Ora, que história é essa de que a liberdade econômica não é característica do capitalismo? Você resolveu redefinir o significado de capitalismo então. Está reduzindo o termo, fazendo com que signifique qualquer sistema que não seja coletivista, como se os Estados Unidos e a URSS fossem essencialmente iguais só porque os meios de produção não eram socializados à la Marx.
O que define um modo de produção não é só a forma como se distribuem os meios de produção e a força de trabalho entre os agentes sociais, é também a forma como os agentes podem interagir.
Não estou redefinindo nada. Esta é a definição de capitalismo assim como a definição de modo de produção escravista é a de que o propietário dos meios de produção é também propietário da força de trabalho ( ou seja, do escravo).
Uma definiçao se baseia no que é esencial para a existência do objeto a ser definido e não no que é contingente. E a definição contempla a interação básica e irredutível dos agentes econômicos para que o capitalismo exista o que é diverso das diversas formas históricas que esta interação pode assumir , as quais podem modificar/modular a interação básica sem anulá-la.
A questão é mais do que política. Reduzir o capitalismo a "modo de produção em que os meios de produção não pertencem ao proletariado" é um espantalho marxista... definir capitalismo assim pra dizer que a URSS era capitalista é semelhante ao argumento de que a alemanha nazista era de esquerda só porque tinha o Estado forte.
Pode até se argumentar que a URSS não fosse comunista... mas que era capitalista é exagero.
Como o Procedure colocou, há mais por trás da definição de sistema econômico que essa definição reduzida não contempla.
Aliás, como fica essa avaliação de que o "capitalismo é o sistema em que os trbalahadores não detem os meios de produção" em tempos de capitalismo financeiro, quando qualquer um pode comprar ações de uma empresa (e muitas de fato tem programas que pagam bônus a seus empregados em ações ou lhes dão a oportunidade de comprá-las) ?
Parte já respondi acima.
E não estou fazendo um espantalho do capitalismo , mas me contrapondo ao espantalho do socialismo , que é a base deste tópico. ( Espantalho ! Acho esta comparação agrícola muito engraçada.

)
Quanto à questão do capitalismo financeiro , Thufir , aí é ingenuidade sua , confundir poder nominal com poder real. Qual o poder real dos trabalhadores de uma estatal sobre as decisões dos gestores do seu fundo de pensão?
Onde o poder de decisão das empresas foi tomado , em nível socialmente significativo, pelos acionistas não corporativos?
Interessante que este era o mesmo argumento dos estalinistas soviéticos: já que nominalmente os Soviets locais e por fim o Soviete Supremo era oriundo de eleição pelos trabalhadores , estes portanto detinham o poder.
Agora concordo integralmente contigo: a questão é mais que política. Aliás sou mais radical: a questão não é política , é puramente econômica, Misturar categorias econômicas com categorias políticas em uma definição de modo de produção obscurece a análise das formais
reais de apresentação dos mesmos.
Se não caimos nos absurdos . como o de considerar que o regime totalitário nazista era socialista porque não havia plena liberdade econômica ( os judeus que o digam) , ou que socialismo é sinônimo de estatização - o que faria do regime militar brasileiro um adepto do socialismo.
O capitalismo é o mais versátil e polimorfo modo de produção que já existiu , daí poder existir sob os mais diversos regimes políticos mantendo sua característica básica. Isto não quer dizer que não haja diferença entre as formas políticas sob as quais ele existe , nem que estas não tenham influência ( por vezes decisiva) sobre sua evolução. Inclusive podemos analisar a falência do regime monopolista de estado dos países do Leste Europeu como consequência da incapacidade das formas políticas garantirem a manutenção do crescimento econômico ,perdendo o apoio de parcela significativa da classe dirigente; è o que explica também porque a elite política e econômica destes países não sofreu uma mudança significativa.
Mas francamente não entendo esse "argumento" de dizer que o que aconteceu na URSS e acontece na China, em Cuba, na Coréia do Norte não tem nada a ver com o comunismo/socialismo. Pode-se até argumentar que, na teoria, o comunismo/socialismo não são assim, mas não dá pra negar que a situação política nesses países foi (e é) fortemente influenciada pela ideologia comunista/socialista.
Em nenhum momento disse que o marxismo e o leninismo , este até mais que aquele, não têm participação nas justificativas ideológicas dos regimes estalinistas. Pelo contrário , esta é uma questão séria que tem que ser analisada pelas esquerdas e da qual muitos se evadem , com uma justificativa como a que você coloca.
Há em Marx diversos elementos ( muito bem analisados por Comte-Sponville no Tratado do Desespero e da Beatitude) e principalmente na teoria leninista da organização do partido que serviram de base para as deformações posteriores do estalinismo. As justificativas ideológicas não surgem do nada , por mais que possam ser um espelho distorcido. ( mas acho que este seria um bom assunto para um tópico separado)
Para finalizar devo dizer que por motivos de simplicidade passo a denominar o sistema econômico-político habitualmente denominado "socialismo/comunismo" como
estalinismo , embora este termo englobe aspectos mais amplos no campo ideológico.