Robert Hughes chama de “cultura da reclamação” e, nos pobres, de “excluídos militantes”, que rejeitam os valores universais da igualdade e o Estado de Direito. Querem que suas demandas particularistas sejam tratadas como reparação histórica.

Negros, feministas, homossexuais, índios, sem-terra, sem-teto, sem eira nem beira... Todos anseiam que a História seja vivida como culpa, e a desculpa se traduz na concessão de algum privilégio. Isso que já é uma ética coletiva supõe que todos são vítimas de alguém ou de alguma coisa. De quem ou do quê? Ninguém sabe. “Da sociedade” talvez. A hipótese é interessante. Poderíamos zerar a História, dissolver os contratos e voltar ao estado da natureza. O Brasil já tem um novo “negro” ou um novo “índio”: é o macho branco, pobre, heterossexual e católico. É um pobre coitado, um discriminado, um sem-ONG. Nem os padres querem saber dele.

As “minorias” se profissionalizam, e a luta sempre continua. Não temos uma política pública digna desse nome que se ocupe, por exemplo, da qualidade do ensino fundamental e médio, mas se faz, com cotas e ProUni, suposta justiça social na universidade, onde o único critério cabível de seleção é o saber - que mascararia as diferenças de classe e traria consigo um contencioso de injustiças históricas. Eis o desastre: competência e justiça, nesse raciocínio perturbado, passam a se opor, viram uma disjuntiva. Nas TVs, e até nos cadernos de cultura dos jornais, “manos” do rap e “MCs” fazem-se porta-vozes de uma nova metafísica, oposta àquele saber universal, formalista e reacionário. Padre Pinto é o santo padroeiro dessa guerra à ortodoxia.

Igualdade? Justiça? Reparação? Nada disso. Consolida-se é o divórcio entre os partidários desse igualitarismo - que, de fato, é um particularismo que corrói as bases do Estado de Direito - e os da universalidade. O “novo homem” do antigo marxismo - que era, sim, uma utopia liberticida e homicida - foi substituído pelos bárbaros, cujo mundo ideal é aquele disputado por hordas, tribos, bandos, de que entidades do “terceiro setor” são proxenetas bem remuneradas.

Os tais mercados não dão a menor bola para isso. A platéia que vi mais incomodada e, até certo ponto, indignada com a crítica severa que faço ao PT e a seu viés totalitário era composta de pessoas ligadas ao mercado financeiro. A democracia, como a defendiam os antigos liberais, é a eles irrelevante. Trata-se de dinheiro novo. Assistimos ao casamento entre os hunos e essa gente muito prática. As bodas bárbaras.
REINALDO AZEVEDO é jornalista.

Offline Rodion

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #1 Online: 03 de Junho de 2006, 19:00:07 »
lembrando que as cotas enfim chegaram à fuvest, esse ano começa. isso depois de, entre outras coisas, os militantes da educafro profanarem o largo s. francisco, quebrando o portão, ofendendo um ou outro aluno e fazendo o que sabem de melhor; pentelhar.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Agnostic

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #2 Online: 14 de Junho de 2006, 14:00:41 »
Um trecho do texto me chamou mais a atenção:

Citar
Todos anseiam que a História seja vivida como culpa, e a desculpa se traduz na concessão de algum privilégio. Isso que já é uma ética coletiva supõe que todos são vítimas de alguém ou de alguma coisa. De quem ou do quê? Ninguém sabe. "Da sociedade" talvez.

Em todas as épocas conhecidas praticamente sempre houve minorias(ou maiorias!) excluídas, prejudicadas(ou sentindo-se assim) de alguma forma, não importa o sistema econômico ou político vigente. Exceto se se começar a produzir seres humanos geneticamente pré-programados para assumirem certo tipo de padrão comportamental rigidamente padronizado, existirão sempre "culpados" e "vítimas".
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rizk

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #3 Online: 14 de Junho de 2006, 23:23:50 »
Ok, Agnostic, mas ser "vítima" a ponto de querer reparações descabidas como fazem algumas das nossas "minorias" já é passar dos limites, concorda?

