Autor Tópico: A coitatização do professor  (Lida 4032 vezes)

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Offline Res Cogitans

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A coitatização do professor
« Online: 11 de Fevereiro de 2008, 10:29:47 »
O professor desvalorizado

Gustavo Ioschpe
Economista, especialista em educação

Meu artigo na revista VEJA dessa semana fala sobre a "coitadização" do nosso professor - um discurso infantilizador de alguns, que trata o professor brasileiro como um pobre coitado, uma vítima - objeto, e não sujeito, de sua ação.

Parte desse discurso, rotineiramente proferido por membros da categoria e suas lideranças sindicais, diz respeito à desvalorização social do professor. Diz-se que a carreira de professor é desmerecida pela sociedade, e que a baixa auto-estima resultante dessa estigmatização está entre as causas do insucesso docente e do fracasso da nossa educação. Parece-me que é um caso de, na melhor das hipóteses, causalidade reversa.

Digo "na melhor das hipóteses" porque efetivamente não acredito que a profissão de professor seja vítima de preconceito. Pelo contrário, aliás. Onde quer que eu vá, vejo manifestações de apreço e encorajamento aos professores. Há uma série de prêmios, regionais e nacionais, destinados à categoria. Seguidamente jornais, revistas e programas de TV se referem aos professores como heróis. Quando acontece alguma agressão a professores ela logo vira destaque e é vista com espanto e reprovação. Acredito que a sociedade brasileira entende o papel fundamental do professor na formação de seus filhos. Pesquisa realizada pelo Inep (acesse a pesquisa) com os pais de alunos revelou que 83% dos entrevistados acreditam que os professores estão preocupados em ensinar e dar boas aulas, 77% diz que o professor tem paciência para tirar dúvidas dos alunos, 89% declaram que o professor é atencioso com os pais. Quando os pais são instados a dar notas para os professores de seus filhos, estes recebem uma avaliação exemplar: 8,6 para a qualidade do ensino e 8,4 para o conteúdo ensinado.

Essa já seria uma avaliação lisonjeira para qualquer profissão, mas no caso da educação brasileira, que é um fracasso indiscutível, ela é verdadeiramente miraculosa. Os professores brasileiros têm uma situação privilegiada: mesmo sendo os principais responsáveis pelo ensino, não recebem praticamente nenhuma condenação pelo seu fracasso, que recai todo sobre os próprios filhos (os alunos) e os governantes. Deve ser um caso único em que o pai vitima o filho, já vitimado pelo péssimo ensino que recebe.

Se há, em alguma região do país ou contexto específico, reclamações dirigidas aos professores que os façam sentir-se desvalorizados, só podemos dizer que é de se esperar. Poucas categorias profissionais no país apresentam resultados tão decepcionantes como a dos trabalhadores do ensino. E em nenhum outro caso esse desempenho é tão importante para o país. Durante décadas imperou a visão de que os problemas educacionais eram todos exógenos aos profissionais do ensino - causados pelas supostas faltas de interesse e de investimento da sociedade ou por problemas do próprio aluno. Atualmente, com as avaliações às quais o sistema educacional está sujeito, essa visão tornou-se insustentável. É absolutamente transparente que, com os mesmos níveis de recurso e atendendo pais e alunos dos mesmos estratos sociais, escolas diferentes têm resultados muito distintos. Sinal de que a escola, e o que os profissionais fazem dentro dela, importam - e muito - para o desempenho do aluno.

Está na hora de os nossos professores pararem de demonizar o Outro - governantes, diretores, políticos, pais, neoliberalismo, alunos - pelo insucesso da escola. Não vamos chegar a lugar nenhum com transferência de responsabilidades. E não se trata aqui de atribuir culpas - essa linguagem cabe nos confessionários religiosos, não em discussões de políticas públicas. Não interessa o que passou. O que importa é o que podemos fazer daqui pra frente. Tenho certeza de que se os professores tiverem o desprendimento de aceitarem realizar uma instrospecção honesta e conseguirem identificar suas carências, a sociedade brasileira - por meio de seus representantes eleitos, mas não apenas eles - saberá estender-lhes a mão, sem recriminações, e ajudar-lhes na melhoria das nossas escolas.

