Por fim, meu caro JJ, tentarei explicar de maneira didática, para você, o porquê existia Tectônica de Placas não somente no éon Proterozóico mas, também, pasme..., no éon Hadeano.
A Tectônica de Placas se caracteriza principalmente por espalhamento do assoalho oceânico a partir de 'eixos de crescimento' e no consumo e ou crescimento de crostas em zonas de subducção por causa das correntes de convecção do manto. Ou seja, a condição primordial é ter uma camada rígida (crosta) que então será submetida a 'tensões' geralmente horizontais e, em menor intensidade, as verticais geradas pelo seu peso.
Tal condição já estava presente há pelo menos 4,2 bilhões de anos e que pode ser deduzida pela existência de minerais de zircão datados de mais de 4,4 bilhões de anos na Austrália e em rochas do tipo greenstone, com mais de 4,28 bilhões de anos, no Canadá. Ambos são evidências incontestes de que havia uma crosta rígida e perene, ainda que fina, pelo menos desde o final da primeira quarta parte do Hadeano. Os greenstones são associações de rochas vulcânicas e sedimentares entre terrenos ditos 'granítico-gnáissicos' e que se formam até hoje em diversos subambientes da Tectônica de Placas, como alguns riftes continentais em estágios mais avançados, em bacias marginais, em arcos de ilha, em bacias retro-arco e alguns outros em que exista vulcanismo de fundo oceânico.
Algumas das condições geológicas do início Hadeano eram, sem dúvida, diferentes do Proterozóico e do Fanerozóico, entre os quais: um fluxo térmico maior, uma estabilidade crustal incipiente, uma diferenciação crustal ainda pouco atuante, pouca água livre e ausência de uma crosta continental. Mas os estudos feitos nos últimos 20 anos mostram que em menos de 100 milhões de anos, as condições foram mudadas, de tal modo que ao findar dos primeiros 300 milhões de anos, já haviam se formado os primeiros crátons (porções reliquiares da crosta continental mais antiga), e que são, sem exceção alguma, todos explicáveis pela Tectônica de Placas.
Em resumo: A proposição de uma Tectônica de Placas atuante naqueles éons se baseia em um conjunto de evidências mineralógicas (tipo de minerais e paragênese, isto é, tipo de associação de minerais), petrológicas (diferentes tipos de rochas), geocronológicas (datações), estruturais (estilos de deformações nas rochas) e geotectônicas (reconhecimento de megaestruturas e ambientes crustais).
Nós, geólogos, não observamos in loco o fenômeno, é óbvio, mas pelo acúmulo de conhecimentos e de experimentos, eles nos permitem, com elevada margem de segurança, afirmar que o processo da Tectônica de Placas está presente em nosso planeta há pelo menos 4,3 bilhões de anos.