Se tem dia do Orgulho Gay, também tem que ter do Orgulho Hétero, ora bolas!
Na minha opinião, não deve haver nenhum deles.
Geralmente são as partes mais discriminadas que têm os seus "dias": Há o dia da consciência negra, mas não há um equivalente para os brancos; há o dia internacional da mulher, mas não há o dia do homem. E o interessante é que não há nenhum bom argumento a ser apresentado contra a instituição do "dia do homem" ou "dia do branco".
Acho que é como se os homens e os brancos "não precisassem" ter seus dias por terem posição dominante na sociedade atual ou, pior ainda, por serem os "normais" (os outros seriam os "diferentes"), O que constitui um preconceito mais incrível ainda.
Eu não tenho nada contra em se ter os "dias" de quem quer que seja; só acho que não há ainda nenhum bom argumento para não se ter os dias dos héteros, homens e brancos.Eu não estou defendendo que se tenha (eu sou contra), mas acho que ainda falta um bom argumento para impedir que se tenham.
Eu tenho cá meus coisos com o dia do orgulho negro, tbm, por motivos ESSENCIALMENTE diferentes dos de vocês. Vou colar um email que escrevi pra uma amiga, vai versão original mesmo que não tô com saco de editar/resumir.
nós nunca tivemos um movimento organizado pelos direitos civis dos negros: quem lhes deu (e lhes tirou) sempre foram os brancos. todas essas festas no 13 de maio, eu gosto de pensar que é quem só lembrou no dia seguinte de comemorar a MINHA existência.

porque GRANDE MERDA a abolição da escravatura. e toda essa festa que se faz em cima da princesa isabel, tomar no cu. se fosse pra comemorar o levante dos negros malês era uma coisa, até eu ia junto, mas não se faz isso nem em salvador.
o grande ícone do movimento negro no brasil é zumbi. não venho falar mal do zumbi, que pouco sei, mas sim da ênfase que é dada para esta personagem. é legal que em palmares não tinha só preto, mas gente despossuída em geral. mas as pessoas não sabem disso. o que elas vêem, o que lhes é dito, é que zumbi era preto e que os quilombolas eram pretos. nem pra dizer “ah, um monte de gente resolveu lutar contra o domínio branco e que só conseguiram desbaratar o quilombo com vários milhares de homens depois de 2194783 tentativas frustradas etc.”, nem isso.
enfim, ninguém celebra a resistência. o destaque é dado mais a ser preto que a ser cidadão. e “cosmético étnico” é uma coisa que me deixa puta e se eu não dependesse deles juro que não comprava. e essa coisa de cotas também me deixa pósséssa.
é certo que o brasileiro não tem um histórico de resistência, que sempre foi a elite que cedeu alguns direitos de acordo com o que lhe parecia menos prejudicial, etc. mas isso foi para todos, não só para os negros.
e se ainda existe preconceito, se ainda existe discriminação, etc, essa é uma luta coletiva, do povo GERAL contra a elite, e não dos negros contras os brancos, não das mulheres contra os homens, etc. tem que parar de subdividir senão vira palhaçada, igual à luta pelas cotas.esse é o melhor exemplo, a meu ver, porque a batalha tem que ser por um ensino fundamental e médio público que qualidade, que permita que todas as pessoas tenham condições semelhantes de cursar o ensino superior público e ter melhor qualificação profissional. isso também tem que passar pela reivindicação de mais verba do governo pra contratar mais professores para a universidade, além daquela destinadas às escolas. não é “duh você se considera negro então tem vaga reservada”, isso é assistencialismo barato fascista ditatorial ABSOLUTAMENTE ANTI-DEMOCRÁTICO.
(o único “movimento social” organizado que a gente tem hoje em dia é, a meu ver, o movimento gay gls glbt whatever. que também está tão cheio de picuinhas internas que, de uns 2,3 anos pra cá, não se vê nada. e que tem tanta picuinha com o resto, que… sei lá, maior viadagem, mesmo. duh)
parece-me que o “movimento negro” defende um mundo mais fácil para eles (o que não deixa de ser justo) mas não uma preocupação com a melhora da sociedade em geral.
a crítica que faço ao dia do “orgulho negro”, portanto, não é aquela que todo mundo no google tá fazendo, “eu me sinto discriminado porque não tem um dia do homem branco adulto”: infantilidade do caralho. de todo modo, essa coisa de “orgulho” é absolutamente sem sentido.