O libertarianismo não se sustenta como uma doutrina que reverencia a maximização da liberdade e do desenvolvimento. Ele postula que as únicas funções que o Estado deve ter é aquele da Minaquia: policiamento, justiça e defesa nacional. Obviamente, não existe fundamento em dizer que um Estado que só tem estas funções faria com que o livre jogo entre oferta e procura resultaria em um equilíbrio eficiente e o bem geral seria promovido pela busca do interesse particular. É tão verdade quanto a esfericidade da Terra que a competição nem sempre é suficiente para conduzir a resultados eficientes.
Esse próprio argumento pode ser utilizado para justificar a minarquia libertária. Porque quase ninguém defende a privatização total de todos os bens públicos? Existe uma justificativa econômica para isso.Quando falamos em bens públicos, os mecanismos de mercado não são ressarcem os custos de oferta de forma eficiente. Isso se refere à segurança, defesa nacional e alguns serviços de saúde. Por exemplo, no caso do último, eu posso pagar a minha parte por um programa social de erradicação da malária, mas eu não posso pagar a minha parte pelo “bem privado” que chamaríamos de “meio livre da malária”.
Existe também o problema do efeito carona. Segurança é um bem público, não um bem de mercado.No caso do primeiro, a quantidade demandada não é sabida, porque não é como no mercado de casquinhas de sorvete onde as compras de tais bens perfeitamente divisíveis imediatamente revela a demanda.A segurança além de indivisível, é uma mercadoria que você pode subestimar propositalmente o seu nível de consumo e depois dá uma de oportunista usufruindo os benefícios daqueles que revelaram sua demanda honestamente.Daí o nome, “efeito carona”.Como conseqüência da ineficiência, o resultado do anarco-capitalismo seria o grande risco de que muitas pessoas não terem suas necessidades de seguranças supridas.
Ora se o resultado de determinados mercados não são socialmente eficientes, isso quer dizer que existem necessidades humanas não supridas pelo mercado. O que é um absurdo, porque esse deveria ser o princípio de legimitação do livre-mercado, algo tentado desde Adam Smith. Dizer coisas como "ah, como as trocas são voluntárias, então não há restrição na liberdade individual" é cair num engodo. Primeiro, liberdade não é apenas o direito de escolher, mas também o direito a ter escolha. Um exemplo bem simples pode ser dado. Imaginem um duopólio, um mercado que possua apenas duas firmas que vendam o produto a um preço altíssimo e onde não há bens substitutos para seus respectivos produtos. Alguém poderia dizer que "como as transações são voluntárias e há maximização do auto-interesse por parte de todos os negociantes, então as pessoas que pagam um preço abusivo pelo produto não tem restrição em sua liberdade individual". O que é uma falácia, porque a maximização do auto-interesse nada diz sobre o porquê as pessoas tomam estas decisões de consumo. Elas poderiam tomar decisões radicalmemente diferentes se houvessem outras alternativas e se estas tivessem significativamente mais atratividade que as oferecidas pelas firmas monopolísticas.
Quando você deixa de encarar facilidade econômica como sinônimo de livre-mercado e também passa a considerar que a liberdade econômica é apenas UMA das liberdades instrumentais a disposição dos indivíduos, então ela perde o sentido.
Eu não conheço nenhum caso de população de um país que seja majoritariamente libertária. Acredito que isto não mudará nem em um futuro próximo. Se estou certo e se o libertarianismo admitir a existência de liberdade política na constituição, então a própria doutrina decreta a sua não-materialização em qualquer país.