Sabe, eu vim de um país militarizado, com o país nas mãos de um general bêbado que passava maus bocados pela repressão descarada, e resolveu inventar uma guerra.
A imprensa lambe-botas imprimia manchetes como 'Estamos ganhando!"
As pessoas saíram às ruas festejar. Ao mesmo tempo, meses depois, quando começaram a chegar os caixões, começou a perceber o que tinha feito: deu corda para se enforcar.
Eu me sentia um pária. Tinha 12 anos e já me perguntava: como é que podemos ganhar uma guerra contra o país que foi o maior império mundial ? E não podia nem mesmo discutir com os meus colegas. Um deles dizia que o nosso inimigo estava com medo porque tínhamos mísseis de longo alcance apontados para sua capital.
Acontece que o meu irmão já era aficionado pela 2da Guerra, e eu tinha uma certa idéia de que mísseis de longo alcance não cruzam o Atlântico. E o meu país jamais teria tecnologia suficiente. E se tivesse, pior seria, pois estava fazendo guerra a um velho produtor de armas e poderosos exércitos, logo teria sempre armasem menor quantidade e qualidade.
Acabei por cantar tanto hino na escola que hoje não lembreo de nenhum, só de raiva.
Diz a lenda que, terminada a guerra, após firmar a capitulação, o generalote deitou a dormir - estava de porre.
Por outro lado, se existem impérios que se aproveitam de democracias, é porque nossos governantes são corruptos o suficiente como para pensar em si mesmos. E o nosso controle à corrupção é tão falho que nem conseguimos impedi-lo, nem mesmo com uma imprensa que pode publicar o que quiser.
Imprensa que ainda é lambe-botas, agora da opinião pública.
Se culparmos este ou outro império pelo que não somos, já estaremos assinando nossa carta de incompetentes.
E toda essa pose dos nacionalistas me deixa muito preocupado. Afinal, já passei recreios da escola em silêncio pelo irmão de algum companheiro de escola. E não é nada divertido.