A Ciência HOJE trabalha APENAS com aquilo que é observável, mensurável, quantitativo, portanto existem sim, diversas coisas que não são falseáveis e já se cometeram erros que poderiam ter sido evitados. A ética é uma dessas coisas não falseáveis, assim como a moral, as teorias de Freud, a acumputura, a homeopatia, a beleza, a existência de deus etc porque são antes qualitativas. Geralmente, o que não é falseável é qualitativo, ou seja, é tudo aquilo que pode ser observado apenas pela qualidade e não pela quantidade.
O método indutivista provou-se falho e abre margem para que quaisquer hipóteses, inclusive as mais absurdas, possam ser consideradas científicas, sugerindo-lhes um valor que não possuem. Por valor, estou falando de números mesmo - quantidade e não qualidade. Porque esse é um método tendencioso, que busca verificar TÃO e SOMENTE aquilo que corrobora a afirmação proposta, descartando aquilo que vai contra. E além disso, pergunta-se: quantas observações são necessárias para que uma hipótese possa ser considerada teoria: dez, mil, dez mil?
Diante disso, Popper propõe a falseabilidade, um método de fato interessante, pois além de, ao contrário do indutivismo, voltar o olhar para o outro lado, ou seja, para tudo aquilo que possa mostrar que estamos errados, ainda seleciona o que é ou não objeto de estudo da Ciência. Isso, diferente do que muitos parecem acreditar, não serve para dar status aos objetos de estudo científico, serve ao contrário, para limitar a Ciência apenas aos objetos que lhes pertencem. E claro, existe vida além da Ciência.
A hipótese “duendes existem” pode ser minimamente falseada. Duendes, conta a lenda, são sujeitos verdes e baixinhos que habitam nossas florestas e escondem potes de ouro no final do arco-íris. Podemos vasculhar todas as nossas florestas a procura desses sujeitos e não os encontrando deduzir que é provável que não existam. Mas veja, isso é uma dedução feita em cima da observação e não uma verdade absoluta. É APENAS uma aproximação, porque, é claro, pode ser que o duende seja tímido e se esconda no meio das folhagens, aparecendo no lugar que observamos, um minuto depois de desviarmos o olhar, mas é pouco provável que possam se esconder sempre de todos os olhares.
Já a hipótese “deus existe” é mais complicada, porque o Universo é um tantinho maior que nossas florestas e se nem as florestas todas conhecemos completamente, imagine o Universo, não é verdade? E como bem disse Sagan, deus pode ser relegado para tempos e lugares distantes ou para causas finais – teríamos que saber bastante mais do que sabemos para ter certeza que deus não existe.
Imagine que eu fosse uma excelente física, renomada, mas muito crédula, a ponto de ver deus em tudo e cada coisa e que a falseabilidade nunca tivesse sido proposta. Imagine ainda que eu propusesse que deus surgiu, num instante singular, dando origem ao Universo e que permanece no centro desse, emitindo energia para tudo o que existe e que algumas pessoas, através a combinação de seus sentidos e inteligência, sintam essa energia, e percebam sua existência, mas que por sua limitação não possam compreender completamente.
Agora imagine que eu tente comprovar minha hipótese pelo método indutivista. Primeiro, milhares de pessoas no mundo inteiro sentem a existência de deus, mas como são limitadas, não compreendem completamente, por isso existem diversas religiões – é uma prova. Segundo, o Universo está em expansão, isso significa que já foi menor e então realmente teve origem em algum momento – é outra prova. Mas a prova cabal da minha hipótese é que os próprios cientistas confirmam que há de fato uma energia que permeia o Universo, onde quer que se verifique e provinda, provavelmente, do instante inicial que deu origem ao Universo.
É muito simples provar qualquer coisa pelo método indutivista, você observa o que corrobora sua hipótese e pela lógica explica tudo aquilo que a ponha em dúvida. Só pelo indutivismo podemos provar que deus existe e que deus não existe, até o momento. O que, aliás, prova que o indutivismo não prova muita coisa, embora, tivesse acertado muitas vezes, mas errado outras.
Aliás, foi pelo método indutivista que a Ciência cogitou, com uma forte inclinação, própria do indutivismo, a existência de uma substância imperceptível, não mensurável, através da qual a luz viajasse – o éter luminífero. A falseabilidade como filosofia científica nasceu com Popper, mas foi Einstein quem a demonstrou pela primeira vez, falseando a hipótese do éter liminífero, ao propor que o tempo variava. Ele disse – não com essas palavras – não acredito na existência do éter, porque os testes comprovam que o éter não existe e não são os testes que estão errados, mas a crença na existência do éter. Só que temos um problema, se o éter não existe, para que a luz se propague a uma velocidade constante, cheguei a estranha conclusão que o tempo precisa ser variável. Podemos verificar isso? Bom, então, a partir daí, ao contrário de tentar provar que a hipótese da existência do éter estava correta, a Ciência passou a tentar provar que estava errada – medindo o tempo.
Dizem que não é possível provar uma negação. Como não? Einstein provou. Ele conseguiu demonstrar que algo que se acreditava existir, mas não era possível verificar de nenhuma forma, por nenhum dos sentidos ou tecnologia existente, não existia, propondo um teste, fantástico demais para a época, mas que foi possível verificar.
Então, eu proponho para aqueles que como Einstein, teimam em não acreditar na existência de algo que muitos acreditam existir, mas não pode ser verificado de nenhuma forma conhecida, que proponham um teste qualquer que possa ser verificado. Digo, assim provamos que deus não existe e encerramos a discussão ou deixamos a Ciência fora disso.
Eu que não sou nenhum Einstein, tenho cá minhas dúvidas sobre a existência de deus, porque, afinal, ainda é uma hipótese não falseável, diferente do éter... mas confesso, que se tivesse nascido no século XlX também teria minhas dúvidas quanto a existência do éter. Isso não significa que se precise ser um Einstein para provar algo em que se acredita, significa apenas que é preciso propor uma forma de verificar o que se acredita. Parece simples visto dessa forma e na verdade, é simples, só não foi proposto ainda. Alguém se arrisca?
Mas eu pergunto, ainda: será que Einstein estava pronto para a possibilidade do tempo ser uma grandeza constante, como se acreditava e corroborar com isso, ao contrário, do que acreditava, com a hipótese da existência do éter?
Foi só uma brincadeira tudo isso, é claro, Einstein não disse nada disso, que eu saiba... mas bem... acho que ajuda a compreender melhor a falseabilidade. E para que fique claro, o fato de Einstein ter provado que o éter não existe, diferente do que a maioria acreditava, não significa que deus não exista, diferente do que a maioria acredita, embora sejam idéias incrivelmente semelhantes.