http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA966615-4005-305434-0-22052005,00.htmlUfólogos têm acesso a documentos confidenciais da Aeronáutica
Pela primeira vez na história, uma comissão de ufólogos, gente que pesquisa histórias de discos voadores, é recebida por oficiais da Aeronáutica brasileira.
Oito anos atrás, um oficial da Aeronáutica que pediu para não ser identificado entregou aos repórteres do Fantástico uma gravação capaz de impressionar mesmo aqueles que não acreditam em discos voadores.
São diálogos entre os operadores do Cindacta, em Brasília, e dois pilotos da aviação civil, no exato momento em que estariam sendo perseguidos por supostos objetos voadores não identificados.
O primeiro piloto era da Transbrasil, uma companhia que não existe mais. Leia o que ele diz pelo rádio:
PILOTO 1: Brasília, Transbrasil.
CINDACTA: Na sua escuta, prossiga.
PILOTO 1: Ele, inclusive, agora está mais próximo da gente. Está numa velocidade violenta. Ele está à nossa direita.
CINDACTA: Já há contato visual com alguma forma de aeronave?
PILOTO 1: Negativo, porque a luz é muito violenta.
Minutos depois, outro piloto que voava na mesma área relata: também está sendo perseguido por óvnis.
PILOTO 2: Ela está realmente, aparentemente, me seguindo. É como se estivesse fazendo um vôo de esquadrilha conosco. E para sua informação temos outra aeronave, outro alvo à nossa esquerda, também.
CINDACTA: Estamos verificando dois alvos. São dois alvos que nós verificamos em nosso scope aqui.
Scope é a tela do radar.
PILOTO 2: São duas aeronaves com cores diferentes. Abaixo, é vermelha, e, acima, é branca.
CINDACTA: Positivo. Estamos cientes.
Não se sabe se essa gravação, feita em 1977, está hoje em algum arquivo militar. Mas se você quer descobrir o que as autoridades da Aeronáutica sabem de fato sobre discos voadores, leia esta reportagem.
Pela primeira vez na história, uma comissão de ufólogos, gente que pesquisa histórias de discos voadores, é recebida por oficiais da Aeronáutica brasileira.
Entre eles, Ademar Gevaerd. Foi ele que recentemente lançou a campanha "Ufos - liberdade de informação já!".
"Chega de sigilo sobre ufos, presidente!", pede a campanha.
Deu certo. A Aeronáutica fez o convite e agora os ufólogos vão conhecer o sistema de controle e defesa do espaço aéreo brasileiro. E talvez conseguir descobrir alguma coisa sobre o enigma dos discos voadores.
Os ufólogos chegam ao Cindacta - o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo.
São recebidos pelo brigadeiro Teles Ribeiro, o chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, que anuncia: o comando determinou que as informações sobre OVNIs fossem liberadas.
Mas antes, todos vão à estação meteorológica, de onde são lançados balões-sondas que transmitem às telas dos computadores informações como pressão, temperatura do ar, umidade. Todos os dias, em dezenas de estações espalhadas no país, a Aeronáutica lança noventa balões como este. E, algumas vezes, eles são confundidos com OVNIs.
Centro de Controle de Área de Brasília. Aqui se trabalha para garantir a segurança dos vôos. Os aviões em trânsito são indicados nas telas dos radares por códigos em laranja - chamados "etiquetas".
Se um OVNI surgisse agora no céu, como ele apareceria nesta tela?
“Ele apareceria como um avião normal, porém sem a etiqueta, que traz o código que o piloto tem”, explica o oficial.
“Uma imagem radar que não esteja seguindo um plano de vôo, que não siga os procedimentos previstos, passa a ser monitorada pela Defesa Área. Em determinado momento, em função de seu comportamento, o piloto de caça pode vir a ser acionado. Se por ventura, ele apenas visualiza um luz, pro piloto de caça a missão é defender o espaço aéreo. Se aquela luz desaparece de uma hora para outra, deixou de ser um tráfego desconhecido, ela passou a não existir mais. O piloto de caça retorna para sua base e a partir daí o papel da Força Aérea se encerra”, explica o oficial.
Há um formulário do comando da Aeronáutica que os pilotos que avistam OVNIs e outras testemunhas devem preencher. "Tráfego hotel" é o código que se usa na Aeronáutica para designar esses casos. Houve um contato próximo? Um contato imediato com o objeto? Qual era a forma? A cor? O tamanho? A velocidade? Estava parado no ar? Voou em ziguezague?
Comdabra: Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro. Aqui raramente é permitido o ingresso de câmeras. O repórter do Fantástico entrou e viu o seguinte: sobre uma mesa na sala que é o centro de decisão da defesa aeroespacial brasileira, havia três pastas de documentos, que os ufólogos puderam examinar.
Na primeira pasta, estava o depoimento prestado em 1954 por um comandante da Varig, Nagib Ayub, que relatou ter visto um objeto voador não identificado no Rio Grande do Sul.
A segunda pasta continha os relatos dos pilotos envolvidos na perseguição a 21 OVNIs sobre São Paulo, São José dos Campos e Rio de Janeiro. O episódio ocorreu em maio de 1986, foi divulgado pelo próprio ministro da Aeronáutica, Otávio Moreira Lima, e apareceu em reportagens do Fantástico.
“A defesa aérea me solicitou naquele instante que eu fosse para cima do alvo e tentasse identificar o que era. Era uma luz muito forte”.
Na terceira pasta estava o relatório do mais impressionante caso da ufologia brasileira: a Operação Prato - uma investigação sobre OVNIs comandada em 1977, no Pará, pelo coronel Uyrangê Hollanda, morto em 1997.
“Nós detectamos, pelo menos, nove formas de objetos. Sondas, naves, forma de disco voador... Todos os relatórios eram encaminhados pelo 1º Comar à Brasília”, declarou Hollanda.
O repórter do Fantástico teve acesso à sala do Comdabra onde estão todos os arquivos secretos a respeito de OVNIs. Eles são guardados num armário de metal, nas últimas duas gavetas, e organizados em pastas - uma para cada ano, desde 1954.
Segundo um regulamento da Aeronáutica, os documentos receberam a classificação de "confidenciais" e ainda não podem ser abertos ao público.
“A gente verifica o acontecido, através dos relatos e das coisas que os nossos radares registram, e se junta tudo numa pasta só e se faz a leitura e não se chega a uma conclusão, não se chega a ter uma investigação completa, porque nós não temos capacidade técnica, cientifica, para chegar a uma conclusão a respeito de uma coisa que não se conhece aprofundadamente”, declara o brigadeiro Atheneu Azambuja, comandante do Comdabra.
“A campanha continua, não encerrou-se por aqui. Nós tivemos hoje apenas um momento mais emocionante, vamos dizer assim, desse processo. Fio quando a Aeronáutica nos recebeu e mostrou: ‘Olha, vocês estão no caminho certo, existem os registros, eles estão aqui, vocês podem vê-los. Nós aguardamos agora que vocês tomem as medidas certas, dentro da lei, para que vocês possam ter acesso efetivo a esses documentos”, comenta Ademar Gevaerd, líder dos ufólogos.