Sinto muito por isso mas o post vai ficar muito longo, e isso é só para a segunda metade do vídeo!
Agora, na segunda metade da palestra ele começa a extrapolar o atual cenário da MQ.
15:49 -"Entrelaçamento:
Vou falar apenas a partir da física porque [...] se a a física não der suporte a esses fenômenos, não devemos nos preocupar com as neurociências e a psicologia."
Então já dá pra parar por aqui! Brincadeira...
16:01 - "O mistério são as conexões não locais atarvés do espaço e do tempo sem o uso do sentidos conhecidos. Precisamos de formas para explicar[...].Creio que o meio...é através do entrelaçamento."
16:16 -"O entrelaçamento ocorre -e estou falando das previsões da teoria quântica- quando duas ou mais partículas interagem, tornando seus destinos ligados fora do tempo e espaço."
Fora do tempo e espaço? Apelando pra metafísica já tão cedo? Meio capenga a explicação do emaranhamento, mas vá lá...
16:56 -"A peculiaridade do entrelaçamento é que quando esses dois objetos interagem, eles geram um novo objeto que consiste dos objetos anteriores e tem características que nenhum deles tinha sozinho e permanece conectado através do espaço e tempo."
17:11 - "Então os céticos irão dizer:'o entrelaçamento não pode ser relevante para psi, pois acontece somente em partículas elementares como os fótons.'
O que pode ser entrelaçado?...sabemos que fótons...elétrons...fulerenos...108 átomos em um único objeto.[...].Esses objrtos foram entrelaçados em laboratório, então sabemos que conforme subimos na escala, o entrelaçamento persiste."
Não sabemos coisa nenhuma. Esse é um grande non-sequitur, nada foi dito a respeito de qualquer coisa com mais de 108 átomos que é, para qualquer escala biológica, muito pouco! Sem contar que esses resultados foram
obtidos em laboratório em situações extremas rigidamente controladas. Daí a afirmar que isso leva a qualquer efeito psi em seres vivos é um leap of faith (salto de fé) de alguns parsecs.
18:06 -"'Mas o entrelaçamento é muito frágil, aparece apenas em propriedades simples como o spin e
apenas em partículas microscópicas'
O entrelaçamento é bem robusto se você o faz da forma correta. Se você toma fótons entrelaçados, pode esmagar um deles numa chapa metálica, então compará-lo a seu par ele permanecerá entrelaçado. E não é macroscópico. Pode-se mostrar que em algo tão grande quanto um cristal de cm3 de sal magnético o comportamento dos magnetos e do cristal podem ser atribuídos e explicados pelo entrelaçamento. Bascamente um grande condensado de Bose-Einstein, que é uma propriedade do entrelaçamento."
Mais uma vez, non-sequitur. Tentemos esmagar um telepata contra uma chapa metálica, então?
Ou, sem ir tão longe...será que o emaranhamento num fulereno ou no objeto de 108 átomos sobreviveria à esse procedimento? E mais, em que condições realiza-se um choque desses? Com certeza, são rigidamente controladas.
Quanto a obtenção de Condensados de Bose-Einstein, é tão complicado que passaram-se 70 anos entre sua previsão teórica e sua obtenção em laboratório (através de resfriamento por laser, seguido de armadilha magnética, que consiste basicamente em retirar da amostra os átomos mais energéticos). E mesmo assim ainda é complicado mantê-los.
"Ademais, na Physical Review, ano passado, saiu um artigo sobre fótons hiper-entrelaçados, tratando o entrelaçamento de objetos não apenas em um aspecto[...]. Isso significa que pode-se ter estruturas bastante complexas que interagem e permanecem entrelaçadas..."
Em teoria sim, na prática não sei dizer se já foi obtido, mas certamente implica em muito mais dificuldades técnicas.
19:26 -"'Mas o cérebro é muito quente para suportar o entrelaçamento então não pode ter nada a ver
com consciência ou psi'
Em fevereiro passado [2006]: O entrelaçamento pode ocorrer a qualquer temperatura e não apenas em sistemas a resfriados à quase zero [subtítulo de uma artigo do Physics Web]. Isso se baseia numa análise teórica dos espelhos usados em experimentos em óptica, mostrando o entrelaçamento."
