Mas se sou egoista não muda?
Mas se sou "comunista" não muda?
Mas se sou suicida não muda?
Mas se fui criado dentro de uma visão diferente da sua não muda?
Lord Barata está certo. Se eu sou chantageado ou ameaçado para fazer algo que considero ruim, não vou deixar de achar ruim por isso (descontando a
Síndrome de Estocolmo e fenômenos afins).
Se bem que esse é exatamente o ponto: um sequestrado, egoísta, comunista, suicida ou adepto de outra cultura não "é" nenhuma dessas coisas: ele _aprendeu a ser_.
Um sequestrado pode aceitar que fez o que era necessário para funcionar sob extrema pressão, um egoísta pode desenvolver consideração por outras pessoas, um comunista pode adquirir compreensão mais ampla sobre o comunismo e sobre as alternativas ao comunismo, um chauvinista/reacionário/xenófobo/regionalista/nacionalista pode aprender mais sobre outras visões de mundo e a dialogar com serenidade com elas.
Um exemplo mais ou menos óbvio: suponhamos que eu sou um judeu, nascido e residindo em Israel, preocupado com a situação política atual.
Pode acontecer de em um primeiro momento eu achar "bom" que Israel esteja sendo tão decidido em suas ações militares. Mas observado os resultados, assistindo "Munique" do Spielberg, dialogando com palestinos e até mesmo simplesmente cansando de ter medo e raiva o bastante para me pôr no lugar de palestinos, libaneses e outros "inimigos de Israel" posso acabar percebendo e aceitando que ficar rosnando, matando e destruindo esses "inimigos" não é uma estratégia que possa levar a nada parecido com paz.
Eu realmente acredito que se esse conflito entre várias concepções de "bem" e "mal" acontece, é porque certas paixões e medos estão muito arraigadas nas cabeças e corações dos envolvidos. Há israelenses que sonham com um mundo de ficção científica no qual os árabes terão mais consideração pela autoridade de rabinos do que pela desgraça que os conflitos armados trazem, e há árabes e muçulmanos que realmente acreditam que foram criados pelo mesmo Deus que também criou os israelenses e permitiu que eles chegassem a criar o Estado de Israel, mas agora de alguma forma serão recompensados por esse Deus se se lançarem em missões violentas e suicidas para "punir" os israelenses.
Ambos os lados tem medo e preguiça de ver o quadro geral as ações e seus efeitos previsíveis. E por isso continuam apaixonados por mentiras "confortáveis". Nem sempre é algo evitável; nem todo mundo tem condição emocional ou mesmo mental de encarar uma perspectiva tão ampla e desapegada. Mas é uma habilidade de pode ser encorajada e cultivada tanto coletivamente quanto individualmente.
Forma curta: muda sim, Tarcísio. Mas a lucidez que põe essas perspectivas em sintonia pode e deve ser cultivada.