 
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Offline Luiz Souto

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #1 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 12:42:53 »
O que nao e dito no artigo , e que todo filho ou parente de professor do ensino fundamental e medio brasileiro sabe, e que e uma categoria desvalorizada pelos governos sucessivamente (independente de qual partido) na remuneraçao salarial e no incentivo e oportunidade de desenvolvimento profissional.
Postular que sejam cumpridas metas ( que nao seja a pura e simples progressao automatica dos alunos) para classificar e melhorar o ensino , cobrar empenho e dedicaçao sao coisas basicas desde que se garanta um rendimento que permita que o profissional nao tenha que se desdobrar em varios empregos para completar uma renda mensal aceitavel.
A responsabilidade da situaçao da educaçao brasileira e de todos  , governos e profissionais , mas nem citar a situaçao salarial do professor no artigo e ,no minimo , ma fe.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline Res Cogitans

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #2 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 15:24:04 »
A responsabilidade da situaçao da educaçao brasileira e de todos  , governos e profissionais , mas nem citar a situaçao salarial do professor no artigo e ,no minimo , ma fe.

A questão do salário foi trabalhada em um artigo anterior que vou postar em seguida.
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Offline Res Cogitans

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #3 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 15:25:47 »
Professor não é coitado

Gustavo Ioschpe
Economista, especialista em educação

O professor brasileiro é um herói. Batalha com afinco contra tudo e todos em prol de uma educação de qualidade em um país que não se importa com o tema, ensinando em salas hiperlotadas de escolas em péssimo estado de conservação. Tem de trabalhar em dois ou três lugares, com uma carga horária exaustiva. Ganha um salário de fome, é constantemente acossado pela indisciplina e desinteresse dos alunos e não conta com o apoio dos pais, da comunidade, do governo e da sociedade em geral.

Se você tem lido a imprensa brasileira nos últimos vinte anos, provavelmente é assim que você pensa. Permita-me gerar dúvidas.

Segundo a última Sinopse Estatística do Ensino Superior, em 2005 havia 904.000 alunos matriculados em cursos da área de educação, ou o equivalente a 20% do total de alunos do país. É a área de estudo mais popular, deixando para trás gerenciamento e administração (704.000) e direito (565.000). Ademais, é uma área que só faz crescer: em 2001, eram 653.000 alunos – um aumento de quase 40% em apenas quatro anos.

No mercado profissional, os números do professorado também são mastodônticos. Segundo dados da última Pnad tabulados por Simon Schwartzman, há 2,9 milhões de professores em todo o país. É provavelmente a categoria profissional mais numerosa.

Surge o questionamento: se a carreira de professor é esse inferno que se pinta, por que tantas pessoas optam por ela? Pior: por que esse interesse aumenta ano a ano? Seria uma categoria que atrai masoquistas? Ou desinformados?

A resposta é mais simples: porque a realidade da carreira de professor é bastante diferente da imagem difundida.

 
A maioria dos professores trabalha em apenas uma escola. Segundo o Perfil dos Professores Brasileiros, ampla pesquisa realizada pela Unesco, 58,5% têm apenas um local de trabalho. Os que fazem dupla jornada são pouco menos de um terço: 32,2%. Só 9%, portanto, trabalham em três escolas ou mais. Sua carga horária também não é das mais massacrantes: 31% trabalham entre uma e vinte horas em sala de aula por semana, 54% ficam entre 21 e quarenta horas e o restante trabalha mais de quarenta horas. Os professores costumam argumentar que seu trabalho se estende para fora da sala de aula, com correção de tarefas, preparação de aulas etc. Nisso, não são diferentes de todos os outros profissionais liberais – qual o médico que não estuda fora do consultório ou o advogado que não pesquisa a legislação nos horários fora do escritório?

O que os representantes da categoria não costumam mencionar são as vantagens da profissão: as férias longas, a estabilidade no emprego e o regime especial de aposentadoria (80% são funcionários públicos) e, sobretudo, a regulamentação frouxa. No estado de São Paulo, 13% dos professores da rede estadual faltam a cada dia, contra 1% daqueles da rede privada. Há um amontoado de proteções jurídicas para que essa ausência não redunde em perda salarial – infelizmente, não conseguimos blindar o aprendizado dos alunos contra as faltas docentes.

Não é correta, também, a idéia de que os professores trabalham em estabelecimentos superlotados. Segundo os dados oficiais, há 27 alunos por turma no ensino fundamental (de 1ª a 8ª série). A relação só sobe nos três anos do ensino médio, para 37 alunos por turma – dentro da normalidade, portanto.

Tampouco procede a idéia de que as escolas não tenham as condições mínimas de infra-estrutura para a realização de aulas. As histórias de escolas de lona ou de lata rendem muito noticiário justamente por serem a exceção, a aberração. Mais de 90% de nossas escolas de ensino fundamental têm banheiro, água encanada e esgoto, e 87% contam com eletricidade. Quase um terço tem quadra esportiva, e 42% dispõem de computadores. Certamente há muito que melhorar, mas é igualmente certo que o nosso professorado não trabalha em condições infra-estruturais sofríveis.

