Filas não é motivo de espanto no Brasil. As filas do SUS são muito mais demoradas e podem causar mais danos a saúde das pessoas do que atrasarem seus compromissos. Quanto as mortes, pode ter sido fatalidade. Mesmo considerando as causas estruturais só acontecem avanços, isso quando acontecem, com as tais crises. Quando não tem jeito mais de adiar algo daí sim é tomado providências. Não seria novidade agora. E mesmo assim a aviação continua sendo o transporte mais seguro existente. Não vejo razão para alarmismos.
Talvez as filas devessem ser motivo de espanto no Brasil, seja para pleitear benefícios sociais, seja para tomar avião, ônibus, metrô (Aliás, acabei de ler que foi decretada greve no metrô em São Paulo: Boa sorte aos foristas de sampa...).
Como você mesmo disse, só acontecem avanços no Brasil quando precedidos por crises (ou tragédias como a recente). E devemos nos conformar com isso? Aceitar este estado de coisas por quê também existem outros problemas, por quê essa atitude não é novidade? Que a aviação continua sendo mais segura do que o transporte rodoviário, não tenho dúvidas. Aliás, essa é outra área em que o governo (atual e anteriores) tem deixado a desejar, por isso mesmo, ambas as crises pedem solução.
Não penso que a imprensa deva ignorar a dificuldade atual do setor aéreo, mas é dado muita ênfase a algo que não tem tanta importância, pelo menos na minha opinião. Além disso, vejo a utilização política desse fato para ostentar as ideologias de opositores. As verdades proclamadas fazem mais sentido dentro de uma certa ideologia.
Antes de tudo, a importância da crise aérea é relativa, não é você quem a define. Provavelmente não lhe afeta, mas afeta a muitos outros. Garanto que esses a consideram importante. E mais, a utilização política da crise aérea não é exclusividade da oposição, o governo e seus partidários vêm tirando proveito dela também, como prova o texto de Chaui, tão carregado de ideologia quanto a gritaria da oposição.
A crise real é essa, a política, e disso todos esquecem. O sistema aéreo vai ficar muito mais seguro do que já é, e o Brasil vai continuar violento e com muitas mortes como já acontece e já foi motivo de "crise" um tempo atrás.
Também acho que é isso que vai acontecer, mas não vejo por quê isso é culpa da imprensa.
E eu não vejo por quê a culpa é simplesmente do governo. Quem quer ver que veja, mas considero muito mais ideologia política do que preocupação com a atuação do governo atual.
Não me sinto confortável em usar a palavra culpa, para discutir o papel do governo na crise aérea. Prefiro responsabilidade.
É claro que as empresas têm de responder. É claro que a crise não começou agora. Mas, quando Lula decidiu concorrer a presidência ele assumiu a
responsabilidade por uma série de crises anteriores. E não se mostrou disposto a arcar com as conseqüências de assumí-la, pelo menos no primeiro mandato (o auge da crise aérea e a inércia do governo demonstram claramente). Pode-se lembrar, com razão, a inércia de FHC, Itamar e Collor o quanto se queira, mas isso não é cumprir o papel que cabe ao governo. Assim como não o é tentar se esquivar simplesmente acusando a imprensa de golpismo (além de ser repeteco das desculpas nos casos Waldomiro, mensalão, Bingos...), e atribuindo a crise aérea a ela.