[size=140]A pior recessão dos últimos 25 anos?[/size]
Por Robert P. Murphy
A teoria austríaca dos ciclos econômicos
De acordo com Ludwig von Mises e seus seguidores, o ciclo de expansão e recessão (boom-bust cycle) não é algo inerente ao livre mercado; ao contrário, é causado pela interferência do governo nos mercados de crédito, mais especificamente por sua manipulação das taxas de juros.O governo causa o período de expansão econômica (boom period) injetando crédito novo no sistema (diminuindo as taxas de juros), o que estimula inúmeros projetos de investimentos que não seriam feitos caso uma taxa de juros realista estivesse em vigor. Por causa disso, esses investimentos inevitavelmente se revelarão insustentáveis e economicamente débeis no longo prazo, e entrarão em colapso (bust period) em alguma data futura.
Essa história de que "na ausência de perturbações monetárias, o sistema econômico tende ao equilíbrio" não é nada mais que uma afirmação vazia que não passa pelo rigor do escrutínio científico. O austríaco assume como premissa teórica um postulado de um paradigma científico, e não de uma constatação deduzida por ele. É algo desprovido, portanto, de respaldo empírico.
Na teoria austríaca, a função da taxa de juros é a de servir como sinal de coordenação entre as trajetórias de consumo e investimento que leva a perfeita coordenação entre o comportamento dos poupadores e dos investidores (
http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=2471). Só que os agentes que tomam as decisões de investimento e poupança podem está motivados por fatores distintos entre si. Devido a pobreza a que submete a hipótese arbitrária que explica o comportamento dos agentes econômicos, austríacos não fazem distinção entre “possibilidade lógica” e “necessidade lógica”.
Além disso, dever-se-ia levar em conta a objeção fatal que hoje em dia o aumento na demanda por moeda também pode ser suprida pelo setor privado através do aumento da oferta de agregados monetários (ativos financeiros de quase-moeda) sobre os quais o Fed não tem controle. Coisa que já expliquei aqui:
http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?f=1&t=15314&hilit=neoliberaisDevo lembrar também que depois de uma crítica de um artigo de Piero Sraffa (Dr. Hayek on Money and Capital,” in The Economic Journal, Vol. 42, No. 1, March, 1932, pp. 42-53), o próprio Hayek fez alterações em sua teoria dos ciclos, tanto que já chegou a defender o “Bolsa Keynes”:
“Há, por fim,um problema de suma importância:combater as flutuações gerais da atividade econômica e os surtos de desemprego em grande escala que costumam acompanhá-las.”
Como alguém que acredita na inexistência de flutuações econômicas na ausência de injeção monetária estatal, vai defender política keynesianas? Nesta declaração, Hayek mostra claramente que rompeu com a idéia liberal “mais interessante” de Von Mises. Como mesmo reconhece o “austríaco” Walter Block neste artigo onde ele desce o cacete no discípulo traíra de Von Mises:
http://www.mises.org/journals/jls/12_2/12_2_6.pdf [size=140]A pior recessão dos últimos 25 anos?[/size]
Esse colapso é necessário para que as condições econômicas sadias sejam restabelecidas e todos os maus investimentos sejam depurados (Aqui vai um plano de leitura para este tópico).
Colapso necessário? Como da vez que o Fed negou ajuda aos bancos em risco de falência, deixando-os quebrarem, ampliando a magnitude da crise de 29, inclusive tendo essa omissão criticada por Milton Friedman e Anna Schwartz naquele famoso livro sobre a história monetária dos EUA?
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O gráfico a seguir ilustra a explicação de Mises. Observe que o gráfico não inclui os cortes ocorridos desde setembro de 2007.

Falando no geral, o gráfico indica uma relação inversa entre as duas séries. Isso vai de acordo com o senso comum que diz que um corte na taxa de juros fornece um estímulo ao crescimento, ao passo que um aumento dela é algo contracionista. Entretanto, o que a abordagem austríaca fornece é a compreensão das forças reais por detrás do ciclo de expansão e recessão. Em outras palavras, a maioria dos comentaristas financeiros acredita que as taxas de juros atuais afetam o crescimento econômico atual e fim de papo.
