Em resumo: o falsificacionismo proíbe o uso de hipóteses que não fazem previsões adicionais, não sendo independentemente testáveis, servindo apenas para "explicar" um determinado resultado e nada mais. Essas são as hipóteses ad-hoc.
Proibição apenas retórica. Nem mesmo o próprio falsificacionismo popperiano se isentou de apresentar inúmeras hipóteses ad-hoc.
O falsificacionismo não é uma teoria científica, é uma
prescrição epistemológica, de caráter
normativo. Chamá-lo de teoria científica ou tratá-lo como se fosse seria como chamar as regras do futebol de "jogadas" (acho que já disse isso em outro tópico). Na avaliação de uma prescrição epistemológica (assim como a de qualquer regra, lei, recomendação, algoritmo, etc) não se aplica dizer que ela é "falsa" ou "verdadeira", mas sim
se ela é adequada ou não para a obtenção dos objetivos a que ela se propõe. Não se aplica a regras e prescrições em geral esse conceito de ad hoc, como você coloca.
No caso do falsificacionismo popperiano, o principal objetivo ao qual ele se propõe é o
progresso do conhecimento, ou seja, a incorporação cada vez maior de novos dados, os mais próximos da verdade possíveis, ao conhecimento humano.
Esse objetivo é compartilhado por todos os cientistas e filósofos (a única exceção declarada que eu conheço é Feyerabend, que diz que o objetivo da ciência é "promover a felicidade humana").
Kuhn e Lakatos utilizaram uma abordagem descritiva (ou histórica), ou seja, procuraram descrever o que os cientistas "realmente fazem" para, a partir daí, terem uma idéia de qual o procedimento é mais científico ou não. A questão é que a
interpretação que eles deram para vários fatos da história da ciência,
quando não se mostram erradas (como a incomensurabilidade de Kuhn, ou a possibilidade de manutenção indefinida de um "programa de pesquisa", de Lakatos), não contradizem em nada a prescrição falsificacionista.
O próprio Popper fez constantes revisões de suas obras e chegou a um entendimento bem diferente do que o exposto no livro A lógica da pesquisa científica. Posteriormente aborda a física quântica e a economia, onde tem um amadurecimento de sua epistemologia.
Popper tratou durante a sua vida de vários assuntos, como política, economia, algumas teorias científicas especificamente (como a mecânica quântica e a teoria da evolução) e outros. É bastante provável que ele tenha mudado de opinião em alguns desses assuntos algumas vezes (o que é justamente a atitude fundamental do racionalismo crítico). Mas
em relação à epistemologia falsificacionista (e ao racionalismo crítico em geral), desconheço até o momento alguma mudança significativa em sua concepção. Se você sabe de alguma, me informe para que eu fique atualizado. Agradeço.
Teorias epistemológicas não proibem, não são leis. Apenas o direito tem o poder jurídico de estabelecer via estado proibições para os cidadãos e para os entes jurídicos. O resto é jogo de palavra. Disso eu tiro a importância empírica da ciência jurídica. É um fato social e presente na vida de qualquer ser social. Incluvise a de nós internautas. Até mesmo aqui estamos sujeitos as leis de um determinado país, de acordo com a nossa manifestação expositiva.
De fato, ninguém vai morrer, ser preso ou espancado se criar hipóteses ad hoc e teorias infalseáveis (Foi bom você ter me avisado disso
). É como um manual de instruções de um aparelho, você não é "obrigado" ou coagido a seguí-lo, nada lhe impede de descumprí-lo. O problema será apenas os resultados que provavelmente obterá.
Na verdade, existem "graus" de ad-hoc, ou seja, uma hipótese pode ser mais ou menos ad-hoc do que outra quanto mais ou menos independentemente testável ela for. A comunidade científica geralmente sabe escolher quais hipóteses merecem um grande esforço e gasto para conseguirem ser testadas (como a do neutrino) e quais não.
A comunidade científica não é homogênea e nem sempre sabe escolher quais as melhores hipóteses. A história da ciência, mostra de uma maneira geral, que os erros são constantes e as mudanças de paradigmas acontecem frequentemente ao longo do tempo. É isto que Thomas Kuhn crítica com propriedade na teoria do falsificacionismo ingênuo.
Se com "erros" você está se referindo a teorias que estavam erradas, que fracassaram em experimentos, etc, bom, isso é parte fundamental do processo científico; é com os erros que aprendemos, é eliminando hipóteses falsas que o conhecimento progride.
Se com "erros" você estiver se referindo a atitudes irracionais, uso de hipóteses francamente ad hoc, ignorar anomalias, etc. É realmente bastante provável que alguns cientistas, inclusive famosos, incorram em atitudes irracionais de vez em quando. É por isso que a ciência não se baseia ou se fia em pessoas, mas
nas "regras do jogo" a que todos estão submetidos e na livre troca de idéias e críticas.
Já uma atitude irracional da maioria dos cientistas, bom: isso vai depender de qual área da ciência e seu grau relativo de desenvolvimento. Algumas áreas ainda adotam algumas atitudes pré-científicas e avançam pouco, às vezes até regridem (principalmente em ciências sociais). É uma questão de surgir um Galileu ou um Pasteur nelas para dar exemplo.
Ao contrário do que diz o texto do primeiro post, Imre Lakatos não dizia que os cientistas usavam hipóteses ad-hoc regularmente, e nem defendia seu uso. As hipóteses auxiliares que ele preconiza são as do tipo não ad-hoc (conforme já explicado). Lakatos defende que é possível o uso de hipóteses auxiliares não ad hoc (permitidas pelo falsificacionismo) de forma praticamente indefinida para manter uma teoria de pé.
Lakatos defende que um programa de pesquisa é progressivo conforme a previsibilidade de suas teorias. Programas progressivos tem maior previsibilidades, enquanto programas regressivos mantém apenas a formulação de hipóteses ad-hoc.
Isso é verdade. É por isso que quando o programa está "regressivo", começam a surgir (em concordância com o falsificacionismo) várias hipóteses "revolucionárias" alternativas ao mesmo.
E o texto postado é somente ilustrativo, onde um autor de blog utiliza de suas palavras para expressar o seu entendimento sobre a teoria Lakatosiana. Assim como você está fazendo a sua exposição através da elaboração de um texto próprio, do que acredita ser mais coerente. Não quer dizer que seja e nem considero que seja.
Você é livre para "achar" ou "considerar" o que quiser. O problema só surgirá na hora de mostrar aos outros o porquê.