20/08/2006
A "escória" do mundo
Há um tema – na Europa, nos EUA ou na América Latina – em que a divisão entre direita e esquerda permanece fortemente: o dos imigrantes. Discriminados, excluídos, criminalizados – são a nova “escória” do mundo.
Eles sintetizam algumas coisas diabolizadas no mundo contemporâneo: são trabalhadores, sem qualificação profissional, são pobres e são de etnias não-brancas. Nenhuma síntese poderia sintetizar tantas qualificações infelizes como essas.
Direita e esquerda podem estar embaralhadas em muitas coisas. Discute-se se continua a haver linhas demarcatórias entre elas. Mas em um ponto a sensibilidade da direita e da esquerda se diferenciam: a execração ou a solidariedade com os trabalhadores imigrantes.
Trabalhadores imigrantes – porque disso se trata: se emigra para buscar trabalho, quando o neoliberalismo concentra, mais do que nunca na história da humanidade, as possibilidades de sobrevivência. Vivem muito mal, discriminados, excluídos em São Paulo, os nordestinos. Vivem muito mal, discriminados, excluídos nos EUA, os mexicanos. Mas ainda assim estão melhores do que nos seus lugares de origem – o que por si só condena as condições de vida nesses seus lugares de origem.
Como são imigrantes, são os “outros”, aspecto reforçado pelas etnias distintas que costumam caracterizá-los: chicanos nos EUA, africanos na Europa, caboclos no centro-sul do Brasil. Uma civilização construída sob os pilares do racismo – da consigna “civilização ou barbárie”, em que civilizados são os brancos, anglo-saxões, protestantes ou católicos. Bárbaros são todos os “outros”. O “orientalismo”, concepção desenvolvida pelo palestino Edward Said, revela como o ocidente amalgama tudo o que não é “ocidental”, nessa categoria que designa o seu “outro”.
Trabalho, pobreza, etnia – uma síntese desses três elementos desqualificados pelo capitalismo neoliberal constitui as determinações essenciais dos imigrantes. A esses se agrega sua origem na periferia do capitalismo, no “atraso”.
Quando alguém atribui aos imigrantes a responsabilidade por algum problema numa sociedade – a violência, o desemprego, o mau desempenho do sistema educacional -, está expressando o pensamento conservador, o pensamento de direita, que exorciza os problemas dessa sociedade num bode expiatório. Para isso busca um “outro” sobre o qual recaia a culpa dos problemas gerados por essa própria sociedade.
O candidato tucano a governador de São Paulo tentou justificar o péssimo sistema educacional do estado usando os imigrantes como bode expiatório, depois de tantos anos em que governaram o estado contra a educação e os imigrantes. Um direitista se deixa trair neste tema. A elite aristocrática paulista odeia pobres, trabalhadores, imigrantes e mulatos/negros/mestiços/caboclos. Sabem que é a outra cara - antagônica - da Daslu e da sua insaciável riqueza.
Postado por Emir Sader às 12:13
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