Na última postagem foi explicada sinteticamente a formação do Sistema Solar, incluindo o planeta Terra, bem como a estruturação interna deste, chamada de diferenciação primordial.
A influência do calor de impacto caiu rapidamente, de tal maneira que em um dado momento houve o predomínio do calor gerado pelos elementos químicos radioativos, que estavam quase todos no manto por conta da primeira diferenciação.
Portanto, sugere-se que a partir deste momento as correntes de convecção começaram a sua atuação, como conseqüência do aquecimento e subida de material mantélico próximo às fontes maiores de radiação e do arrefecimento e descida deste material em regiões mais afastadas. Em outras palavras, o principal mecanismo para transporte das futuras placas tectônicas havia se instalado.
Os primeiros 200 milhões de anos do planeta apresentaram uma alternância de formação e destruição de crosta essencialmente basáltica. Mas neste período os elementos químicos menos densos, tais como silício, alumínio, cálcio, magnésio e potássio começaram a gradativamente a se concentrar mais próximos da superfície, inclusive formando os primeiros minerais superficiais com base na combinação com oxigênio.
Em algum dado momento, por volta dos primeiros 250 milhões de anos, houve a formação de uma crosta continental primitiva e que não foi re-absorvida. Portanto, as rochas “graníticas” mais antigas provavelmente se formaram por volta de 4,35 bilhões de anos, na porção média do Eon Hadeano.
Assim sugere-se que neste tempo já existia um tipo primitivo tanto de crosta continental, como oceânica. É possível que um processo semelhante à Tectônica de Placas já atuasse então, mas não há como corroborar esta afirmação, pois não foram observadas as feições diagnósticas deste processo nas rochas mais antigas.
Há pouco tempo foram descritas rochas do tipo ‘greenstone belt’ no Canadá com idade estimada em 4,28 bilhões de anos (
http://www.livescience.com/environment/080925-oldest-rocks.html). O ‘greenstone’ é uma mistura de rochas basálticas e sedimentares. A presença de rochas sedimentares indica uma crosta anterior, portanto mais velha, pois sedimentos só se formam a partir de rochas magmáticas ou metamórficas pré-existentes.
Provavelmente se formaram vários núcleos de crosta continental, de tal modo que os geocientistas afirmam que os escudos (porções continentais com as rochas mais antigas) são os núcleos sobreviventes. Eles são encontrados no Canadá, EUA, Rússia, Austrália, Brasil e África do Sul.
Estes escudos, todos com idades absolutas maiores que 3,2 bilhões de anos e que marcam o final do eon Hadeano e o início do eon Arqueano, apresentam os seguintes indícios de Tectônica de Placas: rochas ofiolíticas, prismas de acreção e melanges, mas que foram muito retrabalhados por tectonismo e metamorfismo.
Por fim, há cerca de 2,6 bilhões de anos, no final do eon Arqueano, formou-se o mais antigo super continente conhecido, o Kenorano, que teria aglutinado os continentes da Laurência, Báltica, oeste australiano e Kalahari. Ele teria durado cerca de 100 milhões de anos.
Na sequência surgiram os supercontinentes Colúmbia, Rodínia, Pannotia e o Pangea. O Colúmbia existiu entre 2,4 e 1,9 bilhões de anos, portanto no eon Proterozóico Inferior, e reuniu a Laurência, Groenlândia, Báltica, Kalahari e a África Ocidental.
O Rodínia formou-se por volta de 1,1 bilhões de anos, na porção final do eon Proterozóico Médio, e consistia de duas grandes massas com um pequeno paleo-mar interior, o Mirovoi. De um lado estavam a Índia, Austrália, Sibéria, Antártida, China Sul, China Norte e Kalahari. Do outro estavam a Laurência, São Francisco, Congo, Rio de La Plata, Amazônia, Báltica e Oeste Africano.
O Pannotia, com idade de 630 milhões de anos, e que representa a parte final do Proterozóico Superior, aglutinava o mega continente Gondwana (Austrália, Antártida, Índia, África, América do Sul e Deserto do Saara) separado de porções menores como a Báltica, a Laurência, a Sibéria, a Avalônia, a China Sul e a China Norte. A separação era dada pelos paleo-oceanos Tethys e Iapetus. Ao largo existia o macro paleo-oceano Pantalassa.
Por fim, o Pangea, o último supercontinente, formou-se há 237 milhões de anos (eon Fanerozóico, era Paleozóica, período Triássico) e é o mais bem conhecido por todos.
Cabe lembrar que todos os continentes surgiram dos núcleos de crosta continental e foram aumentando por conta da acreção tectônica de terrenos exóticos. A formação dos supercontinentes é um processo dinâmico caótico e ocorre pelo movimento convergente de massas continentais.
