Inconformado com as barbaridades científicas ditas em sites dos dois maiores representantes do Criacionismo no Brasil (Dra.Márcia de Oliveira e Enézio Almeida Filho), resolvi encostá-los contra a parede.Os e-mails cujo conteúdo mostrarei a seguir, estarão aguardando respostas.Se eles ignorarem o conteúdo ou simplesmente não responderem as objeções, vai ser uma demonstração que põe em dúvida o discurso "tudo pelo bem da ciência" de ambos.
Lá vai:
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Olá, Enézio.
Há alguns meses, você postou um artigo em seu blog que dizia que existiam sites que lidaram e acolheram com seus artigos e isso incluía o dos “neobuldogues”.Naquela época, você viu um que estava em construção, mas agora está totalmente concluído:
http://biologiaevolutiva.blogspot.com/2006/03/cones-da-anti-evoluo.html (análise da análise de Enézio sobre os livros-textos, e que serve de base para afirmações a seguir).
A criacionista Dra. Márcia de Oliveira também divide essa “honra” com você:
http://biologiaevolutiva.blogspot.com/2006/04/cones-do-criacionismo-cientfico.htmlhttp://biologiaevolutiva.blogspot.com/2006/06/dra-mrcia-e-o-status-do-criacionismo.htmlClaro que não se deve ignorar pessoas como você e a Dra.Márcia (a quem estou enviando um e-mail com conteúdo semelhante).Elas não estão fazendo boa coisa para as pessoas leigas que estudam, lêem ou apenas se preocupam pelo assunto “evolução”.Se muitas pessoas no Brasil acreditam facilmente até que a Terra tem 10 mil anos, obviamente não seria muito difícil algumas acreditarem que distorções de controvérsias científicas, falsos apelos a autoridade, descaracterizações da teoria evolutiva, acusações malignas a autores de livros de biologia representem críticas científicas a evolução.
Você não se importa em ofender os autores de livro-texto, afirmando que grande parte deles apresentam pelo menos uma fraude em seus livros:as fotos “montadas”de mariposas.Sobre o caso das betulárias inglesas, vou ser direto porque os autores não devem retirar as fotografias: 1)nenhum pesquisador duvida que as mariposas repousam em árvores;(2) o criptismo diferencial é importante, onde quer que as betulárias estejam; (3)os dados disponíveis indicam que as mariposas tem o hábito de pousar nos troncos quando estão nas árvores;(4)não existe diferença visual entre fotos não-montadas (como as de um livro de Majerus de 1998) e as "montadas".Só as asserções 1 e 2 já invalidam a acusação de fraude.Diferentes pesquisadores fizeram experimentos de marcação-recaptura, onde as mariposas tinham tempo para escolher livremente os locais de repouso e isso confirma a asserção 2.Uma foto ilustrativa tem a intenção de mostrar a importância do criptismo para as mariposas e ,neste caso, o que importa são as cores das betulárias e não onde elas descansam.Prova disso é que livros de Ridley (Evolução, 3ªedição) e Majerus também têm fotos de mariposas na parte frondosa das árvores.Além disso, das mariposas achadas em árvores em pesquisas de campo sobre o local de repouso das betulárias, 26% foi a menor proporção (dos trabalhos que conheço) em que elas foram encontradas nos troncos.Aí a discussão se encerra.Veja:
http://www.asa3.org/archive/evolution/199904/0100.htmlhttp://www.asa3.org/archive/evolution/199904/0200.htmlA análise de Donald Frack de trechos dos papers publicados mostra: Jonathan Wells os distorce para dizer que a asserção 3 é falsa.Essas distorções também são analisadas no meu artigo do link passado.Você diz no artigo "O MEC não adverte...-Parte 3" que "o retorno das mariposas claras em muitas localidades precedeu às mudanças significantes na cor dos troncos das árvores".Se você se informasse melhor, veria que é discutida na literatura científica outra coisa: as mudanças nas freqüências gênicas na década de 70 igualam-se bem a diminuição da poluição do ar.E mais, uma consultada nas 12 referências do artigo do Discovery Institute que você plagiou (
http://www.discovery.org/articleFiles/PDFs/TexasPrelim.pdf), não mostra um único fragmento de evidência que dê suporte a sua afirmação:
http://www.talkorigins.org/indexcc/CB/CB601_2_5.htmlQuanto aos desenhos de Haeckel, eu nunca os vi nos livros de biologia que já tive acesso (meus livros do ensino médio e todos aqueles da universidade onde estudo).Assim, não posso julgar se a abordagem era meramente histórica ou tentava mostrar evidência de descendência comum, ou ainda “apoiar as idéias de Darwin”.De qualquer forma, quem afirma a última coisa é ignorante porque uma "demonstração" da Lei Biogenética contradiz a seleção natural de Darwin (para o último, a seleção remendava embriões; mas para Haeckel, não!).Minha opinião sobre os desenhos é que eles são descartáveis.Até Futuyma, que discute historicamente as idéias de Haeckel, não recorre aos desenhos em “Biologia Evolutiva”.Ouvi dizer que dois autores fizeram isso e retiraram os desenhos de seu livros-texto mais recente.
