O movimento em defesa dos direitos das mulheres está certo em defender um acréscimo ao jargão legal no que concerne ao assassinato de pessoas mulheres e meninas. "Homicídio" faz parecer que apenas homens são vítimas de assassinato. O "homicídio de uma mulher" soa gramaticalmente inapropriado, uma falta de concordância, e isso faz com que subliminarmente as pessoas pensem, "ah, isso não foi verdadeiramente um
homicídio, afinal, a vítima foi mulher". Fica clara a gênese no subconsciente de uma desvalorização das mulheres vítimas de assassinato.
Mas o movimento apenas agrava a situação ao sugerir o termo "femicídio" como remediação. Pois o antônimo não é "machicídio", mas "
homicídio". Os sexos dos animais, chamamos de fêmea e macho. Mas aos animais "machos de gente", se chama de "homens"; aos animais "fêmeas de gente", se chama de mulheres. Como se vê então, "femicídio" coloca a mulher no patamar de uma reles "fêmea" animal, como um ser que se abate sem qualquer questionamento ético ou moral quando deixa de ter serventia.
Não é uma culpa do movimento, que sofre do mesmo mal já no nome que escolheu para si, feminismo, em vez do que deveria ser correto,
mulherismo. Como todos sabemos, as boas intenções não nos garantem imunidade ao sexismo inerente à cultura e até na linguagem. São coisas muito arraigadas que requerem constante vigilância.
A patriarquia defenderá com toda sua força a manutenção do termo falo-supremacista "homicício", recusando sua substituição para algo verdadeiramente neutro como gentecídio ou pessoacídio, os únicos termos que mantém a pessoalidade/gentalidade (entenda-se por isso o que se costumava ter pelo termo machista "humanidade"). Então não podemos ter isso como primeiro objetivo, o paliativo para amenizar a situação deve ser o uso de mulhericídio como seu correspondente, se realmente pretendemos elevar a importância e a dignidade dessas vítimas da violência patriarcal, e não reafirmar sua condição como animais de abate.