Acho que isto esclarece as dúvidas sobre a formação da Terra e sua estruturação, bem como do desenvolvimento do mecanismo de convecção, da formação da crosta e dos supercontinentes.
Agora quanto à hipótese da Expansão da Terra.Dos vídeos. O primeiro não está mais disponível. O segundo só mostra um gordinho sentado em um sofá inflando uma bexiga, digo, o planeta Terra. O terceiro vídeo é somente uma animação com conteúdo infame. Eu relutei em assisti-lo no momento que o locutor afirma, aos 52 segundos de narração, que “era ridícula a teoria que afirmava que a Índia flutuou sobre o fundo oceano (sic) e aí bateu na Ásia”. Mas tomei coragem e fui até o final. Como síntese ele propõe que a Índia sempre esteve junto à Ásia, porque não há um mecanismo que “propulsionasse-a” de encontro ao continente asiático; o Himalaia surgiu como produto de um deslizamento da parte superior da Ásia junto à Índia durante a expansão, resultando em dobramentos; a Itália tem situação análoga ao da Índia (sempre esteve na Europa e os Alpes são o deslizamento da Europa junto à Itália) e que só existiu um supercontinente, o Pangéia.
Em respeito aos verdadeiros cientistas que hipotetizaram a expansão da Terra, eu fiz uma pequena pesquisa abaixo resumida.
O autor ocidental mais antigo a sugerir que a Terra teve alguma expansão sem acréscimo de massa foi Descartes, em sua obra Princípios de Filosofia (1644). E a expansão teria ocorrido porque a Terra possuía um “fogo” interno semelhante ao Sol e antes da parte externa ficar sólida.
Em 1889, o geólogo italiano Roberto Mantovani publicou um trabalho sobre a expansão do planeta bem como sobre o movimento relativo dos continentes (
drift), portanto 22 anos antes de Alfred Wegener escrever sobre a
Deriva Continental.
A idéia foi retomada em 1956, pelo geólogo australiano Samuel Warren Carey. Ele afirmou que a expansão da Terra seria coerente com a expansão do Universo, bem como propôs mecanismos de aumento de massa planetária.
Argumentos contrários à expansão da Terra.a) Não há nenhum mecanismo plausível que explique a expansão.Mesmo que houvesse a expansão, ela teria um limite, pois do contrário, haveria o colapso da parte sólida sobre o espaço vazio interior. A não ser que haja outro mecanismo, mais implausível ainda, de criação de massa concomitante à expansão.
b) Não há nenhuma evidência astronômica para a expansão da Terra.A expansão causaria mudanças no padrão orbital da Lua e no padrão de marés, por exemplo.
c) Não há evidências de alterações: na órbita de satélites; na medição de distância entre dois pontos geodésicos conhecidos; no funcionamento do GPS ou do GLONASS.Aqui dependeria da suposta taxa de expansão, mas mesmo a uma taxa de 0,5mm/ano como proposto por Egyed (1956), já teria sido seria detectada.
d) Não explica como existiram outros supercontinentes.Antes do Pangea existiram pelo menos 4 supercontinentes, sendo que o mais antigo tem 2,5 bilhões de anos. Pela hipótese de expansão só seriam possíveis outros supercontinentes se houvesse uma ou mais... contrações, o que é ainda mais implausível.
e) Não explica a rotação de um ponto geodésico.Todos os continentes apresentaram rotações intensas ao longo de seus deslocamentos. Isto pode ser quantificado por medições paleomagnéticas.
f) Não explica a subducção.Em uma superfície em constante crescimento (crosta em distensão) não há um mecanismo que permita gerar a subducção de uma placa, pois que esta precisa se realizar em um ambiente de compressão local.
g) Não explica a formação de montanhas.Pela explicação do vídeo 3 não pode se formar montanhas, pois o deslocamento horizontal das placas continentais ocorre como movimento distensivo e não por esforço compressivo na face oposta da placa proveniente da abertura oceânica como no caso da Tectônica de Placas.
h) Não explica a diferença de idade entre as placas oceânicas e as continentais.Se tivesse ocorrido a expansão do planeta, as rochas dos fundos oceânicos mais antigos deveriam ter uma idade semelhante às das rochas continentais mais antigas. Mas, enquanto estas datam de 4,28 bilhões de anos aquelas datam de no máximo 210 milhões de anos.
i) Não explica o comportamento do nível eustático (oceanos)A profundidade dos oceanos deveria ser muito maior do que é hoje. Mas não há um só indício disto. Pelo contrário. A quantidade de depósitos sedimentares continentais mostra que houve um crescimento contínuo da superfície acima do nível dos oceanos.
Estes argumentos são suficientes para demonstrar o quão de implausível é a hipótese de expansão da Terra, sem a necessidade de recorrer a um maior conhecimento geológico.