http://zh.clicrbs.com.br"Há uma esquerda traindo a liberdade"
Entrevista com Pilar Rahola - Jornalista e ex-deputada espanhola
Conhecida internacionalmente por seu forte posicionamento político em defesa do Estado de Israel, a jornalista e ex-deputada espanhola Pilar Rahola se considera uma intelectual de esquerda.
- Há uma esquerda que sempre foi anti-moderna e anti-ocidental, que sempre desprezou a liberdade. Mas nem toda esquerda pensa assim - afirma Pilar.
Nascida em Barcelona em 1958, ela é doutora em Filologia Hispânica e também em Filologia Catalã. De 1993 a 2000, foi deputada no parlamento espanhol pela Esquerda Republicana Catalã, quando teve contato com uma realidade bastante conhecida dos brasileiros: a das comissões parlamentares de inquérito. Pilar integrou a famosa Comissão Roldán, que investigou o caso mais grave de corrupção do último governo socialista espanhol. Ela esteve em Porto Alegre nesta semana para proferir a palestra Após a guerra, como?, direcionada à comunidade judaica.
Cultura - O Brasil hoje questiona se o parlamento, tendo cerca de um terço de seus membros envolvidos em corrupção, tem legitimidade para julgar a si próprio. O que a senhora acha?
Pilar Rahola - Quando uma democracia suspeita da imparcialidade de seu próprio parlamento, há um problema com essa democracia. As democracias têm três mecanismos de controle: jornalismo, que deve investigar, o parlamentar e o judicial. Se falha o parlamentar, existem os outros dois. Não entendo o que ocorre no Brasil. Os escândalos de corrupção que existem aqui, na Espanha fizeram cair governos, como o de Felipe González.
Cultura - O recente conflito no Líbano traz algum diferencial com relação à história de guerras no Oriente Médio?
Pilar - É o conflito de um Estado democrático com um problema de luta por sobrevivência desde que nasceu, rodeado de países que alteram todos os princípios fundamentais do direito internacional e financiam terrorismo para lutar contra este país. O conflito do Oriente Médio é entre alguns direitos fundamentais. O primeiro é a possibilidade de que exista a democracia no Oriente Médio - Israel é este paradigma. A segunda é que as ideologias totalitárias vinculadas ao islamismo não triunfem - e este é o problema com o Hamas, o Hezbollah e o Irã. A terceira é que todo o islã não viva sob tiranias não-democráticas. Há 50 anos Irael é atacado e tem que se defender.
Cultura - A senhora considera um erro da esquerda mundial o apoio às forças que se opõem a Israel?
Pilar - Nem toda esquerda pensa assim, eu sou de esquerda. Mas o politicamente correto hoje é ir contra Israel.
Isso parte das misérias e traições da esquerda. Há uma esquerda que sempre foi antimoderna, anti-ocidental e sempre desprezou a liberdade. A esquerda que justificou Stalin e que justifica hoje as tiranias do Golfo. Uma esquerda que não está levantando nenhuma bandeira libertária, que não está contra a escravidão da mulher e os assassinatos de homossexuais no islã. Não está contra a escravidão de seres humanos em nome de uma religião. Quando vêem um homem-bomba em um ônibus, o considera um resistente, não um terrorista. Há uma esquerda que está traindo a liberdade. É uma esquerda que se sente atraída por Hugo Chávez e que criminaliza uma democracia que luta para sobreviver, como Israel.Cultura - Toda ação contra o Estado de Israel é uma ação anti-semita?
Pilar - Não. A crítica normal a Israel faz parte do direito ao pensamento e à liberdade de expressão. É apenas uma crítica. O que ocorre no mundo hoje é que não há uma crítica legítima a Israel, há uma criminalização. Um maniqueísmo: bons e maus. É um país que não tem direito a defesa, e quando se defende é sempre desproporcional. É a única democracia do mundo que todo mundo fala como deve atuar. Israel também faz coisas erradas, mas toda sua vida lutou para sobreviver e tem um problema de guerra aberta exterior, de países ricos financiando o terrorismo contra seu povo, de milhões de pessoas educadas no anti-semitismo. E a esquerda do mundo, no lugar de entender sua enorme dor e dificuldade para existir, aponta a criminalização. A criminalização é anti-semitismo. A crítica não. Há uma profunda hipocrisia. Muitos jornalistas de esquerda dizem que são solidários com a dor árabe, mas nunca os vi chorar por causa de 100 mil mortos na Argélia por causa do totalitarismo islâmico. E existem outros casos. Há uma solidariedade muito seletiva.