Autor Tópico: Domesticação de animais - instinto  (Lida 6639 vezes)

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Offline O Grande Capanga

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Domesticação de animais - instinto
« Online: 21 de Setembro de 2008, 13:36:49 »
Gostaria de saber se a domesticação de animais faz com que eles fiquem, com o passar do tempo, mais "dóceis" (vão perdendo os instintos selvagens). Quando falo em domesticação, estou falando de certos animias que são domesticados há milênios (cães, gados, gatos, etc.).

Acho essa uma idéia meio que lamarckista.

Corrijam-me se os termos estão errados. Mas a idéia que eu quero passar é compreensível.


Valeu.

Offline FZapp

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #1 Online: 21 de Setembro de 2008, 14:03:02 »
Não é lamarkismo, vamos selecionando os mais dóceis. É diferente a que nascam os mais dóceis...
--
Si hemos de salvar o no,
de esto naides nos responde;
derecho ande el sol se esconde
tierra adentro hay que tirar;
algun día hemos de llegar...
despues sabremos a dónde.

"Why do you necessarily have to be wrong just because a few million people think you are?" Frank Zappa

Offline FxF

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #2 Online: 21 de Setembro de 2008, 14:24:43 »
A rainha egípcio vê um tigres na mata e pensa "que bonito, eu quero". 3 tigres são capturados com as seguintes características:
- Feio, pequeno e muito raivoso;
- Bonito, grande e muito raivoso;
- Bonito, pequeno e pouco raivoso;
Qual ela a escolherá? O terceiro é claro. Ao decorrer das gerações, a última característica é isolada por gerações até chegar ao gato doméstico.

Offline O Grande Capanga

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #3 Online: 21 de Setembro de 2008, 14:35:21 »
Não é lamarkismo, vamos selecionando os mais dóceis. É diferente a que nascam os mais dóceis...

Então, na história da domesticação de animais, foi assim?

Pensava que pegava todos os filhotes de uma ninhada, independente de mais ou menos dóceis, e os domesticava... e assim com os próximos filhotes, etc. 

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #4 Online: 21 de Setembro de 2008, 18:33:32 »
Tem um pouco de um pseudo-lamarckismo também. Mamíferos (e acho que aves também) ainda pequenos podem em boa parte dos casos serem criados em cativeiro, e são mais dóceis que os em estado selvagem. As ninhadas nascidas em cativeiro seriam em alguns casos possivelmente mais dóceis tanto por natureza (influências hormonais, talvez) quanto por criação. A seleção para docilidade nem sempre é desejada ou obtida, como no caso de cães de guarda. Nesse caso há a predisposição natural do animal em aceitar seu lugar numa hierarquia, e ser submisso ao dono e outros membros da "matilha", mas mantendo a agressividade natural (com variações individuais como existem nos grupos também).

Mesmo o gado, não sei se realmente se tornaram significativamente mais dóceis por seleção (tiveram os cérebros diminuídos, segundo ouvi do Dennett), ou se já eram mais "docilizáveis" naturalmente. No "armas, germes e aço" o autor argumenta que é meio "impossível" domesticar zebras, enquanto com cavalos é mais fácil, por exemplo. Elefantes também são sempre capturados quando pequenos, e nunca realmente domesticados. Animais como tigres e leões também não são plenamente domesticados, ainda que sejam criados em circos ou até em casas, acho mais próximo da criação em cativeiro, considerando todos os cuidados que tem que haver.

Pode haver alguma seleção para docilidade, mas acho que talvez na maior parte tenha já se aproveitado animais que eram naturalmente mais domesticáveis/socializaveis do que ocorrido seleção propriamente dita.

Offline Fabulous

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #5 Online: 21 de Setembro de 2008, 21:25:36 »
É por ai mesmo Buckaroo...
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Offline Juca

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #6 Online: 22 de Setembro de 2008, 09:19:59 »
Boa matéria do Reinaldo José Lopes sobre o assunto no G1:

http://visoesdavida.globolog.com.br/



O melhor amigo

Histórias sobre pit bulls e rottweilers dilacerando criancinhas indefesas capturam tanto a atenção do público quando chegam às páginas dos jornais que a gente acaba esquecendo um fato assombroso: esse tipo de ataque deveria ser infinitamente mais comum. Digo “deveria” por uma razão estatística bem simples. Só nos EUA existem cerca de 60 milhões de cães. Os americanos (e os brasileiros, decerto) convivem com uma multidão de predadores, carnívoros cuja diferença genética em relação a lobos selvagens é, para todos os efeitos, desprezível. Sabe quantos cachorros matam pessoas por ano nos EUA? Quinze, em média – um cão a cada 4 milhões. A vastíssima maioria desses bichos merece cada sílaba da designação “melhor amigo do homem”.