Parece que falta você imitar esses dois autores da seguinte forma: retirar as citações fraudulentas utilizadas em seu blog, como a do artigo “Como a Nomenklatura científica esconde a verdade dos fatos contra o FATO da evolução” (
http://pos-darwinista.blogspot.com/2006_08_01_pos-darwinista_archive.html ). Caso você não saiba, os únicos que dizem que Gee defende que a paleontologia não pode confirmar hipóteses evolutivas de forma científica são os “fundamentalistas do DI”.É Gee mesmo que diz isso:
http://www.ncseweb.org/resources/articles/3167_pr90_10152001__gee_responds_10_15_2001.asp. O que ele chamou de anti-científico foi justamente a paleontologia do elo perdido, aquela que constrói árvores de ancestrais e descendentes.Hipóteses cladísticas não são genealogias de ancestrais e descendentes como você pensa.Espécies fósseis calibram e ajudam a sustentar as árvores filogenéticas, mas usualmente são interpretados como pontas de ramos extintos, não como ancestrais.Isso não quer dizer que formas transicionais não podem ser preditas e encontradas.Mostrar surpresa com a declaração de Gee que a Cladística "cria a arrumação dos fósseis numa ordem que reflete a aquisição gradual" demonstra desconhecimento de sua metodologia.Filogenias da Cladística são baseadas na morfologia.Se a parcimônia é um requerimento dos métodos de construção de árvores e a ordem em que os táxons surgem é uma dedução de uma filogenia, que grande novidade Gee falou?Por outro lado, a estratigrafia fornece dados independentes para a inferência da ordem do surgimento das formas intermediárias e esses dados podem ser comparados estatisticamente com a ordem predita pela Cladística, gerando assim uma predição testável.Enfim, não há nada na declaração de Gee que apóie a asserção que “o neodarwinismo não passa pelo rigor do escrutínio científico”.
