Entre ExtremosUma das melhores exposições que eu já assisti: obra da iraniana radicada no México, Shirin Neshat, Entre Extremos é um conjunto de vídeo-instalações que dialogam sobre a segregação entre homens e mulheres na sociedade islâmica. Foi colocada em circuito nacional pelo Centro Cultural Banco do Brasil em 2002 e quando passou pelo Rio eu fui ver quatro vezes (me emocionei em todas). No estado brasileiro com maior número de pentecostais (os mulçumanos do protestismo) per capita a maravilhosa Shirin Neshat poderia se sentir em sua terra natal.O assunto é velho mas não foi discutido nem aquí, nem em lugar nenhum onde eu saiba. Aliás, o que mais me entoja é isso: a falta de discussão sobre um tema de tão colossal importância. Algo que se não fosse tema de tragédia grega haveria certamente de ser tema de comédia grega.
Há cerca de um ano um filho da puta que atende pelo palavrão de
Jorge Picciani conseguiu aprovação quase unânime de uma lei que definia o seguinte: no horário entre 6H e 9H da manha e 17H e 20H da tarde/noite fica reservado um vagão nos trens e metrôs do Rio de Janeiro à mulheres e crianças acompanhadas de mulheres. Não poderão entrar quaiquer homens, adultos ou adolescentes. A justificativa? O mal caratismo, o desrespeito, a indescência, a depravação de nós: homens, bando de tarados irremediáveis que não podemos ver um rabo que vamos logo engatando no dito cujo.
1. O mais absurdo, o "espetacularmente circense": a lei,embora comemorada por muitas feministas, é machista. Parte da premissa de que as mulheres são indivíduos assexuados, que devem ser protegidas a ferro e fogo das delícias da carne para não se contaminarem. ( Não foram criadas para elas.). É a mesma premissa que fundamentou durante séculos a existência (e sobrevivência) dos colégios de freiras, a proibição do acesso feminino ao trabalho, entre outros elementos da sociedade patriarcal.
2. A premissa de que as mulheres são vítimas da tara masculina é falsa. Ou pelo menos não é mais verdadeira do que a afirmação de os homens são vítimas da tara feminina. Na verdade, na imensa maioria dos casos, quando uma mulher grita que está sendo enrabada dentro do metrô ou do trem ou do ônibus por algum tarado, na verdade o que está ocorrendo é um contato inevitável por conta, exatamente, da superlotação. Semana passada mesmo eu andava no trem, de repente o vagão começou a lotar, a lotar…uma menina (que, inclusive, estava com o namorado) veio de ré, e o trem lotando, e ela vindo de ré; de repente estava ela com o rabo engatado no meu dito cujo. Não havia outro jeito, eu só tinha um lugar para me apoiar, o que me obrigava a ficar naquela posição; ela idem. O que ocorreu em 999.999 vezes de cada 1mi das cartas enviadas por mulheres pudicas à Asembléia Legislativa do Rio e que deram ao nobre de
putado a magnífica idéia foi isso.
3. Mas alguém talvez diga: mas há realmente casos em que o cara enraba a mulher de propósito. Sim, da mesma maneira como há casos de mulheres que fazem o mesmo. Dia desses mesmo o jornal O Dia publicou uma carta de uma leitora que relatava ter esta tara e pedia conselhos ao psicólogo que tem uma coluna no jornal. A carta dizia mais ou menos isso "Sou casada, amo meu marido, mas não consigo controlar a tara que tenho por pegar metrô lotado e me esfregar em homens. O que que eu faço?". É sério, foi publicada em meados do ano passado, eu só não sei a edição.
4. A idéia de se criar vagões exclusivamente femininos não é novidade no mundo: ela já havia surgido em cidades como Cairo, no Egito; Tóquio no Japão; em Teerã no Irã. Muito bom saber que o Brasil caminha em direção a se aproximar destes países tão evoluídos quanto às suas políticas de igualdade de gêneros. Ainda bem que é neste sentido que estamos indo… :'(
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