Autor Tópico: LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu  (Lida 5747 vezes)

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Offline JJ

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #50 Online: 15 de Fevereiro de 2018, 14:40:17 »
Quanto ao desemprego na França nem tudo pode ser atribuído as leis trabalhistas. Existem muitos trabalhadores não suficiente qualificados em um mercado muito competitivo, que requisita qualificação para muitos empregos. Apesar disso, com medicina e educação pública de qualidade, antes ser um desempregado na França recebendo auxilio desemprego, até se qualificar e ter um emprego razoável, ou bom, do que ter um subemprego nos EUA, no qual uma doença pode levar vc a mais absoluta miséria, vc e toda sua família. Como o estudo de Harvard que postei demonstra. 



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Quanto custa a saúde nos EUA



13/04/2014 by Luciana Misura 74 Comments


No caso do paciente com apendicite, o plano pagou 44 mil dólares e o paciente teve que arcar com 11 mil desse total de 55 mil. Na conta itemizada, você vê coisas como 7.500 dólares por 2 horas que ele passou na sala de recuperação. Mesmo tendo plano de saúde, ele teve que arcar com 20%, que não é um número muito fora do comum (segundo me informaram pessoas do depto de cobrança de um hospital aqui perto de casa, esse número pode chegar a 40%). Coloquei essa conta maluca no meu Facebook e choveram comentários, inclusive comentários muito importantes da Naluh, que conheço através desse mundo de blogs há muitos anos. Ela deu vários exemplos do tempo que trabalhava em hospital na Califórnia e do seu tratamento de câncer de mama nesse mesmo hospital onde trabalhou (hoje em dia ela mora no Brasil). Pedi autorização pra divulgar essa informação em um post aqui no blog e ela topou. Preparem-se, os valores são deixar qualquer um de cabelo em pé!


O depoimento da Naluh:


Você sabe que eu trabalhava em hospital, né? Eu que estava encarregada dos supplies do laboratório. Para ver como era, usávamos esparadrapo TRANSPORE genérico e saía por U$ 0,55 a unidade do de 1/2 inch. Na Amazon você pode comprar o da 3M, a marca mais cara do mercado, por U$ 0,63 a unidade. A gente acharia que os hospitais comprariam por melhor preço….


A MESMA quimioterapia que fiz, aqui no Brasil seria cobrado do meu seguro o valor de R$ 2.800 a R$ 3.200. Cada químio minha saiu por U$ 36.000 nos US!!!! E isso que parte da químio daqui é importada, até mesmo daí! TUDO, absolutamente TUDO em hospitais americanos é superfaturado! Gente, na boa, ir a um ER para levar 2 pontinhos na testa, utilizando o básico como meio litro de soro fisiológico para lavar a ferida, um pacotinho individual de iodo, 4 de gaze estéril, anestesia, seringa descartável, agulha e linha de sutura, esparadrapo ou band-aid e 2 comprimidos de paracetamol (se comprarmos o material em qualquer farmácia sai por menos de R$ 50,00), sai pelo valor MÍNIMO de U$ 8.000,00 na Califórnia! Ah, e médicos, enfermeiras, assistentes, etc., de ER ganham por hora, e não por serviço, então nesse valor você pode incluir 2 horas de trabalho do médico, da enfermeira, da register, deve dar uns U$ 500,00 por alto!


Eu ainda estou pagando meus 20% do meu tratamento (de câncer). Uma das cirurgias custou U$ 58.000 SÓ a cirurgia, sem contar pre e pós-operatório, quarto e gasto durante internação. Total de 8 cirurgias. 4 químios (U$ 144.000). Fisioterapia. Dermatologista. Psiquiatra (por reações a medicamentos). Consultas. Oncologistas. Cirurgiões. Tomografias. Ressonâncias. PET scan. Ultra-sonografias. Biópsias. Exames de sangue aos milhões!! A minha sorte é que eu trabalhava no grupo onde fiz o tratamento, então aceitaram que eu pague essa conta em suaves prestações! Essa sina começou em julho de 2009 e ainda pago por ela!


O plano de saúde era o melhor PPO que se pode ter (Nota: PPO é um tipo de plano, a Naluh explica abaixo)! Mas como tive a sorte de poder negociar, pago pouquinho por mês, assim não dói no bolso. Depois que entrei para o grupo SOS – Breast Cancer, Sacramento aí que vi como eu tive sorte!!! Pude desfrutar de um serviço excelente porque eu tinha “pistolão”! Ainda sou membro do conselho do grupo e o que mais fazemos é arrecadar fundos para ajudar pacientes a ter o tratamento necessário já que muitos seguros NEGAM partes imprescindíveis do tratamento, como fisioterapia, PET scan, exame genético, acompanhamento psicológico, etc.


Muita gente não entende não existir saúde pública nos USA. Mas é isso mesmo, gente, NÃO EXISTE! Niente! Kaput! Zero! Se não tem para pagar, morre! E para seguro saúde, as opções são basicamente duas: HMO e PPO. HMO designam a você um médico clínico geral (Family Practice) a quem você vai recorrer primeiro SEMPRE, exceto em urgências ou pronto socorro. E este médico que dará indicação para qualquer outro especialista se ELE achar que você precisa. Paga-se menos por este seguro, mas tem muitas limitações. PPO é tipo um livre escolha. Se você for a um médico, clínica ou hospital credenciado pela sua seguradora, você paga entre 10 a 30% de tudo, dependendo do seu plano. Se o médico, clínica ou hospital não é credenciado (livre escolha), você paga entre 30 a 50% do valor OUT OF POCKET (do seu bolso), como chamam.


Há algumas semanas estava circulando na internet uma conta de apendicite de um paciente jovem aqui nos EUA que escandalizou muita gente. Com toda a razão: uma cirurgia de apêndice, que é uma cirurgia das mais comuns, custou a bagatela de 55 mil dólares. Como volta e meia chegam uns emails no blog perguntando se a saúde nos Estados Unidos é muito cara mesmo, quão cara, achei que era um bom exemplo pra mostar o nível de exagero. Vou tentar mostrar com alguns exemplos quanto custa a saúde nos EUA.


Meu out of pocket era de 6.000 (Nota: esse é o valor limite que o paciente gasta do próprio bolso por ano, depois que o paciente gasta esse valor, teoricamente o plano passa a cobrir 100%). Mas coloca esse valor vezes 3 por causa das coisas que o PPO não quis cobrir, mais outros gastos que duplicam em momentos de tratamento de saúde como o câncer e ter ficado impossibilitada de trabalhar (trabalhava em microbiologia e direto com pacientes e tive que parar pelo risco imunológico!). Fiquei com uns 50,000 de dívidas médicas, Lu. Quando voltei para o Brasil, isso estava pela metade. Hoje pago $100 por mês, sem juros! E isso que EU TINHA PISTOLÃO!!


É chocante. Como falei nos comentários: nem pense em vir pros EUA a passeio sem plano de saúde. Ninguém está livre de uma apendicite, só pra ficar no exemplo do início do post. A causa número 1 de ruína financeira de pessoas físicas nos EUA é…saúde. A pessoa pode estar muito bem de vida, aparece um câncer, e aí começam os problemas pra conseguir dinheiro pra pagar tudo o que os planos não cobrem. Não é raro que as pessoas tenham que vender carros e casas pra pagar contas médicas, que são o maior motivo dos pedidos de falência no país.


Em um exemplo mais corriqueiro: eu e o Eric fomos a um otorrino há um mês. As nossas consultas (juntos) mais os dois exames que eles fizeram no consultório mesmo, durante a consulta (um raio-X facial no Eric pra ver as vias nasais e um exame com uma câmera pra ver as minhas cordas vocais por menos de 30 segundos), totalizaram 800 dólares. Quando mostrei meu espanto pra menina da cobrança, ela me disse que custou isso porque eu tenho plano de saúde, se não tivesse seria mais caro!