A idéia de um professor acuado pela violência também não se confirma quando contrastada com a frieza dos dados. Questionário respondido pelos professores quando da aplicação do Saeb, o teste do ensino básico, revela que apenas 3% deles haviam visto, em toda a sua carreira, alunos com armas de fogo, que só 5,4% dos professores já foram ameaçados e 0,7% sofreu agressão de aluno. São incidentes lamentáveis e que devem ser punidos com todo o rigor da lei. Essa quantidade de problemas, porém, está longe de indicar uma epidemia de violência tomando conta das nossas escolas.

Finalmente, a questão crucial: o salário. Há uma idéia encravada na mente do brasileiro de que professor ganha pouco, uma mixaria. É verdade que o professor brasileiro tem um salário absoluto baixo – o que se explica pelo fato de ele ser brasileiro, não professor. Somos um país pobre, com uma massa salarial baixa. O professor tem um contracheque de valor baixo, assim como médicos, carteiros, bancários, jornalistas e todas as demais categorias profissionais do país, com exceção de congressistas (e suas amantes). Quando estudos econométricos comparam o salário dos professores com o das outras carreiras, levando em consideração a jornada laboral e as características pessoais dos trabalhadores, não há diferença para a categoria dos docentes. Ou seja, os professores ganham aquilo que é compatível com a sua formação e o seu trabalho, e ganhariam valor semelhante se optassem por outra carreira. Quando se leva em conta a diferença de férias e aposentadoria, o salário do professor é mais alto do que o do restante. Estudo recente de Samuel Pessôa e Fernando de Holanda, da FGV, também mostrou que o salário do professor de escola pública é mais alto do que aquele recebido por seu colega de escola particular. Achados semelhantes emergem quando se compara o professor brasileiro com aquele de outros países. Enquanto aqui ele ganha o equivalente a 1,5 vez a renda média do país, a média dos países da OCDE (que têm a melhor educação do planeta) é de 1,3. Na América do Sul, os países com qualidade de ensino melhor que a brasileira têm professores que recebem menos: 0,85 na Argentina, 0,75 no Uruguai e 1,25 no Chile. Esses são dados um pouco defasados, de 2005. É provável que atualmente o quadro seja ainda melhor, pois os estudos sobre o tema mostram que os rendimentos dos professores vêm aumentando, à medida que mais deles têm diploma universitário. Segundo os dados da última Pnad colhidos por Schwartzman, houve um aumento de 20% nos rendimentos dos professores da rede estadual e de 16% nos da rede municipal apenas entre 2005 e 2006.

Apesar de todos esses dados estarem amplamente disponíveis, perdura a visão de que o professor é um coitado e/ou um herói, fazendo esforços hercúleos para carregar o pobre aluno ladeira acima. Longe de ser uma questão apenas semântica ou psicológica, essa caracterização do professor é extremamente daninha para o progresso do nosso ensino, porque ela emperra toda e qualquer agenda de mudança. A literatura empírica aponta que há muito que professores, diretores e gestores públicos podem fazer para obter melhorias substanciais no aprendizado de nossos alunos, mas é quase impossível ter qualquer discussão produtiva nesse sentido no Brasil, pois, antes de mais nada, seria necessário "recuperar a dignidade do magistério", "dar condições mínimas de trabalho aos professores" etc. A mitificação do nosso professor impede que o vejamos como ele é: um profissional, adulto, consciente de suas decisões e potencialidades, inserido em uma categoria profissional que, como todas as outras, abriga muita gente competente, muita gente incompetente e muitos outros medíocres e que, portanto, deve receber não apenas encorajamento e defesa condescendentes, mas também cobranças e críticas construtivas e avaliações objetivas de seus méritos e falhas. Só assim melhoraremos o desempenho das nossas escolas e daremos um futuro ao país.

