Agnóstico, eu entendo o ponto onde você quer chegar.
Por que as crenças são tão comuns em todos os setores da sociedade?
Como algo que transcende os séculos e é defendido por seres humanos tão distintos entre si, pode ser considerado normal, se nada até hoje indica que haja um gene ou uma área do cérebro responsável pelo sentimento de fé?
Bom, depois de me tornar ateu, passei por uma fase de revolta e me divertia provocando religiosos, porém, todas as dicussões eram sem sentido e, ao final, cada um estava com a sua opinião inabalada. Com o tempo, mais amadurecido, aceitei argumentar com as pessoas e notei que, assim como os especialistas de área de conhecimento qualquer, as pessoas com alguma crença demonstravam ter se especializado em ignorar as críticas ou os pontos fracos de sua fé.
Homens e mulheres racionais no dia-a-dia, muitos exercendo profissões que exigiam conhecimento acurado e sobriedade nas decisões, se transformavam no instante em que iniciavam seus rituais religiosos. Neste momento, professores, médicos, pedreiros, políglotas, analfabetos, se transformavam em uma só entidade e louvavam o seu deus.
É ignorância? Sim, mas não ignorância por falta de conhecimento, e sim uma atitude consciente de ver apenas o que se quer. Se existe um termo para designar essa forma de pensamento seletivo, podemos emprestar um dos chavões de George Orwell: duplipensar.
Duplipensar é a estratégia que os personagens do livro 1984 tinham para aceitar duas idéias conflitantes como se fossem verdade.
O que me apavora é que, se nós céticos temos consciência disso, eu tenho certeza de que muitos líderes também o tenham e façam uso disto de maneira corriqueira.
A meu ver, a crença que um indivíduo possui não é, salvo algumas exceções, prejudicial a ele ou a seus pares; porém, a força que a crença de um grupo possui, esta sim é perigosa. A união faz a força, seja para o bem ou para o mal.
Lembre-se do Jim Jones.