Ia falar sobre como acho "dívida histórica" uma grande bobagem, mas acho que já o fiz. Enfim, todas as pessoas vivas já foram vítimas de alguma coisa, porra, CRESÇAM.


As cotas que chegaram à fuvest são pra alunos da REDE PÚBLICA, o que eu não vejo como uma coisa realmente ruim.

Você tinha mesmo era que reclamar dessa coisa de "prova interdisciplinar" que eles estão querendo fazer ano que vem, isso sim reduz o número de calouros capazes. Vc vê, na minha época a primeira fase tinha 160 questões, e ainda assim a minha turma era bem menos fodona do que eu esperava. Na época da minha mãe eram 100 questões, e caíam todas as matérias na segunda fase, e ela diz a mesma coisa. Imagina o que dirão os calouros de 2007.

Offline Agnostic

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #4 Online: 15 de Junho de 2006, 04:12:37 »
Ok, Agnostic, mas ser "vítima" a ponto de querer reparações descabidas como fazem algumas das nossas "minorias" já é passar dos limites, concorda?

Esse já é outro ponto. Não pensei exatamente nisso, mas concordo, tal como o exemplo das cotas para negros nas universidades. Como definir quem é negro? Olha só... sou bem branco, mas tenho ascendentes negros (meu trisavô foi negro filho de escravos), e agora? O critério é apenas a cor ou o passado histórico/genealógico do invíduo? Por este critério eu poderia reclamar minha cota ou sei-lá-o-quê de vantagem do governo para as minorias que se sentirem injustiçadas, que no caso é o exemplo do negro nas faculdades.

Ia falar sobre como acho "dívida histórica" uma grande bobagem, mas acho que já o fiz. Enfim, todas as pessoas vivas já foram vítimas de alguma coisa, porra, CRESÇAM.

É sobre essa "dívida histórica" que quis dizer acima. Ainda no exemplo da cota para negros nas universidades, meu trisavô certamente foi muito injustiçado e teve que lutar muito para gerar sua prole e conseqüentemente chegar até minha geração. Sendo assim poderia reclamar meu direito de alguma cota, pois comprovadamente tenho ancestrais que foram escravos(!), mesmo eu tendo pele branca. Por outro lado, se a cor da pele for o único critério para justificar as cotas, então isso é um racismo descarado, que interpreto como uma "reparação descabida", tal como você citou.

De toda forma é uma "reparação descabida". Se retroagirmos no tempo isso não tem limites. Teremos que exigir cotas dos portugueses por explorarem os colonos brasileiros de diversas formas; os portugueses terão que exigir cotas dos espanhóis por estes terem explorado Portugal, sugando seus recursos para interesses escusos (idem para Inglaterra); os espanhóis tendo que exigir cotas dos sarracenos, por sua anterior subjugação sobre o território e povo ibéricos, e assim indefinidamente de maneira retroativa.

Humm... aviso que talvez por meu sono avançado a esta hora eu não esteja conseguindo raciocinar muito bem. :-P
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rizk

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #5 Online: 15 de Junho de 2006, 20:02:36 »
Justamente. Não discordo em absoluto de que a abolição da escravatura foi um crime contra a população escrava, mas, porra, se os descendentes deles não conseguiram melhorar de vida, mesmo depois de 120 anos, vcs têm que concordar que o problema não é esse.

Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #6 Online: 20 de Junho de 2006, 15:15:43 »
Por falar em Reinaldo Azevedo, ontem foi o último dia de Primeira Leitura (http://www.primeiraleitura.com.br).
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Rodion

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #7 Online: 20 de Junho de 2006, 20:49:19 »
é. e não entendi muito bem por quê, já que, de acordo com a mensagem de despedida, as vendas eram boas e o site tinha muitos pageviews..
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #8 Online: 21 de Junho de 2006, 09:04:43 »
é. e não entendi muito bem por quê, já que, de acordo com a mensagem de despedida, as vendas eram boas e o site tinha muitos pageviews..