Teórica é a palavra. Teoricamente, dá pra fazer muita coisa.
20:23 - "'Mas o entrelaçamento não se estende pelo tempo, então não conta para coisas como
premonição'
Há o que se chama [...] experimento de escolha retardada, que mostra que o comportamento de um sistema quântico pode ser detrminado depois que uma medida ter sido feita, que lembra bastante retrocausação [sic] o que abre as portas à precognição."
Não posso dizer se ele de fato não entende o que é um
experimento de escolha retarda, ou se está sendo tendencioso na apresentação. Além disso, non-sequitur.
20:52 -"'Mas o entrelaçamento não permite qualquer forma de comunicação.'
Isso não é inteiramente verdade..."
Chute na bunda da relatividade restrita!
"Já foi demontrado que, tomando uma combinação híbrida de MQ e teoria dos jogos, surge um
novo paradigma, chamado pseudo-telepatia[...]. O nome, a propósito, veio de um teórico, não
um parapsicólogo, que o nomeou assim por demonstrar que ações conjuntas podem ser alcançadas
sem qualquer forma clássica de comunicação."
Antes de tudo, um fato interessante: sempre que mencionou alguma coisa de cunho científico, Radin apresentou um artigo que (supostamente) suportasse sua tese. Mas não agora, nem mesmo uma refrência a material de divulgação que tivesse sequer aventado esse híbrido, ou o nome de seu(s) proponente(s). Particularmente, nunca ouvi falar nisso.
Ainda assim, acho que não é preciso a mecânica quântica para demonstrar ações coordenadas "espontaneamente", acho que se suficientemente desenvolvida a teoria dos jogos por si só seria capaz de dar conta disso (quando agentes que não se conhecem possuem objetivos e se encontram em condições similares), a própria evolução parece indicar algo nesse sentido (como casos e que seres diferentes, espacialmente separados e que nunca estiveram e contato direto desenvolvem soluções muito semelhantes para problemas parecidos).
21:28 - "'Mas não há evidência de entrelaçamento em sistemas vivos'
Há um grupo na Universidade de Milão que por alguns anos têm trabalhado com neurônios in vitro[...], neurônios clonados em placas distintas, e ao se estimular uma placa pode-se medir atividade elétrica naquela placa e numa placa próxima[...]ainda não foi replicado[...]"
Então quando for replicado a gente conversa...mas o que intriga é a questão da placa PRÓXIMA à outra... próxima o bastante para que ambas estejam recebendo o estímulo sem que os pesquisadores percebam? Ou que a atividade elétrica em uma induza a da outra?
23:04 -"'Você está afirmando que o entrelaçamento explica psi?'
Em uma palavra, não, mas aponta para adireção ontológica correta,..."
Em uma palavra, sim. Radin só está tirando o dele da reta. Veja o resto da resposta:
"...fornece uma base teórica para o tecido da realidade exigido por psi [...] reenquadra como devemos pensar o psi."
Fornece base teórica é dar um passo maior que a perna (mesmo se ele estivesse usando as botas de sete léguas). No máximo é um ponto de onde começar a explicar os supostos fenômenos psi SE E SOMENTE SE (adoro dizer isso!) explicações mais simples tiverem sido descartadas (e
definitivamente não foram).
23:47 - "...ele [o emaranhamento] existe, levando ao entrelaçamento elementar[...] o estágio a seguir que começou a ser pesquisado nos últimos 2,3 anos [cita genericamente Nature, Science e Physical Review] é o entrelaçamento sexy [suponho que seja o de fulerenos e proteínas...] bio-entrelaçamento[...] bioentrelaçamento consciente[...]sócio-entrelçamento ou mente global."
Outo passo (muito) maior do que as pernas, nem com motor de dobra ele chega lá agora. Partir do entrelaçamento à duras penas de partículas e moléculas e sugerir telepatia daí é especular tanto que lembra um non-sequitur.
25:30 - "Há muitas incertezas, não apenas quânticas, mas outras, como se seremos inteligentes o bastante para preencher essa lacuna."
Tirando o dele da reta de novo...
26:16 -"...conexões não causais que transcendem o espaço-tempo [...Tradução:metafísica...] o que implica uma mudnça dramática na forma de modelar as coisas. Tudo se torna relacional em oposição a casual."