Fica claro que essa convivência tão harmoniosa não é obra do acaso. Os cães são um dos exemplos mais eloqüentes (e, por que não dizer, bonitos) de como a evolução – nesse caso, a evolução artificial, guiada por seres humanos – pode transformar profundamente a morfologia, o comportamento e a mente de uma espécie. Eles também representam a mais antiga história de convivência voluntária entre nós e outra espécie animal, o que nos permite juntar pedacinhos de evidência das mais variadas áreas – antropologia, arqueologia, genética e etologia (o estudo do comportamento animal) – para entender a origem e o destino desse casamento bem-sucedido.

No princípio era o lobo
Comecemos com um pouquinho de controvérsia: embora ninguém discuta que nossos cães sejam os mais antigos entre os animais domésticos, descendentes de lobos da Era do Gelo, o início desse processo flutua numa fronteira imprecisa entre 100 mil e 15 mil anos atrás. A dúvida está relacionada principalmente às técnicas de relógio molecular de DNA, que apontam uma separação antiga (talvez superior a 100 mil anos) entre as linhagens de cães e lobos, e os dados da arqueologia e da paleontologia, que só encontram fósseis de canídeos com características “cachorrescas” muito mais tarde. O “atraso” para o aparecimento de verdadeiros cachorros fósseis talvez se deva ao tempo necessário para que diferenças significativas de forma entre eles e os lobos se acumulassem, embora a rápida transformação morfológica das raças modernas faça essa idéia parecer não muito provável.

De qualquer maneira, não é à toa que o bicho se tornou o primeiro e o mais fiel da nossa longa lista de criaturas domésticas. Em muitos sentidos, gente e cães foram feitos um para o outro. Sem forçar muito a barra, dá para comparar qualquer processo de domesticação animal a uma progressiva “humanização” do candidato a bichinho de estimação. Se isso for verdade (e tudo indica que é), a verdadeira domesticação só é possível para espécies que já são, digamos, “pré-humanizadas”.

Com isso, quero dizer que é necessário um pacote especial de características para ser um candidato vitorioso na eleição para bicho doméstico do ano 100000 a.C. E a principal envolve sociabilidade: mamíferos que vivem em uma estrutura social complexa, com relações de aliança entre indivíduos não-aparentados e hierarquia bem-definida, têm boa chance de se mesclar às sociedades humanas, que funcionam de forma parecida. O que o(s) dono(s) humano(s) fazem com essas criaturas equivale a um golpe de estado: o macho (ou a fêmea) alfa, ou seja, o líder do bando, é substituído pelo amo bípede. A partir daí, as gerações seguintes do animal já vêm ao mundo num “bando” cujo alfa é sempre um ser humano.

Comida de graça
Ninguém sabe exatamente quando e onde esse processo aconteceu pela primeira vez com os cães, embora alguns dados genéticos apontem para o Extremo Oriente como um dos berços caninos. A hipótese mais plausível sugere que foram os lobos que vieram até nós, e não o contrário: a abundância de restos de caça nos acampamentos humanos da Era do Gelo teria atraído os bichos. Em troca da comida fácil, as criaturas eram excelentes guardas e companheiros de caça. E foi aí que o poder da seleção natural/artificial começou a entrar em ação.

Uma das hipóteses mais influentes atualmente sugere, graças a experimentos feitos na Rússia com raposas, que o fator-chave foi a mansidão, ou seja, a capacidade de tolerar e até apreciar a presença de humanos. Na verdade, a única forma de seleção teria se dado sobre a mansidão dos protocachorros: as demais características de cães domésticos teriam vindo “de carona”.

Os experimentos com raposas, como eu disse, são um exemplo eloqüente disso. Os bichos selecionados para cruzamento com base apenas na sua tolerância a humanos foram se tornando progressiva e bizarramente “cachorrescas” de geração para geração. Os focinhos encurtaram, as orelhas ficaram caídas, a pelagem se tornou malhada e os rabos, enroladinhos. Coincidência ou não, são várias das mesmas características que diferenciam cães de lobos hoje.

