Bom, vamos começar...
Pensei que estivéssemos falando de avaliar "religiões" no sentido de "utilidade real".
Estamos. Isso não pode ser feito sem uma certa proximidade. Ou, em outras palavras, é preciso estar no mesmo meio social em que uma religião é praticada para poder opinar com alguma legitimidade sobre a utilidade da mesma.
Eu concordo, com ressalvas. É preciso avaliar o grau de proximidade, pois a experiência é boa conselheira, mas é suspeita, porque costuma ser tendenciosa. O ideal é ter mais de um ângulo, de perto vemos os detalhes, de longe o todo – só a união dos pontos de vista é que pode formar um conjunto, mas ainda assim tem um agravante – o grau de imparcialidade que somos capazes.
A cultura de um povo não é muito diferente de sua religião. São quase que dois nomes para a mesma coisa.
A cultura de um povo é muito diferente de sua religião - não poderíamos falar da cultura italiana e brasileira, por exemplo, tomando por base a religião predominante dessas culturas - o catolicismo.
Por um certo conjunto de definições você está certa. Eu já prefiro pensar em religião como a atividade real, em contraste com a doutrina. A realidade do catolicismo brasileiro é bem diferente do italiano. Em alguns casos, notavelmente o Judaísmo, o Xintoísmo e talvez o Hinduísmo, nem é tão fácil assim separar a religião da nação.
Diferente de você, eu não consigo separar a doutrina da atividade real, num exemplo metafórico eu diria que são a alma e o corpo da religião, e que, tanto interferem mutuamente um no outro como no meio, mas sobretudo, sofrem influência do meio. Um meio nocivo a determinada religião a destrói, sobrevivendo a ela ou a abraça, se permitindo influenciar por ela, mas não depende “necessariamente” dela. Acredito que é possível o homem/cultura sobreviver bem, com ou sem religião, conforme o meio.
Uma religião não é NADA sem estar intimamente mesclada com as condições sócio-culturais de uma região e lugar!
E dessa forma, qualquer religião mesclada as condições sócio-culturais de uma região pode ter uma avaliação positiva. E se são, portanto, as condições sócio-culturais de uma região que definem o resultado da avaliação, a absoluta ausência de crença também encontraria condições ideais, tirando o mérito de qualquer religião.
Mas a questão não é essa; por definição religião implica em um conjunto de metas e métodos. "Ausência de crença" não é uma meta nem um método.
Concordo, claro - por ausência de crença, estamos falando do ateísmo. E teoricamente, o ateísmo não possui metas ou métodos, mas na prática, ao meu ver, poderia servir como moto-gerador positivo dentro de uma cultura tanto quanto uma religião. Não é o que o ateísmo representa, mas o que ele não impede ou pode até mesmo proporcionar.
Além do que, para avaliar o grau de validade de uma religião em uma época e cultura específicos importa menos a situação sócio-cultural existente do que a forma como a mesma muda - e também o impacto em outros campos como por exemplo o ecológico-ambiental.
O que quero dizer é que uma determinada religião pode contribuir para a avaliação positiva de uma cultura, mas não necessariamente, já que contribui de formas diferentes para diferentes culturas. O que não nos garante que qualquer outra religião, dogmas ou doutrinas não contribuiria da mesma forma, ou mesmo, a ausência desses.
Eu acho sem propósito querer concluir "qual é a melhor religião". Depende muito da cultura. Acho, isso sim, que praticamente qualquer cultura se beneficia de ter prática religiosa razoavelmente esclarecida. O que não quer dizer de forma alguma que seja necessário, ou mesmo desejável, encorajar a crença em algum tipo de divindade.
Também acredito que determinada cultura, conforme o meio, possa se beneficiar da prática religiosa, mas em paralelo, não vejo porque não se beneficiaria de sua ausência. Acredito que todo homem é religiosamente individual, no sentido metafórico da expressão, mas já não sabe mais sê-lo plenamente.
Na minha opinião, não são as crenças individualmente e mesmo no sobrenatural, que são nocivas, mas a sua socialização. A união da massa em torno de um ideal baseado numa crença é algo que me assusta, por seu potencial poder destrutivo sem um paralelo poder neutralizador. Acho preferível a crença individual, mesmo no sobrenatural, que a crença social, seja no que for, mas tenho consciência que essa é uma visão utópica da realidade. As religiões, ao longo dos séculos, nos tornaram tão semelhantes que descaracterizaram essa individualidade. Vendemos e compramos o peixe, mas não sabemos pescar. É o que temos hoje.
Mas... talvez esteja certo, na atual circunstância, é possível que a religião do bem ainda seja um fator mais positivo que negativo ao meio, socialmente falando.