Bruno, as revistas vivem, hoje, do que pagam os anunciantes, não do que pagam assinantes ou quem compra em banca. Se não tem anunciantes em número suficiente pra garantir um lucrinho, fecha.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

ukrainian

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #9 Online: 21 de Junho de 2006, 22:21:23 »
Viva o mercado!

Offline Rodion

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #10 Online: 21 de Junho de 2006, 22:28:13 »
é. e não entendi muito bem por quê, já que, de acordo com a mensagem de despedida, as vendas eram boas e o site tinha muitos pageviews..

Bruno, as revistas vivem, hoje, do que pagam os anunciantes, não do que pagam assinantes ou quem compra em banca. Se não tem anunciantes em número suficiente pra garantir um lucrinho, fecha.

então, se tinha boa circulação e o site era bem visitado, por que não viriam os anunciantes?
será pra não ter que aguentar gente depois fazendo conexões esdrúxulas, como foi feito no começo desse ano?

'aha, você anunciando numa revista de direita'.
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Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #11 Online: 22 de Junho de 2006, 09:27:55 »
então, se tinha boa circulação e o site era bem visitado, por que não viriam os anunciantes?
será pra não ter que aguentar gente depois fazendo conexões esdrúxulas, como foi feito no começo desse ano?

'aha, você anunciando numa revista de direita'.

Pode ser. O momento atual é de esquerda. Um empresário que vincula sua marca a "idéias erradas", como as da Primeira Leitura, pode comprometê-la junto aos seus potenciais clientes, portanto é compreensível que não o faça. Se o fizer, vai sempre correr o risco de que algum imbecil "fazedor de opinião", bastante lido ou escutado, diga que sua empresa anuncia numa publicação "de extrema-direita", "fascista", "neoliberal".
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Barata Tenno

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #12 Online: 22 de Junho de 2006, 09:53:17 »
É verdade...... ser de esquerda e odiar os americanos agora virou modinha....
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Offline FredLC

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #13 Online: 22 de Junho de 2006, 23:12:34 »
Hehehehe.

Interessante - eu sou moderador de um fórum em inglês, e um dos grupos que tenho de lidar de quando em quando é o de racistas, com as mais variadas vertentes - mas especialmente anti-islâmicos (um modismo recente) e anti-semitas (esse nem tanto).

Faz pouquíssimo tempo, li (e moderei) um texto que acusava os Judeus de, com uma "mentalidade de revisionismo histórico" e "vitimização profissional de suas próprias mazelas", estarem "querendo ver reconhecidas suas tragédias em um patamer diferenciado das demais que atingiram o mundo" e o fazerem com o deliberado intuito de fomentar um "esquema mundial de extorsão disfarçada de indenizações para reparação histórica".

Acusações - vejam vocês - idênticas às lidas no texto inicial do tópico, sobre outras minorias.

Me parece que o Sr. Reinaldo Azevedo, ao escrever seu texto, simplesmente resgatou e adaptou uma retórica alheia - e questionável - a seus próprios expedientes políticos. Tsk - ao nada original autor... plágio também é uma violação de direitos.

Em tempo - eu não sou um defensor do politicamente correto, e menos ainda acredito em culpas históricas a serem expiadas, e não defendo políticas de quotas... mas daí a rastrear isso até uma conseqÜência do (que ele não ousou chamar, mas certamente endossaria) - "maldito marxismo" - é um revisionismo em par com o que ele deseja apontar com dedos em riste e vender a seu leitor.

A razão dessas vertentes de pensamento, equivocadas mas bem menos melodramáticas do que ele quer fazer parecer, são duas: uma, a facilidade de comunicação dos tempos modernos , que permite que idéias sectárias sejam espalhadas com facilidade e; duas, conforme ele mesmo identificou, a liberdade, oriunda do stablishment, para que tais opiniões sejam expressas. Mas parece que o Sr. Azevedo se incomoda muito quando idéias das quais ele discorda são defendidas (e sim, apenas isso, defendidas, pois dificilmente ele convencerá de que esses contra-culturistas mudaram de forma significativa o mundo).

