Em primeiro lugar, eu vou jogar uma proposta: a criação de uma "categoria" em que a gente possa ter nossos tópicos sobre relacionamento, sexo, família, crianças e afins. Colocar em "noticias" ou mesmo em "origens e evolução" não cai bem. Sobra só o "bate-papo".
Então, saiu uma matéria na revista Feminina do Estadão.
Elas estão acima do preconceito
Quatro meninas que namoram meninas abrem o jogo e revelam como encarar a sociedade ao assumir sua sexualidade de cabeça erguida, sem perder a feminilidade
SÃO PAULO - Quando criança, a gestora de negócios Nina Lopes, hoje com 34 anos, se sentia um ´feijãozinho perdido´ entre os seus colegas de classe. Enquanto as meninas paqueravam os garotos e fantasiavam o primeiro beijo, Nina estava completamente apaixonada pela professora de educação física. Anos depois, lá pelos seus 14 anos, percebeu que os rapazes não a completavam afetivamente e o que queria mesmo era namorar uma garota.
A história da publicitária Mariana Guimarães, de 22 anos, é parecida com o caminho que Nina percorreu: quando pequena, a confusão de sentimentos a assustava, mas nada como uma boa festa entre amigos para espantar os seus bloqueios e deixar fluir a sua verdadeira sexualidade.
Encontros pelo caminho da vida fazem parte do destino da empresária Graziela de Campos, de 39 anos, e da bartender e professora primária Roseli de Almeida, de 40 anos. Ambas começaram a trabalhar como vendedoras, mas não se conheciam. A descoberta de que eram meninas que sentiam atração por meninas aconteceu na mesma época, porém, em lojas e shoppings distintos. Depois de um tempo, as garotas se conheceram, namoraram por mais de sete anos e, hoje, moram juntas.
“O namoro não vingou, mas a amizade, sim. Gosto de cuidar das suas coisas e, se percebo que alguma menina está se aproximando dela por interesse, bato o pé e dou a minha opinião”, revela Roseli.
Na maioria dos casos, a descoberta da orientação sexual acontece na adolescência. No entanto, algumas garotas - por insegurança ou pressão da família - engatam namoros com rapazes a fim de sanar qualquer tipo de questionamento da sociedade. “A maturidade sexual é atingida na puberdade, quando ocorre a maior modificação do papel sexual. O desenvolvimento da parte psicológica está ligado à interação da pessoa com o ambiente familiar, escolar e social”, explica a psicóloga clínica Ruth Ascencio.
A homossexualidade vem sendo estudada há anos e, até hoje, a única certeza entre médicos e psicólogos é que esse assunto não deve ser tratado como doença. Já que não é uma enfermidade, os homossexuais questionam: por que os cientistas não estudam a razão de uma pessoa ser heterossexual? De acordo com Shirley Souza, autora do livro Amor entre meninas, a resposta é simples: ao longo da história, o ser humano aprendeu a achar normal a relação heterossexual e a considerar a homossexualidade algo fora dos padrões.
Na mira da sociedade
Donas do próprio nariz, Nina, Mariana, Graziela e Roseli não têm medo de assumir que gostam de namorar meninas, pois acreditam piamente neste desejo. Mesmo assim, já passaram por situações nada amigáveis.
“Minha prima ligou para o meu pai e pediu para eu não aparecer mais na casa dela. Meu pai disse que não tinha vergonha de mim e, se alguém devia ficar constrangido, era o pai dela, por deixá-la falar esse absurdo”, lembra Nina.
Decidida, Mariana acredita que as pessoas não conseguem enxergar a diversidade de situações que o mundo oferece. “As pessoas acham que todo mundo tem de ser como elas. Sinto que não querem conhecer o próximo.” Já para Tania Navarro-Swain, historiadora e autora do livro O que é lesbianismo?, a sexualidade é uma multiplicidade de práticas e a heterossexualidade criou uma norma histórica. “É uma instituição política que define limites. O que me interessa é ver a sexualidade como uma das práticas do humano e não centralizá-la. Ela é uma função como outra qualquer”, afirma Tania.
Durante o bate papo com as entrevistadas, Thammy, de 23 anos, filha da cantora Gretchen, virou assunto. Recentemente, a garota posou nua com a namorada para uma revista depois de mudar completamente de visual - adotou cabelo curto e trajes masculinos. A ousadia não fez sucesso entre as garotas. Ao contrário de Thammy, é fácil notar a feminilidade das quatro mulheres. Para elas, não é preciso ter trejeitos masculinos para impor respeito. Aliás, quando querem se relacionar, procuram meninas femininas.
Chiques, descoladas e vaidosas, elas raramente descem do salto alto. “Dia desses, fui numa balada heterossexual e fui cantada por vários homens. Achei divertido”, conta Nina. Essa feminilidade provoca os homens e extermina o estereótipo que algumas pessoas têm das lésbicas - de que todas se comportam como homens. “Adoro usar maquiagem e vestir peças curtíssimas. Meus amigos acham que sou perua”, brinca Mariana.
“Todo mundo fala que eu não tenho jeito de gay. Sou mulher e gosto de me vestir como mulher. Não vejo necessidade de me arrumar como homem para garantir o meu espaço”, reforça Roseli. Da mesma forma que na sociedade heterossexual, na qual existem as patricinhas, as modernas e as esportivas, Nina justifica as diferenças entre os gays. “Antigamente, as assumidas eram as mais masculinizadas. Hoje em dia, as mulheres femininas estão se assumindo e isso surpreende todo mundo, principalmente os homens.”