Novidade (15-04-2014): vou ter que fazer uma endoscopia essa semana, vai custar o singelo valor de $1.496 dólares, eu vou pagar 20% dessa brincadeira. E isso porque eu tenho plano de saúde, e esse valor é limitado pelo plano. Se não tivesse seria mais caro.


Escrevi um post explicando detalhes de funcionamento dos planos de saúde por aqui, o que são as siglas que deixam todo mundo doido quando tem que escolher e usar um plano pela primeira vez: Planos de saúde nos EUA: entenda como funcionam. Já falei porque não gosto do sistema de saúde americano antes, saúde por aqui definitivamente não é direito de todos.


Atenção: algumas pessoas perguntaram “e quem vai a passeio, como faz”. Pra quem vai viajar pros EUA a passeio, eu vendo (e recomendo) o seguro-saúde e de viagem Worldnomads.com, que deixa você escolher cobertura ilimitada ou de valores muito acima do que a maioria dos seguros-saúde por aí costuma oferecer.


http://luciana.misura.org/2014/04/13/quanto-custa-a-saude-nos-eua/



« Última modificação: 15 de Fevereiro de 2018, 14:59:02 por JJ »

Offline JJ

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #51 Online: 16 de Fevereiro de 2018, 08:20:41 »

Muita gente usa os Estados Unidos como exemplo de país com eficiência e baixos preços (por exemplo automóveis que podem ser , por exemplo, 40% do preço de um mesmo modelo aqui no Brasil), mas ou são ignorantes e não sabem, ou são ardilosos e escondem que a medicina lá tem preços que podem chegar a 3600% maiores ou até mais !

 

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« Última modificação: 16 de Fevereiro de 2018, 08:51:18 por JJ »

Offline -Huxley-

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #52 Online: 16 de Fevereiro de 2018, 10:12:42 »

Muita gente usa os Estados Unidos como exemplo de país com eficiência e baixos preços (por exemplo automóveis que podem ser , por exemplo, 40% do preço de um mesmo modelo aqui no Brasil), mas ou são ignorantes e não sabem, ou são ardilosos e escondem que a medicina lá tem preços que podem chegar a 3600% maiores ou até mais !

 

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Seu argumento não é muito diferente dos que dizem que os EUA foram um Estado totalitário na esfera econômica no século XVIII/XIX por causa dos altos impostos de importação. Analogamente, um taxista em uma cidade com ótimo trânsito sempre pode dizer que há trânsito pesado que justifique o alto preço de sua corrida desde que sempre busque o caminho otimizado para extorquir o passageiro.

Sobre os preços altos da medicina nos EUA, isso é o que o socialismo faz. O setor de saúde nos EUA é um setor altamente cartelizado e regulamentado, o que restringe a oferta - há socialismo aristocrático liderado pelo exército de lobistas das grandes corporações-, sem falar nas ineficiências geradas pelo lado da demanda incentivadas pelo governo, que já expliquei no tópico do SUS.
« Última modificação: 16 de Fevereiro de 2018, 10:20:26 por -Huxley- »

Offline JJ

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #53 Online: 16 de Fevereiro de 2018, 10:19:24 »

Sobre os preços altos da medicina nos EUA, isso é o que o socialismo faz. O setor de saúde nos EUA é um setor altamente cartelizado e regulamentado, o que restringe a oferta - há socialismo aristocrático liderado pelo exército de lobistas das grandes corporações-, sem falar nas ineficiências geradas pelo lado da demanda incentivadas pelo governo, que já expliquei no tópico do SUS.


Eu  tinha isso mesmo como hipótese: "setor altamente cartelizado e regulamentado, o que restringe a oferta ",  mas,  não me parece adequado chamar isso de socialismo. 


« Última modificação: 16 de Fevereiro de 2018, 10:24:26 por JJ »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #54 Online: 16 de Fevereiro de 2018, 14:17:06 »
Com essa flexibilidade no uso de "socialismo", pode-se até defender a alternativa que se considerar a ideal, seja puro laissez faire ou o nível de intervenções econômicas no sistema de saúde cingapurano, como também "socialismo". Qualquer coisa, é só adjetivar. Socialismo cingapurano, socialismo de iniciativa privada.

No caso do Obamacare, socialismo promovido pela Heritage Foundation!


Offline Gauss

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #55 Online: 16 de Fevereiro de 2018, 21:49:46 »

Sobre os preços altos da medicina nos EUA, isso é o que o socialismo faz. O setor de saúde nos EUA é um setor altamente cartelizado e regulamentado, o que restringe a oferta - há socialismo aristocrático liderado pelo exército de lobistas das grandes corporações-, sem falar nas ineficiências geradas pelo lado da demanda incentivadas pelo governo, que já expliquei no tópico do SUS.


Eu  tinha isso mesmo como hipótese: "setor altamente cartelizado e regulamentado, o que restringe a oferta ",  mas,  não me parece adequado chamar isso de socialismo.
Acho que o termo correto seria "Capitalismo de Compadrio". Não caberia usar isso para "desmascarar" o Liberalismo, visto que o setor de saúde americano não vive um pleno livre-mercado.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline -Huxley-

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #56 Online: 17 de Fevereiro de 2018, 02:12:17 »
Capitalismo e socialismo... Esses conceitos se misturam e muitas pessoas nem se dão conta.

No socialismo, mesmo o soviético, também houve iniciativa privada. O mercado negro capitalista, sobretudo o escambo, era muito desenvolvido na União Soviética. Ademais, também houve excedente capitalista e acumulação capitalista por meio de empresas estatais no período do "milagre soviético". Antes disso, a Nova Política Econômica de Lênin foi um capitalismo de compadrio com certa liberdade econômica, que existiu até o ideólogo socialista morrer. No período stalinista, os burgueses eram os membros privilegiados do partidão. E algo análogo a "burguesia de Estado" existe nos países capitalistas atuais e eles são os plutocratas desses países.

Na socialista Venezuela chavista, a relação carga tributária/PIB foi de 25% em 2012, menor do que a dos EUA no mesmo ano (Fonte: Wikipédia e Heritage Foundation). Isso só mostra o quanto a regulamentação e a interferência no fluxo de mercadoria, capital e trabalho criam um inferno socialista sem precisar de tanta estatização dos meios de produção.
« Última modificação: 17 de Fevereiro de 2018, 02:20:23 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #57 Online: 18 de Fevereiro de 2018, 00:11:58 »
Muito bem explicado, camarada Huxley. Nem mesmo o socialismo está sempre 100% livre dos males do livre-mercado. Ou do conservadorismo, que também adentrou no socialismo soviético, fazendo do mesmo, portanto, um regime de extrema-direita.

Stalin, Lenin, e mesmo Marx, defenderam o livre-mercado em diversos momentos. Enfatizaram que os salários não podem ser iguais, pagos de acordo com a "necessidade", mesmo havendo sendo extintas as classes, contrapondo-se ao igualitarianismo, não defendendo-o. Alegaram que apenas quando se concretizasse o comunismo (que "convenientemente" nunca foi implementado) isso seria possível, não no socialismo, ou, como alguns preferem chamar a fim de evitar a confusão referida, capitalismo de estado. Tal como todo capitalismo que não é praticado em anarquias, então.

E apesar dos direitistas cada vez mais repetirem aquilo que ouviram falar sobre "marxismo cultural" e a destruição da família, a verdade é que Stalin não só protegeu a família como a incentivou, premiando a quem tivesse grandes famílias, proibindo o aborto, dificultando divórcios, e até conferindo medalhas a mulheres por sua função de mães.






E isso por sua vez se liga ao capitalismo/socialismo, já que a tendência é baratear a mão de obra, como alertaram socialistas como John Stuart Mill e Thomas Robert Maltus.