Também tem um artigo da Science feito por W.F. Doolittle que foi distorcido.Compare:
http://cas.bellarmine.edu/tietjen/Ecology/phylogenetic_classification_and_.htmhttp://pos-darwinista.blogspot.com/2006/11/doolittle-falou-e-disse-no-rvore.htmlPostular que Doolittle falou que a árvore da vida parecia um gramado é invenção, no máximo ele disse que a história da vida não pode ser representada adequadamente numa árvore.Porque Doolittle falou a última coisa?Toda árvore tem um único tronco.Se organismos unicelulares da evolução primitiva transferiam genes horizontalmente (coisa vista regularmente nos atuais), então a árvore da vida não se origina de um tronco e sim um conjunto emaranhado de ramificações;os pioneiros em reverter o programa integrador de transferência gênica representam as primeiras bifurcações da árvore (Woese,2000:http://www.pnas.org/cgi/content/abstract/97/15/8392) .Além disso, falar em "encontrar a verdadeira árvore da vida" é uma expressão tão estúpida quanto "encontrar o verdadeiro valor da constante gravitacional G" (medidas bem precisas fornecidas por métodos independentes sempre desacordam).Sinto muito, mas W.F.Doolittle é um dos autores de um trabalho que indica congruência com significância estatística entre as filogenias dos principais grupos eucariotos (Metazoa, Rodhophyta, Fungi,Euglenozoa,etc.) construídas por pequenas subunidades do RNA ribossômico e aquelas construídas conjuntamente por 4 proteínas (Baudauf, et al. (2000).A kingdom-level phylogeny of eukaryotes based on combined protein data.Science 290: 972-7).Se quiser ver mais detalhes, é só dá uma olhada na parte 5 do artigo de meu blog que mostrei no início.Outra coisa, cientistas sabem que as discrepâncias entre independentes filogenias nunca são elevadas. Eles usam valores estatísticos para estimar tanto a confiabilidade das filogenias, quanto para calcular a incongruência entre independentes filogenias (os mais populares são, respectivamente, “valor de bootstrap” e “valor de P”).
Eu não tenho formação de biólogo, mas muitos envolvidos nesse assunto (MEC, autores de livros, etc.) terão a oportunidade de saber através de meu blog dos dados falsos que os livros-textos não tem e das afirmações falsas usadas para dizer que eles têm.Até mais.
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Olá, Dra.Márcia de Oliveira.
Comecei a procurar seus trabalhos sobre o Criacionismo depois de ver seu debate com Marcus Valério XR, dono do site “Evolução Biológica” (
http://www.evo.bio.br) .Na verdade, eu estudei nesses últimos anos muitos sobre o assunto “evolução” até o ponto que eu decidi fazer um blog sobre biologia evolutiva.Eu fiz um blog ao estilo “The Panda’s Thumb”,onde eu pudesse comparar as alegações criacionistas com as evolucionistas.A sra. é uma das que tem citações utilizadas nele.Os artigos seus que analiso são:
http://biologiaevolutiva.blogspot.com/2006/04/cones-do-criacionismo-cientfico.htmlhttp://biologiaevolutiva.blogspot.com/2006/06/dra-mrcia-e-o-status-do-criacionismo.htmlObviamente, algumas citações suas não deixam de me causar surpresa.A senhora defende que a diversidade da população humana e de faunas inteiras podem ter surgido de pequenas populações liberadas da Arca de Noé há alguns milhares de anos.Mas não explica porque os organismos têm vários locos polimórficos, alguns com até 59 alelos.Até onde se sabe, cada locus gênico só cabem dois alelos.Para o Criacionismo explicar muitos polimorfismos genéticos, os genes dos organismos deveriam ter sofrido mutações e ainda por cima se fixado sem gastar a variação genética disponível (seleção e deriva a consome) em pouco tempo.Acho que deveriam existir trabalhos criacionistas abordando essas dificuldades e se a senhora tiver um, me passe.
Abordo esse assunto porque sem variação genética não há evolução adaptativa.Há uma grande diversidade dos animais, existem táxons endêmicos em algumas regiões do planeta (lêmures no Madagascar, tentilhões em Galápagos, espécies australianas etc.).Em Madagascar existem cinco famílias de lêmures e Galápagos tem quatro gêneros de tentilhões.Isso significa que os criacionistas deveriam aceitar bem mais que surgimento de novas espécies, coisa que um de seus artigos não sugeriu.
Por fim, eu queria saber se a Sra. defendeu algum manifesto ao MEC contra os livros didáticos ou contra o ensino da evolução nas escolas.Fiquei sabendo que a Sociedade Criacionista Brasileira (ver manisfesto:
http://www.scb.org.br/eventos/2capprof/cartabrasilia.asp) e o Núcleo Brasileiro de Design Inteligente são contra a forma como estão expostas as evidências da evolução nos livros-textos.Pelo que li em debates e entrevistas dos quais a sra. participou, não acho que a sua posição seja de acusar cientistas de desonestidade, mas queria saber algo de sua opinião a respeito.
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