Há um problemas, este tanto é verdade - mas convenhamos... conspiração marxista é um pouquinho demais, não é?

A liberdade de expressão "dada" "pela ortodoxia" (aspas deliberadas) tem dessas coisas, caríssimo autor. Acostume-se, e mantenha as críticas em escala sensata. Porque, sem embargo, seu texto me lembrou um trecho de "20.000 Léguas Submarinas", o ópus de Júlio Verne, no trecho em que um Irado Capitão Nemo, ao descobrir Pierre Arronax e seus asseclas vagando pelo Nautilus, fuzilou-lhe o olhar e disse: "Eu lhes concedi liberdade, e o que vocês fizeram com ela?"

"Nós a exercemos, Capitão".

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« Última modificação: 22 de Junho de 2006, 23:30:25 por FredLC »
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Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #14 Online: 22 de Junho de 2006, 23:49:05 »
Fred, no debate entre acadêmicos que ocorreu no congresso sobre a cota de vagas, esse pessoal do movimento negro ficou fazendo barulho para que os opositores das cotas não conseguissem se pronunciar. Eles entoavam em coro: "Morra! Morra!".
Eles óbviamente não entende o que é democracia. Ou pior: entendem o que é democracia e são anti-democráticos.
« Última modificação: 22 de Junho de 2006, 23:51:03 por Dante, the Wicked »

Offline FredLC

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #15 Online: 22 de Junho de 2006, 23:57:19 »
Ah, que militantes desse gênero não entendem uma pataca de democracia é algo do que eu não vou, nem quero, discordar.

Mas eles não são os únicos, e falar bonito ou escrever bem não muda a natureza de uma opinião nitidamente polida por uma agenda e não por uma análise fria dos fatos.
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rizk

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #16 Online: 23 de Junho de 2006, 02:09:45 »
Cada dia mais os discursos da esquerda e da direita me parecem mais iguais.

Acho que agora entre as pessoas bem-pensantes da sociedade brasileira está um clima esquisito por causa do PT; quem acha que o Lula nunca saiu da esquerda ficou anti-esquerda, quem acha que o pt se vendeu ficou ainda mais esquerdista, e essas polarizações são complicadíssimas. Aí o fato de eles reclamarem das mesmas coisas faz parecer que estão falando a mesma coisa, mas no fundo não estão.

Do jeito que as coisas andam, é mais que fácil convencer a burguesia que movimento social é tudo culpa do Finado.

Sei lá, estive outro dia numa reunião dos sem-teto daqui de São Paulo, convidada por um amigo que está cuidando de uma causa de uma mulher que não recebeu o bolsa-aluguel dela: todo mundo FULO com o psdb-pfl, gente séria que realmente não tem como morar se não receber aquele dinheiro e se o atual governo não continuar tentando resolver o problema da habitação aqui, que é complicadíssimo como vcs todos sabem.

Mas vai convencer agora as pessoas, depois da cagada do pt no governo federal, que as pessoas REALMENTE precisam dessas coisas. Não é uma parada ideológica, é questão de sobrevivência mesmo. Nessas horas, você tá lá com seus filhos sendo despejado e manda o socialismo e a  democracia à puta que os pariram mesmo, e seria de estranhar se isso não acontecesse.

A meu ver.

Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #17 Online: 26 de Junho de 2006, 11:11:54 »
A liberdade de expressão "dada" "pela ortodoxia" (aspas deliberadas) tem dessas coisas, caríssimo autor. Acostume-se, e mantenha as críticas em escala sensata. Porque, sem embargo, seu texto me lembrou um trecho de "20.000 Léguas Submarinas", o ópus de Júlio Verne, no trecho em que um Irado Capitão Nemo, ao descobrir Pierre Arronax e seus asseclas vagando pelo Nautilus, fuzilou-lhe o olhar e disse: "Eu lhes concedi liberdade, e o que vocês fizeram com ela?"

