A questão no Brasil não é esquerda contra direita. Aliás, não é em lugar nenhum do mundo, acredito que essa polarização seja um conceito morto depois da guerra fria. Ele coloca muita gente que não tem praticamente nada em comum no mesmo grupo.
Acho que nosso problema, aqui no Brasil, é muito mais administrativo do que político em si, do que ideológico. Sinceramente, discursos contra banqueiros, contra a burguesia, contra a dívida externa, contra o universo e o além são completamente fora da realidade, fora de propósito. Precisamos muito mais de um governo transparente e responsável nas suas atitudes do que de grandes revoluções. Nem precisavam diminuir o tamanho do Estado: que congelassem os gastos do governo por uns 10 anos, 15 anos. Fazendo, além disso, uma reforma aqui, outra alí, estariamos melhor, bem melhor, até lá.
Acho que a coisa chegou a um ponto em que o governo, muitas vezes, mais atrapalha do que ajuda. Colocando as dificuldades que coloca para se abrir uma empresa, para contratar alguém, ou ao confiscar boa parte dos nossos salários em impostos, ele simplesmente passa a perna no brasileiro, dando um golpe contra o próprio povo deste país. E, no que deveria ajudar, como dando educação para os garotos e garotas pobres mais inteligentes para que possam se tornar cientistas, empresários, políticos, o Estado não ajuda.
Colando o que o Jabor, e olhe que não gosto muito dele, disse em entrevista sobre isso algum tempo atrás:
Quando o Roberto Jefferson abriu a porta do bordel do Ali Babá e mostrou os 40 ladrões, nós tivemos uma visão de como o atraso, o clientelismo e a corrupção funcionam no Brasil. Também vimos como é utópica, frágil e louca, na minha opinião, essa idéia do que seria "progressista". É um ensopadinho feito de leninismo, de getulismo, de desenvolvimentismo, estatismo e sindicalismo. Esse ensopadinho nos joga de volta a um tempo de utopias irrealizáveis e impede uma agenda modernizadora, que é feita de mudanças óbvias. Óbvias, mas áridas para o gosto da velha esquerda: reforma tributária, reforma da Previdência, enxugamento do Estado. O que me dói no Brasil não é que seja difícil mudá-lo: é que me parece que seria fácil. VEJA, outro dia, deu uma matéria com sete prêmios Nobel. Todos, praticamente, receitavam a mesma coisa. As mudanças que têm de ser feitas no Brasil estão catalogadas cientificamente. Só que não têm a grandeza épica com que tantos intelectuais sonham. São um pouco mais sem graça. Com a diferença de que funcionam.
(...)
Eu não tenho problema com o Lula. Se ele fizer um governo pragmático, de reformas institucionais, se fizer o óbvio que precisa ser feito, eu vou achar ótimo. O problema é que as pessoas que estão no governo detestam a administração porque ela é antiutópica. Quando o Brizola era governador, no Rio, tinha um secretário que dizia assim: "Eu não consigo me reunir com ele, ele só quer conversar sobre política". Brizola odiava ter de administrar o estado. O ideólogo odeia o concreto. O ideologismo me dá medo porque prescinde do estudo, da técnica, da análise. O sujeito nomeia o presidente do Instituto Nacional de Câncer só porque ele é de esquerda – e não existe câncer de direita, câncer de esquerda. Eu tenho medo dessa falta de objetividade que o ideologismo estimula. O agronegócio é um bom exemplo. O agronegócio foi o que sustentou o Brasil nos últimos três anos, mas, como é capitalista, pensam os comunas, então a gente tem de ser contra. Os ministros entram e começam a dar força ao MST. O governo dá dinheiro para aquele maluco milionário, o Bruno Maranhão, invadir o Congresso. Aquilo, aliás, foi um indício muito precioso do que está por trás desse pensamento da esquerda: "Vamos parar com essa farsa de democracia burguesa e vamos botar pra quebrar".