« Última modificação: 11 de Fevereiro de 2008, 15:31:01 por Res Cogitans »
"Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la, e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela" Confúcio

Offline Res Cogitans

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #4 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 15:30:19 »
Os professores e a "frieza das estatísticas"

Gustavo Ioschpe
Economista, especialista em educação

Durante o meu mestrado, tive uma aula sobre sistemas de governo e crescimento econômico. Ministrada por um professor brasileiro em Yale, José Antonio Cheibub, começava, se me lembro bem, municiando os alunos com vários artigos de pensadores políticos defendendo as vantagens da democracia como indutora do crescimento. Finda a primeira metade do semestre, tivemos uma semana de férias, para a qual saímos convencidos de que a democracia é o regime mais propício para o crescimento econômico sustentado. Na segunda metade do semestre, lemos outra batelada de pensadores, para os quais a ditadura seria o regime mais indicado para gerar crescimento econômico. A argumentação desses teóricos, assim como aquela de seus antagonistas, era extremamente convincente, recheada de exemplos, com lógica impecável. Tenho certeza de que qualquer pessoa que fosse exposta a apenas um lado da argumentação sairia convencida. No final do semestre, líamos então um livro, Democracy and Development: Political Institutions and Well-Being in the World, 1950-1990, que compilava as taxas reais de crescimento econômico de uma centena de países ao longo de quarenta anos, dividia-os entre ditadura e democracia durante esse intervalo de tempo e dava, então, a resposta definitiva sobre qual sistema tinha maior impacto sobre o crescimento econômico (quem quiser saber, leia o livro).
 
Não tenho nenhum treinamento em pedagogia, mas essa me parece a aula perfeita: fornece uma vasta quantidade de informações, de qualidade, sobre uma questão. Logo depois fornece o seu oposto, forçando o aluno à dúvida, e então arremata ensinando ao futuro pesquisador como resolver suas dúvidas: pesquisando, obtendo dados e cotejando-os da forma mais rigorosa possível para estabelecer (ou refutar) uma hipótese.

É por isso que fiquei bastante frustrado com a enxurrada de e-mails (uns trezentos) que recebi desde a publicação do artigo "Professor não é coitado". Não porque a maioria dessas missivas é de professores raivosos, com comentários quase que unanimemente negativos, mas sim pela natureza da crítica, que aparece em alguns dos e-mails publicados neste espaço na semana passada: uma recusa a aceitar a veracidade dos fatos. A grande maioria dos professores que escreveram dizem que os dados estão errados, que eu não vivo nesse país, que as minhas posições só podem ser reflexo de nunca ter entrado em uma escola pública de periferia ou que este autor deve ter algum sério transtorno psicológico para denegrir a categoria dos professores dessa maneira. Críticas e mais críticas ao uso "indiscriminado" e "manipulativo" da "frieza dos números", que não traduzem a realidade que ele(a), professor(a), vive no seu dia-a-dia e que portanto não podem ser verdadeiros.

Recebo essas críticas por seu valor de face, sem acreditar que há aí malícia ou conspiração, e me espanto. Não houve sequer uma menção, que me lembre, de qual teria sido a manipulação de que os números foram vítimas, uma indicação de erro das fontes usadas, um questionamento metodológico sobre os estudos mencionados ou uma indicação de qual seria a estatística "certa" a ser usada. E isso mesmo em um formato de total transparência, em que todas as fontes de informação usadas foram citadas e referenciadas no pé do artigo e estão disponíveis em um clicar do mouse. Creio que nenhum dos missivistas se deu ao trabalho de ao menos ler e checar os dados.

Esse é um tratamento preocupante por duas razões. Primeiro, porque parece denotar que os professores vêem um dado como algo separado da realidade que ele representa. Não se pode dizer que se "discorda" que o número de alunos por sala de aula seja x ou que a jornada dos professores seja y ou que o seu salário seja z% superior ou inferior à média nacional. Essas não são questões opiniáticas, mas factuais. Ou o dado está certo, ou está errado. O dado pode ser de boa ou má qualidade, vir de fonte confiável ou não: isso são outros quinhentos (e me preocupo com essas questões, daí a decisão de usar apenas estatísticas oficiais ou estudos de instituições imparciais como a Unesco, FGV, etc.). Essa confusão é perdoável em uma correspondência pessoal, no calor de uma polêmica, mas foi repetida com tal freqüência que me pergunto se nossos mestres não cometem os mesmos equívocos em sala de aula, e não transmitem como fato aos nossos alunos aquilo que não passa da sua opinião sobre eventos, e transmite como se fossem opiniões alguns fatos incontestes.

