Lamento que se a gente quiser um trabalho bem feito, tenhamos que fazê-lo nós mesmos. Meu grupo de laboratório é um pesadelo - entre cinco pessoas, um é inteligente, mas inventa mil desculpas para não trabalhar: é curso de francês num dia, curso de inglês no outro, e quando conseguimos um lugar em sua agenda atarefadíssima para ele se dedicar às suas obrigações, ele além de não ajudar, ainda atrapalha; outra é burra, não faz nada, vive dizendo que quer ajudar, mas na hora do vamos ver fica de braços cruzados; duas até trabalham, mas fazem corpo mole, não são tão burras quanto são preguiçosas, então não fazem nada além trivialmente óbvio, o único raciocínio que elas são capazes de formular é "Se problema, então deixar para o uiliníli". E ainda por cima uma delas é tão nojenta e antipática que nossa convivência já se tornou insuportável. Eu nem reclamo de fazer todo o trabalho intelectual, pelo contrário, eu gosto disso e também não confio em nenhum de meus colegas para pensar em meu lugar. O problema é que além do trabalho inetelectual, boa parte do trabalho braçal fica comigo também. Faço sozinho uns 70% do trabalho que deveria ser dividido entre cinco pessoas.
Esta semana fiquei estupefato. Tive a sorte de nosso grupo ter ganhado um reforço de última hora, um cara inteligente e responsável de outro grupo, que perdeu a hora do seu experimento e teve que fazê-lo com a gente e dividiu parte do ônus comigo. Fizemos todos os cálculos, tratamento de dados, tabelas e gráficos. Eu ainda escrevi a introdução explicando todos os conceitos necessários. O trabalho que ficou para as meninas foi simplesmente ler e interpretar as tabelas, para escrever a discussão e as conclusões, além de mais algumas "burocracias" do relatório. Para minha surpresa, ontem eu recebo um e-mail delas com a parte lhes coube bastante incompleta (e pessimamente redigida, aliás) e elas se justificando por não terem feito quase nada dizendo que não entenderam as contas que eu e meu colega fizemos. Isso porque elas receberam a introdução teórica do relatório pronta e explicando todos os cálculos que fizemos. Eu me pergunto é como alguém que é incapaz de ler meia dúzia de tabelas e entender um planilhinha chulé de Excel, extremamente simples, pode querer ser engenheiro. Isso em um dos melhores cursos de Engenharia Química do Brasil, imagina o que é que não está saindo das outras universidades?
E sabe o que é pior? É que eu tenho medo de perder um possível emprego para gente como elas! Isso mesmo. As empresas hoje em dia, ou pelo menos a impressão que eu tenho delas, não estão nem aí para as habilidades cognitivas dos recrutas. Se você se formou em uma universidade renomada eles já partem do pressuposto de que você sabe pensar. Aí você vai fazer uma entrevista de estágio e eles te escolhem é nas famigeradas dinâmicas de grupo, fazem joguinhos estúpidos e avaliam as habilidades sociais dos candidatos. Estão mais interessados em saber se a pessoa tem "liderança" e "iniciativa" do que em saber se elas são capazes de compreender uma tabela ou pegar um monte de pontos e fazê-los ter sentido.