O argumentador está se fazendo de cego. Em vários trechos, a relação está conforme previsto pela visão da “maioria dos comentaristas financeiros”.
Outra coisa omitida. O gráfico concentra-se nas taxas de juros de títulos de curto prazo. No entanto, a atividade econômica depende da taxa de juros que os tomadores de empréstimos (investidores) precisam tomar. A visão convencional é que as duas seguem de perto uma a outra. Mas dados recentes das últimas décadas indicam que movimentos entre as duas exibiu um comportamento bem irregular (ver o capítulo 1 de “Rumo a um novo paradigma” de Joseph Stiglitz e Bruce Greenwald, Editora Francis).
Ah, e o investimento é autônomo e as expectativas são exógenas. Ele está influenciado por fatores políticos, ondas de pessimismos... Não seria esperada uma correlação negativa perfeita entre taxa de juros e investimento.
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Mas se um período prévio de crescimento levou a inúmeros maus investimentos, é necessário haver um período de contração econômica para liquidar esses vários projetos (que contam com uma inadequada estrutura de capital para completá-los).
Taxas básicas de juros irrealistas determinadas pelo Fed levam a maus investimentos? Meu Deus!Estamos andando em círculos.
A questão é que quando os preços de ativos aumentam rapidamente e inflam o patrimônio líquido das pessoas e das empresas, os agentes que controlam o crédito passam a subordinar às decisões de gasto a valorização patrimonial: rebaixam os critérios de concessão de crédito e na medida em que as projeções otimistas se confirmam passam a inchar carteira de ativos com dívida de empreendimentos mais arriscados. Foi o Fed que colocou uma arma na cabeça dos agentes que controlam a riqueza para que eles fizessem isso?
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Na visão austríaca, o ciclo de expansão e recessão é causado por taxas de juros mantidas artificialmente baixas pelo Fed. São essas baixas taxas de juros que provocam a expansão dos negócios, que contratam mais mão-de-obra, que compram outros recursos, e assim por diante, ainda que esses projetos não sejam justificáveis pelo nível real de poupança da economia.
A última frase é pífia, porque POUPANÇA NÃO CRIA INVESTIMENTO.
Outra coisa a ressaltar. Tudo bem que pelas leis econômicas se sabe que, em equilíbrio, “investimento= poupança”, mas dizer que poupança determina investimento é algo sustentado em bases frágeis.
Uma resposta esclarecedora de Mário Possas quanto a esse assunto:
“A poupança não precede o investimento, porque ela não precede nem temporal e nem logicamente, o investimento (inexiste logicamente uma poupança ex ante). Ela é por definição um fluxo simultâneo ao investimento e por ele determinado. Segundo por que quem financia o investimento é o crédito, este sim, um estoque- de poder de compra criado ex nihilo pelo sistema bancário- que precede lógica e temporalmente o investimento.”
http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/1884/511/2/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Guilherme%20Jonas.pdf Sobre o debate entre os períodos de guerras e a teoria austríaca dos ciclos, Olivier Blanchard diz:
“Quando a demanda por investimentos cresce- digamos em resposta aos preços estimulantes das firmas- qual então é o mecanismo que assegure que a poupança também cresça? Tentando responder esta pergunta, era lógico para os economistas da época olhar para o crédito bancário. Apesar de tudo, isso é como as firmas largamente financiam o investimento adicional. Mas isto só levanta a seguinte questão: como os bancos são capazes de aumentar o montante de crédito bancário? Quem poupa mais? (...) É aqui onde o conceito de poupança forçada convenientemente vem. Eu vejo isto basicamente como a resposta errada. A resposta certa foi, eu acredito, dada por Keynes. O aumento da produção é que gera a poupança adicional em resposta ao investimento mais elevado.”
http://www.sapientia.pucsp.br/tde_arquivos/3/TDE-2007-06-08T10:02:04Z-3420/Publico/Andre%20R%20Carvalho.pdf