O segundo motivo de preocupação, que também revela um desconhecimento preocupante, é a insistência na personificação de fenômenos coletivos e a utilização da experiência pessoal como métrica para a análise de uma questão pública. Quando se escreve em uma publicação nacional, traçamos um panorama do país todo, o que necessariamente implica a utilização de totalizações, médias, etc. Me parecia desnecessário dizer, mas vá lá: quando se fala em salário médio, por exemplo, não quer dizer que todos os professores recebem aquele valor. Mais especificamente ainda, quando se diz que a maioria trabalha um certo número de horas, não se está dizendo que todos os professores trabalham um certo número de horas. Portanto, a experiência pessoal de um professor pode ser interessante como ilustração de um grupo (seja ele minoritário ou majoritário, o elemento que se conforma à regra ou a exceção que a comprova), mas jamais confirmará ou invalidará um contexto nacional. Um professor pode ter 50 alunos em sua sala de aula, e mesmo assim a média nacional pode continuar sendo 25. Cinco, dez, vinte, cem, mil professores podem ter o mesmo problema: a média continua válida, continua verdadeira. Uma amostra composta de um caso é uma amostra com representatividade praticamente nula. Por isso são totalmente sem sentido as perguntas dos professores sobre se este autor já passou uma tarde ou um dia ou um turno ou um mês ou um ano em uma escola de periferia, pois por pior que fosse a minha experiência e por mais distante que ela fosse da média nacional, ela jamais invalidaria a média nacional. (Apenas por curiosidade, respondo: devoto parte do meu tempo a viajar e palestrar a professores e autoridades educacionais em todo o país e também fora dele, e vos asseguro que conheço mais escolas, mais professores e mais diretores do que aqueles que mandaram suas invectivas.) Essa inabilidade de abstração e de encarar os dados de frente é igualmente preocupante naqueles que têm a responsabilidade de transmitir o conhecimento acumulado ao longo dos séculos para as futuras gerações. Será que em sala de aula o professor também se recusa a ensinar aquilo que, através da sua vivência, ele "sabe" não ser verdadeiro?

Creio que ao fim e ao cabo esse diálogo poderia ser proveitoso. O desprezo que a maioria dos professores, especialmente os das áreas de humanas, têm pela quantificação da realidade certamente exprime uma lacuna nos seus cursos de formação, que pode e deve ser sanada.

Finalmente, percebo nesse negacionismo antiestatístico mais um capítulo da recusa dos atores do nosso sistema educacional de encarar a nossa - triste, é verdade - realidade. Enquanto nossos professores tratam de erigir muros à visualização das carências do sistema educacional do qual eles são protagonistas, para manter a sua zona de conforto e isenção de responsabilidades, não apenas esses profissionais se condenam ao opróbrio social, mas, o que é mais importante, nosso sistema educacional continuará produzindo os analfabetos e ignorantes que já saem condenados, desde a sua primeira infância, a reproduzir a pobreza e desesperança de seus antepassados.
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Offline Dbohr

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #5 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 15:44:12 »
DESDE que se saiba, como o autor apontou no texto que abre o tópico, que o problema é muito mais profundo que apontar "culpados". O sistema inteiro está viciado: O MEC não conhece ou não se importa com as metas e Planos Curriculares irreais criados pelos Pedabobos; que por sua vez viciam os cursos de Licenciatura das Universidades; que não discutem o problema com a Sociedade; que quer mais é que seus filhos passem nos vestibulares mais prestigiosos e cobram resultados das escolas; que cobram dos professores ao mesmo tempo em que estes reclamam dos salários, das condições e dos alunos; que não estão nem aí para a Escola e querem mesmo é zoar e passar de ano de qualquer jeito.

Tamos lascados.

Offline Peezah

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #6 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 16:12:35 »
DESDE que se saiba, como o autor apontou no texto que abre o tópico, que o problema é muito mais profundo que apontar "culpados". O sistema inteiro está viciado: O MEC não conhece ou não se importa com as metas e Planos Curriculares irreais criados pelos Pedabobos; que por sua vez viciam os cursos de Licenciatura das Universidades; que não discutem o problema com a Sociedade; que quer mais é que seus filhos passem nos vestibulares mais prestigiosos e cobram resultados das escolas; que cobram dos professores ao mesmo tempo em que estes reclamam dos salários, das condições e dos alunos; que não estão nem aí para a Escola e querem mesmo é zoar e passar de ano de qualquer jeito.

Tamos lascados.

A 3 anos atrás, quando eu sai do ensino médio, era espantoso como todos estavam lá apenas por obrigação dos pais. Eram raros os casos de alguem com "sede" de pesquisa e conhecimento. Na maioria da população existe um grande desestimulo a ir à escola, desde criança. Eu, pelo menos, não me lembro de nenhuma criança falando que odora ir à escola, ou contando tudo que aprendeu. Triste...