Crianção
E são também características de mamíferos bebês – fenômeno conhecido tecnicamente como pedomorfose, algo como “forma de criança” em grego. Desse ponto de vista, nós não tratamos nossos cães como crianças à toa: o processo de seleção artificial que deu origem a eles os transformou em bebês-lobos perpétuos, mais dóceis, obedientes e sociáveis que seus ancestrais.

Esse é só um dos resultados de milhares de anos de co-evolução humano-canina. Outro, e mais impressionante ainda, é que a convivência moldou as capacidades mentais dos bichos e, de certa forma, aproximou-as das nossas. Todo mundo já conheceu algum cachorro que “só falta falar”; descontados os exageros, pesquisas em laboratório comprovam que eles provavelmente são os animais mais especializados do mundo em “ler” a fala e o comportamento humano. Alguns cães são capazes de entender cerca de 200 palavras diferentes, e muitos dos bichos conseguem sacar também o gestual e as expressões faciais de seus donos – performance muito superior à dos chimpanzés, os mamíferos geneticamente mais próximos de nós. Tudo isso, é claro, porque os cães mais habilidosos no domínio do “humanês” tiveram chances mais elevadas de se reproduzir ao longo da história.

A semelhança de estilo de vida é outro ponto crucial. Vivendo lado a lado conosco, alimentando-se de nossa comida, enfrentando o mesmo clima e, às vezes, as mesmas doenças, os cães desenvolveram um conjunto de enfermidades que, guardadas as devidas proporções, espelham as nossas. Azar deles, sorte da ciência: como essas enfermidades se refletem até no nível genético, nossos companheiros de milhares de anos podem conter a chave para a compreensão e a cura de inúmeras doenças.

Gostaria de encerrar este breve passeio pela história evolutiva canina com um ponto já martelado à exaustão desde Darwin, mas que ainda assim vale a pena ser lembrado. Visualize com os olhos de sua mente toda a gigantesca diversidade de raças caninas, dos pequineses aos dinamarqueses: todo o esplendor de pêlos (e falta deles), cabeças afiladas ou massudas, tamanhos diminutos ou agigantados. Se todos esses bichos existissem separadamente na natureza, ninguém hesitaria em classificá-los como espécies diferentes; de fato, a distância morfológica que existe entre várias delas certamente excede a que separa uma espécie de raposa da outra, digamos.

No entanto, foi a mão humana a responsável por forjar essa gama imensa de formas, em poucos milhares de anos. Diante disso, fica um bocado difícil duvidar que a natureza é capaz de fazer muito, muito mais com dezenas de milhões de anos à sua disposição.

Offline O Grande Capanga

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #7 Online: 22 de Setembro de 2008, 20:23:46 »
http://e-cristianismo.com/forum/viewtopic.php?p=47111#p47111

Citar
A domesticação não provoca perda de instintos. Cães e gatos continuam caçadores e quem já tentou educar um filhote sabe do que estou falando.
O que ocorre é que, por condicionamento (mecanismo pavloviano), é mais vantajosos para esses animais domesticados ganhar comida de seus donos do que sair caçando por aí.

Offline Fabulous

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #8 Online: 22 de Setembro de 2008, 20:26:28 »
é mais vantajosos para esses animais domesticados ganhar comida de seus donos do que sair caçando por aí.

:)
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Offline André Luiz

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #9 Online: 23 de Setembro de 2008, 08:16:44 »
Eles é que sao espertos

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #10 Online: 24 de Setembro de 2008, 00:47:24 »
Citar
O que ocorre é que, por condicionamento (mecanismo pavloviano), é mais vantajosos para esses animais domesticados ganhar comida de seus donos do que sair caçando por aí.

Aqui há uma incoerência. Se é condicionamento não tem nada a ver com vantagem ou desvantagem, mesmo que seja por reforço positivo.

Atheist

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #11 Online: 24 de Setembro de 2008, 00:50:01 »
Boa matéria do Reinaldo José Lopes sobre o assunto no G1:

http://visoesdavida.globolog.com.br/



O melhor amigo

Histórias sobre pit bulls e rottweilers dilacerando criancinhas indefesas capturam tanto a atenção do público quando chegam às páginas dos jornais que a gente acaba esquecendo um fato assombroso: esse tipo de ataque deveria ser infinitamente mais comum. Digo “deveria” por uma razão estatística bem simples. Só nos EUA existem cerca de 60 milhões de cães. Os americanos (e os brasileiros, decerto) convivem com uma multidão de predadores, carnívoros cuja diferença genética em relação a lobos selvagens é, para todos os efeitos, desprezível. Sabe quantos cachorros matam pessoas por ano nos EUA? Quinze, em média – um cão a cada 4 milhões. A vastíssima maioria desses bichos merece cada sílaba da designação “melhor amigo do homem”.