Offline JJ

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #58 Online: 18 de Fevereiro de 2018, 05:53:25 »
Na socialista Venezuela chavista, a relação carga tributária/PIB foi de 25% em 2012, menor do que a dos EUA no mesmo ano (Fonte: Wikipédia e Heritage Foundation). Isso só mostra o quanto a regulamentação e a interferência no fluxo de mercadoria, capital e trabalho criam um inferno socialista sem precisar de tanta estatização dos meios de produção.


Sim, muita regulamentação pode ter efeitos mais nocivos do que alguns pontos percentuais a mais de carga tributária. Pois, quanto maior a regulamentação, maior serão as dificuldade, os custos e os riscos para empreender, podendo até mesmo chegar ao ponto  de que quase ninguém queira empreender naquela área excessivamente regulamentada (só quem eventualmente tenha amigos no governo para vender facilidades, e que também tenha dinheiro para comprar estas facilidades). 


A tendência é que quanto menor a liberdade para se empreender em alguma área, maiores serão os custos e  menor será o incentivo para fazê-lo. E maior será a possibilidade de que haja poucos concorrentes. E por fim, maiores serão os preços dos produtos e/ou serviços  ofertados.






« Última modificação: 18 de Fevereiro de 2018, 05:59:58 por JJ »

Offline JJ

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #59 Online: 18 de Fevereiro de 2018, 06:04:42 »

Sobre os preços altos da medicina nos EUA, isso é o que o socialismo faz. O setor de saúde nos EUA é um setor altamente cartelizado e regulamentado, o que restringe a oferta - há socialismo aristocrático liderado pelo exército de lobistas das grandes corporações-, sem falar nas ineficiências geradas pelo lado da demanda incentivadas pelo governo, que já expliquei no tópico do SUS.


Eu  tinha isso mesmo como hipótese: "setor altamente cartelizado e regulamentado, o que restringe a oferta ",  mas,  não me parece adequado chamar isso de socialismo.
Acho que o termo correto seria "Capitalismo de Compadrio". Não caberia usar isso para "desmascarar" o Liberalismo, visto que o setor de saúde americano não vive um pleno livre-mercado.


Concordo, que  "não caberia usar isso para "desmascarar" o Liberalismo, visto que o setor de saúde americano não vive um pleno livre-mercado", na verdade parece estar muito longe disso, e sim ser  uma área excessivamente regulamentada. Daí que devem  haver custos muito grandes que inibem  o aumento da concorrência.


 

Offline JJ

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #60 Online: 12 de Junho de 2018, 08:31:59 »
12 MOTIVOS PELOS QUAIS NOSSOS LIBERAIS ESTÃO MAIS PARA CONSERVADORES


No Brasil o jurássico liberalismo voltou a ser moda, mas não se deixe enganar: a maioria daqueles que usam essa "nova" roupagem é para esconder algo muito mais antigo: o seu conservadorismo.


POLÍTICAHIPERLISTAS


Por Luan Toja  Em 25 de jan de 2017  Última Atualização 29 de ago de 2017



 
Nos anos 2000, a estabilidade econômica viabilizada por um governo de esquerda fez o discurso liberal perder força nas terras tupiniquins. Os adeptos desse proselitismo precisaram aguardar o término do mandato de Lula à frente da presidência do Brasil para tentarem aproveitar a lacuna deixada pela saída de um grande líder popular e voltarem a buscar espaço no cenário político nacional. Essa oportunidade veio quando Dilma Rousseff assumiu o comando do país. E a direita, obviamente, não deixaria passar.


 
Explorando ao fundo a oportunidade de fazer oposição a uma presidente considerada keynesiana e com bem menos prestígio e bagagem que seu antecessor, o discurso neoliberal travestido com uma nova “roupagem”, de fato, acabou ecoando pelos quatro cantos do país. No entanto, ao analisarmos com calma os principais expoentes propagadores dessa ideologia, percebemos que de liberal eles não têm quase nada, pois alguns think tanks nacionais (autointitulados “liberais”) parecem desconhecer que o liberalismo se baseia na defesa da liberdade contra a intervenção estatal na vida do indivíduo. Saiba agora porquê.


1 – São contra o direito ao aborto


Não me esquarteje, aspire, estoure o cérebro, triture e/ou me mate com um veneno.


Posted by ILISP – Instituto Liberal de São Paulo on Thursday, December 1, 2016


O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Instituto Liberal de São Paulo (ILISP) posicionaram-se contra o direito de abortar, imediatamente, após o STF, no ano passado, considerar que um caso específico de aborto realizado com três meses de gestação não é crime.


Decisão que descriminaliza aborto pode cair.


Posted by MBL – Movimento Brasil Livre on Tuesday, November 29, 2016


Além disso, o colunista da revista IstoÉ Rodrigo Constantino e o Instituto Liberal – instituição da qual é presidente – também sempre fizeram questão de deixar bem claro suas posições favoráveis à proibição do aborto.


Aborto não pode ser dividido de forma simplista entre “liberais” e “conservadores”



2 – Não se posicionam a favor da legalização das drogas



Fundado em 2011, o Partido Novo é o primeiro partido de viés claramente “liberal” criado no Brasil desde a extinção da velha União Democrática Nacional (UDN). Mas, segundo João Dionisio Amoêdo, presidente e idealizador do partido, nas questões comportamentais, como o aborto e a liberação da maconha, o Novo prefere não se posicionar. Certa vez, chegou até a dizer que é muito bem vinda em seu partido qualquer pessoa que apoia as bandeiras econômicas do Novo, independente de seu posicionamento pró ou contra aborto ou drogas.



3 – Apoiam o autoritarismo estatal



Rodrigo Constantino e seu Instituto Liberal também são defensores explícitos de regimes militares sob a justificativa de que eles evitaram “ditaduras comunistas”. Defesa, que na verdade, não passa de uma sociopatia e um medo exacerbado pela perda de privilégios que as reformas de base de João Goulart e Salvador Allende poderiam acarretar. Reformas estas que inclusive já foram feitas pelos países mais desenvolvidos do globo.


Ademais, mesmo que a implantação de outra tirania realmente estivesse em curso no Brasil e no Chile, jamais um liberal defenderia uma ditadura para evitar outra. Pra citar um liberal, Benjamin Franklin dizia assim: “aqueles que sacrificam sua liberdade em troca de segurança não terão, nem merecem ter, qualquer uma das duas”.


Ainda: com o AI-5 – o pior momento da ditadura – a PM passou a servir como braço auxiliar do Exército em sua política de repressão. Tal violência indiscriminada empregada pela instituição, sobretudo em áreas mais pobres, é herança desse período. Curiosamente, essa postura ostensiva perpetrada até os dias atuais conta com o apoio do MBL e de Rodrigo Constantino.





4 – Apoiam projetos de censura como os do “Escola Sem Partido”



Os primeiros Projetos de Lei baseados no movimento “Escola Sem Partido” foram elaborados em conversas dos irmãos ultraconservadores Bolsonaro, Flávio e Carlos (atualmente ambos no PSC) com Miguel Nagib e propostos em 2014.


Atualmente 11 PL’s tramitam em âmbitos estaduais (um já aprovado em Alagoas), diversos em municípios e há, também, em escala federal, um proposto em 2015 pelo deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), que já teve parecer favorável na comissão permanente da câmara dos deputados. Em abril do ano passado, a Assembleia Legislativa de Alagoas derrubou o veto do governador e aprovou o PL que proíbe os docentes de emitirem opinião em sala de aula, proposta similar a que tramita na câmara dos deputados.


Na prática esses projetos propõem uma educação descolada da sociedade. O professor deixa de debater temas delicados e se presta apenas a transmitir o conteúdo didático de forma mecânica e automatizada, sem trazer reflexão e análise destes para formação dos alunos como cidadãos. Além disso, estabelecem que temas como gênero, política, homofobia, machismo, raça, religião e notícias de jornal sejam proibidas em sala de aula, isto é, tudo que envolve o aluno para além da classe não pode ser debatido, pois, de acordo com a proposta, cabe à família a exclusividade da formação crítica social desses temas. E o pior é que há movimentos e sites, que se dizem defensores da liberdade, apoiando esses projetos.