Offline Res Cogitans

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #7 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 16:47:27 »
DESDE que se saiba, como o autor apontou no texto que abre o tópico, que o problema é muito mais profundo que apontar "culpados". O sistema inteiro está viciado: O MEC não conhece ou não se importa com as metas e Planos Curriculares irreais criados pelos Pedabobos; que por sua vez viciam os cursos de Licenciatura das Universidades; que não discutem o problema com a Sociedade; que quer mais é que seus filhos passem nos vestibulares mais prestigiosos e cobram resultados das escolas; que cobram dos professores ao mesmo tempo em que estes reclamam dos salários, das condições e dos alunos; que não estão nem aí para a Escola e querem mesmo é zoar e passar de ano de qualquer jeito.

Tamos lascados.

Na verdade, eu considero o problema da educação bem mais profundo que este apresentado por você. Ele começa na própria concepção de ensino-aprendizagem, onde se considera que ensinar é tão somente APRESENTAR conteúdos. Desvincula-se o desempenho dos alunos ao desempenho do professor, o outro é achar que metodologias de ensino não podem ser investigadas cientificamente.

Nos cursos de licenciatura não há aulas sobre como funciona a memória, quais as diferenças na resolução de problemas quando comparamos experts e leigos, os efeitos da motivação no desempenho.... praticamente todos os aspectos cientificamente relevantes para o ensino eu conheci fora do curso de licenciatura.
« Última modificação: 11 de Fevereiro de 2008, 16:54:09 por Res Cogitans »
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Offline Dbohr

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #8 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 16:53:34 »
As partes do sistema não se falam. Não se comunicam, a não ser por ameaças e/ ou exigências. Mais importante, não se fiscalizam. Um sistema assim só pode estar profundamente viciado.

Offline Thufir Hawat

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #9 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 18:02:32 »
Nos cursos de licenciatura não há aulas sobre como funciona a memória, quais as diferenças na resolução de problemas quando comparamos experts e leigos, os efeitos da motivação no desempenho.... praticamente todos os aspectos cientificamente relevantes para o ensino eu conheci fora do curso de licenciatura.
E não só isso. Pelo menos na licenciatura em física, reina a idéia de que não é preciso ou não se deve exigir tanto dos alunos de licenciatura quanto do bacharelado... o que faz com que a física de alguns cursos de licenciatura em física seja bem deficiente (onde eu faço, nem estrutura da matéria o cara precisa fazer pra se licenciar... é uma vergonha).
Archimedes will be remembered when Aeschylus is forgotten, because languages die and mathematical ideas do not. "Immortality" may be a silly word, but probably a mathematician has the best chance of whatever it may mean.
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Offline Dodo

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #10 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 18:43:12 »
Com todo respeito a meus colegas professores e sem querer generalizar, me parece que a frase "Quem não sabe fazer, ensina os outros" é a lógica por trás de alguns cursos de licenciatura.
Você é único, assim como todos os outros.
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Offline Hold the Door

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #11 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 19:02:25 »
Não é correta, também, a idéia de que os professores trabalham em estabelecimentos superlotados. Segundo os dados oficiais, há 27 alunos por turma no ensino fundamental (de 1ª a 8ª série). A relação só sobe nos três anos do ensino médio, para 37 alunos por turma – dentro da normalidade, portanto.
O autor do texto parece estar por dentro das estatísticas oficiais. Seria interessante ele visitar algumas escolas públicas aqui de SP para ver quantas ele consegue encontrar de fato com 27 alunos por turma no fundamental ou 37 por turma no ensino médio.
Hold the door! Hold the door! Ho the door! Ho d-door! Ho door! Hodoor! Hodor! Hodor! Hodor... Hodor...

Offline Alenônimo

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #12 Online: 11 de Fevereiro de 2008, 20:24:55 »
Não é correta, também, a idéia de que os professores trabalham em estabelecimentos superlotados. Segundo os dados oficiais, há 27 alunos por turma no ensino fundamental (de 1ª a 8ª série). A relação só sobe nos três anos do ensino médio, para 37 alunos por turma – dentro da normalidade, portanto.
O autor do texto parece estar por dentro das estatísticas oficiais. Seria interessante ele visitar algumas escolas públicas aqui de SP para ver quantas ele consegue encontrar de fato com 27 alunos por turma no fundamental ou 37 por turma no ensino médio.

Essa é a média na minha cidade.
“A ciência não explica tudo. A religião não explica nada.”

Offline Dbohr

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #13 Online: 12 de Fevereiro de 2008, 06:35:26 »
Não é correta, também, a idéia de que os professores trabalham em estabelecimentos superlotados. Segundo os dados oficiais, há 27 alunos por turma no ensino fundamental (de 1ª a 8ª série). A relação só sobe nos três anos do ensino médio, para 37 alunos por turma – dentro da normalidade, portanto.
O autor do texto parece estar por dentro das estatísticas oficiais. Seria interessante ele visitar algumas escolas públicas aqui de SP para ver quantas ele consegue encontrar de fato com 27 alunos por turma no fundamental ou 37 por turma no ensino médio.