Fica claro que essa convivência tão harmoniosa não é obra do acaso. Os cães são um dos exemplos mais eloqüentes (e, por que não dizer, bonitos) de como a evolução – nesse caso, a evolução artificial, guiada por seres humanos – pode transformar profundamente a morfologia, o comportamento e a mente de uma espécie. Eles também representam a mais antiga história de convivência voluntária entre nós e outra espécie animal, o que nos permite juntar pedacinhos de evidência das mais variadas áreas – antropologia, arqueologia, genética e etologia (o estudo do comportamento animal) – para entender a origem e o destino desse casamento bem-sucedido.

No princípio era o lobo
Comecemos com um pouquinho de controvérsia: embora ninguém discuta que nossos cães sejam os mais antigos entre os animais domésticos, descendentes de lobos da Era do Gelo, o início desse processo flutua numa fronteira imprecisa entre 100 mil e 15 mil anos atrás. A dúvida está relacionada principalmente às técnicas de relógio molecular de DNA, que apontam uma separação antiga (talvez superior a 100 mil anos) entre as linhagens de cães e lobos, e os dados da arqueologia e da paleontologia, que só encontram fósseis de canídeos com características “cachorrescas” muito mais tarde. O “atraso” para o aparecimento de verdadeiros cachorros fósseis talvez se deva ao tempo necessário para que diferenças significativas de forma entre eles e os lobos se acumulassem, embora a rápida transformação morfológica das raças modernas faça essa idéia parecer não muito provável.

De qualquer maneira, não é à toa que o bicho se tornou o primeiro e o mais fiel da nossa longa lista de criaturas domésticas. Em muitos sentidos, gente e cães foram feitos um para o outro. Sem forçar muito a barra, dá para comparar qualquer processo de domesticação animal a uma progressiva “humanização” do candidato a bichinho de estimação. Se isso for verdade (e tudo indica que é), a verdadeira domesticação só é possível para espécies que já são, digamos, “pré-humanizadas”.

Com isso, quero dizer que é necessário um pacote especial de características para ser um candidato vitorioso na eleição para bicho doméstico do ano 100000 a.C. E a principal envolve sociabilidade: mamíferos que vivem em uma estrutura social complexa, com relações de aliança entre indivíduos não-aparentados e hierarquia bem-definida, têm boa chance de se mesclar às sociedades humanas, que funcionam de forma parecida. O que o(s) dono(s) humano(s) fazem com essas criaturas equivale a um golpe de estado: o macho (ou a fêmea) alfa, ou seja, o líder do bando, é substituído pelo amo bípede. A partir daí, as gerações seguintes do animal já vêm ao mundo num “bando” cujo alfa é sempre um ser humano.

Comida de graça
Ninguém sabe exatamente quando e onde esse processo aconteceu pela primeira vez com os cães, embora alguns dados genéticos apontem para o Extremo Oriente como um dos berços caninos. A hipótese mais plausível sugere que foram os lobos que vieram até nós, e não o contrário: a abundância de restos de caça nos acampamentos humanos da Era do Gelo teria atraído os bichos. Em troca da comida fácil, as criaturas eram excelentes guardas e companheiros de caça. E foi aí que o poder da seleção natural/artificial começou a entrar em ação.

Uma das hipóteses mais influentes atualmente sugere, graças a experimentos feitos na Rússia com raposas, que o fator-chave foi a mansidão, ou seja, a capacidade de tolerar e até apreciar a presença de humanos. Na verdade, a única forma de seleção teria se dado sobre a mansidão dos protocachorros: as demais características de cães domésticos teriam vindo “de carona”.

Os experimentos com raposas, como eu disse, são um exemplo eloqüente disso. Os bichos selecionados para cruzamento com base apenas na sua tolerância a humanos foram se tornando progressiva e bizarramente “cachorrescas” de geração para geração. Os focinhos encurtaram, as orelhas ficaram caídas, a pelagem se tornou malhada e os rabos, enroladinhos. Coincidência ou não, são várias das mesmas características que diferenciam cães de lobos hoje.

Crianção
E são também características de mamíferos bebês – fenômeno conhecido tecnicamente como pedomorfose, algo como “forma de criança” em grego. Desse ponto de vista, nós não tratamos nossos cães como crianças à toa: o processo de seleção artificial que deu origem a eles os transformou em bebês-lobos perpétuos, mais dóceis, obedientes e sociáveis que seus ancestrais.