E ainda tem gente que é contra o Escola Sem Partido…





5 – Apoiam Trump



O presidente estadunidense Donald Trump elegeu-se ostentando posições extremamente protecionistas e antiglobalização, bandeiras estas totalmente contrárias ao liberalismo. Seu discurso de ódio, no entanto, fez saltar a veia conservadora de alguns de nossos “liberais”, como Kim Kataguiri e Rodrigo Constantino, que demonstraram apoio a um republicano preconceituoso, homofóbico, racista, xenofóbico e machista.


http://rodrigoconstantino.com/artigos/5-razoes-para-votar-em-trump/


DEBATE! O tema agora é eleições americanas!De um lado, Fernando Holiday, Pedro D'Eyrot e Renato Battista defendem…


Posted by MBL – Movimento Brasil Livre on Monday, November 7, 2016


6 – Apoiaram Crivella


No segundo turno das últimas eleições municipais do Rio de Janeiro, a disputa ficou entre Marcelo Freixo, candidato que defende causas libertárias como as legalizações do aborto e das drogas, e Marcelo Crivella, bispo de uma igreja ultrafundamentalista, contrário a todas essas pautas, que já atacou a homossexualidade, classificando-a como um “terrível mal” e certa vez declarou que as mulheres devem ser submissas aos homens. Mas por incrível que pareça, ainda assim, os nossos liberais optaram por ficar do lado do candidato da Igreja Universal, como vocês podem conferir nos links abaixo:


Hoje aconteceu o último debate dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro. De um lado um fundamentalista religioso…


Posted by ILISP – Instituto Liberal de São Paulo on Friday, October 28, 2016


Após diversos pedidos por inbox na página, destacamos nosso batalhão de operações especiais para evitar que falte papel…


Posted by MBL – Movimento Brasil Livre on Tuesday, October 11, 2016


7 – Defendem e apoiam a família Bolsonaro


Temos, sim, nossas diferenças. Mas não podemos JAMAIS nos calar diante de injustiças. Hoje, o deputado Jair Bolsonaro…


Posted by MBL – Movimento Brasil Livre on Tuesday, June 21, 2016


A família Bolsonaro é famosa por ser uma grande inimiga das liberdades individuais. Forte opositora de pautas como as legalizações do aborto e das drogas, também é, na atual cena política, a maior defensora da ditadura militar.


Porém, Rodrigo Constantino, “um liberal sem medo de polêmica”, como o mesmo se define, declarou voto e fez campanha para o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC-RJ) durante sua candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro, no ano passado. Já João Luiz Mauad, diretor do Instituto Liberal (o mesmo de Constantino), se declarou eleitor do pai de Flávio, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).


Quando o mesmo Jair Bolsonaro se tornou réu, no ano passado, em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF) por injúria e apologia ao crime de estupro por afirmar no plenário da Câmara dos Deputados, em 2014, que a também deputada federal Maria do Rosário (PT–RS) não deveria ser estuprada porque “não merecia”, a página do grupo MBL no Facebook, publicou um post dizendo que Bolsonaro “é vítima de fascismo censório em ação no STF”, assim como já havia feito Mário Guerreiro no site do Instituto Liberal.



Flávio Bolsonaro ao lado do coronel filiado ao PSL Pedro Chavarry Duarte, em duas ocasiões diferentes.
Também em 2016, o coronel reformado da Polícia Militar Pedro Chavarry Duarte, de 62 anos, que em 2014 concorreu a deputado federal pelo Partido Social Liberal (PSL), foi preso após ser encontrado em um carro com uma criança de 2 anos nua. Esse militar já foi flagrado não apenas uma, mas duas vezes ao lado do deputado estadual (PSC-RJ) Flávio Bolsonaro, o que revelou uma relação estreita entre os dois.


Se eleitores do Índio da Costa migrarem para Flavio Bolsonaro ele vai para o segundo turno



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http://rodrigoconstantino.com/artigos/votaria-em-bolsonaro-mas-nao-para-presidente-ou-cada-macaco-no-seu-galho/

Em defesa de Jair Bolsonaro



Congresso em Foco –  MBL defende Bolsonaro e diz que decisão sobre apologia ao estupro foi injusta


8 – São contra o movimento feminista


Feminismo é um conjunto de movimentos políticos, sociais, ideologias e filosofias que têm como objetivo comum: direitos equânimes (iguais) e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões opressores patriarcais, baseados em normas de gênero. O que querem as feministas é apenas colocar a mulher em igualdade de condições em relação aos homens (isso não significa serem contra os homens). E essa é uma postura extremamente liberal – tanto que um ramo do movimento feminista é o feminismo liberal.


Embora seja um movimento que sempre lutou pela liberdade das mulheres, ele não agrada muitos dos “liberais” que por aqui habitam, como pode ser checado abaixo nos links de textos de Rodrigo Constantino e de um post da página do MBL no Facebook, escrito por um dos coordenadores do grupo, que também exalta Jair Bolsonaro:


https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1839963839570127&id=1622682251298288


http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2012/03/nao-devemos-nada-ao-feminismo.html


Por que tantas mulheres agredidas continuam com seus agressores?



9 – São anti-igualitários


Rodrigo Constantino é defensor ferrenho da abolição do programa Bolsa Família, o qual chama de esmola estatal, pois o considera um estímulo à preguiça. No entanto, mesmo Friedrich Hayek e Milton Friedman, muitas vezes citados como os maiores partidários dos ideais liberais, não acreditavam nisso. Assim como os liberais clássicos que defendiam o imposto progressivo, eles também eram a favor de algum grau de intervenção estatal para garantir o bem-estar social. Hayek, por exemplo, disse o seguinte em sua autobiografia:


“Sempre afirmei ser favorável a uma renda mínima para cada pessoa no país. Não sou um anarquista. Não sugiro que um sistema competitivo possa funcionar sem um sistema legal efetivo e formulado inteligentemente”.


Do mesmo modo, Friedman propunha um imposto de renda negativo. Ao invés de cobrar impostos dos mais pobres, o Estado pagaria uma quantia a essas famílias. Opa, mas o bolsa-família não é uma medida anti-liberal, eleitoreira e que apenas sustenta vagabundo?


Em seu “Uma Teoria da Justiça” o filósofo liberal John Rawls chega a afirmar que não há justiça no fato de alguém ser “dotado pela natureza” com maiores capacidades e consequentemente conseguir maiores rendimentos. Esse seria um rendimento que não foi obtido pelo seu mérito, seria mais um “acaso da natureza” e que, portanto, não existiria muitos problemas em termos de justiça ou moral, na redistribuição da renda proveniente desse acaso ou mesmo ser contra a distribuição de tal renda com base nesses quesitos (aliás, pelo contrário, seria moral e justo redistribuir).


O MBL e os Institutos Liberal, Mises Brasil e Liberal de São Paulo também são contra ações afirmativas e cotas sociais e raciais. Mas segundo o pensamento liberal, para florescermos, basta podar as ervas daninhas, que cada um crescerá em sua singularidade preciosa. Portanto um liberal de verdade deve lutar para que a pobreza não seja uma externalidade que impedem os mais pobres de florescerem. É aí que políticas públicas desta natureza tornam-se necessárias. Pois uma vez que o liberalismo só pode existir onde as condições para competir são similares, para o liberal a igualdade é indispensável no ponto de partida, enquanto o socialista a considera importante no ponto de chegada.


http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2009/08/ainda-o-bolsa-familia.html


http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1732


https://www.facebook.com/institutoliberaldesaopaulo/posts/1844970092395135


http://rodrigoconstantino.com/artigos/cotas-raciais-a-segregacao-do-pais-como-legado-do-pt/


http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/505805-REPRESENTANTE-DO-MOVIMENTO-BRASIL-LIVRE-CRITICA-COTAS-DURANTE-COMISSAO-GERAL.html


10 – Defendem os “corporativistas”


Durante os governos Lula e Dilma o empresário Eike Batista foi um dos alvos preferidos dos conservadores que se autointitulam liberais. Segundo esses “liberais”, o Eike não era de fato um empresário, mas sim um representante do “capitalismo de compadrio” ou “corporativista”, por ter usufruído de empréstimos do BNDES.  O real objetivo era claro: deslegitimar a política externa dos governos petistas que tentavam promover os “campeões nacionais”, o que nada tinha de original, já que eles apenas tentavam imitar os países industrializados de capitalismo tardio, como é o caso da própria Coréia do Sul com suas chaebols, um país que esses “liberais” vivem citando como exemplo.