Desculpe, mas não entendi, Fred. O que seria uma escala sensata?
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Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #18 Online: 26 de Junho de 2006, 11:26:27 »
Eles óbviamente não entende o que é democracia. Ou pior: entendem o que é democracia e são anti-democráticos.

Os movimentos sociais brasileiros simplesmente não aceitam "não" como resposta, mesmo que o "não" venha das instituições maiores da República, como o Congresso e o Judiciário. Recusam-se a se sujeitar às mesmas leis a que todos os outros brasileiros se sujeitam. Isso já mostra que são, de fato, movimentos anti-democráticos, dispostos a impôr sua pauta de reivindicações a todo custo.
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Offline CoqueiroVermelho

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #19 Online: 26 de Junho de 2006, 11:41:53 »
Eles óbviamente não entende o que é democracia. Ou pior: entendem o que é democracia e são anti-democráticos.

Os movimentos sociais brasileiros simplesmente não aceitam "não" como resposta, mesmo que o "não" venha das instituições maiores da República, como o Congresso e o Judiciário. Recusam-se a se sujeitar às mesmas leis a que todos os outros brasileiros se sujeitam. Isso já mostra que são, de fato, movimentos anti-democráticos, dispostos a impôr sua pauta de reivindicações a todo custo.
Generalização absurda... Prove que todos os movimentos sócias não aceitam não como resposta, e que todos são antidemocráticos.
(vale a lei generalizar é fácil provar é difícil).
...

Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #20 Online: 26 de Junho de 2006, 14:33:13 »
Eles óbviamente não entende o que é democracia. Ou pior: entendem o que é democracia e são anti-democráticos.

Os movimentos sociais brasileiros simplesmente não aceitam "não" como resposta, mesmo que o "não" venha das instituições maiores da República, como o Congresso e o Judiciário. Recusam-se a se sujeitar às mesmas leis a que todos os outros brasileiros se sujeitam. Isso já mostra que são, de fato, movimentos anti-democráticos, dispostos a impôr sua pauta de reivindicações a todo custo.
Generalização absurda... Prove que todos os movimentos sócias não aceitam não como resposta, e que todos são antidemocráticos.
(vale a lei generalizar é fácil provar é difícil).

Por que dizemos que vacas não voam? Porque nunca vimos uma vaca voando (indução). Nunca conheci um movimento social que aceitasse uma decisão contrária a suas revindicações. O dia que conhecer um, mudo de opinião.
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Offline FredLC

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #21 Online: 27 de Junho de 2006, 10:48:52 »
A liberdade de expressão "dada" "pela ortodoxia" (aspas deliberadas) tem dessas coisas, caríssimo autor. Acostume-se, e mantenha as críticas em escala sensata. Porque, sem embargo, seu texto me lembrou um trecho de "20.000 Léguas Submarinas", o ópus de Júlio Verne, no trecho em que um Irado Capitão Nemo, ao descobrir Pierre Arronax e seus asseclas vagando pelo Nautilus, fuzilou-lhe o olhar e disse: "Eu lhes concedi liberdade, e o que vocês fizeram com ela?"

Desculpe, mas não entendi, Fred. O que seria uma escala sensata?

Simples. Critique-os por terem uma agenda absurda. Critique-os por confundirem ser aguerridos, o que seria bom, com serem criminosos, e promoverem invasões de prédios públicos e desobediência civil. defenda que as autoridades têm o direito e dever de conformá-los às leis da nação; critique-os por serem hipócritas muitas vezes, e dizerem defender o povo enquanto seus líderes ganham dinheiro e crescem na política. Tudo isso é crítica sensata.