E desde quando causa e relação são opostas? É aí que se esconde o problema do raciocínio de Radin: Para ele, é um ou outro, ambos não podem agir em conjunto, portanto temos de trocar de paradigma... viram como ele chega à suas conclusões?
27:45 - "[falando sobre como se deve dar o entendimento da telepatia através do emaranhamento]...a psique a memória e a consciência da pessoa não estão separadas desta espuma quântica na base..."
Nunca vi usarem a expressão espuma quântica(
quantum foam) tão fora de contexto.
29:12 -"...no mundo subatâmico[...]da mecânica quântica[...] o tecido da realidade é feito do que podemos chamar de fios não-locais.[...]. Não me peçam para explicar o que são fios não-locais por que não sei..."
Nem eu. Aqui há uma grande desonestidade (a meu ver): Radin veio desde a metade das palestras falando sobre MQ, apresentando não mais que tíulos de artigos (sem se alongar em sua explicação) para suportar suas hipóteses e de repente insere em em meio a esse discurso os tais fios não-locais. Não diz de onde veio isso, por que supõe que o "tecido da realidade" é feito desses fios. Meu palpite é que ele quis fazer com que seus ouvintes atribuissem certa cientificidade à essa metáfora, analogia, chame do que quiser.
30:07 -"Quais são os limites do entrelaçamento? Teoricamente não há limites."
Mentira.
"Qualquer coisa que interaja pode permanecer entrelaçada através do espaço-tempo. De fato, isso é muito peculiar por que podemos pensar: Duas coisas que não tenham interagido, e então elas interagem, estão interligadas no espaço-tempo significa que elas deveriam estar
interligadas antes de ficarem interligadas, já que esta ligação transcende o tempo."
Falácia da grossa! E mais, quem está dizendo que o emaranhamento transcende o tempo é ele, os artigos por ele apresentados até então meramente sugerem que tal característica possa ter longa duração.
"Nossa habilidade para perceber o entrelaçamento macroscópico é limitada no momento, mas é apenas uma questão prática..."
Será? Espero que sim, mas vale lembrar que na MQ a existência do quantum de ação h (ou h cortado) define uma escala na qual se passa a perceber o caráter não clássico fenômenos.
"Alguns físicos especulam portanto[?] que o universo inteiro seja um objeto dinamicamente entrelaçado. E se fosse verdade? Como seriam as experiências humanas nesse meio holístico?"
E se fosse verdade? SERÁ que as experiências humanas seriam afetadas por esse fato? A pergunta de Radin assume aprioristicamente que sim. E é só por isso que ele pode selecionar determinadas "conseqüências" desse fato e listá-las:
31:07 -
"- Talvez possamos nos sentir ligados a outros, mesmo a ditância.
- Talvez possamos saber coisas sem o uso dos sentidos conhecidos. [aqui um adendo:já podemos obter informação sem usar os sentidos conhecidos, e não é nada mirabolante, usamos ultrassom, radioscopia, entre outros]
-Nossas intenções poderiam reverberar nesse meio entrelaçado.
Não sei quanto a vocês mas isso soa bastante como muitas das coisas que temos tentando estudar."
Talvez não. Ou talvez pudéssemos voar e lançar raos pelos olhos, ou escalar paredes. Qualquer um desses superpoderes é, com base nas extrapolações de radin tão provável quanto as possibilidades que isolou.
Quanto a estudar esses fenômenos, o primeiro passo é descartar toda a hipótese mais simples que seja capaz de explicá-los.
31:24 - "Mas isso também levanta um importante problema epistemológico: se tudo está interligado, nossos métodos estão delineados assumindo-se que as coisas podem ser separadas,[...]mas essa provavelmente não é a natureza do meio em que estamos testando as coisas."
Tirou o dele da reta de novo. A ciência é que está sendo feita de forma errada, não são as conclusões de Radin que partem de pressupostos duvidosos. Por outro lado a MQ e o emaranhamento a que ele pretende atribuir os fenômenos psi são produto dessa epistemologia reducionista a que ele se refere como errada.
33:14 - "Além disso, não há o lá fora. Não há um mundo objetivo lá fora num meio holístico."
Precisa dizer que ele está tirando o dele da reta pela QUARTA vez?