O empresário Marcelo Odebrecht foi outro que se tornou, aos olhos desses “liberais”, um corporativista, mais um que serviu para a narrativa de que no Brasil “não existe capitalismo de verdade” devido a relação promíscua entre o Capital e o Estado (o que ocorre em todos os países do mundo, é bom frisar). Nessa narrativa de capitalismo “puro”, idealizado, que existe apenas nos manuais do liberalismo teórico, a real intenção era tentar atingir os governos petistas.

Com a eleição de Doria na cidade de São Paulo, esse discurso, que está mais para a falácia do escocês de verdade, desapareceu da boca dos “liberais” tupiniquins. Pouco importa que Doria nasceu em berço de ouro e seja um herdeiro de senhores de engenho que exploraram trabalho escravo, típicos representantes  do nosso capitalismo oligárquico e “de compadrio” (genealogia da família Doria aqui).  Pouco importa que Doria seja um “empresário” que aumentou seu patrimônio usando o Estado, ou seja, um autêntico “corporativista”, que eles dizem condenar.



Para eles Doria é um homem bom, que apenas quer o bem de São Paulo, por ter “investido na própria campanha” e por ter dito que abrirá mão do seu salário de prefeito, o que eles chamariam de demagogia ou populismo caso fosse um  político de esquerda ou que eles consideram de esquerda. Um dos preceitos básicos que sustenta a ideologia liberal, o “homo economicus”, o maximizador racional, que age apenas visando seus próprios interesses, agora não serve mais para explicar o mundo, e tampouco as reais intenções do Doria no controle da máquina pública de uma metrópole. O ceticismo que dizem ter em relação aos políticos desapareceu. A suposta repulsa em relação ao “capitalismo de compadrio” se revela um teatro, cujos atores fazem cara de indignação em apenas determinados governos.

E vão além, se prestando a serem relações públicas praticamente oficiais de Doria em suas mídias e blogs, como fizeram os “liberais” subcelebridades de Facebook Rodrigo da Silva e Renata Barreto.

Não é coincidência que as melhores ideias de João Doria até aqui tenham sido justamente aquelas que não custaram nada…

Posted by Spotniks on Tuesday, January 24, 2017



11 – Pensam que a religião é um dos fundamentos do liberalismo



É bem verdade que o filósofo liberal John Locke defendeu a tolerância a partir do ideário cristão. Mas a posição dele era bastante curiosa: por exemplo, os católicos não deveriam ser tolerados, apenas os protestantes (!). Ateus, então, nem se fale: não eram sequer dignos de confiança. Mas é importante dar um desconto pro sujeito: foi um dos primeiros a escrever sobre a ideia de tolerância religiosa, no meio de uma guerra sangrenta entre católicos e protestantes, depois de viver a vida inteira em um mundo concebido religiosamente. E isso tudo em 1689.


Mas a posição lockeana foi depurada ao longo dos últimos 4 séculos de modo a conceber a tolerância religiosa e a separação entre igreja e Estado como princípios institucionais, não religiosos. Tanto é assim que o filósofo liberal John Rawls sustentou, em sua obra “O Liberalismo Político”, que o fundamento racional das instituições políticas deve ser independente em relação a fundamentações lastreadas em uma concepção de bem (o termo filosófico usado por ele para designar uma concepção filosófica ou religiosa de mundo).


Isso sem falar que o liberalismo é a crença de que o ser humano tem riquezas intrínsecas, únicas a cada indivíduo, que – se retirarmos os entraves externos (o que inclui a Igreja) – se desenvolvem ao máximo. Então não pode haver repressão por parte da Igreja, nem mesmo indução.


Contudo, no tocante à religião: Rodrigo Constantino sustenta que Estado laico não é Estado antirreligioso. E não é mesmo. Mas, para ele, retirar crucifixos de órgão público é sinal de antirreligiosidade. Não é; é sinal de que o Estado laico não abraça qualquer forma de religiosidade por tolerar todas, e preferir uma ou um conjunto de crenças em relação às outras seria um claro sinal de intolerância em relação a minorias. Por isso, aliás, a Suprema Corte dos Estados Unidos – aquele país onde fica a Miami adorada por Constantino – proíbe, em escolas públicas, orações públicas (Engel v. Vitale), ou que se leia a Bíblia (Abington School District v. Schempp), ou, ainda, que repartições públicas montem presépios (Allegheny County v. ACLU). Que país antirreligioso, esse, não?


Em maio do ano passado, o MBL, por sua vez, encontrou nas bancadas ruralistas e evangélicas (duas das mais conservadoras do país) seus principais aliados na luta pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo o movimento, esses comparsas estariam comprometidos com uma agenda mais liberal para o país (seja lá o que eles queriam dizer com isso).



Do estado laico ao antirreligioso



12 – São contra os direitos LGBT



Como já deve ser previsível a esta altura do texto, Rodrigo Constantino (sempre ele!) também é contra a criminalização da homofobia, o ensino de gênero nas escolas e o casamento homoafetivo. Já Fernando Holiday, um dos líderes do MBL, vereador eleito em São Paulo, se posicionou a favor da extinção das secretarias da prefeitura de São Paulo voltadas para a promoção da igualdade racial e também a que atende a população LGBT.


http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2011/05/ditadura-cor-de-rosa.html


A liberdade é indivisível. Ou: precisamos salvar o liberalismo dos pseudo-liberais



Vereador eleito em São Paulo, Fernando Holiday, defende fim de secretarias para negros e LGBTs



Conclusão


Diante de todas essas posições assumidas pelos “liberais brasileiros”, fica claro que eles fazem uma confusão entre anti-esquerdismo, anti-estatismo, conservadorismo, machismo, preconceito, autoritarismo moral e político com liberalismo, pois sempre quando lhes foi conveniente, esses pseudoliberais nunca hesitaram em basear suas convicções nos famigerados “valores morais e bons costumes”, além de defenderem Bolsonaros, militarismo, fundamentalismo, censura e até golpes de Estado.


Fica evidente que no Brasil, na maioria dos casos, o liberalismo, quando não é usado como pretexto por grupos que são pagos para ajudar a manter o status quo, não passa de uma máscara usada pelos conservadores numa tentativa de parecerem mais “descolados”, para assim seu discurso retrógrado ter mais aceitação, ao mesmo tempo que fica mais difícil de ser combatido pela confusão que cria. ♦


*Colaboração de Jorge Charon (item 10).


Leia também na Voyager:




https://spotniks.com/5-exemplos-de-como-a-doutrinacao-ideologica-atua-na-educacao-brasileira/




Offline JJ

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #61 Online: 12 de Junho de 2018, 09:08:01 »
CUIDADO COM QUEM SE DIZ “LIBERAL”: É GRANDE A CHANCE DE SER UMA FARSA



No Brasil o "liberal" é comumente antiliberal: conservador, machista, obscurantista, anti-intelectualista, apoiador de golpes de Estado.


SOCIEDADE IDEOLOGIA POLÍTICA

Por Claudio R. Duarte  Em 11 de nov de 2016 Última Atualização 8 de maio de 2018


 
O que é ser brasileiro? Como esta identidade foi construída? Quais elementos foram levados em conta nesta afirmação de uma identidade nacional? Que outros elementos histórico-sociais são excluídos desta identidade? E que armadilhas ideológicas essa noção de identidade nacional pode armazenar?