O que não é sensato é descartar tudo que eles pensam e propõem colocando-os sob uma bandeira de conspiração comunista oriunda do marxismo para enganar as pessoas e roubar as riquezas do mundo. Isso aí que o texto fez. Esse é um discurso absurdo, e tão cego e surdo quanto o discurso desses movimentos - e que não invade terras e prédios públicos somente porque não precisa - ele vem do ponto de vista dos que já comandam essas instituições.

Em tempo - muitos dos diagnósticos desses movimentos a respeito de uma pobreza e desigualdade históricas são corretos. O que é errado é a solução anárquica, pela espada, com desrespeito às instituições. Não se corrige uma injustiça com outra.

Mas ouvir do que eles tem a se queixar, e implementar soluções moderadas, é algo que eu considero plenamente válido. E, se eles não ficarem satisfeitos com a espera, que exerçam sua indignação no voto, não com turbas - que, por mim, devem sim ir em cana. Afinal, revoluções só são expedientes lícitos em meios ditatoriais aonde uma pessoa não tem recursos para se fazer ouvir - o que não é o caso do Brasil, mesmo com todos os seus problemas.

Em suma, não acho certo nem quem quer acabar com toda a sociedade e refazê-la do zero, nem quem lava as mãos para problemas herdados do passado. O certo, como quase sempre, está no meio do caminho.

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« Última modificação: 27 de Junho de 2006, 10:50:34 por FredLC »
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Offline CoqueiroVermelho

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #22 Online: 27 de Junho de 2006, 13:32:51 »
Eles óbviamente não entende o que é democracia. Ou pior: entendem o que é democracia e são anti-democráticos.

Os movimentos sociais brasileiros simplesmente não aceitam "não" como resposta, mesmo que o "não" venha das instituições maiores da República, como o Congresso e o Judiciário. Recusam-se a se sujeitar às mesmas leis a que todos os outros brasileiros se sujeitam. Isso já mostra que são, de fato, movimentos anti-democráticos, dispostos a impôr sua pauta de reivindicações a todo custo.
Generalização absurda... Prove que todos os movimentos sócias não aceitam não como resposta, e que todos são antidemocráticos.
(vale a lei generalizar é fácil provar é difícil).

Por que dizemos que vacas não voam? Porque nunca vimos uma vaca voando (indução). Nunca conheci um movimento social que aceitasse uma decisão contrária a suas revindicações. O dia que conhecer um, mudo de opinião.
Realmente a direita foi muito democrática invadindo nossas casas, matando comunistas, criando leis sem ligar para o que a população achava, tudo na ditadura militar que veio para "salvar a democracia" e agora os Pefelista da arena vem criticar o MLST e outros movimentos sociais por dizer que são “antidemocráticos” hipocrisia pura desses caras, não deviam nem dar a cara a tapa pra dizer o que é democrático e o que não é democratico.
...

Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #23 Online: 28 de Junho de 2006, 08:56:50 »
Realmente a direita foi muito democrática invadindo nossas casas, matando comunistas, criando leis sem ligar para o que a população achava, tudo na ditadura militar que veio para "salvar a democracia" e agora os Pefelista da arena vem criticar o MLST e outros movimentos sociais por dizer que são “antidemocráticos” hipocrisia pura desses caras, não deviam nem dar a cara a tapa pra dizer o que é democrático e o que não é democratico.

Desculpe mas... o que tem uma coisa a ver com a outra? Estamos discutindo o modus operandi anti-democrático dos movimentos sociais brasileiros, e pra tanto pouco interessa o que a direita fez ou deixou de fazer antes, eu não tenho nada a ver com isso e não quero pagar o pato agora. Em outras palavras, porque a direita aprontou no passado não é justificável que eu e outros tenhamos que tolerar os abusos do pessoal da esquerda.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Roberto

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Re: Bodas bárbaras
« Resposta #24 Online: 28 de Junho de 2006, 08:58:50 »
O certo, como quase sempre, está no meio do caminho.

Hmmmm, isso me lembrou uma fala do sr. Miagi, aquele personagem do Karatê Kid feito pelo recentemente falecido Pat Morita.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

 

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