A organização social e legislativa da Inglaterra, analisada por Montesquieu no
Espírito das Leis, dá uma pista interessante, na minha opinião:
(não achei em português, me desculpem)
Book XX
2. Of the Spirit of Commerce.
But if the spirit of commerce unites nations, it does not in the same manner unite individuals. We see that in countries where the people move only by the spirit of commerce, they make a traffic of all the humane, all the moral virtues; the most trifling things, those which humanity would demand, are there done, or there given, only for money.
The spirit of trade produces in the mind of a man a certain sense of exact justice, opposite, on the one hand, to robbery, and on the other to those moral virtues which forbid our always adhering rigidly to the rules of private interest, and suffer us to neglect this for the advantage of others.
Book IX
6. Of the Constitution of England.
The political liberty of the subject is a tranquillity of mind arising from the opinion each person has of his safety. In order to have this liberty, it is requisite the government be so constituted as one man need not be afraid of another.
http://www.constitution.org/cm/sol-02.htmHuxley deu um dado importante: empreendedorismo.
- una um espírito empreendedor e individualista aos costumes comerciais (o capital vindo da atividade comercial, diferentemente do vindo da posse de terras [como era o da nobreza] não é garantido, é muito "volátil", necessita de investimentos bem-pensados e leis que garantam a segurança da propriedade privada);
- junte a isso leis, e políticas, e práticas liberais (no início dos EUA, claro [não é à toa que houve guerra contra a Inglaterra depois do aumento dos impostos]; lá pela primeira metade do século XX, o governo americano passou a agir de forma mais intervencionista, depois do advento da popularidade do keynesianismo);
- garanta, através das leis, a liberdade (versando sobre a segurança da propriedade privada), a religião protestante (Weber), tudo isso herdado dos ingleses
- coloque, junto disso, a disponibilidade de mão-de-obra e alguma quantidade de recursos naturais.
Você terá, então, o desenvolvimento das 12 colônias.
E, claro, o "esprit", herdado dos ingleses, precisou do modo de produção assalariado pra se manter, já que naquele local não haveria retorno em empreendimentos agrário-escravistas, como é o caso do Sul. A economia, no sul, se estruturou de forma diferente, e teve um "esprit" diferente: menos empreendedor, dependende, agrário, pouco produtivo (dado o escravismo), passível de intervenção da metrópole (a Inglaterra iria taxar o que nas 12 colônias, se eram de povoamento?).
Só depois que eles tiveram algum dinheiro que passaram, como dito acima, a "roubar, matar, alienar", não o contrário. Nenhuma nação (no caso, Estado) sem dinheiro consegue dominar outra nação, fazer guerra, doutrinar ou qualquer coisa do tipo. Que dirá dominar boa parte do mundo, participar de Guerras Mundiais?
Ah, vocês falaram de nacionalismo. Esse amor pela pátria, o que o Montesquieu chama de “Virtude” em uma República democrática, nasce (na minha opinião sobre o que Montesquieu diz) da liberdade que o Estado dá para que cada um trabalhe e tenha a segurança, garantida pelas leis da República, de sua propriedade e de sua individualidade. Garantia, também, do próprio bem-estar. Sendo uma mentira ou não, o amor pela República e o amor pela liberdade (chamem isso de nacionalismo) propiciam, também, a própria liberdade, com a estabilização do Estado. Se as pessoas realmente possuem essa liberdade, então o espírito empreendedor é fomentado. E, por fim, há o desenvolvimento.
Não sejamos, ainda, tão deterministas: também é preciso levar em conta as iniciativas individuais. Se o campo é bom, essas iniciativas darão frutos.