Eu acho a morte uma coisa comum. Todo mundo aqui estava morto entre o instante do Big Bang e algumas décadas atrás. Passamos por um período enorme de tempo sem estarmos vivos. Daqui à algum tempo, vamos deixar de existir de novo. Paciência, as coisas são assim.
Mas as maneiras pelas quais vamos deixar de existir são INÚMERAS, deixar de existir em agonia atroz é uma coisa, em paz e tranquilidade é outra, por ato de violência ou tragédia é outra, etc!
É, este é um ponto que também me preocupa. Eu quero morrer em paz e tranqüilidade. Eu não quero morrer depois da queda de um avião na qual eu sobrevivo, mas fico com ferimentos dolorosos que infexionam e me deixam agonizando em uma floresta enquanto aves de rapina reunem-se ao redor preparando-se para o banquete...
Também não quero morrer após uma sessão de tortura em uma prisão ou coisa parecida. Mas acho que as mortes mais dolorosas são mais improváveis. A maioria das mortes é rápida (eu acho). Quando se está muito doente , como no caso da sua avó, anestésicos diminuem a dor e o mal estar. Se houver apoio e acompanhamento dos familiares e pessoas queridas, o processo fica mais fácil.
Além do mais, será que a morte é tão ruim assim? Nós estamos sempre morrendo e sendo substituídos durante a vida. O tempo faz tantas alterações em nossos corpos e mentes que o "eu" que existe hoje não é o mesmo "eu" de 10 anos atrás. Daqui à algumas décadas, o meu "eu" de hoje já não vai mais existir e será substituído por outro. Quase tudo nestes diferentes "eus" é diferente: o modo de pensar, de ver o mundo, as memórias que possuímos. Enfim, somos seres diferentes apesar de pensarmos em nós como um mesmo indivíduo, apenas em tempos diferentes.
Não sei não, não me acho tão diferente assim (isso é até um problema pra mim, já que me sinto velho e cansado).
A única diferença da morte final e das muitas mortes que sofremos ao longo da vida é que a morte final é mais brusca e não resta nada que nos substitua diretamente. Mas a diferença nem é tão grande assim.
PRA MIM, é!!! Adoro viver!!! Não quero morrer!!!! Nunca, nunca, nunca, nunca! Mas as coisas são assim, então há de se conviver com isso! O que eu não acho é que a diferença seja "pouca", afinal EU não vou estar aqui pra dizer se é ou não pouca. Espero viver mais, se possível BEM MAIS que minha vó até hoje, e morrer de repente.
Mesmo pessoas que são mais estáveis e mudam menos, passam por mudanças. O bebê Betinho que existia quando você nasceu não existe mais. O que resta dele são fotos e lembranças. Você é completamente diferente do bebê Betinho. Todas as células de seu corpo são diferentes, com excessão dos neurônios. Mas mesmo os seus neurônios sofreram sinapses e se organizaram de forma diferente. Então, é como se fôsse um cérebro e mente nova, completamente diferente. O mesmo dá pra dizer do pobre Betinho de 10 anos de idade. A pobre criança não existe mais entre nós...
Como nestes casos a aniquilação dos Betinhos do passado foi algo gradual, você nem sentiu a morte deles. Mas o fato é que eles não estão mais entre nós. Existem apenas como lembranças e memórias. Aliás, a morte é justamente isso: transformação.
A única coisa que realmente é assustador na morte é o fato dela poder ser dolorosa (é, contra este temor não tem muito o que possamos fazer...) e a possibilidade de não deixarmos nada que dê continuidade às nossas obras. Embora o Betinho-criança não exista mais, você está aqui e está dando continuidade à sua existência. Mas quanto à isso, acho importante que as pessoas tentem deixar obras para suprir a sua ausência. Talvez um livro, ensinamentos, etc...
Bem, não sei se estou ajudando, mas é assim que eu encaro a mortalidade em minha vida. Pensando desta forma, eu não fico muito preocupado com a morte e nem lamento o fato de eu poder morrer.
Confesso que desde que virei ateu, eu não tive ainda a oportunidade de testar a minha reação diante da morte de uma pessoa querida. Mas mesmo na época que eu era teísta, eu me consolava de uma maneira semelhante, afinal, eu nunca cheguei a ter 100% de certeza de que existia vida após a morte.