Aplaudo cada palavra da mimi.
A militância tem um papel importante na sociedade, afinal, o que seria dos negros, das mulheres e dos gays se não tivessem saído à luta para buscar os seus direitos? Não se pode esperar que os brancos, homens e heterossexuais tivessem feito isso por eles. É mais cômodo não nos importarmos com problemas que não são nossos, por simetria então não é de se esperar que alguém estranho venha brigar pelos direitos da gente.
Só tenho duas observações a fazer: primeiro é que você tem que saber pelo quê exatamente você está militando, ou será somente um rebelde sem causa. As minorias quando saem às ruas para cobrar os seus direitos têm em mente exatamente quais são os direitos que lhes estão sendo negados. Os negros nos Estados Unidos dos anos 50 não tinham o direito de sentar nos mesmos assentos, beber nos mesmos bebedouros ou estudar nas mesmas escolas e faculdades que os brancos, entre outras coisas. As mulheres na primeira metade do século XX em muitos países ocidentais não podiam votar, ir à escola e nem trabalhar. Os gays lutam pelos mesmos direitos de que já gozam os casais heterossexuais, como o direito ao casamento e à adoção de crianças.
Pelo quê os ateus vão lutar? Que direitos fundamentais a lei garante aos teístas que não garante aos ateus? Vamos lutar contra o preconceito? Ora, o preconceito existe, é claro, contra os ateus assim como contra os negros, as mulheres e os homossexuais. Eles estão lutando há décadas contra o preconceito, mas não conseguiram debandá-lo totalmente. Se houveram avanços? Claro que sim, mas não graças a passeatas e panfletagem. O preconceito é uma questão cultural que leva tempo para se dissipar e que exige formas mais sutis de combate e isso nos leva ao segundo ponto da minha observação:
Não se pode confundir militância com proselitismo. Os negros não lutam para transfornar os brancos em negros. As mulheres não tentam nos convencer a nos tornarmos mulheres. Os gays não fazem campanha para todos virarmos gays. Embora os dois primeiros casos sejam impossibilidades práticas, a terceira situação até seria possível. Imaginem se a militância dos gays consistisse em propagandear as maravilhas de se ser gay? Algum heterossexual daria ouvidos a eles? Os gays ganhariam alguma simpatia? Penso que aconteceria o contrário, pois o proselitismo é uma receita quase infalível para se conquistar antipatia. É o que se passa com os proselitistas religiosos, pessoas quase universalmente vistas como chatos de galocha. Somente alguém sem o mínimo de traquejo social iniciaria uma conversa com uma pessoa que acaba de conhecer ou mesmo com um amigo antigo dizendo algo do tipo "Oi, meu nome é Gabriel. Eu sou ateu, quer que eu te mostre meus argumentos para eu achar que Deus não existe?". E por que não fazemos isso? Simplesmente porque distribuição gratuita de opinião não requisitada é um hábito considerado socialmente detestável. Em vez de dissipar o preconceito, uma postura de ativamente propagandear o ateísmo e pregar os males da religião é só uma receita para fazer inimigos.
Observando que nós não temos direitos para cobrar o que nos resta é pedir respeito. É mostrarmos a cara para o mundo e dizermos que somos ateus, nós existimos e somos pessoas tão boas quanto qualquer outra e não queremos ser tratados como se não fôssemos. Acontece que para pedirmos respeito devemos respeitar. Devemos abrir um diálogo cordial com os religiosos moderados e aceitarmos suas visões de mundo em vez de tentarmos impor as nossas. A militância que se confunde com proselitismo nesse sentido é tudo o que não queremos e é justo essa pseudomilitância que o padre Zezinho sabiamente criticou, de ambos os lados do ringue.