Esse é só um dos resultados de milhares de anos de co-evolução humano-canina. Outro, e mais impressionante ainda, é que a convivência moldou as capacidades mentais dos bichos e, de certa forma, aproximou-as das nossas. Todo mundo já conheceu algum cachorro que “só falta falar”; descontados os exageros, pesquisas em laboratório comprovam que eles provavelmente são os animais mais especializados do mundo em “ler” a fala e o comportamento humano. Alguns cães são capazes de entender cerca de 200 palavras diferentes, e muitos dos bichos conseguem sacar também o gestual e as expressões faciais de seus donos – performance muito superior à dos chimpanzés, os mamíferos geneticamente mais próximos de nós. Tudo isso, é claro, porque os cães mais habilidosos no domínio do “humanês” tiveram chances mais elevadas de se reproduzir ao longo da história.

A semelhança de estilo de vida é outro ponto crucial. Vivendo lado a lado conosco, alimentando-se de nossa comida, enfrentando o mesmo clima e, às vezes, as mesmas doenças, os cães desenvolveram um conjunto de enfermidades que, guardadas as devidas proporções, espelham as nossas. Azar deles, sorte da ciência: como essas enfermidades se refletem até no nível genético, nossos companheiros de milhares de anos podem conter a chave para a compreensão e a cura de inúmeras doenças.

Gostaria de encerrar este breve passeio pela história evolutiva canina com um ponto já martelado à exaustão desde Darwin, mas que ainda assim vale a pena ser lembrado. Visualize com os olhos de sua mente toda a gigantesca diversidade de raças caninas, dos pequineses aos dinamarqueses: todo o esplendor de pêlos (e falta deles), cabeças afiladas ou massudas, tamanhos diminutos ou agigantados. Se todos esses bichos existissem separadamente na natureza, ninguém hesitaria em classificá-los como espécies diferentes; de fato, a distância morfológica que existe entre várias delas certamente excede a que separa uma espécie de raposa da outra, digamos.

No entanto, foi a mão humana a responsável por forjar essa gama imensa de formas, em poucos milhares de anos. Diante disso, fica um bocado difícil duvidar que a natureza é capaz de fazer muito, muito mais com dezenas de milhões de anos à sua disposição.


Muito bom o texto mesmo. Especialmente em relação ao experimento com as raposas.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #12 Online: 28 de Setembro de 2008, 17:14:02 »
Citar
O que ocorre é que, por condicionamento (mecanismo pavloviano), é mais vantajosos para esses animais domesticados ganhar comida de seus donos do que sair caçando por aí.

Aqui há uma incoerência. Se é condicionamento não tem nada a ver com vantagem ou desvantagem, mesmo que seja por reforço positivo.

Acho que mais que incoerência, foi só um pouco mal escrito. A idéia deve ser que ganhar comida dos donos sem ter que caçar é uma associação positiva que os animais fazem com os humanos. Que também acaba sendo de certa forma vantajosa, de certa forma (não é improvável que várias raças de cães não só se desenvolveram por ajuda do homem, como que só se perpetuam também por nossa ajuda. Acho que chihuahuas e mini-pinschers se extinguiriam em dois tempos, e se não me engano, buldogues ingleses precisam sempre de cesária para nascer).

Offline FxF

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #13 Online: 28 de Setembro de 2008, 17:21:54 »
Ah sim, isso é bastante claro. Sem o homem, Chihuahua, cães de nariz achato ou pernas extremamente curtas, todos seriam extintos. Os cães que dominariam o mundo seriam os vira-latas.

Offline Tupac

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #14 Online: 28 de Setembro de 2008, 19:14:39 »
Ah sim, isso é bastante claro. Sem o homem, Chihuahua, cães de nariz achato ou pernas extremamente curtas, todos seriam extintos. Os cães que dominariam o mundo seriam os vira-latas.
Derrr, baseado em que você faz essa afirmação tão convicto??? Que eu saiba existem animais muito frageis que estão aí, firmes e fortes, seria uma questão de adaptabilidade, chihuahuas poderiam caçar ratos, ou baratas, lagartixas etc. Dizer que todos com certeza sumiriam é fazer muita afirmação pra pouca evidencia...