Cada um na sua
Assumir para si mesmo, de acordo com Nina, é a lição número um para se viver bem. Independentemente do que os pais, os amigos ou os colegas de trabalho vão achar, é importante se aceitar e não se marginalizar quanto à orientação. “Nunca vou dizer que todos os gays devem se assumir publicamente, pois cada um sabe da sua história e o que isso vai gerar”, diz Nina. “Tenho vários amigos heterossexuais que não me olham e me julgam por ser lésbica. Acredito que tem a ver com a forma com que me coloco para a sociedade”, revela Graziela.
Os amigos heterossexuais das quatro mulheres parecem não se importar quanto à orientação sexual delas. Para eles, o que realmente interessa é a companhia. “Eles costumam se trocar na minha frente e não têm vergonha de eu ser gay”, conta Roseli. Segundo Mariana, no começo, os amigos “achavam divertido ter uma menina gay na turma”, depois, nem se importavam se ela se relacionava com homens ou mulheres. Mesmo assim, até hoje, surgem comentários equivocados - e a publicitária não perde a chance de consertá-los.
“As pessoas confundem orientação com opção. Elas imaginam que eu optei por ser gay. Eu nasci gay”, defende Mariana. Essa é uma batalha que os homossexuais lutam para vencer. A explicação é simples: quando alguém diz que ser homossexual é uma opção, dá margem para dizer que, a qualquer momento, pode-se optar por não ser mais gay. “A pessoa pode nunca assumir a sua sexualidade e manter a fachada de heterossexual para o resto da vida, mas não significa que ela optou por isso”, justifica Nina. No entanto, a historiadora Tania não está interessada nesses meandros de tipologias e acredita que, quando alguém fala em orientação, “a pessoa caminha com a opção de desvio”.
Mesmo precisando de pequenos ajustes, como o citado por Mariana, o relacionamento entre as garotas lésbicas e seus amigos heterossexuais é extremamente saudável. Na maioria dos casos, as garotas levam seus colegas em danceterias GLS (espaços para gays, lésbicas e simpatizantes) e em eventos que apóiam a bandeira do arco-íris (símbolo gay). A Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT) é um bom exemplo que revela a quantidade de pessoas que simpatizam com a causa.
“Acho a festa da Parada maravilhosa, mas não gosto dos exageros. Mesmo assim, adoro me divertir com os amigos”, avisa Roseli. Mesmo reunindo mais de 2 milhões de participantes, sendo considerado um dois maiores eventos do gênero de todo o planeta, algumas pessoas não concordam com a proposta. “Não entendo o motivo de existir um dia gay. E o dia do heterossexual, qual é? Sou gay todos os dias”, afirma Graziela.
Regina Facchini, militante, antropóloga e vice-presidente da Associação da Parada GLBT, resolveu abraçar a causa depois de perceber que não podia ficar de braços cruzados e deixar as pessoas serem discriminadas gratuitamente. Trabalhando para os homossexuais há 11 anos, já ajudou a organizar seis Paradas e discorda quando as pessoas consideram o evento uma verdadeira festa. “Não acho que seja uma festa, não sou organizadora de festas. Me considero uma ativista, que organiza uma manifestação pública. Festa as pessoas pagam e vão para uma boate”, justifica.
Segundo a antropóloga, o evento tem uma forte função social. “Em 2006, foram mais de 100 Paradas espalhadas pelo Brasil. Com isso, conseguimos fazer pressão e um projeto contra a homofobia foi aprovado”, finaliza Regina. No ano que vem, o evento já tem data para ser realizado. Com o mote ‘Por um mundo sem racismo, machismo e homofobia!’, o encontro será realizado no dia 10 de junho. O local ainda não está definido, mas, provavelmente, será na Avenida Paulista.
Os números não mentem
Recentemente, o Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual (GAI), do Rio de Janeiro, divulgou dados da pesquisa de Cidadania e Sexualidade, encomendada ao Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), em que foram ouvidos mais de 2.000 entrevistados, em 26 Estados brasileiros, que revela dados sobre o comportamento do brasileiro em relação aos direitos homossexuais. Segundo a pesquisa, 65% dos entrevistados declararam que os gays são muito discriminados e, por mais que pareça paradoxal, 63% alegaram jamais ter presenciado algum tipo de discriminação contra um gay.
http://estadao.com.br/revistafeminina/noticias/2006/dez/04/195.htmÉ um assunto que sempre mobiliza as multidões esse, hm.
Um monte de coisas aparecem na minha cabeça, depois da leitura. A principal delas é: se o lesbianismo é uma escolha pela feminilidade plena,
por que insistir no termo "meninas"?
Em que medida o relacionamento entre mulheres é diferente de um relacionamento heteressoxual? Colocando o foco no "relacionamento", não no sexo: o que é levado adiante sem questionamento? É mesmo uma opção pela feminilidade plena,
é mesmo uma opção pelo "desvio"? Ainda, qual a diferença deste tipo de relacionamento com o dos gays homens? Sustenta-se o fato de mulheres quererem casar e homens quererem galinhar? Em que medida?
Enfim, uma mulher que assuma a sua orientação homossexual se opõe ao comportamento da mulher hetero, do homem hetero E do homem gay? Em que medida?
p.s. Se é que existem coisas como a Mulher, o Homem, o Hetero e o Gay, né? A pensar, também. Estou no mundo há 23 anos quase, e nunca Os vi