O texto busca as raízes dessa identidade – através de uma argumentação longa, cerrada, dialética – no pseudoliberalismo brasileiro construído desde a época colonial. De modo que as possíveis virtudes progressistas do modelo original europeu, que sempre foram ideologia também na Europa e nos EUA, aqui são mero discurso oco, que se invertem totalmente em seu contrário, escondendo tendências autoritárias, regressivas e criptofascistas, numa confusão absoluta de liberdade, dominação e impunidade.



Um certo esboço de identidade nacional foi se construindo nos momentos de choque de interesses entre a Metrópole portuguesa e os habitantes de sua Colônia na América. Para ser mais exato, no momento em que a elite de proprietários brasileiros e uma parte das camadas médias da Colônia se conceberam como uma nação espoliada pela Coroa portuguesa. Uma “nação” que poderia ter um destino diverso com base em leis próprias e num mercado interno. Os movimentos de afirmação nacional, que floresceram um pouco por toda parte, culminaram no Século XVIII “liberal”, na famosa Inconfidência Mineira, influenciada pelas experiências de emancipação nacional norte-americana e as revoluções burguesas na Europa.


Uma Grande Farsa



O Liberalismo no Brasil sempre foi, no entanto, uma grande farsa. Pois o que era ser brasileiro? Era ser um indivíduo moderno e liberal de fato? Questão embaraçosa. Não sabíamos de imediato como definir a nação, muito menos uma identidade nacional brasileira ou um indivíduo supostamente autônomo segundo as tradições do Centro Metropolitano. Seríamos de fato um povo formado e unificado, uma nação moderna como as constituídas na Europa ou na América do Norte com base na liberdade e na igualdade de todos perante a lei? Não, não éramos, pois mantivemos os princípios básicos da estrutura colonial: continuamos a ser uma ex-colônia formada essencialmente pelo trabalho escravo, mantendo todas as outras peças do modelo de colonização de exploração ou de plantations (latifúndio, exportação de produtos primários, acumulação hiperconcentrada na mão de oligarquias). Permanecemos como um puro mercado de tipo semicolonial ou uma simples economia dependente das potências hegemônicas, especialmente da Inglaterra e, mais tarde, dos Estados Unidos. Noutras palavras, em lugar de um povo a ser representado, tínhamos uma pequena elite que se representava como “a” nação civilizada e autônoma – ela mesma autoenganada nesta operação política porque continuava subalterna aos países hegemônicos.


 
O que resta do sujeito “liberal”: braços, coisas, extensões de um território dominado



Além disso, em termos de sociedade tínhamos menos um “povo” do que um conjunto de “braços”, os “braços da lavoura”, isto é, uma grande massa de homens convertidos em mão de obra escravizada, desumanizada, silenciada e vendida como “coisa” em praça pública, além de uma série de agregados e dependentes dos grandes proprietários e burocratas do Estado.


Em lugar de uma nação autônoma feita de “indivíduos”, éramos muito mais um mercado de escravos e de matérias-primas dominado pelos grandes proprietários, que se apossaram do Estado por meio da formação de oligarquias regionais. Uma elite numericamente pequena, autoritária e racista, de costas para a verdadeira “nação”, a qual era simbolicamente anulada ou tornada invisível, quando não reprimida, torturada e assassinada. Por isso aqui uma identidade liberal sempre foi um conto da carochinha, ou antes, um conto de zumbis.


Os geógrafos costumam dizer que fomos até hoje muito mais um território do que uma nação. Em vez da nação, construímos um Estado oligárquico e um território de exclusões. Um Estado de ideologia mais ou menos liberal, pois na prática conservador e capturado por interesses privados. O território nacional estava dividido em regiões fragmentadas, que mal se articulavam como país unificado.


Daí a violência estatal, várias vezes utilizada durante o Império, para destruir rebeliões provinciais e unificar à força uma nação praticamente inexistente. Na realidade, portanto, desde a origem fomos muito mais um espaço territorial em que se exerce um poder político e econômico centralizado do que uma sociedade, um conjunto de “indivíduos” que manteriam relações livres e autônomas.


Aqui, o direito liberal de propriedade privada se contradizia e se invertia no que ele é, em essência, também no Centro europeu e norte-americano: privação de liberdades para a massa popular, tida como “infantil”, “incapaz de ter voz” e “perigosa” pelos ideólogos liberais originais do centro, por isso mesmo destinada a ser pura massa de trabalho alienado. Sob a ótica das classes dominantes brasileiras isso convertia os próprios homens em parte de uma extensa realidade territorial a ser dominada:


“o país colonial, fruto de uma expansão que lhe é externa, nasce no bojo de uma concepção de território a conquistar, isto é, sob o signo da violência. Tal pecado de origem perpetua-se ao longo de nossa formação histórica. A imagem da terra a ocupar é bastante cara às classes dominantes, a população sendo vista como um instrumento desse processo. A visão do espaço a se ganhar é recorrente, do colonizador lusitano ao fazendeiro paulista que conquista as terras do Oeste. Para o primeiro, as populações nativas eram parte dessa natureza, dádivas do solo a serem exploradas (…). Para o segundo, o homem é apenas um instrumento a serviço da realização do produto local, o boi, ou a planta, ou o minério. (…) Assim vai sedimentando-se uma ótica, ao nível das classes dominantes, de claro conteúdo anti-humano, onde o país é identificado com o seu espaço, sendo a população um atributo dos lugares” (Antonio Carlos R. de MORAES, Ideologias Geográficas. São Paulo: Hucitec, 1988, p. 93-4).


A população como extensão e atributo dos lugares sob o domínio de potentados: mais ou menos uma zumbilândia liberal, em que as regras sociais foram suprimidas. O laboratório (neo)colonial revela a podridão da ideologia importada do centro: como um lugar onde anular e eliminar o outro não só é algo permitido, mas uma questão de arbítrio e oportunidade. Conforme as leis suspensas de um estado de exceção permanente.


E não é isso que revelar-se-ia hoje, novamente, também no centro: uma guerra social fratricida pelos recursos sociais e naturais que sobraram, a suspensão de direitos e garantias, enquanto a superacumulação de riqueza jaz nas mãos de oligopólios e monopólios gigantescos, mais ou menos “paralisada” pela crise do capitalismo global, guardada em paraísos fiscais e bolhas especulativas estratosféricas prestes a explodir?


Identidade perversa, eliminação do outro: o modelo casa-grande e senzala


É aqui que entra as virtualidades do nosso famoso modelo da “casa-grande e senzala”, atualizado pela urbanização gentrificada e o regime de condomínios das grandes metrópoles. Em sua origem, nossa identidade foi construída a partir desse modelo arcaico de dominação capitalista territorializada dos homens e da natureza.


Se há algo como uma “identidade brasileira” que perdura no tempo, então é desse modelo colonial que ela se origina. Modelo em que uns mandam, outros exclusivamente obedecem; uns concebem, outros fazem; uns falam, outros calam ou são calados; uns vivem, outros sobrevivem e morrem cedo, de cansaço ou doença; em suma, uns têm o poder e fazem as próprias leis, acima da legalidade municipal ou federal, outros praticamente são máquinas ou animais do trabalho, que servem e são utilizados ou até violentados fisicamente em todos os sentidos do termo. São um “nada” – ou só imaginam ser “algo” enquanto protegidos por um Senhor. Em suma, quando obtêm algum privilégio ou uma supremacia imaginária qualquer frente a outros subordinados e espoliados da vida.


É esse modelo de ocupação econômico-territorial que contribui para formar várias relações sociais ainda hoje predominantes, e junto delas uma certa mentalidade “liberal” nada liberal face a seu modelo ideológico original: um conjunto de usos e costumes conservadores e reacionários, toda uma cultura personalista e relacional que guarda as nossas heranças mais arcaicas e às vezes inconfessáveis, que chamamos, quase sempre com certa vergonha, “identidade brasileira”. Uma identidade histórica, contudo, que está em formação e em constante transformação.



