Pede-se ética na criação e no abate dos animais que fazem parte das vossas dietas. Vegetarianos, em geral, preocupam-se com os produtos utilizados nas plantações (que podem ser nocivos não só a eles, como a todo mundo, direta e indiretamente, porque agrotóxicos contaminam o lençol freático e tudo o que tocam).
Do mesmo modo, hormônios podem comprometer nutritivamente a carne dos animais em que foram injetados. Morte sofrida também. Ambiente contaminado também. Ambiente limitado também.
Qual é o ponto de vocês? Vocês não estão lá criando os bichinhos...
Então o seu ponto é o de que a ética no tratamento dos animais no criadouro é dependente não do bem-estar do animal, mas da qualidade do produto que acabará chegando em nossas mesas?
Se for, então este também é o meu ponto.
Mas as duas coisas não são necessariamente excludentes.
A qualidade de muitos produtos finais de origem animal guarda uma relação direta com a manutenção do bem estar do animal na criação. Carne e leite não podem estar infectados o que exige manejo sanitário adeqüado, instalações apropriadas; couro deve estar livre de feridas e limpo, entre outras coisas. Todas essas exigências envolvem tomar medidas na criação que, pelo menos indiretamente, garantem algum conforto durante a vida do animal.
Na minha opinião o bem-estar animal é importante para a produção. Para que chegue ao mercado um produto de boa qualidade, e o produtor obtenha lucro, tem que haver um bom manejo durante toda a vida do animal. Se as condições básicas como conforto térmico, alimentação adequada e sanidade não forem garantidas, não haverá boa produtividade e dependendo do caso, quem cria o animal poderá ter prejuízo.
E o conceito de bem-estar com base nos conceitos da etologia é bem mais abrangente do que eu coloquei. Em uma definição mais geral, deve incluir a possibilidade do animal exercer o comportamento que teria em ambiente natural. Nos países europeus, existe uma cobrança grande nesse sentido, talvez pelo fato do consumidor ser mais exigente. Com isso, a estrutura produtiva tem que ser diferente.
Por exemplo, na suinocultura tradicional, as porcas ficam confinadas em gaiolas durante praticamente toda a vida, de modo que não possam dar uma meia volta. Em um sistema produtivo que respeite esse conceito de bem-estar, elas são deixadas nas gaiolas durante um período limitado, somente enquanto estão amamentando para não esmagarem os leitões e depois são colocadas em um ambiente em que possam se movimentar e fuçar (então o chão não pode ser totalmente cimentado). No Brasil houve um projeto de lei para que isso começasse a ocorrer, mas não foi aprovado, que eu saiba. Iria gerar grandes perdas produtivas, com toda certeza, mas a questão do bem-estar animal tem sido muito debatida. Alguns produtores já vendem carne de frango caipira, mas provavelmente por um valor maior do que o da carne de frango normal (o bem-estar animal é apenas uma das razões para esse tipo de produção).
Eu respeito a decisão de ser vegetariano por conta do bem-estar animal, mas o problema, na minha opinião, é que o ovo-lacto-vegetariano acaba consumindo produtos de animais que são mantidos em condições iguais aos que os que são criados para o consumo de carne e acabam sendo abatidos da mesma forma, ao apresentarem perda na produtividade.
Na criação de galinhas poedeiras, os machos (com exceção dos que vão para a reprodução) são descartados (assim que nascem) pois as linhagens utilizadas não apresentam um bom ganho de peso para serem utilizados para a produção de carne. As galinhas são mantidas em pequenas gaiolas, com uma possibilidade mínima de movimentação. E o gado leiteiro também não apresenta bom ganho de peso, de modo geral, por isso os bezerros machos acabam sendo descartados, ou utilizados como vitelos. E ao ser vegan eu estaria me privando de fontes de vitamina B12 e na minha opinião a dieta se torna muito monótona, eu não consigo viver dessa forma.
Desculpem pelo tamanho do texto!!