« Última modificação: 28 de Setembro de 2008, 19:16:46 por Tupac »
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
 - Carl Sagan

"O que é afirmado sem argumentos, pode ser descartado sem argumentos." - Navalha de Hitchens

Offline FxF

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #15 Online: 28 de Setembro de 2008, 19:21:22 »
Esses animais são "Frageis" dependendo do sentido.
Já Chihuahuas são muito mal adaptados, não possuem um corpo forte para caçar, e ainda possuem uma quantidade excessiva de defeitos genéticos, pois é uma das conseqüências de excessivos experimentos genéticos.

Offline Tupac

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #16 Online: 28 de Setembro de 2008, 19:43:16 »
Depende do que você considera que o chihuahuas caçariam... Claro que um chihuahua caçar uma vaca não ia dar certo... mas existem varios insetos, e animais pequenos que entram na lista de possiveis presas, sem contar na possibilidade de se tornarem herbivoros... O bicho preguiça, apesar de ter uma força enorme nas garras, é extremamente idiota, no sentido de ser lerdo e fragil hehe, e nem por isso foi extinto.

Depende da adaptabilidade, não se pode afirmar que todos esses que você citou seriam extintos, e muito menos dizer que os vira-latas dominariam... a possibilidade existe, mas não a certeza.
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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #17 Online: 28 de Setembro de 2008, 22:06:26 »
Ah sim, isso é bastante claro. Sem o homem, Chihuahua, cães de nariz achato ou pernas extremamente curtas, todos seriam extintos. Os cães que dominariam o mundo seriam os vira-latas.
Derrr, baseado em que você faz essa afirmação tão convicto??? Que eu saiba existem animais muito frageis que estão aí, firmes e fortes, seria uma questão de adaptabilidade, chihuahuas poderiam caçar ratos, ou baratas, lagartixas etc. Dizer que todos com certeza sumiriam é fazer muita afirmação pra pouca evidencia...



Estes animais existem porque têm donos preocupados que levam eles ao veterinário todo mês, ao pet shop para dar banho, tosar, etc, toda semana e cuidam deles todos os dias. Sem isso é morte certa.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #18 Online: 29 de Setembro de 2008, 02:57:09 »
Ah sim, isso é bastante claro. Sem o homem, Chihuahua, cães de nariz achato ou pernas extremamente curtas, todos seriam extintos. Os cães que dominariam o mundo seriam os vira-latas.
Derrr, baseado em que você faz essa afirmação tão convicto??? Que eu saiba existem animais muito frageis que estão aí, firmes e fortes, seria uma questão de adaptabilidade, chihuahuas poderiam caçar ratos, ou baratas, lagartixas etc. Dizer que todos com certeza sumiriam é fazer muita afirmação pra pouca evidencia...


Realmente não dá para saber muito bem, é só palpite. Talvez provável, mas só palpite. É interessante até colocar a possibilidade de se darem bem para fazer um contrapeso a afirmações criacionistas de que a seleção, natural ou artificial, só piora as coisas, que as formas originais eram perfeitas e impecáveis e todas as formas selecionadas ou morreriam ou se "diluiriam" totalmente.

Offline Fabulous

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #19 Online: 29 de Setembro de 2008, 09:11:38 »
Ou se adaptariam.
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Offline FxF

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #20 Online: 29 de Setembro de 2008, 12:20:11 »
Mas aí "deixa de ser" Chihuahua... provavelmente se adaptariam até se tornarem estereótipos de vira-latas.

Offline Tupac

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #21 Online: 29 de Setembro de 2008, 13:19:44 »
como assim "deixa de ser chihuahua"???

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Offline Victor Pax

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #22 Online: 29 de Setembro de 2008, 15:21:14 »
Acho que o que o Ilovefoxes quer dizer é que várias raças de cães têm problemas respiratórios, ósseos, visão, audição, dentição, etc e que soltos eles teriam dificuldade de caçar (talvez dependesse de cadáveres para se alimentarem) e que se reproduzissem os filhotes seria selecionados, possivelmente perdendo características que nos fazem identificar com essa raça.

Offline FxF

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #23 Online: 29 de Setembro de 2008, 15:39:22 »
É, mais ou menos. Aqueles cães de "cara achatada" tem um olfato inferior, eventualmente seriam selecionados até ficarem semelhantes aos vira-latas.

Atheist

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Re: Domesticação de animais - instinto
« Resposta #24 Online: 29 de Setembro de 2008, 20:51:19 »
Hmm... posso arrumar um espaço... quem fornece um casal de cada raça para fazermos um estudo a longo prazo? :D

 

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