Note-se que uma tal identidade, cindida em dois (casa-grande e senzala), é um processo violento e negativo, feito de dominação, identificação forçada e exclusão do outro, que parece muitas vezes perpassar todas as camadas sociais e todos os níveis da realidade brasileira. É por isso que pobres e ricos, a elite ou o povão podem participar de elementos ambíguos e conflituosos dessa identidade cindida, pois não se identificam exclusivamente com um ou com outro desses elementos. Ela pode constituir caracteres típicos que têm dentro de si tanto a casa-grande quanto a senzala.


Examinemos mais de perto essa personalidade dita “liberal”. Como proporá Machado de Assis, essa personagem é Brás Cubas, pois Brás é o Brasil, um senhor da elite escravista, que aceita e justifica o mundo como é, com todas as suas injustiças e imperfeições, mas vivendo-as com prazer e insensibilidade, descrevendo-as com as “tintas da galhofa e da melancolia”, preso ao sistema de seus privilégios. Brás é capaz de elogiar as leis ou o mercado, mas assim o faz elogiando as leis escravistas e o trato da mercadoria escravo feita por seu cunhado Cotrim nos porões sanguinolentos. Como dirá mais tarde Mário de Andrade, em Macunaíma, “o herói da nossa gente” é um “herói sem caráter”, vivendo entre os rincões e a urbe, sem definição. Ou como Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, cujo protagonista, Riobaldo, é um jagunço letrado, mais tarde latifundiário e chefe do bando de outros jagunços, vivendo num mundo de pactos diabólicos, um “mundo muito misturado”.


No Brasil, segundo Roberto Schwarz: “os homens pobres e livres, nem proprietários nem proletários, eram forçados a viver um tipo particular de privação e de semi-exclusão. (…) Forçando a nota, digamos que na falta da propriedade só a proteção salvava alguém de ser ninguém, mas sem torná-lo um igual, já que se ficava aquém das garantias gerais do direito” (A viravolta machadiana, 2004).


Identidade perversa com o poder: a identificação com o agressor


Que identidade de homem livre poderíamos forjar sem distorcer completamente o conceito de liberdade? Um senhor de escravos é livre para violar a liberdade e a vida alheia. E um ex-escravo é “livre” apenas como uma piada de mau gosto. Daí a identificação do brasileiro com os seus próprios dominadores – que Freud explicaria com seu conceito chave para a formação do superego: identificação direta com os agressores, os donos do poder.


Como dirá José Antonio Pasta, no Brasil, a identidade dos sujeitos será contraditória e rarefeita, pois está sempre desaparecendo: “O outro é o mesmo ou, simplesmente invertendo, o mesmo é o outro” – eis a chave da nossa falta de caráter e de identidade, ou de nossa identidade vertiginosa e carnavalesca. As pessoas, como as personagens dos romances aludidos “são elas mesmas sendo igualmente o outro que lhes faz face, de modo que se pode dizer que elas se formam passando no seu outro: elas vêm a ser tornando-se o outro” (PASTA, Volubilidade e ideia fixa, 1999). O que faz a nossa identidade nacional ser a nossa falta de identidade mesma, a nossa metamorfose ambulante em torno de estruturas patriarcais e familistas. O que dá constantemente no giro de 180º de certos indivíduos ditos “liberais” no mais puro reacionarismo, elitismo, preconceito e autoritarismo, por pura “identificação com o agressor”. E como este último é um dono de terras ou cargos, trata-se de uma identificação direta com o poder territorial, em que o outro será reduzido à pura coisa, à natureza, ao espaço.


Verde, amarela e azul: os símbolos nacionais de uma identidade violenta


Vejamos agora no detalhe quais são esses elementos singulares formadores de nossa identidade volúvel e autoritária, tal como intuída artisticamente por tais romancistas e por uma série de cientistas sociais brasileiros ao longo do tempo (Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Paulo Prado, Caio Prado Jr., Celso Furtado, Raymundo Faoro, Florestan Fernandes, Antonio Candido, Roberto Schwarz, José Antonio Pasta, Paulo Emílio Salles Gomes, Darcy Ribeiro, Milton Santos). Partamos dos símbolos mais famosos dessa identidade nacional. Será por acaso que nossa bandeira verde-amarela seja constituída pelas cores da família real portuguesa? E que mais tarde tais cores sejam associadas aos elementos da natureza, ou seja, ao território a ser conquistado pelos “donos do poder” (o verde das matas, o amarelo das riquezas minerais, o azul do céu tropical), e que assim deixe-se de lado qualquer noção positiva de sociedade ou de povo que se constitui como nação soberana?


Será por acaso que outros elementos da identidade brasileira sejam associados a coisas desse mesmo naipe naturalista: as mulheres bonitas e sensuais, os corpos expostos ao sol, as matas tropicais, as frutas, o café, o futebol, o samba e o carnaval, o índio, as belas paisagens? É daqui que o imaginário arcadista e depois romântico irá tirar todo o seu imaginário e todos os seus mitos de origem: a ideia de um país paradisíaco, de uma terra abençoada, de um povo nativo ingênuo e cordial, alegre e romântico etc. Um biombo por trás do qual se abria a terra arrasada do escravismo colonial.


O liberalismo “realmente existente” no Brasil: a canalhice liberal sem limites


Por outro lado, quando elementos propriamente sociais são resgatados para formar o cadinho da identidade nacional, temos sempre algo que lembra as raízes territoriais criadas por esse modelo do latifúndio colonial, que formaram também a cidade e o urbano no Brasil: a perversão do senso moral, a falta de escrúpulos e de valores éticos, a malandragem, o jeitinho, a personalização das relações sociais, o clientelismo e a troca de favores, a busca da intimidade e da boa relação com os poderosos, a ética da aventura, o imediatismo, a imprevidência e a falta de projetos, a inconstância dos desejos, a afetividade desabrida ou muito expressiva, a cordialidade que se transmuta em impulsos agressivos, a crueldade, a imitação, a cobiça irrefreável, a ambição de riqueza e mando, a falta de solidariedade grupal ou de confiança em regras impessoais, a preguiça, a rebeldia e a indisciplina, o gosto pelo luxo, a ostentação e o conforto sem o trabalho árduo ou com um mínimo de esforço, o fatalismo, o imobilismo, os ciclos de euforia maníaca e tristeza melancólica, os preconceitos aristocráticos e o racismo escondido ou inconfessável, o prazer do discurso retórico e vazio, a fuga da realidade em devaneios e alucinações narcísicas, o alinhamento irrefletido à opinião média ou dominante, a impossibilidade de manter a palavra empenhada, a contínua ruptura do pacto social, a cultura do golpe de estado, o individualismo crasso. Um conjunto de traços modernos – completamente funcionais ao capitalismo mais avançado – que identificam liberalismo, falta de limites, canalhice intelectual e moral, compulsão à repetição e ao automatismo.


Tais traços contêm em si o mundo da casa-grande e senzala redivivos até hoje. Nem todos são totalmente originários daí, mas se modificaram com a urbanização. Observe-se no entanto a ausência de identificações de classe nessa formação de identidade brasileira (dominantes/dominados ou exploradores/explorados). Ao contrário, o brasileiro aparece como a pessoa isolada que não pode confiar em nada e ninguém. O Estado, a empresa, o sindicato, os grupos políticos aparecem como uma ameaça absoluta de exploração ou perda em autodeterminação. Daí o asco que nossos “liberais” têm de toda associação civil ou movimento social de base efetivamente democrática e popular. Outros elementos citados acima foram combinados aos modos capitalistas mais modernos de exploração e dominação por serem úteis ao seu funcionamento. Não são “resquícios” de um passado superado, mas elementos que são recriados pelo sistema atual. Alguns estão em desaparecimento, outros tornaram-se estereótipos que dificilmente encontram-se na realidade tal como descritos; outros ainda mantêm-se totalmente alterados, camuflados ou estão em processo de superação, junto com a sociedade que as originou, que, afinal, se industrializou e se globalizou através do mercado mundial e das pressões civilizatórias, através do pertencimento à comunidade das nações.


