Eu lamento nunca ter encontrado uma fonte muito boa sobre a interpretação Bohmiana da MQ. O que exatamente ela diz, em linhas gerais? Vez por outra vejo alguém dizer que consegue definir uma trajetória para o elétron, por exemplo, mas o argumento sempre me pareceu furado.
A parte boa da Mecânica Bohmiana é que ela é uma teoria com uma visão de mundo clara. Ela diz que as partículas fundamentais são de fato partículas e tem trajetória bem definidas, e os fenômenos ondulatórios são explicados porque esta partícula sofre a influência de uma "onda". Como se a partícula fosse um surfista, sendo guiado pela onda do mar - mas no caso, a "onda" é a função de onda. E eu ponho em aspas porque a função de onda não é uma onda meio esquisita - ela nem está no espaço tridimensional, quando há mais de uma partícula.
E sim, é uma teoria não-local. Se você se interessar, boas fontes sobre a interpretação:
http://plato.stanford.edu/entries/qm-bohm/http://arxiv.org/abs/quant-ph/0611032 (um trocadilho com um filme do Woody Allen o título - cientistas só são criativos assim quando tratam de assuntos assim, que muitos dizem ser não sério? hehe)
http://arxiv.org/abs/quant-ph/0408113Já me disseram que o Modelo do Bohm não é uma interpretação da MQ, mas uma outra teoria concorrente à esta. Isso procede?
Se definirmos interpretação como "tendo os mesmos resultados experimentais, mas vendo o mundo de forma diferente", então é uma interpretação sim.
No entanto, muitas pessoas aplicam a teoria de Bohm na cosmologia, quando não é possível usar a mecânica quântica usual - na cosmologia não há nada para fazer o papel de "observador" (quem observa o universo?). Caso a teoria de Bohm seja aplicada à cosmologia e obtenha novos resultados comprovados, imagino que podemos dizer que ela é mais rica que a mecânica quântica usual.
Se Deus quiser (brincando!), passarei para o mestrado e gostaria de fazer uma tese neste assunto.
É um pouco mais sutil do que isso, eu acho. Toda a resistência às alternativas propostas para a Interpretação de Copenhague vem do fato delas sugerirem que temos que abandonar ou a localidade, ou a causalidade, ou assumir umas quantas hipóteses ad-hoc. Na IC, basta assumirmos o que está implícito no formalismo estatístico -- certas propriedades simplesmente não estão definidas até que a função de onda colapse.
O único problema da interpretação de Bohr é que a função de onda colapsa quando há uma medida, como na medida descrita de cara ou coroa. Mas para saber quando ela se aplica, é necessário definir "medida", e isto não é fácil como pode parecer, porque o aparato de medida - você, no caso da moeda - também é formado por elétrons, prótons, etc, também obedece as leis da Mecânica Quântica e não há motivos físicos (até onde sei) para dizer que você constitui um sistema físico especial, "que pode medir".
Isto é um pseudo-problema, claro, porque na prática sempre sabemos o que é uma medida. Para Bohr isto não é um problema, porque para ele há dois "mundos", o clássico e o quântico, e quando há a interação entre os dois (o aparato de medida clássico e o mundo quântico) a função de onda colapsa (a moeda dá cara ou coroa, se considerássemos a moeda um sistema quântico!). Vou pôr uma citação dele, porque Bohr é enigmático demais e minha interpretação pode ser errada:
“É decisivo reconhecer que, por mais que o fenômeno transcenda o âmbito da explicação da física clássica, o relato de todas as evidências deve ser expresso em termos clássicos. O argumento é simplesmente que pela palavra ‘experiência’ nos referimos a uma situação em que podemos dizer aos outros o que temos feito e o que temos aprendido e que, portanto, o relato do arranjo experimental e dos resultados das observações devem ser expressos em linguagem inequívoca com a aplicação adequada da terminologia da física clássica”.