Eu gostaria de saber qual é o desvio-padrão da média nacional. Especificamente, gostaria de conhecer as médias regionais - por exemplo, Grande Rio, Grande São Paulo, etc. e sempre com o desvio-padrão.

Se amparar na média nacional é um bom argumento, mas pode muito bem ser uma impostura intelectual. Os pobres dos números podem ser torturados e convencidos a apoiar qualquer tese.

Offline Dodo

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #14 Online: 12 de Fevereiro de 2008, 08:08:17 »
O Portal do MEC traz informaçoes sobre indicadores regionais e demográficos:

http://portal.mec.gov.br/option=content&task=view&id=9781

Olhem o que achei lá:

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Afinal, a escola faz parte do conjunto social em que está inserida e deve se comprometer, também, com seus projetos. Sem nunca esgotar-se em si mesma, a dimensão local pode ser uma dimensão importante do planejamento educacional, integrado a um projeto social comprometido com a melhoria da qualidade de vida de toda a população.

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discutir os limites do senso comum para explicar os fenômenos e, portanto, a necessidade de se realizar as investigações científicas, demarcando-se, por um lado, a importância e as motivações sociais do trabalho científico, suas dimensões históricas e implicações ético-políticas e, por outro, a distinção entre esse tipo de conhecimento e o cotidiano, sem perder as relações entre eles;

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Offline Caio1985

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #15 Online: 13 de Fevereiro de 2008, 15:28:04 »
Nada disso justifica um professor receber R$ 600,00 iniciais.

Um guardinha municipal (cargo que  chega a receber o dobro disso tendo como pré-requisito Ensino Fundamental em muitos municípios) recebe quase o dobro disso.

Difícil achar um cargo público que requer ensino médio ou fundamental e paga menos que isso.

É patético.

Antes de observar e escrever que professores reclamam por ganhar pouco, deviam observar e escrever sobre os salários supervalorizados do Judiciário, por exemplo. Lá um Escrevente (com Ensino Médio apenas), que está praticamente no piso do Judiciário, recebe mais que o topo da carreira de um professor, que é o cargo de Supervisor de Ensino.

rizk

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #16 Online: 13 de Fevereiro de 2008, 16:57:59 »
Antes de observar e escrever que professores reclamam por ganhar pouco, deviam observar e escrever sobre os salários supervalorizados do Judiciário, por exemplo. Lá um Escrevente (com Ensino Médio apenas), que está praticamente no piso do Judiciário, recebe mais que o topo da carreira de um professor, que é o cargo de Supervisor de Ensino.
Caso que é precisamente o meu e o motivo de eu nem mais PENSAR em lecionar.

Agora, não me parece "supervalorizado" - é um salário justo, com o qual é possível se sustentar. Pelo menos em São Paulo, porque no Rio eles ganham o dobro do que a gente aqui ganha. Professor é que vive na miséria, mesmo. Mas o assunto nem era esse, aliás.

Offline Dr. Manhattan

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #17 Online: 13 de Fevereiro de 2008, 17:11:28 »
É bom estarmos atento para falsas dicotomias: o problema não é reclamar que o professor ganha mal (ganha), mas é achar que
apenas melhorando-se o salário dos professores poderíamos melhorar a educação.

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discutir os limites do senso comum para explicar os fenômenos e, portanto, a necessidade de se realizar as investigações científicas, demarcando-se, por um lado, a importância e as motivações sociais do trabalho científico, suas dimensões históricas e implicações ético-políticas e, por outro, a distinção entre esse tipo de conhecimento e o cotidiano, sem perder as relações entre eles;
Sobre o negrito: porque tanta gente agora tem a mania de "inserir" a palavra social em todo canto? Eles por acaso nunca ouviram
falar de pesquisa pura? E curiosidade e interesse no funcionamento da natureza seriam por acaso motivos menos nobres do que uma
motivação social? Qual a motivação social de um paleontólogo? Ou de um astrônomo? De resto, concordo com o trecho, embora não saiba o
seu contexto.
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Re: A coitatização do professor
« Resposta #18 Online: 13 de Fevereiro de 2008, 21:04:43 »
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Segundo a última Sinopse Estatística do Ensino Superior, em 2005 havia 904.000 alunos matriculados em cursos da área de educação, ou o equivalente a 20% do total de alunos do país. É a área de estudo mais popular, deixando para trás gerenciamento e administração (704.000) e direito (565.000). Ademais, é uma área que só faz crescer: em 2001, eram 653.000 alunos – um aumento de quase 40% em apenas quatro anos.


o cara compara todos os cursos de eduação com cursos separados, faltam professores de física e química, por  exemplo, além disso quem faz estes cursos costumam ser os alunos mais fracos ou ruins que não conseguem passar em outros cursos, falo isso porque fiz história e só tinha gente lá que estavam lá por nao terem passado em Direito.

