Meu pai contava que lá para os idos de 1950 , quando pescava com um amigo, uma luz brilhante, em formato de disco, se deslocou a uma velocidade incrivel sobre a mata, subiu e desapareceu entre as estrelas.
Fico sem saber o que pensar, pois o velho não era dado a fantasias, não se tinha acesso a drogas na época e nem ele bebia. Só posso imaginar que adormeceu e sonhou. O mais incrível é que o colega dele teve o mesmo sonho. Ou os dois estavam mentindo.
Mas o meu pai não.
Meu pai não mentia.
Só quando se tratava de mulheres.... 
Meu pai era tratorista e trabalhava com motosserra e costumava ficar até muito tarde no trabalho em certas épocas do ano. Ele pedia para alguns amigos que estavam voltando da lida para passar em minha casa e avisar minha mãe que ele iria ficar até mais tarde. Então, minha mãe embrulhava a janta (que naquela época ficava pronta mais cedo) e eu tinha que levar. Apesar da distância, era uma época em que as crianças não se preocupavam com a possibilidade de serem encontradas mortas em uma mala. Meu irmão mais novo (cinco anos mais novo) ainda gostava de seguir meu pai até o trabalho e ficar por lá quase o dia todo. Eu evitava, pois, além de não ser mais o caçula (com todas aquelas regalias), o meu pai já me colocava no trabalho pesado.
A caminhada era gostosa. Passava por trilhas. Passava por açudes. Passava por plantações. Passava por morros. Não levava nem uma hora, pois, perímetro urbano e zona rural não tinham muita diferença naqueles dias. Eu gostava de atirar pedras no açude e assobiar através do vale. Algumas vezes respondiam com outros assobios lá do outro morro. Apesar das trilhas escuras, tinha apreendido a confiar em Deus e a não temer nada que não fosse humano (assim fui criado). Também, havia algumas poucas casas e colônias pelo caminho e todos nos conhecíamos muito bem. Era um pouco do paraíso na Terra e a inocência caminhava conosco por aqueles lugares.
Antes de chegar no açude, na estradinha, vi alguém se aproximando. Era o meu irmão. Ele estava com medo e olhava constantemente pro céu. Eu perguntei o que havia ocorrido e ele perguntou se eu tinha visto "as luzes". Eu disse que não havia luz alguma. Então, ele se acalmou um pouco e me contou que luzes o rodearam enquanto estava vindo embora e depois sumiram no céu. Sei que meu irmão estava realmente com muito medo. Sei que ninguém havia feito mal a ele. Só não sei dizer o quanto aquilo era real. Ainda não se falava de luzes misteriosas no céu tanto quanto se fala hoje em Guaxupé.
Ele estava quase chorando e pedindo pra mim levá-lo embora. Seu coração parecia que iria sair pela boca. Eu não poderia voltar embora, pois, pensar na possibilidade de não levar a janta pro meu pai já me fazia recordar das palavras motivacionais que minha mãe costumava dizer: "Você vai rindo ou chorando" ou "Quando a cabeça não pensa, o corpo padece". Eu tinha trazido a janta dele também. Meu irmão disse que não havia mais ninguém na estrada e que nada o faria voltar. Eu era mais medroso que meu irmão. Eu era um adolescente estúpido na fase dos pelos na mão e espinhas na cara. Porém, tinha de transparecer segurança.
Tive de criar coragem e disse que não deixaria nada acontecer conosco e nem com o papai. Pegamos paus e pedras e fomos orando a Deus por todo o caminho até chegar no trabalho do meu pai (um pouco antes das vinte horas). E, naquele dia esperamos um pouco mais para poder voltar com ele. Não contamos nem pro meu pai e nem pra minha mãe. Não me lembro porque. Depois de adultos conversamos sobre o ocorrido algumas poucas vezes. Mas, o relato do meu irmão agora é mais fantasioso. Ele diz que viu também seres estranhos e discos voadores (naquele dia ele me falou apenas de luzes). Penso que ele tenha sonhado com seres estranhos depois e que quando se é adulto, algumas coisas da infância são difíceis de separar entre realidade e imaginação. Até hoje eu não sei o que pensar do ocorrido. Saudades daqueles dias.