O liberalismo autoritário: a luta de morte contra os direitos do cidadão e o ódio à política


Mas, em geral, é preciso sublinhar que tais elementos naturais e sociais ajudaram a construir uma cultura ainda hoje profundamente autoritária, que despreza ou não leva a sério valores modernos como igualdade, liberdade, solidariedade, democracia, autonomia, respeito ao outro e tolerância ao diverso, a busca da superação e o progresso coletivos – o que implicaria em um projeto político ao nível do Estado moderno –, ou seja, a abertura à história e à transformação histórica. Daí o ódio à política e ao Estado que nossos liberais conservadores e ultraprivatistas nutrem, pois se imaginam ainda hoje “roubados” pela interferência do poder público sobre o seu “latifúndio” e a sua “escravaria”. O mundo se restringe à sua casa e à sua empresa. Amam as suas prerrogativas etnocêntricas de classe, cor e gênero, e lutam pelo extermínio real e simbólico do que difere disso.


No Brasil, liberais são comumente antiliberais: conservadores, machistas, obscurantistas, anti-intelectualistas, apoiadores de golpes de Estado. Continuamos a admitir a democracia da porteira para fora, “pra inglês ver”, mas nunca da porteira para dentro. Não é por acaso que temos milhares de trabalhadores escravos e semiescravos ainda hoje. Ou que a polícia torture e mate impunemente como em nenhum outro país. Que a política de cotas e bolsas seja execrada por uma parte reacionária e imbecilizada das camadas médias. Que a legislação ambiental exista e até seja rigorosa, mas a fiscalização e as multas as mais leves possíveis. Ou que a corrupção e a sonegação atinjam níveis ionosféricos e fiquem impunes caso venham da elite tradicional e conservadora.


Noutras palavras, o que temos é o nosso liberalismo perverso e inconsciente: as leis do trabalho, do ambiente e a justiça propriamente dita, para ficar em três campos essenciais, são e não são “liberais” e “modernos”, são e não são cumpridos, pois não passam de discurso ostentatório, puro formalismo vazio, mera ideologia de segunda mão. Daí o destino desse modelo: uma formação nacional abortada. Um país dependente, corrompido e arruinado que envergonha a própria classe dirigente mundo afora. O que nos distingue da ideologia liberal do Centro, que pode manter ainda uma aparência sólida, um conjunto mais ou menos consolidado de instituições, direitos e garantias sociais.


Na verdade, seria mais correto dizer que hoje o Brasil fornece-nos uma identidade híbrida e mutante, que mistura dois ou três registros: a) o registro dual de casa-grande e senzala, em que o rei ou os amigos do rei dão as cartas; b) o registro propriamente moderno, o do indivíduo liberal (conectado aos semelhantes por via do mercado e regulado pelas leis impessoais da Constituição), embora contaminado pelo primeiro registro da liberdade de dominar e explorar até o limite da impunidade; c) o registro de uma subjetividade crítica em formação (identidades pós-individualistas e pós-materialistas, móveis, abertas, incluindo as de classe etc.).


No entanto, o peso do passado permanece. Daí por que o Brasil é conhecido por uma série de modernizações conservadoras, que dificilmente alteram as estruturas fundamentais, mas apenas a quantidade de riqueza explorada e a parte do butim que cabe aos vencedores das classes possuidoras. Daí por que o grande sonho “liberal” de nossos jovens “empreendedores” seja destruir direitos sociais, ou leis, ou taxações que poderiam elevar o nível social ao de uma sociedade um pouco mais livre e igual. Em vez disso, prevalece a luta de morte num campo de zumbis do trabalho e da concorrência, que gozam de sua própria falta de vida, liberdade e conhecimento histórico. Uma ideologia de crise, reativa, de afirmação selvagem e violenta de si, amiúde sociopata. Nossos liberais, disse Paulo Emílio, são meros “aristocratas do nada”.


Sem ilusões, ao fim e ao cabo: essa identidade canalha e perversa de nossos liberais de meia pataca não é natural, não é um destino, pois pode ser socialmente superada. Mas isso não depende apenas da vontade e da ação de indivíduos isolados, mas de uma ampla transformação social, que ultrapasse também o seu modelo original, haja vista a crise global da sociedade capitalista dita “neoliberal”. Pois lá como cá, na falta da lei, corroída pelo turbocapitalismo da acumulação digital e flexível, a massa foge para o conservadorismo e “deseja” seus líderes autoritários e protofascistas (EUA, Grécia, Hungria, Ucrânia, Turquia, Egito, Tailândia, Filipinas, dentre outros exemplos proeminentes no mundo). Uma outra identidade, realmente plural e igualitária, só será atingida por meio de uma forte desidentificação com nossas origens nacionais e globais.


Ilustrações de Grayson Castro.



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Offline Euler1707

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #62 Online: 12 de Junho de 2018, 20:45:22 »
Por outro lado, quando elementos propriamente sociais são resgatados para formar o cadinho da identidade nacional, temos sempre algo que lembra as raízes territoriais criadas por esse modelo do latifúndio colonial, que formaram também a cidade e o urbano no Brasil: a perversão do senso moral, a falta de escrúpulos e de valores éticos, a malandragem, o jeitinho, a personalização das relações sociais, o clientelismo e a troca de favores, a busca da intimidade e da boa relação com os poderosos, a ética da aventura, o imediatismo, a imprevidência e a falta de projetos, a inconstância dos desejos, a afetividade desabrida ou muito expressiva, a cordialidade que se transmuta em impulsos agressivos, a crueldade, a imitação, a cobiça irrefreável, a ambição de riqueza e mando, a falta de solidariedade grupal ou de confiança em regras impessoais, a preguiça, a rebeldia e a indisciplina, o gosto pelo luxo, a ostentação e o conforto sem o trabalho árduo ou com um mínimo de esforço, o fatalismo, o imobilismo, os ciclos de euforia maníaca e tristeza melancólica, os preconceitos aristocráticos e o racismo escondido ou inconfessável, o prazer do discurso retórico e vazio, a fuga da realidade em devaneios e alucinações narcísicas, o alinhamento irrefletido à opinião média ou dominante, a impossibilidade de manter a palavra empenhada, a contínua ruptura do pacto social, a cultura do golpe de estado, o individualismo crasso. Um conjunto de traços modernos – completamente funcionais ao capitalismo mais avançado – que identificam liberalismo, falta de limites, canalhice intelectual e moral, compulsão à repetição e ao automatismo.

Esse cara é um gênio. Conseguiu sintetizar todos os problemas do Brasil numa só ideologia, que, coincidentemente, é também contrária aos valores comunistas dele. Uma verdadeira fonte de inspiração para quem não deve ter lido nem sequer um livro de Hayek, mas não deixa de fazer seus espantalhos pra atacar o que nem mesmo conhece.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:LIÇÕES DE LIBERALISMO Que os Liberais do Século XX não Aprenderam ou Fingiram qu
« Resposta #63 Online: 13 de Junho de 2018, 14:09:55 »
Seria curioso ser feito um "estudo" que conseguisse capturar quanto que adeptos ideologistas de uma escola econômica ou outra conhecem as alternativas que criticam "da fonte", em vez de apenas de segunda mão.

Acho que deve ser algo consideravelmente raro, especialmente fora do meio acadêmico mesmo, com as pessoas apenas papagaiando contra ou a favor algo de segunda ou terceira mão.



(Não estou sugerindo que eu seja "melhor" que isso, na verdade seria até bem pior que a média de qualquer um que se propõe a opinar por aí, em compensação, não sou exatamente "partidário" de nada)

 

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