Offline Res Cogitans

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #19 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 09:58:22 »
Nos cursos de licenciatura não há aulas sobre como funciona a memória, quais as diferenças na resolução de problemas quando comparamos experts e leigos, os efeitos da motivação no desempenho.... praticamente todos os aspectos cientificamente relevantes para o ensino eu conheci fora do curso de licenciatura.
E não só isso. Pelo menos na licenciatura em física, reina a idéia de que não é preciso ou não se deve exigir tanto dos alunos de licenciatura quanto do bacharelado... o que faz com que a física de alguns cursos de licenciatura em física seja bem deficiente (onde eu faço, nem estrutura da matéria o cara precisa fazer pra se licenciar... é uma vergonha).

Este aspecto não parece ser tão relevante assim. É bastante claro o mestre deve saber mais que o aprendiz, mas a relação entre a sapiência do mestre e o desempenho do aluno não é linear. Tem algumas pesquisas feitas sobre pespecializações do professor do aluno e tem mostrado que elas são muito pouco efetivas. Depois eu tento achar algumas delas, ano passado foi divulgada uma do INEP neste sentido.
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Offline Dbohr

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #20 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 10:42:58 »
Não se trata de sapiência - mas de saber o que está por trás da Física que se ensina, mesmo.

Claro está que quem tem didática melhor é o melhor professor; mas tudo mais dando na mesma, o melhor professor é aquele que sabe mais Física.

Offline Thufir Hawat

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #21 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 11:03:01 »
Nos cursos de licenciatura não há aulas sobre como funciona a memória, quais as diferenças na resolução de problemas quando comparamos experts e leigos, os efeitos da motivação no desempenho.... praticamente todos os aspectos cientificamente relevantes para o ensino eu conheci fora do curso de licenciatura.
E não só isso. Pelo menos na licenciatura em física, reina a idéia de que não é preciso ou não se deve exigir tanto dos alunos de licenciatura quanto do bacharelado... o que faz com que a física de alguns cursos de licenciatura em física seja bem deficiente (onde eu faço, nem estrutura da matéria o cara precisa fazer pra se licenciar... é uma vergonha).

Este aspecto não parece ser tão relevante assim. É bastante claro o mestre deve saber mais que o aprendiz, mas a relação entre a sapiência do mestre e o desempenho do aluno não é linear. Tem algumas pesquisas feitas sobre pespecializações do professor do aluno e tem mostrado que elas são muito pouco efetivas. Depois eu tento achar algumas delas, ano passado foi divulgada uma do INEP neste sentido.
O Dbohr já colocou muito bem.

Só pra complementar, o que quis dizer é que tem muita gente saindo com o diploma de licenciado em física que não sabe patavinas de física. E o fato é que o professor de física tem que saber fisica.
Archimedes will be remembered when Aeschylus is forgotten, because languages die and mathematical ideas do not. "Immortality" may be a silly word, but probably a mathematician has the best chance of whatever it may mean.
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Re: A coitatização do professor
« Resposta #22 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 11:05:39 »
Sabe, quando muito, fazer conta. Mas não faz lá muita idéia do que essas contas significam.

E isso é tão ruim quanto aula de Física sem Matemática nenhuma ;-)

Offline Thufir Hawat

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Re: A coitatização do professor
« Resposta #23 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 11:11:09 »
Dbohr :'( ... boa parte dos meus colegas na licenciatura se embananam com equações do segundo grau :chorao: Imagina tentar aprender eletromag assim. Não dá!

E ainda se orgulham disso! De, como eles dizem, não serem "escravos dos números" e se concentrarem na "essência da física" :hmph:
Coisa que ouviram de pedabobo, sem dúvida.

E é uma universidade pública!
« Última modificação: 14 de Fevereiro de 2008, 11:14:33 por Thufir Hawat »
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Re: A coitatização do professor
« Resposta #24 Online: 14 de Fevereiro de 2008, 11:17:40 »
Definitivamente eu farei Licenciatura, e tratarei de ser impopular por ali. Oh, sim...  :twisted:

 

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